sábado, 4 de novembro de 2017

Identificar a Linguagem Figurada para interpretar as Profecias

Por Christopher Buck.


Assim, medita sobre a palavra de um dos Profetas quando Ele deu a conhecer às almas dos homens, através de alusões veladas e símbolos ocultos, as boas novas d’Aquele que devia vir depois d’Ele, para que possas ter a certeza que as suas palavras são insondáveis para todos, salvo aqueles que estão dotados de um coração compreensivo. Ele disse: "Os seus olhos eram como chama de fogo", e "os pés semelhantes ao latão reluzente", e "da sua boca saía uma aguda espada". Como podem estas palavras ser interpretadas literalmente? Se alguém aparecesse com todos estes sinais, certamente não seria humano. (Bahá'u'lláh, Gems of Divine Mysteries, p. 52)
Entender profecias exige uma boa compreensão das figuras de estilo. A linguagem figurada e simbólica usada nas profecias utiliza cinco figuras básicas de retórica (existem muitas) que analisaremos de seguida; depois veremos como elas surgem na profecia bíblica e como os ensinamentos Bahá'ís as interpretam. Estas cinco figuras são:
1. Comparação (uma semelhança).
2. Metáfora (uma representação).
3. Parábola (uma fábula ou um símil ampliado).
4. Alegoria (uma metáfora ou história alargada).
5. Símbolo (uma coisa material que representa uma verdade espiritual).
Podemos ver a diferença entre uma comparação e uma metáfora nestes dois versículos bíblicos semelhantes: "Porque toda a carne é como a erva", de I Pedro 1:24, é uma comparação entre uma coisa com outra usando as palavras "como" ou "semelhante". "Toda carne é erva", a metáfora de Isaías 40:6, deixa de ser comparação e torna-se uma representação directa.

Um símbolo - como nas palavras de Jesus do Evangelho de Tomé, frase 7 - apresenta-se assim: "Bem-aventurado o leão que o homem come, pois o leão tornar-se-á homem; e maldito é o homem que o leão come, pois o leão tornar-se-á homem".

Neste "logion" (ou o dito de Jesus), um símbolo enigmático sinistro e profundo, sugere que o "leão" pode representar a natureza animal (ou as paixões) do homem.

Voltemos agora à questão de como entender a profecia identificando figuras de estilo usadas no texto. Vejamos Apocalipse 19: 11-15, por exemplo:
E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça.E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo;E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus;E seguiam-no os exércitos no céu, em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro;E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso;
Aqui está a minha análise do texto figurado deste excerto misterioso é a seguinte:
1. Comparação: "os seus olhos eram como chama de fogo ".
2. Metáfora: "o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus"; "o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso".
3. Parábola: "os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo".
4. Alegoria: "E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça".
5. Símbolo: "céu"; "cavalo branco"; "o que estava assentado sobre ele".
A interpretação Bahá'í deste excerto fascinante e profundo, explica os seus mistérios:
Agora explicarei brevemente o verdadeiro significado destas palavras, para que possas descobrir os seus mistérios ocultos e ser dos que entendem...

Sabe, pois, que Ele, que proferiu estas palavras nos reinos da glória, pretendeu descrever os atributos d’Aquele que virá, em termos tão velados e enigmáticos que escapam à compreensão do povo do erro.

Assim, quando Ele disse: "Os seus olhos eram como chama de fogo", Ele aludiu apenas à perspicácia da visão e à acuidade da visão do Prometido, que com os Seus olhos queima todo véu e capa, dá a conhecer os mistérios eternos no mundo contingente, e distingue os rostos que estão obscurecidos com a poeira do inferno daqueles que brilham com a luz do paraíso.

Quanto às palavras "pés semelhantes ao latão reluzente", isso significa a Sua constância ao ouvir o chamamento de Deus que o conduz: "Sê firme conforme te foi ordenado". Ele será tão perseverante na Causa de Deus, e evidenciará uma tal firmeza no caminho do Seu poder, que, mesmo que todos os poderes da terra e do céu O negassem, Ele não vacilaria na proclamação da Sua Causa, nem fugiria do Seu mandamento na promulgação das Suas Leis. Em vez disso, Ele será tão firme como as montanhas mais altas e os picos mais elevados... Já viste neste mundo latão mais forte, ou lâmina mais afiada, ou montanha mais firme do que esta?...

E além disso, Ele disse: "Da sua boca saía uma aguda espada." Sabe que, uma vez que a espada é um instrumento que divide e separa, e porque da boca dos Profetas e dos Eleitos de Deus procede aquilo que separa o crente do infiel e do amante do amado, este termo foi muito utilizado, e, além desta divisão e separação não se pretende qualquer outro significado. (Bahá'u'lláh, Gems of Divine Mysteries, pp. 53-56)
Vamos rever os quatro passos para "Entender a Profecia":
Passo 1: Excluir significado literal.
Passo 2: Identificar figuras de estilo.
Passo 3: Verificar as características representadas.
Passo 4: Aplicar aos eventos espirituais.
Usando essa abordagem, aqui está como Bahá’u’lláh interpretou Apocalipse 19:11-15:
Passo 1: "Como podem estas palavras ser interpretadas literalmente?"
Passo 2: "Medita sobre alusões veladas e símbolos ocultos; ... descobrir os seus mistérios ocultos".
Passo 3: "Descrever os atributos d’Aquele que virá".
Passo 4. Reconhecer "o Prometido" - Bahá'u'lláh.

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Texto original: Identifying Figurative Language to Interpret Prophecies (www.bahaiteachings.org)

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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

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