sábado, 23 de junho de 2018

Quando a religião degenera, surge uma nova Fé



Ao longo da história humana, quando os períodos de descrença, separação e degeneração religiosa atingiam o seu apogeu, surgiu sempre uma nova Fé.

Tal como numa floresta saudável, quando as árvores antigas caem e morrem, as novas árvores tomam o seu lugar.

Este ciclo constante de declínio e renovação sempre esteve presente no nascimento de cada uma das grandes religiões.

Por exemplo: os fundadores do Judaísmo, do Budismo, do Islão e do Cristianismo, surgiram em momentos em que os destinos da sociedade se encontravam no ponto mais baixo do seu declínio e a anterior dispensação religiosa tinha perdido o seu poder espiritual inicial. Nesses momentos as religiões existentes definhavam no sectarismo, conflito e hostilidade aberta. As civilizações tinham enfraquecido. A espiritualidade colectiva de toda uma cultura tinha-se deteriorado. A luz da lâmpada de Deus quase se extinguira.

E depois, metaforicamente, surgia um novo dia:

… o Sol da Realidade, quando ilumina o horizonte do mundo interior, anima, vivifica e desperta com um poder divino maravilhoso. As árvores das mentes humanas adornam-se com túnicas novas e verdejantes, mostrado folhas e rebentos, e gerando frutos celestiais de boas novas celestiais. Depois, flores de significados interiores surgem no solo das almas humanas, e todo o ser humano desperta para uma nova actividade divina. Este é o crescimento e o desenvolvimento do mundo interior feito através da luz esplendorosa da orientação divina e do calor do fogo do amor de Deus.

O sol físico ergue-se e põe-se. O mundo terrestre tem o seu dia e a sua noite. Após cada ocaso do sol, segue-se uma alvorada e o nascimento de um novo dia. De igual modo, o Sol da Realidade, tem o seu ocaso e a sua madrugada. Existe dia e noite no mundo da espiritualidade. Após cada partida, existe um regresso, e surge a luz de um novo dia. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 271)

Hoje, vemos a dinâmica deste processo cíclico em acção no mundo, com as pessoas decepcionadas com as religiões dos seus pais, questionando-as e abandonando em números cada vez maiores aquelas tradições antiquadas. No fundo, se todas aquelas tradições perderam o seu significado interior, o seu sentido, a sua vitalidade, então porque continuariam as pessoas a segui-las?

Esta energia inquisitiva e incansável leva as pessoas a embarcar numa busca espiritual, a procurar algo que dê às suas vidas, sentido, propósito e clareza. Essa energia espalhou-se pelo nosso mundo contemporâneo. Buscadores de antigas tradições e fés seguiram o seu próprio percurso individual, tentando encontrar um novo caminho para compreender a realidade e saciar a sua fome espiritual.

Os ensinamentos Bahá’ís encorajam esta busca:

Sabei em verdade que o buscador deve, no início da sua busca por Deus, entrar no Jardim da Busca. Nesta viagem compete ao caminhante desprender-se de tudo salvo de Deus e fechar os seus olhos para tudo o que está nos céus e na terra. Não deve demorar o seu coração no amor ou no ódio por qualquer alma, pois isso pode impedi-lo de alcançar a morada da Beleza celestial. Deve santificar a sua alma dos véus da glória e abster-se de se vangloriar de vaidades mundanas, conhecimento exterior e outras dádivas que Deus lhe possa ter concedido. Deve procurar a verdade com a maior destreza e empenho, para que Deus o guie nos caminhos do Seu favor e nos caminhos da Sua misericórdia. (Bahá’u’lláh, Gems of Divine Mysteries, p. 18)

Mas porque é que entrámos neste tempo de procura e questionamento? Porque é que, mais do que nunca, existem pessoas que se descrevem como buscadores sem nenhuma religião em particular e sem qualquer sistema de crença formal?

Na perspectiva Bahá’í, este espírito inquisitivo é um desenvolvimento saudável, uma resposta adequada e compreensiva à necessidade de renovação da religião, e um novo sentido de possibilidades espirituais.

Os ensinamentos Bahá’ís dizem que a religião é um sistema orgânico único que necessita de renovação periódica – o que oferece uma enorme esperança a todos os que, de forma independente, procuram a verdade:

Assim é que, através do aparecimento destes Luminares de Deus o mundo é renovado, as águas da vida eterna jorram, as ondas da amorosa generosidade elevam-se, as nuvens da graça acumulam-se, e as brisas das dádivas sopram sobre todas as coisas criadas. (Bahá’u’lláh, The Bookof Certitude, ¶31)

Os ensinamentos Bahá’ís pedem-nos que compreendamos todas as religiões e o seu ciclo de renovação como um único processo evolutivo em vez de acontecimentos fixos e dogmáticos que aconteceram uma vez no passado. Despertam-nos suavemente e pedem-nos que vejamos o amanhecer do novo dia.

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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