sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Boko Haram, a unidade das religiões e a educação das meninas

Por David Langness.


No dia 16 de Abril, durante a noite, homens armados raptaram 234 adolescentes de uma escola secundária pública, em Chibok na Nigéria. Militantes do grupo extremista islâmico Boko Haram assumiram a responsabilidade. Apesar dos pais das jovens terem procurado intensamente as suas filhas nas remotas florestas nigerianas, até agora ainda não encontraram qualquer rasto das moças.

O termo Boko Haram significa "a educação ocidental é proibida e pecaminosa". O grupo teve o seu início como um sistema educativo para muçulmanos do norte da Nigéria, quando o seu fundador, Muhammad Yusuf começou a manifestar-se contra o modelo educativo colonial britânico utilizado na Nigéria, culpando o sistema pela profunda corrupção existente no país. A abordagem educativa estilo-Taliban do Boko Haram rejeita grande parte da ciência moderna, incluindo a ciência da evolução, em favor daquilo que os seguidores de Yusuf chamam "ciências corânicas". A ideologia do Boko Haram defende que a terra é plana e que a chuva não surge através do processo de evaporação, mas da graça de Deus. Também proíbe a educação das meninas.

Quando o Boko Haram inicialmente criou suas escolas estilo-Madrassa, atraíram como estudantes os jovens pobres e desempregados da Nigéria. Muitos muçulmanos do país acusavam o governo nigeriano, controlado esmagadoramente por cristãos nigerianos do sul, de oprimir os pobres e desfavorecidos seguidores do Islão. O Boko Haram inicialmente pretendia que as suas escolas lidassem com a opressão, e aquilo que os seus líderes consideravam como a degradação moral da sociedade. Com o passar do tempo, enquanto as escolas cresciam, começaram a pregar a necessidade de impor a Sharia (lei islâmica) a todos os nigerianos. As organizações policiais e militares nigerianas intervieram de forma repetida e violenta, e em 2009, o líder do Boko Haram, Muhammad Yusuf, morreu enquanto estava sob custódia policial. Isto radicalizou ainda mais o grupo, que começou a condenar o que designava como "educação pecaminosa", atacando violentamente as escolas de estilo ocidental, especialmente aquelas que educavam meninas.

Em Julho de 2013, os militantes do Boko Haram deitaram fogo a um dormitório escolar no norte da Nigéria, matando 29 jovens estudantes trancados no interior. Também realizaram ataques suicidas contra igrejas e incendiaram diversas escolas. O novo líder, Abubakar Shekau, declarou: "Os professores que ensinam educação ocidental? Vamos matá-los! Vamos matá-los à frente dos seus alunos; diga aos alunos para, a partir de agora, estudar o Alcorão". Shekau, no seu último comunicado em vídeo, disse que as meninas sequestradas seria "vendidas no mercado".

O mais recente rapto do Boko Haram indignou o mundo.

Muito do que estes grupos violentos "pseudo-religiosos" fazem viola o espírito da verdadeira religião. Na verdade, à indignação mundial contra o último rapto juntaram-se várias organizações e grupos islâmicos, que afirmam que o Islão moderno não tem qualquer semelhança com a imagem de extremismo muçulmano do Boko Haram. Muitos outros grupos religiosos também se juntaram para condenar a violência.

Os Bahá’ís acreditam que estes conflitos mortais de religião, de classe e de cultura só podem ser evitados através de uma abordagem que combine três factores: uma cessação completa da violência; uma abordagem de unidade em que muitos grupos religiosos que trabalham em conjunto; e educação obrigatória para todas as crianças, especialmente as meninas.

Em primeiro lugar, a violência deve parar:
O uso da força pelos fisicamente fortes contra os mais fracos, como um meio de impor a vontade própria e cumprir os seus desejos, é uma transgressão flagrante dos Ensinamentos Bahá’ís. Não pode haver nenhuma justificação para uma pessoa forçar, através do uso da força ou pela ameaça de violência, aquilo que outra pessoa não pretende. 'Abdu'l-Bahá escreveu: " Ó amantes de Deus! Neste ciclo do Deus Todo-Poderoso, a violência e a força, a coacção e a opressão, são todos eles condenados" (A Casa Universal de Justiça)
Na perspectiva Bahá’í, pôr fim a essa violência é responsabilidade de todo o mundo, e não apenas do governo nacional onde ocorre a violência.

Em segundo lugar, as diversas religiões da Nigéria devem fazer um esforço conjunto para contactar outros grupos religiosos, reduzindo as suas diferenças e perceber que todos adoram o mesmo Deus:
Este ódio e inimizade, este fanatismo e intolerância são resultados de desentendimentos; a realidade da unidade religiosa surgirá quando estes atritos forem dissipados. Pois a base das religiões divinas é uma fundação única. ('Abdu'l-Bahá, Foundations of World Unity, p. 96)
Os Bahá’ís da Nigéria estão prontos para ajudar neste processo de construção da unidade.

Por fim, a sociedade nigeriana como um todo deve alcançar um acordo sobre a educação dos seus filhos. Os Bahá’ís recomendam a aplicação do princípio Bahá’í de escolaridade obrigatória universal para todas as crianças - especialmente as meninas - como um objectivo desejável e uma realidade necessária no mundo moderno. Com esse objectivo em mente, os Bahá’ís da Nigéria desenvolvem projectos educacionais de sucesso, com as escolas, como a Escola Bahá’í Harmatan, em Uyo (Nigéria) e vários outros instituições pré-escolares e projectos de alfabetização em funcionamento, que incluem ambos os sexos. Os Bahá’ís acreditam que:
A educação ocupa um importante lugar na nova ordem das coisas. A educação de cada criança é obrigatória. Se não houver dinheiro suficiente numa família para educar a menina e o menino, o dinheiro deve ser dedicado à educação da menina, pois ela é a potencial mãe. Se não existirem pais, a comunidade deve educar a criança. ('Abdu'l-Bahá, Divine Philosophy, p. 83)

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Texto original em inglês: Boko Haram, Religious Unity and the Education of Girls

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David Langness é jornalista e critico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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