7ª Sessão de Estudo da Súriy-i-Haykal (Epístola do Templo) revelada por Bahá'u'lláh.
- - - - - - - - - -
PARA REFLEXÃO:
1. Porque é que Bahá’u’lláh não trata o Czar pelo seu título imperial?
2. Quem são os “orgulhosos da terra” a quem Bahá’u’lláh se dirige no parágrafos ¶167 e ¶168?
3. Porquê o uso de linguagem e terminologia bíblica nesta Epístola?
4. Porque é que Bahá’u’lláh diz ao Czar que ouviu “aquilo que suplicaste ao teu Senhor”?
5. Até que ponto podemos considerar a Epístola dirigida ao Czar, como uma epístola dirigida a todos czares Romanovs e seus sucessores?
Povo de Bahá
sábado, 23 de setembro de 2023
quarta-feira, 20 de setembro de 2023
sábado, 16 de setembro de 2023
A sombra de um Rei Justo
Por David Langness.
Quando eu era criança, o meu pai brincava comigo a um jogo chamado “A Sombra Sabe!” Acho que ele mesmo inventou o jogo, e foi buscar o nome a um antigo programa de rádio que ouvia quando era criança, e que eu ouvi apenas uma vez. A introdução dramática desse programa tornou-se famosa, aparentemente, quando começou a ser emitido na década de 1930. Foi assim, com uma voz profunda e assustadora: "Quem sabe que mal se esconde no coração dos homens? A Sombra sabe!"
O nosso jogo – adequado para uma criança de três anos que ainda não havia desenvolvido o raciocínio lógico – envolvia muita correria, ficar escondido e rir. O jogo tinha um objetivo: fugir da própria sombra. Sim, eu sei: ninguém consegue fugir da própria sombra, mas era divertido tentar.
Então, com isso em mente, o que é que ‘Abdu’l-Bahá queria dizer na frase citada acima quando diz que “a sombra fala daquele que a projecta”?
Aparentemente, esta breve frase aconselha-nos a abster-nos de censurar ou criticar indevidamente governantes, reis e líderes políticos. 'Abdu'l-Bahá parece sugerir que mencionar personalidades, ou culpar um líder em oposição a outro, é um exercício infrutífero. Em vez disso, recomenda que todos possamos ver claramente os efeitos da governação de um líder, tal como todos podemos ver a sombra de uma pessoa. O contorno dessa sombra, tal como descobri aos três anos de idade, segue-nos fielmente por todo o lado, reproduzindo constantemente o nosso contorno exacto no claro e no escuro. Ninguém pode desfazer-se da sua sombra.
No seu Última Vontade e Testamento, um dos textos mais importantes de ‘Abdu’l-Bahá, ele desenvolve esse conselho sobre as sombras, aconselhando-nos a tratar os nossos administradores públicos tal como trataríamos qualquer pessoa – com respeito e honra. Ele pede-nos que nos abstenhamos de caluniar os nossos líderes políticos, obedeçamos aos governos justos e nunca desejemos o mal àqueles que nos governam:
Assim, talvez a sombra projectada por um líder nos diga tudo o que precisamos saber sobre a sua liderança. Se tivermos líderes amantes da paz, eles projectarão uma sombra pacífica e viveremos num país pacífico. Se tivermos líderes que aspiram ao seu próprio enriquecimento e progresso, a sombra que lançam será igualmente óbvia – reflectirá a corrupção nas suas almas e a corrupção na nação. Se tivermos líderes belicosos, as suas sombras violentas e mortíferas segui-los-ão por todo o lado. 'Abdu’l-Bahá parece estar a dizer-nos que a sombra de um líder – os seus motivos mais íntimos – tornar-se-á sempre óbvia, mais cedo ou mais tarde. Podemos ver essas sombras simplesmente observando o que se segue às acções de um líder.
'Abdu'l-Bahá também parece estar a dizer-nos para escolhermos cuidadosamente os nossos líderes, avaliando não só a sua reputação pública e a sua "imagem" cuidadosamente trabalhada, mas também considerando os resultados reais das suas políticas. Essas políticas são justas? Deveríamos fazer essa pergunta relativamente a cada uma dessas políticas e depois, no final das contas, decidir manter ou substituir esse líder.
A paz, a justiça e o respeito pelos direitos de todos – estes estão entre os critérios que devem fundamentar a nossa escolha de líderes, de acordo com os ensinamentos Bahá’ís. Temos uma indicação sobre estas qualidades de liderança num breve excerto do elogio ao presidente americano Woodrow Wilson, escrita em 1919 por 'Abdu'l-Bahá:
Naquela época da história, o presidente Wilson, um democrata, ajudou a mediar o acordo de Armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Após a publicação dos seus Quatorze Pontos para o estabelecimento de uma paz permanente, ele foi a Paris para promover a formação da Sociedade das Nações, a primeira tentativa mundial para criar um órgão governamental internacional. Líder progressista em muitos aspectos, Wilson apoiou o sufrágio feminino; defendeu a criação da Comissão Federal de Comércio para evitar a formação de monopólios; apoiou um salário mínimo nacional e subsídio de desemprego; ajudou a estabelecer a jornada de trabalho de oito horas mediando uma greve ferroviária nacional e resolvendo-a a favor do sindicato; e nomeou Louis Brandeis, o primeiro membro judeu do Supremo Tribunal.
Mas o Presidente Wilson também teve de apaziguar os políticos do Sul, apoiando as leis e políticas raciais segregacionistas, e dizendo aos soldados negros que protestavam que “a segregação não é uma humilhação, mas um benefício”. Wilson também, como presidente da Universidade de Princeton, recusou a admissão de estudantes negros.
Podemos ver, mesmo com base neste breve resumo, que o presidente americano há cem anos tinha uma mistura de luz e trevas nas suas políticas e opiniões. Apesar das trevas, os ensinamentos Bahá’ís homenageiam Woodrow Wilson pelos esforços que fez para estabelecer a paz mundial. Ao reconhecer e elogiar esse motivo principalmente espiritual, ‘Abdu’l-Bahá exemplificou adequadamente o princípio Bahá’í de “Nunca falar depreciativamente dos outros, mas elogiar sem distinção”. (The Promulgation of Universal Peace, p. 453)
Quem for a Washington, DC, pode visitar o túmulo do Presidente Wilson na Catedral Nacional – ele é o único presidente dos EUA sepultado no Distrito de Columbia. Ou se forem a Nova Jersey, ao campus da Universidade de Monmouth, façam uma paragem no Woodrow Wilson Hall, no local da “Casa Branca de verão” de Wilson em 1916.
------------------------------------------------------------
Texto original: The Shadow of a Just King (www.bahaiteachings.org)
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
O rei justo é a sombra de Deus na terra; todos deveriam abrigar-se à sombra da sua justiça e repousar à sombra do seu favor. Este não é o lugar para personalidades, ou censuras [dirigidas] especialmente contra alguns, separando-os dos outros; pois a sombra fala daquele que a projecta. (‘Abdu’l-Bahá, A Traveller’s Narrative, p. 65)
Quando eu era criança, o meu pai brincava comigo a um jogo chamado “A Sombra Sabe!” Acho que ele mesmo inventou o jogo, e foi buscar o nome a um antigo programa de rádio que ouvia quando era criança, e que eu ouvi apenas uma vez. A introdução dramática desse programa tornou-se famosa, aparentemente, quando começou a ser emitido na década de 1930. Foi assim, com uma voz profunda e assustadora: "Quem sabe que mal se esconde no coração dos homens? A Sombra sabe!"
O nosso jogo – adequado para uma criança de três anos que ainda não havia desenvolvido o raciocínio lógico – envolvia muita correria, ficar escondido e rir. O jogo tinha um objetivo: fugir da própria sombra. Sim, eu sei: ninguém consegue fugir da própria sombra, mas era divertido tentar.
Então, com isso em mente, o que é que ‘Abdu’l-Bahá queria dizer na frase citada acima quando diz que “a sombra fala daquele que a projecta”?
Aparentemente, esta breve frase aconselha-nos a abster-nos de censurar ou criticar indevidamente governantes, reis e líderes políticos. 'Abdu'l-Bahá parece sugerir que mencionar personalidades, ou culpar um líder em oposição a outro, é um exercício infrutífero. Em vez disso, recomenda que todos possamos ver claramente os efeitos da governação de um líder, tal como todos podemos ver a sombra de uma pessoa. O contorno dessa sombra, tal como descobri aos três anos de idade, segue-nos fielmente por todo o lado, reproduzindo constantemente o nosso contorno exacto no claro e no escuro. Ninguém pode desfazer-se da sua sombra.
No seu Última Vontade e Testamento, um dos textos mais importantes de ‘Abdu’l-Bahá, ele desenvolve esse conselho sobre as sombras, aconselhando-nos a tratar os nossos administradores públicos tal como trataríamos qualquer pessoa – com respeito e honra. Ele pede-nos que nos abstenhamos de caluniar os nossos líderes políticos, obedeçamos aos governos justos e nunca desejemos o mal àqueles que nos governam:
De acordo com o mandamento claro e sagrado de Deus, estamos proibidos de proferir calúnias, é-nos ordenado a demonstrar paz e amizade, somos exortados à rectidão de conduta, à sinceridade e à harmonia com todas as raças e povos do mundo. Devemos obedecer e desejar o bem aos governos do país, considerar a deslealdade para com um rei justo como uma deslealdade para com o próprio Deus, e desejar o mal ao governo como uma transgressão da Causa de Deus. (‘Abdu’l-Bahá, The Will and Testament, p. 8)
Assim, talvez a sombra projectada por um líder nos diga tudo o que precisamos saber sobre a sua liderança. Se tivermos líderes amantes da paz, eles projectarão uma sombra pacífica e viveremos num país pacífico. Se tivermos líderes que aspiram ao seu próprio enriquecimento e progresso, a sombra que lançam será igualmente óbvia – reflectirá a corrupção nas suas almas e a corrupção na nação. Se tivermos líderes belicosos, as suas sombras violentas e mortíferas segui-los-ão por todo o lado. 'Abdu’l-Bahá parece estar a dizer-nos que a sombra de um líder – os seus motivos mais íntimos – tornar-se-á sempre óbvia, mais cedo ou mais tarde. Podemos ver essas sombras simplesmente observando o que se segue às acções de um líder.
'Abdu'l-Bahá também parece estar a dizer-nos para escolhermos cuidadosamente os nossos líderes, avaliando não só a sua reputação pública e a sua "imagem" cuidadosamente trabalhada, mas também considerando os resultados reais das suas políticas. Essas políticas são justas? Deveríamos fazer essa pergunta relativamente a cada uma dessas políticas e depois, no final das contas, decidir manter ou substituir esse líder.
A paz, a justiça e o respeito pelos direitos de todos – estes estão entre os critérios que devem fundamentar a nossa escolha de líderes, de acordo com os ensinamentos Bahá’ís. Temos uma indicação sobre estas qualidades de liderança num breve excerto do elogio ao presidente americano Woodrow Wilson, escrita em 1919 por 'Abdu'l-Bahá:
O Presidente da República, Dr. Wilson, está na realidade a servir o Reino de Deus, pois ele é incansável e luta dia e noite para que os direitos de todos os homens possam ser mantidos sãos e salvos, para que até mesmo as pequenas nações, tal como as grandes, possam habitar em paz e conforto, sob a proteção da Retidão e da Justiça. Este propósito é realmente elevado. Confio que a incomparável Providência ajudará e confirmará essas almas em todas as condições. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #71)
Woodrow Wilson |
Mas o Presidente Wilson também teve de apaziguar os políticos do Sul, apoiando as leis e políticas raciais segregacionistas, e dizendo aos soldados negros que protestavam que “a segregação não é uma humilhação, mas um benefício”. Wilson também, como presidente da Universidade de Princeton, recusou a admissão de estudantes negros.
Podemos ver, mesmo com base neste breve resumo, que o presidente americano há cem anos tinha uma mistura de luz e trevas nas suas políticas e opiniões. Apesar das trevas, os ensinamentos Bahá’ís homenageiam Woodrow Wilson pelos esforços que fez para estabelecer a paz mundial. Ao reconhecer e elogiar esse motivo principalmente espiritual, ‘Abdu’l-Bahá exemplificou adequadamente o princípio Bahá’í de “Nunca falar depreciativamente dos outros, mas elogiar sem distinção”. (The Promulgation of Universal Peace, p. 453)
Quem for a Washington, DC, pode visitar o túmulo do Presidente Wilson na Catedral Nacional – ele é o único presidente dos EUA sepultado no Distrito de Columbia. Ou se forem a Nova Jersey, ao campus da Universidade de Monmouth, façam uma paragem no Woodrow Wilson Hall, no local da “Casa Branca de verão” de Wilson em 1916.
------------------------------------------------------------
Texto original: The Shadow of a Just King (www.bahaiteachings.org)
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
quarta-feira, 13 de setembro de 2023
segunda-feira, 11 de setembro de 2023
sábado, 9 de setembro de 2023
Os Políticos e a Política Divina
Por David Langness.
Vou contar-vos uma história verdadeira de um amigo meu que queria servir os outros e acabou por se tornar um líder político.
Este meu amigo – vou mantê-lo no anonimato para proteger sua privacidade - dedicou toda a sua carreira ao serviço público. Iniciou a sua vida profissional como professor idealista e altruísta, pois acreditava que a educação poderia transformar a sociedade. Depois de ter visto, com os seus próprios olhos, as más condições nas escolas das cidades do interior dos Estados Unidos, começou a trabalhar nas bases de um sindicato de professores, na esperança de encontrar formas de melhorar essas condições. Os dirigentes sindicais viram nele uma promessa, e ele rapidamente tornou-se um dos líderes da organização. A partir dessa posição, ele decidiu concorrer a um cargo apartidária no conselho escolar local. Foi eleito. Carismático, inteligente e atencioso, realizou um excelente trabalho nesse conselho, encontrando maneiras de melhorar as escolas do seu distrito e destacando-se no processo.
Outras pessoas viram-no como promissor, e pediram-lhe que concorresse a um cargo na legislatura do estado. Ele perdeu a primeira eleição – mas dois anos depois, concorreu novamente, agora com experiência em financiamentos e debates políticos, e venceu. Com trinta e poucos anos, ele tornou-se um deputado estadual. Trabalhou muito nas suas funções, apresentou propostas de leis inovadoras que, pensava ele, criariam mais imparcialidade e justiça na educação e na sociedade, e até conseguiu que algumas dessas leis fossem aprovadas. Na base do seu sucesso, e devido à sua energia ilimitada, à sua defesa consistente dos menos afortunados e à sua capacidade de se relacionar com pessoas de ambos os partidos políticos, os seus pares elegeram-no para líder da legislatura. De repente, juntamente com o governador do estado, ele tornou-se um dos seus dois mais poderosos líderes eleitos.
A cada passo do seu caminho, o meu amigo enfrentava cada vez mais pressões políticas. Os riscos aumentavam, assim como a natureza crítica das decisões que tinha de tomar. Certa vez, confidenciou-me que o seu trabalho era como uma panela de pressão intensa, com exigências cada vez maiores de tempo, de diplomacia e de ética. Disse que enfrentou decisões incrivelmente difíceis, e a sua posição como líder envolviam-no num constante turbilhão de controvérsias. As decisões difíceis que tomava irritavam alguns e agradavam a outros. Tentou fazer o melhor que podia, mas rapidamente descobriu que forças poderosas e bem financiados – a comunidade empresarial e industrial, os sindicatos, vários interesses económicos, partidos políticos, indivíduos e grupos ricos – apostavam na sua derrota nas próximas eleições. Porquê? Um antigo apoiante disse-lhe: “Você é demasiado ético”.
E para resumir esta longa e complexa história, basta dizer que o meu amigo já não ocupa cargos políticos. Ele poderá voltar a entrar num combate político, mas por enquanto decidiu afastar-se, e trabalhar no sector privado. Perguntei-lhe o que tinha aprendido com a experiência. Ele disse, citando Winston Churchill: “A democracia é a pior forma de governo, com excepção de todas as outras”.
Certamente muitas democracias ocidentais - incluindo os governos estaduais e federais do meu país natal, os Estados Unidos - têm muitas coisas boas; mas também são permeáveis à influência corrupta das forças financeiras. O meu amigo tentou, nesse ambiente, ser um catalisador ético para a justiça e a equidade; mas, no topo da pirâmide do poder, num Estado grande e diversificado, encontrou dificuldades quando confrontado com a tremenda influência e pressão de vários grupos de interesses.
Os ensinamentos Bahá’ís reconhecem essa realidade e elogiam os líderes que a combatem interna e externamente:
O governo e a administração pública, como todos os sectores da sociedade, atraem uma vasta gama de motivações humanas. Alguns líderes políticos entram neste campo por motivos egoístas, e alguns entram por motivos altruístas, tentando servir a humanidade. É claro que ninguém pode conhecer completamente as motivações de alguém além do próprio, e por isso os ensinamentos Bahá’ís aconselham-nos a abster-nos de julgar alguém:
------------------------------------------------------------
Texto original: Politicians and the Divine Policy (www.bahaiteachings.org)
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
Ora Deus não é injusto. Não se esquece do vosso trabalho nem do amor que mostraram por ele, ao atenderem, como ainda atendem, às necessidades dos outros irmãos na fé. (Hebreus 6:10)
Cada um, como bom administrador dos bens de Deus, ponha à disposição dos outros a graça que dele recebeu. (1 Pedro 4:10)
Os melhores dos homens são aqueles que servem o povo; os piores dos homens são aqueles que prejudicam o povo. (Alcorão 59:9)
Isto é adoração: servir a humanidade e responder às necessidades do povo. ('Abdu'l-Bahá, Paris Talks, p. 177)
Vou contar-vos uma história verdadeira de um amigo meu que queria servir os outros e acabou por se tornar um líder político.
Este meu amigo – vou mantê-lo no anonimato para proteger sua privacidade - dedicou toda a sua carreira ao serviço público. Iniciou a sua vida profissional como professor idealista e altruísta, pois acreditava que a educação poderia transformar a sociedade. Depois de ter visto, com os seus próprios olhos, as más condições nas escolas das cidades do interior dos Estados Unidos, começou a trabalhar nas bases de um sindicato de professores, na esperança de encontrar formas de melhorar essas condições. Os dirigentes sindicais viram nele uma promessa, e ele rapidamente tornou-se um dos líderes da organização. A partir dessa posição, ele decidiu concorrer a um cargo apartidária no conselho escolar local. Foi eleito. Carismático, inteligente e atencioso, realizou um excelente trabalho nesse conselho, encontrando maneiras de melhorar as escolas do seu distrito e destacando-se no processo.
Outras pessoas viram-no como promissor, e pediram-lhe que concorresse a um cargo na legislatura do estado. Ele perdeu a primeira eleição – mas dois anos depois, concorreu novamente, agora com experiência em financiamentos e debates políticos, e venceu. Com trinta e poucos anos, ele tornou-se um deputado estadual. Trabalhou muito nas suas funções, apresentou propostas de leis inovadoras que, pensava ele, criariam mais imparcialidade e justiça na educação e na sociedade, e até conseguiu que algumas dessas leis fossem aprovadas. Na base do seu sucesso, e devido à sua energia ilimitada, à sua defesa consistente dos menos afortunados e à sua capacidade de se relacionar com pessoas de ambos os partidos políticos, os seus pares elegeram-no para líder da legislatura. De repente, juntamente com o governador do estado, ele tornou-se um dos seus dois mais poderosos líderes eleitos.
A cada passo do seu caminho, o meu amigo enfrentava cada vez mais pressões políticas. Os riscos aumentavam, assim como a natureza crítica das decisões que tinha de tomar. Certa vez, confidenciou-me que o seu trabalho era como uma panela de pressão intensa, com exigências cada vez maiores de tempo, de diplomacia e de ética. Disse que enfrentou decisões incrivelmente difíceis, e a sua posição como líder envolviam-no num constante turbilhão de controvérsias. As decisões difíceis que tomava irritavam alguns e agradavam a outros. Tentou fazer o melhor que podia, mas rapidamente descobriu que forças poderosas e bem financiados – a comunidade empresarial e industrial, os sindicatos, vários interesses económicos, partidos políticos, indivíduos e grupos ricos – apostavam na sua derrota nas próximas eleições. Porquê? Um antigo apoiante disse-lhe: “Você é demasiado ético”.
E para resumir esta longa e complexa história, basta dizer que o meu amigo já não ocupa cargos políticos. Ele poderá voltar a entrar num combate político, mas por enquanto decidiu afastar-se, e trabalhar no sector privado. Perguntei-lhe o que tinha aprendido com a experiência. Ele disse, citando Winston Churchill: “A democracia é a pior forma de governo, com excepção de todas as outras”.
Certamente muitas democracias ocidentais - incluindo os governos estaduais e federais do meu país natal, os Estados Unidos - têm muitas coisas boas; mas também são permeáveis à influência corrupta das forças financeiras. O meu amigo tentou, nesse ambiente, ser um catalisador ético para a justiça e a equidade; mas, no topo da pirâmide do poder, num Estado grande e diversificado, encontrou dificuldades quando confrontado com a tremenda influência e pressão de vários grupos de interesses.
Os ensinamentos Bahá’ís reconhecem essa realidade e elogiam os líderes que a combatem interna e externamente:
Os defeitos dos reis, tal como os seus favores, podem ser grandes. Um rei que não é dissuadido pela vanglória do poder e da autoridade de respeitar a justiça, nem está privado dos esplendores do sol da equidade pelo luxo, riqueza, glória ou pela organização de exércitos e legiões, terá uma posição elevada e uma condição sublime entre a Assembleia no alto. Cabe a todos oferecer ajuda e manifestar bondade a uma alma tão nobre. Bem-aventurado o rei que mantém firmes as rédeas da sua paixão, domina a sua raiva, e prefere a justiça e a imparcialidade à injustiça e à tirania. (Tablets of Baha’u’llah, Words of Paradise, p. 65)
O governo e a administração pública, como todos os sectores da sociedade, atraem uma vasta gama de motivações humanas. Alguns líderes políticos entram neste campo por motivos egoístas, e alguns entram por motivos altruístas, tentando servir a humanidade. É claro que ninguém pode conhecer completamente as motivações de alguém além do próprio, e por isso os ensinamentos Bahá’ís aconselham-nos a abster-nos de julgar alguém:
Todas as religiões ensinam que devemos amar-nos uns aos outros; que devemos olhar para as nossas próprias falhas antes de ousarmos condenar as falhas dos outros, que não devemos considerar-nos superiores aos nossos semelhantes! Devemos ter cuidado para não nos exaltarmos para não sermos humilhados. Quem somos nós para julgar? Como saberemos quem, aos olhos de Deus, é o homem mais íntegro?
...A única diferença real é esta: existem homens celestiais e homens terrenos; servos abnegados da humanidade no amor do Altíssimo, trazendo harmonia e unidade, ensinando paz e boa vontade aos homens. Por outro lado, existem aqueles homens egoístas, que odeiam os seus irmãos, em cujos corações o preconceito substituiu a bondade amorosa, e cuja influência gera discórdia e conflito…
A minha esperança é que neste século iluminado a Luz Divina do amor irradie o seu brilho sobre o mundo inteiro, procurando a inteligência do coração receptivo de cada ser humano; que a luz do Sol da Verdade leve os políticos a livrarem-se de todas as declarações de preconceito e superstição, e com mentes libertas sigam a Política de Deus: pois a Política Divina é poderosa, e a política do homem é fraca! (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, pp. 147-150)
------------------------------------------------------------
Texto original: Politicians and the Divine Policy (www.bahaiteachings.org)
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
quinta-feira, 7 de setembro de 2023
quarta-feira, 6 de setembro de 2023
sábado, 2 de setembro de 2023
5 coisas positivas que aprendi a trabalhar com Políticos
Por David Langness.
No início da minha carreira, a vida profissional levou-me às legislaturas estaduais da Califórnia e de outros estados, depois ao Congresso e à Casa Branca em Washington, DC. Ali aprendi muitas coisas.
Primeiro, aprendi que muitas pessoas que trabalham na administração pública fazem-no num verdadeiro espírito de serviço. No seu papel de funcionários públicos, eles querem realmente ajudar os outros. Nem todos os líderes eleitos ou nomeados desejam poder, riqueza ou fama – claro, alguns desejam, mas descobri que muitos desejam servir honestamente. Tendemos a ouvir muita publicidade negativa sobre os nossos líderes, e parte dela é certamente justificada – mas não toda.
Em segundo lugar, criei uma grande estima pelos empregados da administração pública, sejam eles eleitos ou nomeados. A maioria das pessoas que conheci e com quem trabalhei, independentemente da sua filiação partidária ou filosofia política, esforçavam-se, faziam o seu melhor e queriam honestamente tornar a vida melhor para os seus cidadãos. Trabalhavam arduamente, durante muitas horas por um salário inferior ao que poderiam ter no sector privado, por um sentido de dever e obrigação para com as pessoas que representavam. Sim, também conheci alguns que tinham segundas intenções de promoção pessoal ou de enriquecimento pessoal - mas a maioria tentava verdadeiramente servir os outros.
Em terceiro lugar, gradualmente comecei a compreender que os funcionários da administração pública exercem funções incrivelmente difíceis. Quando se tomam decisões que afectam milhares ou mesmo milhões de pessoas, quando os problemas mais controversos e difíceis de resolver chegam às suas mãos depois de muitas opiniões e grupos antagónicos não conseguirem encontrar soluções, o dirigente tem de decidir – e suas decisões nunca agradam a todos. Os dirigentes públicos são muito criticados pelas decisões que tomam, mas essas decisões de compromisso não são fáceis. Um bom líder precisa de aprender a arte do compromisso, e essa é uma competência difícil de dominar.
Em quarto lugar, aprendi que a liderança requer visão. É preciso pensar a longo prazo e ter uma missão, um conceito de futuro, um fim derradeiro para o qual trabalhamos. Por vezes, os líderes falham nesse objetivo, mas a maioria tem uma visão do tipo de sociedade que gostaria de criar. Eles fazem o melhor que podem, na maioria dos casos, para encontrar maneiras de concretizar essa visão a longo prazo. Isso não é fácil.
Em quinto e último lugar, percebi que os líderes da sociedade merecem o nosso respeito. Pessoalmente, devo admitir que quando entrei pela primeira vez nos corredores do Congresso e nos gabinetes dos líderes eleitos tinha menos respeito do que devia. Cometi o erro de acreditar em tudo o que via nas notícias, e de acreditar em parte da retórica partidária que ouvia. Além disso, subestimei seriamente a dificuldade dos trabalhos que os líderes eleitos tinham de realizar. Depois de ver, de perto e em detalhe, o que era necessário para fazer o seu trabalho, tive de começar a questionar os meus próprios preconceitos e, ao fazê-lo, passei a respeitar muito a maioria das pessoas que trabalham na administração pública. Quer eu concordasse ou não com as suas posições sobre os assuntos, percebi que tinha uma dívida de gratidão para com eles, por dedicarem as suas vidas ao serviço do público.
Sim, eu sei – estes cinco tópicos certamente não se aplicam a todos os políticos e dirigentes. Sabemos que actualmente está na moda, e até é expectável, rebaixar os políticos. Somos cínicos em relação aos nossos governos; pensamos que o sistema está viciado; suspeitamos que o dinheiro corrompe todas as pessoas; não confiamos nos poderosos e nas “elites”; estamos sempre a caluniar e falar mal dos seus esforços. Isto é completamente compreensível, porque as sondagens mostram que apenas uma pequena percentagem da população acredita que os seus líderes pensam nos seus melhores interesses. Em muitos lugares, as coisas não são assim.
Mas estes pontos de vista e atitudes, embora possam ser justificados em alguns casos, também podem formar preconceitos injustificados em relação a todos os líderes eleitos ou nomeados. Quando as acções corruptas de alguns políticos provocam a condenação de toda a classe política, esses preconceitos podem tornar-se prejudiciais, levando ao insulto, à desunião e à desconfiança em relação a todos os que querem trabalhar para o bem público. Esta desconfiança leva depois à raiva generalizada, às teorias de conspiração agressivas, à suspeição em relação a todos os governos, e a um sentimento de distanciamento entre os governados.
No entanto, os ensinamentos Bahá’ís dizem-nos que devemos adoptar uma abordagem completamente diferente na forma como pensamos e tratamos aqueles que nos governam:
O que significa isto? Como podemos obedecer aos nossos governos quando não confiamos neles? Este conselho aplica-se a políticos e governos corruptos? Será que os Bahá’ís se afastam completamente dos processos políticos nos seus países? Nesta breve série de artigos vamos analisar a abordagem Bahá’í à política e a forma revolucionária como os ensinamentos Bahá’ís lidam com as respostas a estas questões importantes.
------------------------------------------------------------
Texto original: 5 Positive Things I Learned Working with Politicians (www.bahaiteachings.org)
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
A obra mais nobre de um homem é pôr ao serviço dos outros todos os seus dons e poderes. (Sófocles)
A alegria só pode ser real se as pessoas considerarem a sua vida como um serviço, e tiverem um objectivo definido na vida fora de si mesmas e da sua felicidade pessoal. (Leon Tolstoy)
O destino superior do indivíduo é servir e não governar. (Albert Einstein)
No início da minha carreira, a vida profissional levou-me às legislaturas estaduais da Califórnia e de outros estados, depois ao Congresso e à Casa Branca em Washington, DC. Ali aprendi muitas coisas.
Primeiro, aprendi que muitas pessoas que trabalham na administração pública fazem-no num verdadeiro espírito de serviço. No seu papel de funcionários públicos, eles querem realmente ajudar os outros. Nem todos os líderes eleitos ou nomeados desejam poder, riqueza ou fama – claro, alguns desejam, mas descobri que muitos desejam servir honestamente. Tendemos a ouvir muita publicidade negativa sobre os nossos líderes, e parte dela é certamente justificada – mas não toda.
Em segundo lugar, criei uma grande estima pelos empregados da administração pública, sejam eles eleitos ou nomeados. A maioria das pessoas que conheci e com quem trabalhei, independentemente da sua filiação partidária ou filosofia política, esforçavam-se, faziam o seu melhor e queriam honestamente tornar a vida melhor para os seus cidadãos. Trabalhavam arduamente, durante muitas horas por um salário inferior ao que poderiam ter no sector privado, por um sentido de dever e obrigação para com as pessoas que representavam. Sim, também conheci alguns que tinham segundas intenções de promoção pessoal ou de enriquecimento pessoal - mas a maioria tentava verdadeiramente servir os outros.
Em terceiro lugar, gradualmente comecei a compreender que os funcionários da administração pública exercem funções incrivelmente difíceis. Quando se tomam decisões que afectam milhares ou mesmo milhões de pessoas, quando os problemas mais controversos e difíceis de resolver chegam às suas mãos depois de muitas opiniões e grupos antagónicos não conseguirem encontrar soluções, o dirigente tem de decidir – e suas decisões nunca agradam a todos. Os dirigentes públicos são muito criticados pelas decisões que tomam, mas essas decisões de compromisso não são fáceis. Um bom líder precisa de aprender a arte do compromisso, e essa é uma competência difícil de dominar.
Em quarto lugar, aprendi que a liderança requer visão. É preciso pensar a longo prazo e ter uma missão, um conceito de futuro, um fim derradeiro para o qual trabalhamos. Por vezes, os líderes falham nesse objetivo, mas a maioria tem uma visão do tipo de sociedade que gostaria de criar. Eles fazem o melhor que podem, na maioria dos casos, para encontrar maneiras de concretizar essa visão a longo prazo. Isso não é fácil.
Em quinto e último lugar, percebi que os líderes da sociedade merecem o nosso respeito. Pessoalmente, devo admitir que quando entrei pela primeira vez nos corredores do Congresso e nos gabinetes dos líderes eleitos tinha menos respeito do que devia. Cometi o erro de acreditar em tudo o que via nas notícias, e de acreditar em parte da retórica partidária que ouvia. Além disso, subestimei seriamente a dificuldade dos trabalhos que os líderes eleitos tinham de realizar. Depois de ver, de perto e em detalhe, o que era necessário para fazer o seu trabalho, tive de começar a questionar os meus próprios preconceitos e, ao fazê-lo, passei a respeitar muito a maioria das pessoas que trabalham na administração pública. Quer eu concordasse ou não com as suas posições sobre os assuntos, percebi que tinha uma dívida de gratidão para com eles, por dedicarem as suas vidas ao serviço do público.
Sim, eu sei – estes cinco tópicos certamente não se aplicam a todos os políticos e dirigentes. Sabemos que actualmente está na moda, e até é expectável, rebaixar os políticos. Somos cínicos em relação aos nossos governos; pensamos que o sistema está viciado; suspeitamos que o dinheiro corrompe todas as pessoas; não confiamos nos poderosos e nas “elites”; estamos sempre a caluniar e falar mal dos seus esforços. Isto é completamente compreensível, porque as sondagens mostram que apenas uma pequena percentagem da população acredita que os seus líderes pensam nos seus melhores interesses. Em muitos lugares, as coisas não são assim.
Mas estes pontos de vista e atitudes, embora possam ser justificados em alguns casos, também podem formar preconceitos injustificados em relação a todos os líderes eleitos ou nomeados. Quando as acções corruptas de alguns políticos provocam a condenação de toda a classe política, esses preconceitos podem tornar-se prejudiciais, levando ao insulto, à desunião e à desconfiança em relação a todos os que querem trabalhar para o bem público. Esta desconfiança leva depois à raiva generalizada, às teorias de conspiração agressivas, à suspeição em relação a todos os governos, e a um sentimento de distanciamento entre os governados.
No entanto, os ensinamentos Bahá’ís dizem-nos que devemos adoptar uma abordagem completamente diferente na forma como pensamos e tratamos aqueles que nos governam:
Ó meus amados! O mundo está envolto na escuridão espessa da revolta aberta e está a ser varrido por um turbilhão de ódio. São os fogos da malevolência que lançam as suas chamas para as nuvens do céu, é um dilúvio repleto de sangue que corre pelas planícies e pelas colinas, e ninguém na face da terra consegue encontrar qualquer paz. Assim, os amigos de Deus devem gerar aquela ternura que vem do Céu, e conceder amor no espírito a toda a humanidade. Devem lidar com cada alma segundo os conselhos e advertências Divinas; devem mostrar bondade e boa fé para com todos; devem desejar o bem a todos. Devem sacrificar-se pelos seus amigos, e desejar boa sorte aos seus inimigos. Devem confortar as pessoas desagradáveis e tratar os seus opressores com bondade amorosa. Devem ser como água refrescante para os sedentos, e para os enfermos, um remédio rápido, um bálsamo curativo para os que sofrem e um consolo para todo o coração oprimido. Devem ser uma luz orientadora para aqueles que se desviaram, um líder seguro para os perdidos. Devem ser olhos para os cegos, ouvidos para os surdos, e vida eterna para os mortos, e alegria permanente para os desanimados.
Que se submetam voluntariamente a todo o rei justo e sejam bons cidadãos para todo o governante generoso. Que obedeçam ao governo e não se intrometam nos assuntos políticos, mas que se dediquem ao melhoramento do carácter e do comportamento, e fixem o vosso olhar na Luz do mundo. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, #236)
O que significa isto? Como podemos obedecer aos nossos governos quando não confiamos neles? Este conselho aplica-se a políticos e governos corruptos? Será que os Bahá’ís se afastam completamente dos processos políticos nos seus países? Nesta breve série de artigos vamos analisar a abordagem Bahá’í à política e a forma revolucionária como os ensinamentos Bahá’ís lidam com as respostas a estas questões importantes.
------------------------------------------------------------
Texto original: 5 Positive Things I Learned Working with Politicians (www.bahaiteachings.org)
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
quarta-feira, 30 de agosto de 2023
sábado, 26 de agosto de 2023
Testemunhos da Revelação
Por Peter C. Lyon.
Aceitei a Fé Bahá'í com vinte e muitos anos, após uma busca espiritual e intelectual de nove anos. Para mim, um dos aspectos mais atraentes desta religião era a sua relativa novidade.
Na primavera de 1863, Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í, fez a Sua declaração em Bagdade como o prometido de todas as religiões do mundo, enviado para inaugurar uma era de unidade humana.
Algumas semanas depois, em 22 de Maio daquele mesmo ano, nas trincheiras de um mundo, distante perto de Vicksburg, no Mississippi (EUA), quatro do meus tios-avós, soldados da 11º Regimento de Infantaria do Wisconsin, colocaram as suas vidas em risco para erradicar a escravatura e preservar a unidade do país. Aos 90 anos, o mais novo desses tios escreveu ao meu avô uma carta descrevendo as experiências do regimento na Guerra Civil. Continua a ser uma recordação de família.
O aspecto importante é que temos uma abundância de memórias sobre 1863 e os anos seguintes, seja nas pequenas histórias da minha família ou no tesouro dos arquivos Bahá'ís. Estes incluem textos escritos pelo próprio Bahá’u’lláh, únicos em todas as grandes religiões mundiais.
Na minha perspectiva, considero emocionantes os testemunhos dos momentos de revelação de Bahá’u’lláh. Existem três tipos de testemunhos: o próprio Bahá'u'lláh, relatos de testemunhas oculares entre os primeiros Bahá'ís; e buscadores modernos como eu.
A revelação – a voz de Deus falando para, e através de, um mensageiro divino – é um pilar da religião. Abraão ouviu a voz de Deus ordenando-lhe que sacrificasse e poupasse o seu filho. Moisés comungou com a sarça ardente. Jesus Cristo teve o espírito de Deus pousado sobre ele na forma de uma pomba que falava com ele. Muhammad ouviu a voz do anjo Gabriel.
Da mesma forma, Bahá'u'lláh recebeu a sua revelação. Não apenas temos relatos de testemunhas oculares desses momentos de revelação, como temos também as descrições feitas pelo próprio Bahá'u'lláh. Esses momentos ocorreram no Siyah-Chal, o terrível “poço negro”, quando Bahá’u’lláh estava preso.
Num outro relato, Bahá’u’lláh afirma:
A virgem celestial visitou Bahá’u’lláh no meio daquele desespero:
Imaginem se tivéssemos relatos das testemunhas oculares que viram os mensageiros divinos a receberem a Palavra Sagrada. Isto existe na Fé Bahá'í. Mirza Aqa Jan, que mais tarde se tornou o escriba de Bahá’u’lláh, descreveu uma experiência ocorrida em Karbila, Iraque, quando Bahá’u’lláh recitava a palavra revelada e caminhava no terraço de uma casa:
(...)
Mirza Haydar Ali, um dos mais proeminente entre os primeiros Bahá’ís, recordou:
Tarazu'llah Samandari (1875-1968), outro proeminente Bahá'í descreveu como essas palavras eram escritas:
Outro conceito impressionante da Fé Bahá'í para mim foi o princípio da investigação independente da verdade religiosa, seja em relação à revelação Bahá'í ou a qualquer outra crença. Os ensinamentos Bahá'ís dizem que ninguém pode ditar a nossa própria espiritualidade, e todos têm a capacidade de ler a palavra divina directamente. Bahá'u'lláh diz: “Pois a fé de nenhum homem pode ser condicionada por ninguém excepto por ele próprio.” (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXV)
No entanto, aprendi que abraçar a Fé Bahá’í é apenas um passo na nossa busca e desenvolvimento contínuos. A Fé encoraja os Bahá'ís a alimentar constantemente o seu crescimento espiritual e a ler, de manhã e à noite, os textos sagrados, revelados pelo luminar divino.
Portanto, qualquer que seja a etapa da sua busca – seja um crente nascido numa família Bahá'í de longa data, seja alguém que acabou de descobrir os ensinamentos de Bahá’u’lláh, ou simplesmente alguém que pretende explorar as perspectivas Bahá'ís para enriquecer as suas crenças numa outra tradição - você também é uma testemunha ocular da revelação.
-----------------------------
Texto original: Eyewitnesses to Revelation (www.bahaiteachings.org)
Peter C. Lyon é um especialista em comunicações, residente em Washington, DC. É graduado em História e Espanhol pela Universidade do Texas. É escritor e leitor ávido de livros de história. Aceitou a Fé Bahá’í em 2001.
Aceitei a Fé Bahá'í com vinte e muitos anos, após uma busca espiritual e intelectual de nove anos. Para mim, um dos aspectos mais atraentes desta religião era a sua relativa novidade.
Na primavera de 1863, Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í, fez a Sua declaração em Bagdade como o prometido de todas as religiões do mundo, enviado para inaugurar uma era de unidade humana.
Algumas semanas depois, em 22 de Maio daquele mesmo ano, nas trincheiras de um mundo, distante perto de Vicksburg, no Mississippi (EUA), quatro do meus tios-avós, soldados da 11º Regimento de Infantaria do Wisconsin, colocaram as suas vidas em risco para erradicar a escravatura e preservar a unidade do país. Aos 90 anos, o mais novo desses tios escreveu ao meu avô uma carta descrevendo as experiências do regimento na Guerra Civil. Continua a ser uma recordação de família.
O aspecto importante é que temos uma abundância de memórias sobre 1863 e os anos seguintes, seja nas pequenas histórias da minha família ou no tesouro dos arquivos Bahá'ís. Estes incluem textos escritos pelo próprio Bahá’u’lláh, únicos em todas as grandes religiões mundiais.
Na minha perspectiva, considero emocionantes os testemunhos dos momentos de revelação de Bahá’u’lláh. Existem três tipos de testemunhos: o próprio Bahá'u'lláh, relatos de testemunhas oculares entre os primeiros Bahá'ís; e buscadores modernos como eu.
O Próprio Bahá’u’lláh
A revelação – a voz de Deus falando para, e através de, um mensageiro divino – é um pilar da religião. Abraão ouviu a voz de Deus ordenando-lhe que sacrificasse e poupasse o seu filho. Moisés comungou com a sarça ardente. Jesus Cristo teve o espírito de Deus pousado sobre ele na forma de uma pomba que falava com ele. Muhammad ouviu a voz do anjo Gabriel.
Da mesma forma, Bahá'u'lláh recebeu a sua revelação. Não apenas temos relatos de testemunhas oculares desses momentos de revelação, como temos também as descrições feitas pelo próprio Bahá'u'lláh. Esses momentos ocorreram no Siyah-Chal, o terrível “poço negro”, quando Bahá’u’lláh estava preso.
Durante os dias em que estive na prisão de Teerão… sentia como se algo fluísse desde o cimo da Minha cabeça até ao Meu peito, semelhante a uma poderosa torrente a precipitar-se sobre a terra do topo de uma alta montanha... Nesses momentos a Minha língua recitava aquilo que nenhum homem suportaria ouvir. (Epístola ao Filho do Lobo, ¶35)
Num outro relato, Bahá’u’lláh afirma:
Uma noite, num sonho, estas palavras excelsas fizeram-se ouvir: “Em verdade, far-Te-emos vitorioso por Ti próprio e pela Tua pena. Não Te lamentes por aquilo que Te sucedeu, nem tenhas medo, pois estás em segurança. (Epístola ao Filho do Lobo, ¶35)
A virgem celestial visitou Bahá’u’lláh no meio daquele desespero:
Enquanto submerso em aflições, ouvi a mais maravilhosa, a mais doce voz, chamando acima da Minha cabeça. Ao virar a Minha face, vi uma Virgem – a personificação da lembrança do nome do Meu Senhor – suspensa no ar perante Mim… Apontando com o dedo para a Minha cabeça, dirigiu-se a todos os que estão no céu e todos os que estão na terra, dizendo: Por Deus! Este é o mais amado dos mundos, mas ainda não o compreendeis! Esta é a Beleza de Deus entre vós, e o poder da Sua soberania entre vós, se apenas o entendessem. Este é o Mistério de Deus e o Seu Tesouro, a Causa de Deus e a Sua glória para todos os que estão nos reinos da Revelação e da criação, se sois dos que percebem… (Súriy-i-Haykal, ¶6-7)
Testemunhas Oculares
Imaginem se tivéssemos relatos das testemunhas oculares que viram os mensageiros divinos a receberem a Palavra Sagrada. Isto existe na Fé Bahá'í. Mirza Aqa Jan, que mais tarde se tornou o escriba de Bahá’u’lláh, descreveu uma experiência ocorrida em Karbila, Iraque, quando Bahá’u’lláh recitava a palavra revelada e caminhava no terraço de uma casa:
Julgo que, a cada passo que Ele dava e a cada palavra que Ele proferia, milhares de oceanos de luz surgiam diante do meu rosto, e milhares de mundos de esplendor incomparável eram revelados aos meus olhos, e milhares de sóis brilhavam com a sua luz sobre mim!… Cada vez que Ele se aproximava para mim Ele… dizia: “… Esta Causa certamente tornar-se-á manifesta…” (Shoghi Effendi, God Passes By, p. 116)
(...)
Mirza Haydar Ali, um dos mais proeminente entre os primeiros Bahá’ís, recordou:
Os versículos de Deus iam sendo revelados e as palavras fluíam como uma chuva abundante. Parecia que a porta, a parede, o tapete, o tecto, o chão e o ar estavam todos perfumados e iluminados... A que mundos fui transportado e em que estado me encontrava, ninguém que não tenha experimentado tal coisa jamais poderá saber. (The Revelation of Baha’u’llah, vol. 1, p. 29.)
Tarazu'llah Samandari (1875-1968), outro proeminente Bahá'í descreveu como essas palavras eram escritas:
A Palavra Sagrada, revelada do céu da Vontade do Todo-Misericordioso, primeiro desce sobre o coração puro e radiante do Manifestante de Deus e depois é proferida por Ele... Tive o enorme privilégio de estar presente em duas ocasiões em que as Epístolas estavam a ser reveladas. As palavras sagradas fluíam dos Seus lábios enquanto Ele andava de um lado para o outro na sala, e o Seu amanuense [escriba] as registava… (The Revelation of Baha’u’llah, vol. 1, p. 36-37)
Pesquisadores Modernos
Outro conceito impressionante da Fé Bahá'í para mim foi o princípio da investigação independente da verdade religiosa, seja em relação à revelação Bahá'í ou a qualquer outra crença. Os ensinamentos Bahá'ís dizem que ninguém pode ditar a nossa própria espiritualidade, e todos têm a capacidade de ler a palavra divina directamente. Bahá'u'lláh diz: “Pois a fé de nenhum homem pode ser condicionada por ninguém excepto por ele próprio.” (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXV)
No entanto, aprendi que abraçar a Fé Bahá’í é apenas um passo na nossa busca e desenvolvimento contínuos. A Fé encoraja os Bahá'ís a alimentar constantemente o seu crescimento espiritual e a ler, de manhã e à noite, os textos sagrados, revelados pelo luminar divino.
Portanto, qualquer que seja a etapa da sua busca – seja um crente nascido numa família Bahá'í de longa data, seja alguém que acabou de descobrir os ensinamentos de Bahá’u’lláh, ou simplesmente alguém que pretende explorar as perspectivas Bahá'ís para enriquecer as suas crenças numa outra tradição - você também é uma testemunha ocular da revelação.
-----------------------------
Texto original: Eyewitnesses to Revelation (www.bahaiteachings.org)
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Peter C. Lyon é um especialista em comunicações, residente em Washington, DC. É graduado em História e Espanhol pela Universidade do Texas. É escritor e leitor ávido de livros de história. Aceitou a Fé Bahá’í em 2001.
quarta-feira, 23 de agosto de 2023
Subscrever:
Mensagens (Atom)