sábado, 13 de janeiro de 2018

O Budismo e a Fé Bahá'í



Os Bahá'ís acreditam que o Budismo constitui uma parte vital do plano divino, representando um forte vínculo no processo da revelação progressiva ao longo dos tempos. Mas como é que uma religião com escassas referências a Deus pode ser parte do mesmo sistema global que as religiões teístas? Para responder a estas questões, precisamos investigar a história e as escrituras Budistas.

Siddhartha Gautama, o Buda, nasceu por volta de 500 aC, em Kapilavastu, no Nepal. Sobre o início da vida de Buda, um investigador budista escreve:

A tradicional história da vida transmitida e conhecida entre todos os budistas é bastante completa. Podemos estar bastante seguros de que contém informações históricas muito precisas. Temos a certeza que contém elaborações e adições posteriores. O que muitas vezes não sabemos é qual é qual. (L.S. Cousins, A Handbook of Living Religions)

Foto Mosteiro de Nigrodharama

Ruínas do mosteiro de Nigrodharama perto do local de nascimento de Sidartha
e onde Ele esteve durante a sua iluminação
 Algumas das histórias contadas sobre o Buda lembram mitos - mas é sempre mais fácil detectar os mitos de outra religião do que os mitos da nossa própria religião. A grandeza dos mitos, no entanto, revela a grandeza do Buda nos corações dos Seus seguidores. O Buda, sem dúvida, foi um grande ser - o Fundador de uma das grandes religiões mundiais - reverenciado e respeitado em todo o mundo.

Tal como as histórias que se contam sobre o Buda, a autenticidade das escrituras Budistas também tem aspectos problemáticos. Os ensinamentos Budistas apenas foram escritos no século I aC - um período de pelo menos 300 anos desde o tempo em que o próprio Buda viveu. Os textos Budistas mais antigos foram recuperados no Sri Lanka e foram escritos num idioma conhecido como pali - embora a palavra apenas signifique "texto". O Buda não falava pali; falava Magadhi. Pali é uma linguagem sintética, uma amálgama de vários dialectos, incluindo o que o Buda falava. Hoje em dia não é falado, excepto por devotos e estudiosos Budistas, tal como o latim para os estudiosos ocidentais.

Originalmente, os ensinamentos de Buda foram divididos em nove categorias (as seguintes explicações variam): sutra (prosa), geya (prosa e verso), vyakarana (respostas às perguntas), gatha jataka (histórias de nascimentos passados), udana (frases inspiradas) itivrttaka (palavras memoráveis), vedalla (catecismo) e adbhutadharma (qualidades maravilhosas), mas depois da morte do Buda, uma categorização mais simples entrou em vigor e as escrituras foram divididas em nikayas ("volumes" em pali) ou agamas ("colecções de escrituras" em sânscrito).

Escrituras Budistas em sânscrito
O primeiro volume destas colecções de escrituras chama-se vinaya (tanto em pali como em sânscrito) e contém instruções sobre disciplina monástica. O segundo chama-se sutta em pali e sutra em sânscrito. Contêm registros dos discursos ou ensinamentos públicos do Buda (dhamma em pali e dharma em sânscrito). Posteriormente, surgiu um terceiro volume chamado abhidhamma em pali e o abhidharma em sânscrito. Estes discursos sobre dharma reflectiam diferentes entendimentos dos ensinamentos do Buda. É provável que no início tenham sido produzidas muitas versões distintas, mas apenas duas versões completas sobreviveram: uma - da escola Sarvāstivāda - tornou-se dominante no norte da Índia e na Ásia central; e outro - da escola cingalesa - espalhou-se para o sul e seguidamente para o sudeste asiático. Juntos, estes três grandes volumes de escrituras são chamados de Tipitaka em pali (tripatika em Sanskrit), que literalmente significa, "três cestos".

Podemos perceber um pouco da imensidão do problema da autenticidade das escrituras Budistas ao saber que apenas os discursos contêm muitas milhares de páginas, muitas vezes maiores do que a Bíblia, ocupando o espaço equivalente de pelo menos 50 volumes em edições modernas. É inconcebível que uma tão grande quantidade de material possa ter sido transmitida oralmente sem modificação, alteração ou erro durante centenas de anos antes de ser escrito.

Os Bahá’ís acreditam que Buda foi um Manifestante de Deus, como Cristo, mas que os seus seguidores não possuem as suas escrituras originais. Este problema de autenticidade afecta muitas religiões, incluindo o Judaísmo, o Cristianismo e (em menor medida) o Islão. Mas, apesar deste problema e do problema paralelo da corrupção gradual dos ensinamentos autênticos e originais de cada um dos Profetas ao longo do tempo, os principais ensinamentos destas grandes religiões têm uma consistência e congruência notáveis:

O verdadeiro ensinamento de Buda é o mesmo ensinamento de Jesus Cristo. Os ensinamentos de todos os Profetas são os mesmos em carácter. Agora os homens mudaram o ensinamento. Se virem a prática actual da religião Budista, verão resta pouca coisa da Realidade. Há muita adoração de ídolos, embora os seus ensinamentos o proíbam. (Abdu’l-Baha in London, p. 63)

É claro que algumas formas de Budismo não estão focadas em ídolos, mas o Budismo, como todas as religiões, precisa de renovação.

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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