sábado, 21 de setembro de 2019

Isaac Newton e Bahá’u’lláh: a harmonia entre ciência e religião

Por Christopher Buck.


A harmonia entre ciência e religião é um princípio básico da Fé Bahá’í. Então suponhamos que um cientista conhecido quisesse avaliar umas profecias. O que diria ele?

Não seria de esperar que as interpretações do cientista sobre as profecias fossem racionais e sensatas? Vejamos a história de um famoso cientista, Isaac Newton, como exemplo.

Sabia que, além de ser matemático e físico, Isaac Newton também era teólogo? Em 1773, ele escreveu um livro intitulado Observações sobre as Profecias de Daniel e o Apocalipse de S. João; e num dos seus textos relacionados com o tema, Newton escreveu:
Se as profecias referentes à era apostólica foram dadas para os homens daquela época se converterem à verdade e para o estabelecimento da sua fé, e se era seu dever investigar diligentemente essas profecias, então porque não pensamos que as profecias que dizem respeito aos fins dos tempos onde nos encontramos foram, de igual modo, destinadas ao nosso uso, para que, no meio das apostasias, pudéssemos ser capazes de discernir a verdade e ficar firmes na sua fé, e consequentemente também é nosso dever investigar essas profecias com todo cuidado.

... compreendes, portanto, que isto não é uma especulação fútil, nem um tema indiferente, mas um dever do grande momento….

Considere-se como o nosso Salvador ensinou os judeus com parábolas, para que ao escutar, eles pudessem ouvir e não compreender; e ao olhar, eles pudessem ver e não perceber. E tal como essas parábolas foram ditas para testar os judeus, as escrituras místicas foram escritas para nos testar. Portanto, acautela-te para não ficares em falha neste teste. (Sir Isaac Newton, Tratado sobre o Apocalipse [secção 1.1])
Paralelamente, Bahá’u’lláh escreveu:
...em todas as eras, a leitura das escrituras e dos livros sagrados, não tem outro propósito salvo permitir ao leitor perceber o seu significado e deslindar os seus mistérios mais profundos. De outra forma, a leitura sem compreensão não tem qualquer proveito duradouro para o homem. (Kitab-i-Iqan, ¶185)

Sabe tu, em verdade, que o propósito subjacente a todos estes termos simbólicos e alusões abstrusas que emanam da Causa sagrada dos Reveladores de Deus tem sido testar e pôr à prova os povos do mundo, para que a terra dos corações puros e iluminados se distinga do solo árido e perecível. Desde os tempos imemoriais esse tem sido o caminho de Deus entre as Suas criaturas e disto dão testemunho os registos dos livros sagrados. (Kitab-i-Iqan, ¶53)

Será que Newton e Bahá’u’lláh tinham a mesma opinião sobre o objectivo da profecia, e do nosso dever de tentar compreendê-la? Convido o leitor a responder a esta pergunta. Transponha as suas declarações e verifique se os seus significados são aproximadamente equivalentes.

Se Newton tivesse dito, segundo as palavras de Bahá’u’lláh, que “o propósito subjacente a todos estes termos simbólicos e alusões abstrusas... tem sido testar e pôr à prova os povos do mundo”, isto faria sentido em termos newtonianos? De igual modo, se Bahá’u’lláh tivesse dito, segundo as palavras de Newton, que “as escrituras místicas foram escritas para nos testar” e “acautela-te para não ficares em falha neste teste”, isto faria sentido no universo das afirmações de Bahá’u’lláh?

Sim, de facto! Tendo passado o teste da equivalência funcional, as afirmações de Isaac Newton e de Bahá’u’lláh sobre o propósito geral da profecia – e sobre o nosso dever de tentar compreendê-la – passam o teste da transposição.

Tendo ultrapassado o teste de transposição, vejamos que mais é que Isaac Newton e Bahá’u’lláh têm a dizer sobre as estratégias de interpretação para “descodificar” a profecia. Existem algumas regras gerais para interpretação racional ou mística das profecias? Vejamos o que Newton tem a dizer:
Quem deseja compreender um livro escrito numa língua estranha, deve primeiramente aprender a língua e se deseja compreender bem, deve aprender a língua na perfeição… João não escreveu numa língua, Daniel noutra, Isaías numa terceira e os restantes em línguas que lhes eram particulares; mas todos escreveram numa mesma língua mística…

Também consegui muito esclarecimento nesta busca com a analogia entre o mundo natural e o mundo político. Pois a linguagem mística encontra-se nesta analogia e será mais bem compreendida ao ser considerada a seu original. (Sir Isaac Newton, The First Book Concerning the Language of the Prophets, Chapter 1, A Synopsis of the Prophetic figures)
O que Newton está a dizer aqui é que podemos compreender melhor a “linguagem mística” da profecia como uma “analogia” (ou correspondência simbólica) entre “o mundo natural e o mundo político”. (Hoje diríamos que “o mundo político” se refere à humanidade em geral). Por outras palavras, a profecia usa o mundo da natureza para descrever misticamente o mundo humano. Ou ainda, a profecia usa a natureza para falar da natureza humana - ou seja, a profecia representa o espiritual através do físico.

Agora consideremos as seguintes afirmações de Bahá’u’lláh:
É evidente para ti que as Aves do Paraíso e as Pombas da Eternidade falam uma linguagem dupla. Uma, a linguagem exterior, está privada de alusões, nada esconde e está desvelada, para que possa ser uma lâmpada guia e uma luz de orientação com a qual os caminhantes possam alcançar os cumes da santidade, e os buscadores entrem no reino da reunião eterna… A outra linguagem é velada e oculta, para que tudo o que se esconde no coração do malévolo se possa manifestar e o seu mais íntimo ser se revele. Assim falou Sádiq, filho de Muhammad: “Deus, em verdade, testá-los-á e peneirá-los-á.” ... Nessas palavras, o significado literal, tal como é geralmente entendido pelo povo, não é o que se pretendia. (Kitab-i-Iqan, ¶283)
Vamos aplicar novamente o teste da transposição a estas afirmações de Isaac Newton e Bahá’u’lláh, para verificar se fazem sentido no universo do discurso do outro. Se Newton dissesse que as escrituras, em geral, “falam uma linguagem dupla”, tal como Bahá’u’lláh afirma, então essa afirmação faria sentido e seria consistente com a abordagem interpretativa do próprio Newton. Se Bahá’u’lláh declarasse que as profecias estão escritas numa “linguagem mística”, então as palavras de Newton soariam verdadeiras no domínio das afirmações de Bahá’u’lláh:
Fosse tu limpar o espelho do teu coração do pó da malícia, perceberias o significado dos termos simbólicos revelados pelo todo-abrangente Verbo de Deus que se manifesta em cada Dispensação, e descobririas os mistérios do conhecimento divino. (Idem, ¶75)
Isto não significa que Bahá’u’lláh e Isaac Newton estivessem em pleno acordo. Mas se Newton, uma das maiores mentes científicas de todos os tempos, abordou as profecias da mesma forma que Bahá’u’lláh, uma das maiores mentes religiosas de todos os tempos, então isto destaca-se como um exemplo notável de harmonia entre ciência e religião, e de compatibilidade entre razão e fé. Certamente que Isaac Newton e Bahá’u’lláh concordariam sobre este princípio.

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Texto original: Sir Isaac Newton & Baha’u’llah: a Harmony of Science and Religion (www.bahaiteachings.org)

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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

3 comentários:

Anónimo disse...

Excelente reflexão. Até porque nos faz lembrar que é mister, enquanto baha'is, ter senso crítico, baseado na razão, na apreciação do que ouvimos mas imbuído de espiritualidade.

Anónimo disse...

THE
MISSING
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Science & Spiritualily
WHO WE REALLY ARE
GUILLERMO B. PEREZ
MOLINEAUX

Anónimo disse...

El creador es la fuente de todo lo que existe, siendo omnipotente, omnisapiente, omnipresente y absoluto, es incomprensible que hubiese contradicciones entre los mensajes para la humanidad y la ciencia.
El proceso de razonamiento científico y el razonamiento emocional deben de estar equilibrado para hacer un análisis objetivo de la realidad, entendiendo que lo absoluto contiene lo falso y lo verdadero, hay que tener desprendimiento para despejar una situación de la otra.