sábado, 14 de junho de 2025

A sociedade humana progride?

Por David Langness.

Acredita na causa e efeito? Actualmente, é difícil encontrar alguém que rejeite esta ideia — por isso, a maioria de nós aceita o conceito de causalidade.


Só para verificarem, aqui fica a premissa: um processo (a causa) interage com outro processo e produz o efeito. Os seus pais uniram-se e você nasceu — eles eram as causas, e você é o efeito. A água corrente de um rio flui para baixo devido à lei da gravidade; construímos uma barragem com turbinas; as turbinas produzem eletricidade; a eletricidade alimenta o aparelho que você está a usar agora para ler este texto. Causa e efeito: a causa é responsável e o efeito depende dessa causa.

Actualmente, a causalidade parece-nos elementar porque é a base de todo o método científico. Mas pensemos na causalidade em termos de história por um momento. Se a história é cíclica, como muitos gregos antigos acreditavam, isso negaria a lei da causalidade, porque num universo cíclico causas diferentes resultariam sempre no mesmo efeito básico. Foi assim que surgiu a Teoria Linear da história, e a própria ideia de progresso — os primeiros filósofos e cientistas observaram causas e os seus efeitos e depois aplicaram essa teoria linear à própria história.

Até os filósofos pré-platónicos tinham algumas teorias de causalidade, mas Platão provavelmente disse-o melhor: “…tudo o que existe ou muda deve-o a alguma causa; pois nada pode existir sem uma causa.” – Timeu, 28a.

Aristóteles expandiu esta ideia de causalidade, e os filósofos estoicos, com a sua firme crença na derradeira coerência do universo, levaram-na ainda mais longe:

Os acontecimentos anteriores são causas daqueles que os seguem, e desta forma todas as coisas estão interligadas, e assim nada acontece no mundo que não seja inteiramente consequência disso e a ele ligado como causa. […] De tudo o que acontece segue-se algo mais, dependendo disso por necessidade como causa. (Um filósofo estoico desconhecido)

Faz sentido, certo? A Teoria Linear diz que a própria história se baseia na causa e no efeito, o que significa que o mundo progride constantemente, avançando para um objetivo final.

Na Teoria Linear, a história não se repete, embora alguns acontecimentos possam parecer semelhantes a outros do passado. Mark Twain disse a famosa frase: "A história não se repete, mas rima". Em vez disso, uma visão linear da história reflecte a regra da causalidade — uma coisa acontece, depois outra, e depois outra — tudo a partir da causa original do que quer que tenha acontecido primeiro. Na escola, respondíamos àquelas perguntas de causalidade em todos os testes ou composições de História: "O que causou a Guerra Civil Americana?" ou "Enuncie cinco factores que causaram o colapso da União Soviética".

Dadas as nossas crenças modernas na ciência e no método científico, é difícil argumentar contra a causalidade. Mas eis o principal argumento contra a sua aplicação à história: só porque a causalidade é verdadeira, não significa que a civilização humana progrida realmente. Como o progresso implica melhoria, e o século XX testemunhou tamanha barbárie e guerras globais destrutivas, muitos historiadores argumentam agora contra a própria ideia do progresso humano, chamando-lhe mito. O progresso, dizem, é na verdade uma invenção da era do Iluminismo, posteriormente avançada por Darwin e Spencer, que afirma que a evolução humana tende sempre a tornar a vida melhor. A Primeira Guerra Mundial praticamente acabou com a teoria do progresso de Spencer, chamada "darwinismo social", porque a humanidade viu como os avanços na tecnologia e na guerra nos poderiam levar a regredir em vez de progredir.

Os ensinamentos Bahá’ís apontavam esta dura realidade muito antes da Primeira Guerra Mundial:

Consequentemente, quando observares o padrão ordenado dos reinos, cidades e aldeias, com o encanto dos seus adornos, a frescura dos seus recursos naturais, o refinamento dos seus utensílios, a facilidade dos seus meios de transporte, a extensão do conhecimento disponível sobre o mundo natural, as grandes invenções, os empreendimentos colossais, as nobres descobertas e as pesquisas científicas, concluirás que a civilização conduz à felicidade e ao progresso do mundo humano. Contudo, se voltares o teu olhar para a descoberta de máquinas destrutivas e infernais, para o desenvolvimento de forças de demolição e para a invenção de instrumentos de fogo, que despedaçam a árvore da vida, tornar-se-á evidente e manifesto para ti que a civilização está conjugada com a barbárie. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, nº 225)

A teoria linear da história caiu em desuso no mundo moderno, principalmente por causa deste problema do progresso levantado por ‘Abdu’l-Bahá. Vimos, vezes sem conta, como os avanços materiais e tecnológicos tornaram a vida melhor para uns e muito pior para muitos outros. Os ensinamentos Bahá’ís dizem que isto será sempre assim — até encontrarmos formas de incutir ideais espirituais nas nossas civilizações:

O progresso e a barbárie andam de mãos dadas, a não ser que a civilização material seja confirmada pela Orientação Divina, pelas revelações do Todo-Misericordioso e pelas virtudes piedosas, e seja reforçada pela conduta espiritual, pelos ideais do Reino e pelas efusões do Reino do Poder. (Idem)

No próximo artigo desta série, veremos se conseguimos encontrar uma forma de compreender como estas virtudes individuais e ideais espirituais encontram o seu caminho nas nossas civilizações, examinando a Teoria do Grande Homem da história.

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Texto original: Does Human Society Progress? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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