sábado, 18 de abril de 2015

Apóstatas, Infieis e Hereges

Por David Langness.


Apóstatas: pessoas que renunciam explicitamente à sua religião ou crenças.

Infieis: pessoas que não acreditam numa religião específica.

Hereges: pessoas que têm crenças ou teorias que divergem fortemente das crenças e costumes estabelecidos.

Alguma destas definições é aplicável ao leitor?

Sim? A mim também. Na verdade, segundo estas definições, eu próprio já fui apóstata, infiel e herege.

Aos treze anos, renunciei explicitamente à religião em que nasci, a Igreja Luterana; tornei-me um apóstata. Ao fazer isso, tornei-me, por definição, um infiel, porque durante muito tempo não acreditei em nenhuma religião. Depois descobri a Fé Bahá'í e decidi aceitá-la voluntariamente - o que para alguns fundamentalistas é uma crença herética, passível de prisão e morte.

Militantes do Boko Haram na Nigéria
Ultimamente, temos ouvido muitas vezes estas três palavras antiquadas: apóstata, infiel e herege. Elas tendem frequentemente a surgir nas declarações públicas de grupos como Boko Haram ou o chamado Estado Islâmico; estas palavras encontram espaço nos slogans e nas maldições de diversas agendas religiosas fundamentalistas; e como resultado, até reapareceram nas conversas comuns.

Assim, vamos analisar estas palavras e os conceitos por trás delas. Vamos explorar o que elas costumavam dizer, e o que significam hoje. E mais importante que isso: vamos examinar o seu uso cada vez mais comum contra outras pessoas - incluindo a escalada de violência que por vezes essas palavras provocam - e ver o que os princípios Bahá'ís têm a dizer sobre esta tendência.

Em primeiro lugar, os ensinamentos bahá'ís, com a sua forte ênfase na unidade da humanidade, não separam os seres humanos em nenhuma dessas categorias arcaicas e simplistas:
Um ensinamento fundamental de Bahá'u'lláh é a unidade do mundo da humanidade. Dirigindo-se à humanidade, Ele diz: "Todos vós sois as folhas de uma árvore e os frutos de um só ramo." Com isto, entende-se que o mundo da humanidade é como uma árvore, as nações ou povos são os diferentes membros ou ramos dessa árvore e que as criaturas humanas são como os frutos e as flores da mesma. Desta forma, Sua Santidade Bahá'u'lláh expressou a unidade da humanidade, enquanto nos ensinamentos religiosos do passado, o mundo humano foi representado como dividido em duas partes, uma conhecida como o povo do Livro de Deus ou a árvore pura, e a outra como o povo de infidelidade e do erro ou a árvore do mal. Os primeiros foram considerados como pertencentes aos fiéis e os outros como sendo as hordes dos irreligiosos e infieis; uma parte da humanidade eram destinatários da misericórdia divina e a outra era o objeto da ira do seu Criador. Sua Santidade Bahá'u'lláh eliminou isto proclamando a unidade do mundo da humanidade e este princípio é enfatizado nos Seus ensinamentos, pois Ele submergiu toda a humanidade no mar da generosidade divina. (‘Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 454)
Esta abordagem revolucionária à crença começou a mudar o mundo.

Em vez de dividir as pessoas em dois grupos - os bons e os maus, os fiéis e os pecadores, os celestiais e os satânicos - a abordagem Bahá’í centra-se na sua unidade essencial. Em vez de separar e injuriar "os outros" - pessoas de diferentes grupos religiosos, étnicos, raciais ou nacionais - os Baha'is não vêem “os outros”; apenas vêem seres humanos. Em vez de classificar as pessoas nas categorias tradicionais de abençoados e malditos, eleitos e preteridos, salvos e condenados, fiéis e infieis, os Bahá'ís acreditam na unidade e harmonia de toda a raça humana:
Desde o início os seguidores de todas as religiões têm acreditado em dois mares - um salgado e um doce; em duas árvores - a árvore do bem e a árvore do mal. Por causa disso, os homens chamaram-se hereges uns aos outros. Interpretando mal os mandamentos divinos, os homens desenvolveram preconceitos e com esses preconceitos travaram guerras religiosas e provocaram derramamento sangue. Vejam o que está a acontecer hoje em dia! Os homens estão a matar os seus irmãos, acreditando ser isso causa da salvação, acreditando que esse trabalho é aprovada por Deus, acreditando que aqueles que matam serão enviados para o inferno.

Bahá'u'lláh fala à humanidade num tom diferente, declarando que a humanidade deve ser como as folhas de um único ramo, os ramos de um único tronco. (‘Abdu'l-Bahá, Divine Philosophy, p. 100)

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Texto original: Apostates, Infidels and Heretics (bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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