sábado, 10 de março de 2018

No tempo de Cristo, eu acreditaria em quê?




Considera o passado. Quão numerosos, nobres e humildes, em todos os tempos, aguardaram ansiosamente o advento dos Manifestantes de Deus na pessoa santificada dos Seus Eleitos. Quantas vezes esperaram a Sua chegada, quantas vezes oraram para que soprasse a brisa da misericórdia divina, e surgisse a Beleza prometida por trás do véu da ocultação, e se manifestasse a todo o mundo. E sempre que os portais da graça se abriram e as nuvens da dádiva divina lançaram chuva sobre a humanidade, e a luz do Invisível brilhou no horizonte do poder celestial, todos eles O negaram e se afastaram do Seu rosto - o rosto do próprio Deus. Para verificar esta verdade, procura aquilo que foi registado em todo o Livro Sagrado. (Bahá’u’lláh, O Livro da Certeza, ¶3)

Nos dias imediatamente seguintes à crucificação de Jesus Cristo, pode ter parecido à maioria das pessoas que Ele tinha sido apenas um impostor, talvez um dos muitos que tinham proferido afirmações semelhantes e que, no fim, receberam o devido castigo. Aparentemente, os poderes existentes saíram vitoriosos: o “Messias” estava morto, os que lhe eram próximos estavam desmoralizados e escondidos; e os que mostraram simpatia pela sua mensagem encontravam-se silenciados e desiludidos.


Essa apreciação, porém, não considerava o verdadeiro poder de Cristo, que nasceu do Espírito Santo, e que não podia ser reconhecido de acordo com os padrões normais. Esse poder espiritual, actuando primeiramente sobre o seu pequeno grupo de discípulos, conseguiu transformar os primeiros Cristãos em gigantes espirituais cujas proezas estabeleceriam com sucesso a nova fé em todos os locais do mundo antigo. E com o passar do tempo, essa mesma força transformaria uma comunidade pequena e perseguida - que primeiramente era uma entre uma multidão de cultos e seitas contemporâneas - numa grande religião mundial. Afinal, Cristo triunfou.

Hoje, milhões de pessoas acreditam que Cristo tinha uma autoridade e um poder vindos de Deus. Os Seus feitos e os dos Seus seguidores - apesar da sua total falta de recursos materiais, autoridade política ou prestígio mundano - são hoje considerados pelos crentes como prova da Sua condição divina.

É importante lembrar que esta perspectiva histórica nos dá uma grande vantagem sobre as pessoas do mundo antigo. Pouquíssimas pessoas nos primeiros dias - até ao século II EC - seriam capazes de prever o futuro que estava reservado para a sua fé.

Provavelmente a seguinte pergunta ocorreu à maioria dos Cristãos e é tema incontáveis homilias e sermões: Em que é que eu teria acreditado se fosse vivo no tempo de Cristo?

É uma coisa séria que nos faz pensar. Quantos de nós teríamos reconhecido nosso Senhor e Salvador, num carpinteiro de Nazaré, durante a Sua vida ou em qualquer momento durante os dois séculos que se seguiram? Teríamos ficado sensibilizados pela história da Sua vida e ensinamentos, ou tê-Lo-íamos desprezado? Teríamos aceitado a explicação dos Evangelhos sobre como Ele cumpriu as promessas dos antigos profetas, ou ter-nos-íamos apegado às nossas próprias noções de como essas promessas deveriam ser cumpridas? Os nossos corações seriam tocados pelo Seu amor, pelo Seu sofrimento e pelo Seu sacrifício; ou, como a maioria dos outros, teríamos ficado indiferentes?

Muitas vezes, estas perguntas levam-nos a outra: se Ele voltasse hoje à terra em circunstâncias semelhantes, seríamos capazes de O reconhecer, ou falharíamos nesse teste?

Os feitos do Báb, a Sua personalidade, os seus ensinamentos e as suas provações apresentam um paralelo notável com a vida de Jesus de Nazaré. O Bab proclamou-se Mensageiro de Deus. Os Seus ensinamentos eram espiritualmente profundos e desafiadores. Durante a Sua própria vida, Ele atraiu para a Sua Causa milhares e milhares de seguidores devotados, muitos dos quais - tal como os primeiros cristãos - demonstrariam com o seu próprio sangue a sinceridade da sua fé.

Jovem, corajoso e dócil, o Báb possuía uma natureza afectuosa que exercia uma influência magnética e transformadora sobre aqueles com quem contactava. Realizou um ministério breve e tumultuoso com uma determinação implacável e - para muitos observadores - com um desprezo quase imprudente pela Sua própria segurança pessoal. Embora não fosse rico e não pertencesse a uma das classes instruídas ou dominantes, Ele - graças ao poder divino da Sua personalidade e da Sua palavra - fundou uma nova fé que desafiou as tradições e os dogmas da ordem existente.

O Báb foi forçado a viajar sem destino ao longo do Seu ministério. Experimentou a adulação das massas, apenas para, no final, vê-las voltarem-se contra Ele. Foi o alvo da ira dos poderes estabelecidos - em especial do clero. Nos últimos meses, foi interrogado pelos mais altos funcionários, religiosos e governamentais, que mais tarde proferiram a Sua sentença da morte. Finalmente, sofreu uma execução pública cruel, recusando-Se até ao fim a renunciar às Suas afirmações ou comprometer a Sua doutrina.

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Kenneth E. Bowers é autor do livro “God Speaks Again” e vive com a família em Chicago. Actualmente é membro da Assembleia Espiritual Nacional ds Estados Unidos

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