sábado, 16 de junho de 2018

Superar o medo: uma pena na brisa da vontade de Deus.



Os meus pensamentos levam-me a uma cena de um filme. Uma pena é soprada pelo vento e levada pelo ar. Voa até ao topo de umas árvores e depois desce até junto dos pés de Forest Gump.

E no final do filme, aquela pena voa novamente para o céu simbolizando o fluir constante das nossas vidas. No caso de Forest Gump, ele era uma alma tão pura que nunca andava contra a corrente, e preferia sempre entregar-se à vontade de Deus. Submetia-se - com um coração puro, afectuoso e radiante - a tudo o que a vida lhe dava.

A vida é como uma caixa de chocolates. Nunca sabemos que vamos encontrar lá dentro” era a sua famosa frase; e ficava grato por tudo o que recebia.

Como é que podemos tornar-nos tão puros de coração? Como podemos andar sobre as brisas da vontade de Deus? Aliviar o peso do ego torna os nossos espíritos mais leves. Quando não seguimos as nossas vontades, não andamos contra o vento e podemos perceber melhor o que Deus tem reservado para nós:

Não há paz para ti salvo se renunciares a ti próprio e te voltares para Mim; pois convém-te glorificares-te no Meu nome e não no teu próprio. Põe a tua confiança em Mim e não em ti próprio, pois Eu desejo ser amado, só e acima de tudo o que existe. (Bahá’u’lláh, TheHidden Words, p. 5)

Imploro-Te, ó meu Senhor, pelo Teu nome cujo esplendor envolveu a terra e os céus, que me possibilites a entregar a minha vontade àquilo que decretaste nas Tuas Epístolas, para que eu possa deixar de descobrir em mim qualquer desejo salvo o que desejaste através do poder da Tua soberania, e qualquer vontade salvo o que me destinaste pela Tua vontade. (Bahá’u’lláh, Prayers and Meditations, p. 241)

Pessoalmente, sinto-me perturbada quando percebo que não me entrego ao vento da vontade de Deus. Um exemplo é o meu medo persistente de um dia ter a doença de Alzheimer. Fico preocupada e penso muito cada vez que me esqueço de alguma coisa ou quando penso que estou a mostrar os primeiros sinais de demência. Com isto, trago para a minha vida tudo o que se relaciona com demência e os meus medos multiplicam-se.

Hoje fui ao funeral de um amigo idoso da minha comunidade. Só quando cheguei é que soube que ele sofreu de Alzheimer durante os últimos anos da sua vida. Pensei para mim própria como aquilo deve ter sido terrível. Depois ouvi histórias magníficas sobre como ele viveu para servir a humanidade. Foi só durante os últimos anos que ele sofreu os efeitos da doença; foi apenas uma pequenina parte da sua vida maravilhosa. A situação não afectou a sua alma. Tal como outras pessoas que o conheceram, vou sempre recordá-lo como saudável, sorridente e simpático. Viveu a sua vida na brisa da vontade de Deus e agora está em paz.

A única forma de superarmos o medo, percebi, é segurarmo-nos ao amor. Tenho que acreditar que Deus me ama e que Ele cuida de mim, independentemente do que possa acontecer. Focar-me no amor e não no medo, deu-me paz.

Confia em Deus. Acredita n’Ele. Louva-O e apela-Lhe constantemente. Em verdade, Ele transforma os problemas em facilidades, a tristeza em conforto, e a luta em paz absoluta. Em verdade, Ele tem o domínio sobre todas as coisas.

Se escutares as minhas palavras, liberta-te dos grilhões de tudo o que possa acontecer. Ou melhor, sob todas as condições, agradece ao teu Senhor afectuoso, e entrega os teus problemas nas Suas mãos para que Ele faça o que Lhe agrada. Isto é melhor para ti do que tudo o que existe em ambos os mundos. (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings ofAbdu’l-Baha, #150)

Após o funeral, um amigo viu a chorar. E disse-me com um sorriso: “Kathy, esta vida só dura alguns minutos. É muito curta e só temos tempo para ser felizes.” Reconheci que tinha passado demasiadas horas a preocupar-me com coisas poderiam nunca acontecer, em vez de aproveitar os preciosos momentos que me restam:

Ó tu que volves a tua face para Deus! Fecha os teus olhos para todas as coisas e abre-os depois para o reino do Todo-Glorioso. Pede o que quer que desejes apenas a Ele; procura o que quiseres apenas n’Ele. Com um olhar, Ele concede cem mil esperanças; com um vislumbre, Ele cura cem mil doenças incuráveis; com um aceno, Ele coloca um bálsamo em todas as feridas; e num relance, Ele liberta os corações dos grilhões da dor. Ele faz o que faz, e nós que recurso temos? Ele cumpre a Sua vontade, Ele ordena o que Lhe apraz. Assim, é melhor para ti curvares a tua cabeça em submissão e colocares a tua confiança no Senhor Todo-Misericordioso. (idem,#22)

A confiança deve ser como uma pena na brisa da vontade de Deus. Ter fé é seguir o fluxo constante do vento em vez de irmos contra ele. Deus, com o Seu amor infalível, sabe sempre o que é melhor para nós; então porque lutamos contra o resultado da Sua vontade? Afinal, que escolha temos?

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Kathy Roman é educadora reformada, aspirante a escritora, esposa e mãe de dois filhos que vive em Elk Grove, California (EUA), onde serve como responsável de Informação Pública Bahá’í.

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