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sábado, 18 de setembro de 2010

Ausência de Legitimidade


"Para qualquer sociedade humana, a ausência de legitimidade é uma forma de força de gravidade que desregula todos os comportamentos. Quando nenhuma autoridade, nenhuma instituição, nenhuma personalidade pode fazer-se valer de uma verdadeira credibilidade moral, quando os homens começam a acreditar que o mundo é uma selva onde reina a lei do mais forte e onde todos os golpes são permitidos, só pode derivar-se para a violência assassina, e a tirania e o caos."

domingo, 5 de setembro de 2010

Uma solidariedade planetária


"Nos próximos anos, saberemos construir entre os homens, para além de todas as fronteiras, uma solidariedade de um novo tipo - universal, complexa, subtil, reflectida, adulta? Independentemente das religiões, sem ser de modo nenhum anti-religiosa ou insensível às necessidades metafísicas do homem, que são tão reais como as necessidades físicas? Uma solidariedade que possa transcender as nações, as comunidades e as etnias sem abolir a profusão de culturas? Que possa unir os homens face aos perigos que os espreitam sem se comprazer num discurso de apocalipse?"

sábado, 21 de agosto de 2010

A força da Religião


"O que torna as religiões virtualmente indestrutíveis é que oferecem aos adeptos uma âncora identitária duradoura. Em diversas etapas da História, outras solidariedades mais recentes, mais «modernas» - a classe, a nação – pareceram prevalecer. Mas foi a religião que até agora teve a última palavra. Pensava-se que era possível expulsá-la da esfera pública para a acantonar nas fronteiras do culto. Mas ela revela-se difícil de acantonar, difícil de domar e impossível de desenraizar. São precisamente aqueles que a destinavam ao museu da história que foram prematuramente relegados para este. Entretanto, a religião mostra-se próspera, conquistadora, por vezes até invasora."



Não escondo o meu fascínio por este livro de Amin Maalouf. Uma das razões desse fascínio é a enorme proximidade entre as suas ideias e os ensinamentos de Bahá'u'lláh, o fundador da Fé Bahá’í. Sobre a importância da religião, aqui ficam algumas palavras de Bahá'u'lláh.
"A religião é, em verdade, o instrumento principal para o estabelecimento da ordem no mundo e da tranquilidade entre seus povos. O enfraquecimento dos pilares da religião tem fortalecido os insensatos, tornando-os mais audazes e mais arrogantes. Verdadeiramente digo: Quanto maior o declínio da religião, mais penosa se torna a desobediência dos ímpios. Isso não pode levar, afinal, senão ao caos e confusão."

Epístolas de Bahá'u'lláh, KALIMÁT-I-FIRDAWSÍYYIH

"A religião de Deus e Sua lei divina são os mais poderosos instrumentos e os mais seguros de todos os meios para o alvorecer da luz da unidade entre os homens. O progresso do mundo, o desenvolvimento das nações, a tranquilidade dos povos, e a paz de todos os que habitam na terra, figuram entre os princípios e preceitos de Deus."
Epístolas de Bahá'u'lláh, ISHRÁQÁT - Esplendores

sábado, 7 de agosto de 2010

Capitalismo de Casino

"Que não se tenha vergonha de enriquecer, compreendo. Que não se tenha vergonha de aceitar os frutos da prosperidade, também aceito; a nossa época propõe-nos tantas coisas belas e boas que seria um insulto à vida recusar desfrutar dela. Mas que o dinheiro seja completamente desligado de toda a produção, de todo o esforço físico ou intelectual, de toda a actividade socialmente útil? Que as nossas praças bolsistas se transformem em gigantescos casinos onde a sorte de centenas de milhões de pessoas, ricas ou pobres, seja decidida num lance de dados? Que as nossas instituições financeiras mais veneráveis acabem por se comportar como delinquentes embriagados? Que as economias de toda uma vida de labor podem ser aniquiladas ou multiplicadas por trinta em alguns segundos e segundo processos esotéricos que os próprios banqueiros já não compreendem?"

sábado, 24 de julho de 2010

A ética do Mundo Árabe e a credibilidade do Ocidente


"O que eu censuro hoje ao mundo árabe é a indigência da sua consciência moral; o que eu censuro ao Ocidente é a sua propensão para transformar a sua consciência moral num instrumento de dominação. Duas acusações pesadas e para mim duplamente dolorosas, mas não posso deixar de fazer num livro que pretende atacar as origens da regressão que se anuncia. No discurso de uns procurar-se-ia em vão os vestígios de uma preocupação ética ou referência a valores universais; nos discursos de outros estas preocupações e estas referências estão omnipresentes, mas são utilizadas selectivamente e constantemente desviadas a favor de uma política. O resultado é que o Ocidente não cessa de perder a sua credibilidade e os seus detractores não a têm nenhuma."

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Amin Maalouf e Um mundo sem Regras (6)

Requisitos para um «Governo Global»

No livro Um Mundo sem Regras, Amin Maalouf escreve:
Para que os diferentes povos aceitem a autoridade de uma espécie de «governo global», é necessário que este tenha adquirido aos seus olhos uma legitimidade diferente daquela que é conferida pelo seu poder económico ou militar; e para que as identidades particulares possam fundir-se numa entidade mais vasta, para que as civilizações particulares possam inserir-se numa civilização planetária, é imperativo que o processo se desenrole num contexto de equidade, ou pelo menos de respeito mútuo e de dignidade partilhada. (p.89)

COMENTÁRIO:

A «espécie de governo global», a “entidade mais vasta”, a que se refere Amin Malouf foi referida há 130 anos por Bahá’u’lláh, na Epístola de Maqsud;
"Há de vir o tempo em que se compreenda universalmente a necessidade imperiosa de se convocar uma vasta assembleia de homens – assembleia essa, que a todos abranja. Os governantes e reis da terra devem forçosamente assisti-la e, participando das suas deliberações, considerar aqueles meios necessários e modos que possam lançar entre os homens os alicerces da Grande Paz do mundo. Tal paz exige que as Grandes Potências resolvam, para tranquilidade dos povos da terra, reconciliar-se plenamente entre si. "[Maqsúd 8].


Já aqui referi em posts anteriores que Amin Malouf faz eco de vários princípios e ensinamentos Bahá’ís.

Um sistema de governo global deve ter nos seus objectivos a regulação das relações entre as nações, encorajando essas relações a basearem-se cada vez mais na cooperação, e cada vez menos na confrontação ou na competição selvagem. Isso foi tentado com a Liga das Nações e continua a tentar-se com as Nações Unidas.

Mas que implicações tem isto a nível individual? Como é que um indivíduo, que se identifica com uma família, uma tribo, ou uma nação pode aceitar um poder global? Não teremos necessidade de uma consciencialização da cidadania mundial a uma escala global? E como se desenvolver essa consciência de cidadania mundial baseada no respeito mútuo e na dignidade partilhada?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Amin Maalouf e Um mundo sem Regras (5)

Evolução Tecnológica vs. Evolução Moral

No livro Um Mundo sem Regras, Amin Maalouf escreve:
O que está hoje em causa é o fosso que é cavado entre a nossa rápida evolução material, que todos os dias nos retira mais do isolamento, e a nossa evolução moral demasiado lenta, que não nos permite fazer face às consequências trágicas desta saída do isolamento. É claro que não se pode nem deve diminuir o ritmo da evolução material. É a nossa evolução moral que deve ser consideravelmente acelerada, é ela que deve ser elevada urgentemente ao nível da nossa evolução tecnológica, o que exige uma verdadeira revolução nos comportamentos. (p. 75)

Que princípios devem reger a moralidade de um novo milénio? Quais as suas fontes? Devemos procurar as moralidades do passado ou procurar uma nova moralidade?

'Abdu'l-Bahá afirmou durante a Sua viagem aos Estados Unidos: "Por muito que o mundo material progrida, não poderá estabelecer a felicidade da humanidade. Apenas quando a civilização material e espiritual se ligarem e coordenarem será assegurada a felicidade".

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Amin Maalouf e Um mundo sem Regras (4)

As Minorias

No livro Um Mundo sem Regras, Amin Maalouf escreve:
Para qualquer sociedade para a humanidade no seu conjunto, o destino das minorias não é um dossiê entre muitos outros; é, juntamente com o destino das mulheres, um dos reveladores mais seguros do avanço moral ou da regressão. Um mundo onde todos os dias se respeita um pouco melhor a diversidade humana, onde qualquer pessoa pode exprimir-se na língua à sua escolha, professar tranquilamente as suas crenças e assumir serenamente as suas origens sem ser vítima de hostilidade ou difamação, quer por parte das autoridades, quer por parte da população, é um mundo que avança, que progride, que se eleva. Inversamente, quando prevalecem as crispações identitárias como acontece hoje na maioria dos países, tanto no Norte do planeta como no Sul, quando todos os dias se torna um pouco mais difícil alguém ser serenamente ele mesmo, praticar livremente a sua língua ou a sua fé, como não falar de regressão? (p.65-66)
COMENTÁRIO:

Nas várias epístolas de Baha'u'lláh dirigidas a reis e governantes do Seu tempo, encontramos repetidas referências à importância da governação reflectir justiça para com todos os cidadãos, independentemente do grupo social a que pertençam. Numa epístola a Napoleão III, o fundador da Fé Bahá'í afirmara: "Sabe, em verdade, que os teus súbditos são uma responsabilidade que Deus te conferiu. Cuida deles, como cuidas de ti."

A questão dos direitos das minorias tem sido uma matéria de atenção por parte da Comunidade Bahá'í, junto das Nações Unidas. No site da BIC, encontramos várias declarações nesse sentido. Numa delas, intitulada Protection of Minorities e apresentada em 1994, podemos ler o seguinte:
Na opinião da Comunidade Internacional Bahá'í, a responsabilidade de garantir a igualdade de direitos para as minorias cai simultaneamente nas maiorias e nas minorias. As Maiorias têm uma responsabilidade especial, por uma questão de justiça, de realizar os ajustamentos sociais e políticas que permitam às minorias para exercer, tanto quanto possível, os seus direitos comuns e fundamentais. As Minorias, por seu lado, têm a responsabilidade moral de responder honestamente a esforços genuínos das maiorias e, como afirma o Relator de "reconhecer e respeitar os seus deveres para com a sociedade em geral" (E/CN.4/Sub.2 / 1993/34/Add.4, par. 20). Ambos devem ver as questões das minorias no contexto de um mundo cada vez mais interdependente. Num mundo assim, a vantagem de uma parte é melhor assegurada, garantindo a vantagem do todo, do mesmo modo, o todo não pode florescer quando as partes são oprimidas ou desfavorecidas.

A necessidade é, pois, identificar as condições que privam certas minorias e exortar os governos a adoptar legislação que permita a essas minorias reivindicar os seus direitos e reformular as suas queixas. Essas medidas, porém, não serão suficientes para garantir que as minorias gozem dos mesmos direitos que os seus concidadãos. As atitudes devem mudar. Deve haver uma mudança na opinião das maiorias em relação às minorias oprimidas e as minorias devem-se libertar do sentimento de impotência induzida por discriminação prolongada.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Amin Maalouf e Um mundo sem Regras (3)

A universalidade dos Valores Fundamentais

No livro Um Mundo sem Regras, Amin Maalouf escreve:
Contrariamente à ideia preconcebida, o erro secular das potências europeias não foi terem querido impor os seus valores ao resto do mundo, mas muito exactamente o inverso: terem renunciado constantemente a respeitar os seus próprios valores nas suas relações com os povos dominados. Enquanto este equívoco não for resolvido, corremos o risco de voltar a cair nos mesmos erros.

O primeiro destes valores é a universalidade, ou seja, que a humanidade é uma. Diversa, mas uma. Por isso, é uma falta imperdoável transigir nos princípios fundamentais com o eterno pretexto de que os outros não estariam prontos para adoptá-los. Não há direitos do homem para a Europa e outros direitos do homem para a África, a Ásia ou para o mundo muçulmano. Nenhum povo na Terra é feito para a escravatura, para a tirania, para o arbitrário para a ignorância, para o obscurantismo, nem para a submissão das mulheres. Cada vez que negligenciamos esta verdade de base, traímos a humanidade e traímo-nos a nós mesmos. (p.60-61)

COMENTÁRIO:

Mais uma vez encontro um tremendo paralelismo entre as opiniões de Amin Maalouf e os ensinamentos Baha’is. Nos parágrafos acima encontro esse paralelismo na constatação da unidade e da diversidade da família humana, e na defesa da universalidade dos direitos humanos. Penso que nenhum Bahá’í ficará indiferente a estas palavras do escritor libanês.

Os repetidos elogios de 'Abdu'l-Bahá aos valores da liberdade e da democracia existentes na Europa e nos Estados Unidos, e a referência de Bahá'u'lláh à grande perturbação que o Ocidente tinha lançado no mundo, ecoam naquilo a que Amin Maalouf refere como a hipocrisia do Ocidente que esquece os valores que defende ao relacionar-se com outros povos.

Os direitos humanos não podem estar condicionados por particularidades nacionais e regionais, ou limitados por condicionantes históricas, culturais e religiosas. Cada ser humano possui um conjunto de direitos que podem se deduzidos e enumerados; não são direitos conquistados ou adquiridos; são inerentes à condição humana de cada indivíduo. Além disso esses direitos são inalienáveis, i.e. não podem ser negados ou anulados por outros ou pelo próprio indivíduo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Amin Maalouf e Um mundo sem Regras (2)

O Bem-Estar da Humanidade e os Recursos Naturais do Planeta



No livro Um Mundo sem Regras, Amin Maalouf escreve:
... o aumento vertiginoso da classes médias na China, na Índia, na Rússia e no Brasil, como no conjunto do planeta, é uma realidade à qual o mundo, tal como funciona actualmente não parece estar em condições de acomodar-se. Se três ou quatro mil milhões de humanos começassem, a curto prazo, a consumir por habitante tanto como os europeus ou japoneses, sem sequer falar dos norte-americanos, obviamente iríamos assistir a desregramentos consideráveis, tanto ecológicos como económicos. Será necessário acrescentar que o que evoco aqui não é um futuro longínquo, mas o futuro imediato, e até quase o presente? A pressão sobre os recursos naturais – nomeadamente o petróleo, a água potável, as matérias-primas, a carne, o peixe, os cereais, etc. – e o combate pelo controlo das zonas de produção; a teimosia de alguns em preservar a sua parte das riquezas naturais e a teimosia de outros em obter a sua; tudo isto constitui matéria suficiente para alimentar inúmeros conflitos assassinos. (p.42)
COMENTÁRIO:

A redução da pobreza e o aumento do bem-estar a nível global deve ser considerado como uma evolução positiva na situação da humanidade. O desejo a ter um nível de vida razoável é uma aspiração legítima de qualquer ser humano.

No fundo todos os seres humanos têm direito a uma vida digna. E não há nada de errado em ambicionarmos ter um nível de vida razoável. Este princípio, porém, exige uma correcta utilização dos recursos naturais do planeta. Numa civilização global, exige-se uma gestão global. Os recursos do planeta são suficientes para as necessidades de todos; mas não são suficientes para a ganância de todos. Tal como outros problemas ambientais e financeiros cujo âmbito hoje se reconhece ser global, também a gestão de recursos do 0laneta deve ser considerado um problema global que exige uma solução global.

Seria inaceitável pensar que o mundo ocidental pode continuar a ser uma Ilha de prosperidade, enquanto o resto do mundo definha a pobreza.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Amin Maalouf e Um mundo sem Regras (1)

Uma Civilização Global

No livro Um Mundo sem Regras, Amin Maalouf escreve:
Penso que estas civilizações [Ocidente e Mundo Muçulmano] atingiram os seus limites; que só trazem ao mundo as suas crispações destruidoras; que estão moralmente em falência, como o estão, aliás, todas as civilizações particulares que ainda dividem a humanidade; e que chegou o momento de as transcender. Ou nós conseguimos construir neste século uma civilização comum com a qual cada um possa identificar-se, unificada pelos mesmos valores universais, guiada por uma fé poderosa da aventura humana e enriquecida com todas as nossas diversidades culturais, ou perecemos juntos numa barbárie comum. (p.31)
COMENTÁRIO:

Dificilmente um Bahá'í deixaria de identificar estas com princípios e ensinamentos da sua religião, nomeadamente a necessidade de reconhecimento da unidade da humanidade e a importância da preservação da diversidade humana. A própria ideia de fim de vida das civilizações particulares e necessidade de criação de uma civilização global (que também existe nos ensinamentos Bahá'ís) pode ser visto como fim e início de etapas distintas da nossa evolução colectiva.

No entanto, há uma ligeira diferença entre o pensamento de Amin Maalouf e os ensinamentos Bahá’ís: para o autor libanês, o surgimento da civilização global é uma opção que se coloca à humanidade, que se for rejeitada provocará o caos; para os Bahá’ís a civilização global é uma inevitabilidade, por muito sombrio que pareça o futuro imediato da humanidade.