sábado, 25 de novembro de 2017

Maomé: o Último Profeta?

Por Christopher Buck.


A maioria dos muçulmanos concorda: se Maomé é o "Selo dos Profetas" (Alcorão 33:40), então Maomé é o último profeta. Fim da história. Assunto encerrado.

E se Maomé também for a porta de entrada para futuros mensageiros de Deus, e não o último dos profetas? Essa possibilidade seria uma completa surpresa para muitas pessoas, especialmente para os muçulmanos. Vejamos, então, uma surpreendente tradição muçulmana, que o próprio Bahá’u’lláh refere nas Suas Escrituras.

Na Sura da Paciência - revelada em 22 de Abril de 1863 em Bagdade, no primeiro dia do Festival Bahá’í de Ridvan - Bahá’u’lláh escreveu:
Recita-lhes aquilo que a pomba celestial do Espírito arrulhou no santo Ridván do Amado, para que possam examinar o que foi esclarecido sobre o "selar" pela língua de 'Alí [Imam' Alī], ele que está bem fundamentado no conhecimento na oração de visitação pelo nome de Deus. Ele disse - e a sua palavra é a verdade! -:

"[Ele (Maomé) é] o selo do que veio antes d’Ele e o anunciador do que aparecerá depois d’Ele".

De modo tão sábio, o significado de "selar" foi mencionado pela língua da santidade inacessível. Assim, Deus designou o Seu Amigo [Maomé] para ser um selo para os Profetas que O precederam e um anunciador dos Mensageiros que aparecerão depois d’Ele. (Sura da Paciência, tradução provisória de Omid Ghaemmaghami)
Aqui, Bahá'u'lláh cita uma oração para Ali, o primeiro seguidor de Maomé. Ali, mais tarde, tornou-se o genro do Profeta quando se casou com a amada filha de Maomé, Fátima. Na história islâmica, Ali serviu como o quarto califa, o "bem guiado" chefe da Fé. Os muçulmanos xiitas consideram Ali como o legítimo sucessor do próprio Maomé. Os muçulmanos sunitas não concordam; mas todos os muçulmanos concordam que o Profeta Maomé gostava muito Ali, e que Ali foi um dos mais venerados muçulmanos de todos os tempos.

Num livro recente sobre a Sura da Paciência de Bahá'u'lláh (intitulado em persa, Sayri dar Bustan-i Madinatu's-Sabr) - o autor Foad Seddigh identificou a referência exacta da oração que Bahá’u’lláh citou originalmente, que contém esta frase surpreendente: "Ele (Maomé) é] o selo do que veio antes d’Ele e o anunciador do que aparecerá depois d’Ele".

Foad Seddigh identificou e validou esta oração junto de várias fontes autorizadas. Ele afirma que uma das suas primeiras publicações se encontra num livro intitulado Kamilu'z-Ziyarat, uma conhecida colectânea islâmica de orações de visitação, ou orações destinadas a ser lidas nos túmulos do Profeta Maomé, Imans Xiitas e outras figuras xiitas. Kamilu'z-Ziyarat provavelmente foi compilado pelo estudioso xiita Ibn Quluya (f. 978 ou 979 EC). O capítulo 11 do livro de orações de Ibn Quluya começa na página 92. Este capítulo intitula-se: "Visitar o túmulo do Comandante dos fiéis [Imam 'Ali], como deve ser visitado o túmulo e o que rezar no túmulo."

Podemos encontrar a frase a que Bahá’u’lláh se refere na pag. 97 - é a segunda "ḥadith" (tradição) citada. Esta mesma frase também se encontra em orações de visitação para o santuário de Imam Husayn e numa oração a ser lida nos santuários de todos os Imams. A oração de visitação para o santuário do Imam Ali tem exactamente as palavras que Bahá’u’lláh revelou. Esta oração, universalmente reconhecida e usada pelos muçulmanos xiitas, é atribuída ao Sexto ou ao Décimo Imans.

O entendimento de Bahá’u’lláh sobre esta tradição difere do entendimento tradicional por estudiosos xiitas. Foad Seddigh salienta esse facto. Na página 97 do livro, Seddigh cita um estudioso xiita que interpreta a tradição da seguinte maneira:
"Ou seja, [Maomé] é o selo dos Profetas que apareceram antes d’Ele ou das suas comunidades religiosas, ou do conhecimento e dos mistérios que O precederam, e o anúncio das Prova (ou seja, os Imams xiitas) que O seguiram ou do conhecimento, das ciências e da sabedoria que aparecerão depois d’Ele." (referência e tradução do original árabe por Omid Ghaemmaghami.)
Quem está certo? Os estudiosos xiitas? Ou Bahá’u’lláh? Uma coisa é certa: os estudiosos xiitas e os estudiosos Bahá’ís concordam que Maomé é "o anunciador do que aparecerá depois d’Ele".

Chegámos agora a um ponto comum. Todos os muçulmanos concordam que o profeta Maomé predisse a vinda do "Mahdi" no futuro. Os muçulmanos sunitas e xiitas também concordam que Jesus regressará no fim da história:
Foi narrado... que o Profeta disse: "A Hora não começará até que Eisa bin Maryam [Jesus, filho de Maria] desça como juiz justo e governante justo. (Sunan Ibn Majah 4078)
Estas duas tradições estão classificadas pelos estudiosos sunitas como "seguras", isto é plenamente autênticas, e são reconhecidos também pelos muçulmanos xiitas. E assim pode-se dizer com sinceridade que Maomé é o "anunciador do que aparecerá depois d’Ele", e que esta tradição se refere ao Mahdi e a Jesus, que aparecerão no Dia do Juízo.

Os Bahá’ís acreditam que esses dois salvadores do fim dos tempos - o Mahdi e Jesus - já apareceram.

O Báb, precursor e arauto de Bahá’u’lláh, não era outro senão o esperado Mahdi, predito pelo profeta Maomé. O próprio Bab proclamou:
A Revelação divina associada ao advento de Aquele que é o vosso prometido Mihdi [o Mahdi] mostrou-se muito mais maravilhosa do que a Revelação com a qual Maomé, o Apóstolo de Deus, foi investido. Se apenas pudésseis ponderar nisso. (Selections From the Writings of the Bab, p. 146)

"Para o Islão sunita", Shoghi Effendi escreveu, Bahá’u’lláh foi "a descida do «Espírito de Deus» [Jesus Cristo]" (God Passes By, p. 94)
Então, como é que os Bahá'ís entendem a oração de visitação muçulmana citada acima? Maomé, o "Selo dos Profetas", era "um selo para os profetas que O precederam e um anunciador dos Mensageiros que aparecerão depois d’Ele", nomeadamente O Báb, Bahá’u’lláh e outros futuros mensageiros de Deus.

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Texto original: Muhammad: the Last Prophet? (www.bahaiteachings.org)

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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

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