Muitas pessoas cresceram apreciando a companhia dos seus gatos e dos seus cães e gatos; mas eu sempre me senti atraída pelos animais que encontro na natureza, como veados e pássaros.
Desde pequena que sinto fascínio pelos pássaros. A sua capacidade de voar sempre me encantou e o seu chilrear sossega-me e inspira-me. Lembro quando estava no início do ensino primário, caminhava até junto dos pássaros no meu jardim e dizia: “Piu piu!” e fingia que eles estavam a responder-me. Talvez fossem influências das histórias da Branca de Neve e a da Bela Adormecida.
E hoje, à medida que vou envelhecendo, percebo o quão universal e mística é a atração pelos pássaros. Existe um, em particular, que possui um encanto especial, graças ao seu canto doce e fascinante: o rouxinol.
O Encanto e o Simbolismo Poético dos Rouxinóis
Os rouxinóis são pequenas aves canoras nativas da Europa, Ásia e África. Os machos desta espécie geralmente cantam à noite para fazer uma serenata à sua potencial parceira. (…) Eles são literalmente cantores noturnos!
Embora a maioria das pessoas nunca tenha visto um rouxinol de perto, por serem muito tímidos e muitas vezes se esconderem nos arbustos, as suas melodias espontâneas são consideradas um dos sons mais bonitos da natureza. Eles podem produzir mais de 1000 sons diferentes, com uma ampla gama de assobios e gorjeios; poetas e escritores inspiraram-se nestes pássaros e usaram-nos como símbolos nas suas obras ao longo da história.
Por exemplo, os rouxinóis surgem na "Odisseia" de Homero, na "Ode a um Rouxinol" de John Keats e no "Soneto 102" de Shakespeare. No ensaio "Defesa da Poesia", o poeta do século XIX, Percy Bysshe Shelley escreveu:
Um Poeta é um rouxinol que se senta na escuridão e canta para alegrar a sua própria solidão com sons encantadores; os seus ouvintes são como homens hipnotizados pela melodia de um músico invisível, que se sentem comovidos e enternecidos, mas não sabem de onde nem porquê.
O rouxinol também é ave nacional da Ucrânia, Croácia e do Irão. Durante quase 1000 anos, o rouxinol foi um tema popular na literatura persa e muitas vezes simboliza o poeta, ou o amante, que anseia pelo objeto do seu afecto. A amada do rouxinol é geralmente descrita como uma rosa na poesia persa.
O Significado Espiritual dos Rouxinóis na Fé Bahá'í
O desejo do rouxinol pela rosa também é usado como metáfora na Fé Bahá’í. Numa palestra proferida por 'Abdu'l-Bahá, uma das figuras centrais da Fé Bahá’í, Ele disse:
Tal como uma mariposa, deve-se amar a luz, seja qual for a lâmpada onde ela brilhe; e como um rouxinol, deve-se estar apaixonado pela rosa, em qualquer jardim em que ela floresça.
O rouxinol simboliza aqueles que buscam a verdade e a rosa representa os ensinamentos divinos e a realidade espiritual. Ele explicou:
Deve-se procurar a graça múltipla de Deus, pesquisar os esplendores divinos e ficar extasiado e encantado com qualquer realidade em que eles se encontrem de forma clara e óbvia. Considere que, se os judeus não tivessem se agarrado ao horizonte de Moisés, mas tivessem fixado o seu olhar no Sol da Verdade, sem dúvida teriam visto aquele Sol brilhando na plenitude do seu esplendor divino naquele verdadeiro alvorecer que era Cristo.
Os Bahá’ís acreditam que Deus nunca abandonou a humanidade, mas que enviou professores divinos – também chamados Manifestantes de Deus – para ajudar no desenvolvimento espiritual da humanidade. Esses Manifestantes incluem Abraão, Zoroastro, Moisés, Buda, Krishna, Jesus Cristo, Muhammad e o Báb. Os Bahá’ís acreditam que o mensageiro divino para esta era é Bahá’u’lláh - que veio para unir toda a humanidade e fundou a Fé Bahá'í. Numa oração chamada "Epístola de Ahmad", Bahá’u’lláh escreveu:
Eis que o Rouxinol do Paraíso canta sobre os ramos da Árvore da Eternidade, com santas e suaves melodias, proclamando aos sinceros as boas novas de que Deus está próximo; chamando os crentes na Unidade Divina para a corte da Presença do Generoso; aos desprendidos, informando da mensagem revelada por Deus, o Rei, o Glorioso, o Incomparável; e aos que O amam, guiando ao lugar da santidade e a esta Beleza resplandecente.
Este "Rouxinol do Paraíso" é Bahá’u’lláh, cujas palavras doces e sagradas nos aproximam de Deus. Tanto os rouxinóis quanto o Rouxinol do Paraíso foram forçados a sofrer no século XIX devido às suas melodias poderosas.
Tal como os caçadores de pássaros capturaram cruelmente um grande número de rouxinóis para tentar "prender" as suas canções, Bahá’u’lláh suportou 40 anos de prisão, tortura e exílio por anunciar uma nova revelação divina. Embora os rouxinóis presos em gaiolas muitas vezes se matem atirando-se contra as grades da gaiola, as suas melodias nunca poderiam ser esquecidas. E a música mística de Bahá’u’lláh continua a espalhar-se, à medida que as Suas mensagens unificadoras são partilhadas em todo o mundo.
Noutros textos das Escrituras Bahá’ís, os rouxinóis simbolizam firmeza e encantamento espirituais. Numa oração pela juventude, ‘Abdu’l-Bahá escreveu:
Ó Tu, Senhor bondoso! Concede a confirmação celestial a esta filha do reino e ajuda-a graciosamente para que ela possa permanecer firme e constante na Tua Causa, e que ela possa, tal como um rouxinol do jardim de rosas dos mistérios, chilrear melodias nos ... tons mais maravilhosos, trazendo assim felicidade para todos.
Tal como uma doce melodia, uma palavra gentil e um tom de voz pacífico podem elevar o nosso espírito. Deus deseja que sejamos espiritualmente fortes, louvemos o que é divino e alegremos todos os corações através da beleza ao nosso redor - e dentro de nós.
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Texto original: The Symbolism and Spiritual Meaning of Nightingales (www.bahaiteachings.org)
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Radiance Talley é licenciada em comunicação pela Universidade de Maryland. Além da escrita, do desenho, e da comunicação em público, Radiance tem um profundo conhecimento da teoria da construção, técnicas de negociação, gestão de conflitos, comunicação organizacional e intercultural, antropologia e sociologia.
1 comentário:
Para mim foi e ainda é muito inspirador,escrevi uma letra de música para Bahá´u´llah. Eu até toquei algumas vezes e ainda gosto muito dela.
A história e realidade Bahaí me expira bastante !
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