Ó Filho do Homem! Se a adversidade não te sobrevier no Meu caminho, como poderás seguir os caminhos daqueles que estão satisfeitos com o Meu agrado? Se as provações não te afligirem no teu desejo de Me encontrares, como alcançarás a luz no teu amor pela Minha beleza?
Ó Filho do Homem! A Minha calamidade é a Minha providência, exteriormente é fogo e vingança, mas interiormente é luz e misericórdia. Apressa-te para que te possas tornar uma luz eterna e um espírito imortal. Este é o meu mandamento para ti, cumpre-o.
Ó Filho do Homem! Se a prosperidade te sobrevier, não te regozijes, e se a humilhação cair sobre ti, não te lamentes, pois, ambas passarão e não mais existirão.
Ó Filho do Ser! Se a pobreza te atingir, não te entristeças; pois com o tempo o Senhor da prosperidade te visitará. Não temas a humilhação, pois a glória um dia repousará sobre ti. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, #50, #51, #52, #53)
Ninguém escapa ao sofrimento e à tragédia nesta existência física.
Nas relações familiares, nas preocupações relacionadas com a saúde, na pobreza ou na prosperidade, nenhum de nós está imune à dor e ao sofrimento. Como seres humanos, todos partilhamos a experiência de lidar com adversidades, problemas e tragédias. Este mundo físico apresenta-nos constantemente provações e tribulações; é uma parte inevitável da condição humana.
A verdadeira religião reconhece esta realidade e tenta ensinar-nos a lidar com o sofrimento inevitável da vida.
O Budismo, por exemplo, preocupa-se quase inteiramente em aliviar o impacto do sofrimento na alma humana. As Quatro Nobres Verdades do Budismo dizem-nos que o sofrimento existe; que a causa do nosso sofrimento é o desejo e a ignorância; e que a cura para o sofrimento humano passa pelo desenvolvimento da capacidade da mente para a compreensão e o discernimento; depois, deve-se percorrer o caminho das acções espirituais (a que Buda chamou Caminho Óctuplo) para procurar a verdadeira iluminação. A essência do remédio Budista para o sofrimento, tal como o remédio Bahá’í, envolve o desprendimento do mundo material, que Buda disse ser a fonte de todo o sofrimento:
Não sigais uma vida de maldade; não vivais na negligência; não tenhais opiniões falsas; não valorizeis as coisas mundanas. Desta forma podeis livrar-vos do sofrimento. (Gautama Buda, Dhammapada, v.)
Nas quatro citações das Palavras Ocultas acima, Bahá’u’lláh apresenta-nos um conjunto de ensinamentos espirituais com beleza e nuances semelhantes. “Se a prosperidade te sobrevier…” ou “Se a pobreza te atingir”, afirma Ele, devemos esforçar-nos por reconhecer que este mundo de impermanência acabará por desaparecer; e realmente devemos acolher as adversidades e calamidades pessoais como advertências, provações e desafios constantes para permanecermos desprendidos destas condições temporárias.
No sânscrito original dos ensinamentos Budistas, Buda utilizou a palavra dukkha – que não significa apenas sofrimento ou dor, mas também impermanência (viparinama) ou estados de ser condicionais e mutáveis (samkhara). Exactamente da mesma forma, as Palavras Ocultas de Bahá’u’lláh advertem-nos contra o apego dos nossos corações e almas a essas coisas, estados e condições transitórias que “passarão e não mais existirão”.
Bahá’u’lláh e Buda pedem-nos que compreendamos e interiorizemos que este mundo e as suas mudanças não duram. A nossa tarefa, através da dor e do sofrimento que estas mudanças trazem, passa por mudar o nosso foco, o nosso amor e a nossa lealdade deste mundo temporário e impermanente para o mundo espiritual eterno:
Ó amigo, o coração é a morada dos mistérios eternos, não faças dele o lar das fantasias fugazes; não desperdices o tesouro da tua preciosa vida envolvido com este mundo que passa depressa. Tu vens do mundo da santidade – não ligues o teu coração à terra; és um morador da corte da proximidade – não escolhas a pátria do pó. (Bahá’u’lláh, The Seven Valleys, p. 34)
Embora os cataclismos exteriores sejam difíceis de compreender e suportar, ainda assim existe uma grande sabedoria por detrás deles, que aparecerá mais tarde. Todos os acontecimentos materiais visíveis estão inter-relacionados com forças espirituais invisíveis. Os infinitos fenómenos da criação são tão interdependentes como os elos de uma corrente.
Quando certos elos enferrujam, eles são quebrados por forças invisíveis, para serem substituídos por outros mais novos e melhores. Existem certos acontecimentos colossais que ocorrem no mundo da humanidade e que são exigidos pela natureza dos tempos. Por exemplo, as exigências do inverno são o frio, a neve, o granizo e a chuva – mas as aves e os animais que vivem durante seis meses, desfrutando de um curto período de vida, não se apercebendo da sabedoria do inverno, repreendem e lamentam e ficam descontentes, dizendo: “Porquê esta geada horrível? Porquê este granizo e esta tempestade? Porque não o clima ameno? Porque não a eterna primavera? Porquê esta injustiça por parte do Criador? Porquê este sofrimento? O que fizemos para enfrentar esta catástrofe?
Contudo, aquelas almas que viveram muitos anos e adquiriram muita experiência e resistiram a muitos invernos rigorosos, percebem que, para aproveitarem a primavera que se aproxima, devem passar pelo frio do inverno. (‘Abdu’l-Bahá, Divine Philosophy, p. 115)
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Texto original: How the Soul Deals with Suffering (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA
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