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segunda-feira, 10 de março de 2008

A Biografia de Gandhi

Gandhi é uma das mais fascinantes personagens do séc. XX. O seu nome é evocado com regularidade e tornou-se um sinónimo de não-violência; os seus ensinamentos são tidos por muita gente como a receita para a construção de uma sociedade mais justa e pacífica; a sua vida foi tema de uma clássico do cinema.

Há alguns meses atrás foi publicado no nosso país, uma tradução da sua auto-biografia ("A minha vida e as minhas experiências com a verdade", Editorial Bizâncio). O livro foi escrito em 1925, quando o autor estava na prisão, e descreve a sua vida desde a infância até 1920. Este texto tornou-se um documento popular e influente, não apenas na Índia, mas também durante os anos da luta pelos Direitos Cívicos nos EUA e do movimento Solidariedade na Polónia.

Como o subtítulo indica, mais do que uma biografia, estamos na presença de um conjunto de relatos sobre experiências com a verdade. Segundo Gandhi, “a verdade é um princípio soberano , que engloba vários outros. Ela não é apenas a autenticidade da palavra, mas também a do pensamento. Não é a verdade relativa da nossa percepção, mas a Absoluta, o Princípio Eterno, que é Deus. Há inúmeras definições de Deus, porque são inúmeras as suas manifestações, que inundam o meu ser de admiração e respeito e, ao mesmo tempo, me atormentam.”

Ao descrever a sua vida como uma caminhada espiritual e moral, Gandhi tem a humildade suficiente para não omitir os seus erros, defeitos ou contradições. Desta forma, poderá ser surpreendente para muitos leitores ficar a saber que o relacionamento do autor com a esposa nem sempre foi um mar de rosas; que nas suas palavras se percebe algum arrependimento por não ter investido mais na educação dos filhos; e que o seu apoio às autoridades inglesas durante a Guerra dos Boers e durante a Primeira Guerra Mundial são atitudes difíceis de perceber.

Mas a humildade do relato também passa pelo facto de Gandhi não se vangloriar dos seus feitos, mas apenas descrever o que viveu à luz dos princípios da não violência apenas como se se tratasse de uma ilustração pessoal.

Uma obra para ler e reflectir.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

O Silêncio

A experiência ensina que o silêncio faz parte da disciplina espiritual daquele que busca a verdade. A tendência para o exagero, para suprimir ou adulterar a verdade, consciente ou inconscientemente, é uma fraqueza do homem, e o silêncio é necessário para que se possa superar estes momentos. Um homem de poucas palavras raramente dirá algo impensado num discurso. Medirá cada palavra. É comum encontrar muitas pessoas impacientes para falar. O presidente de uma assembleia, em geral, recebe muitos pedidos de pessoas que solicitam a palavra. Quando a autorização é concedida, o orador geralmente excede o tempo limite. Não se pode dizer que esta conversa toda seja benéfica ao mundo. Quanto desperdício de tempo!

Este pequeno excerto das memórias de Gandhi (A minha vida e as minhas experiências com a verdade) encontram um paralelo interessante nas escrituras Bahá’ís. Segundo Bahá'u'lláh "Aquele que busca a verdade... jamais quererá enaltecer-se a si próprio acima de qualquer outro; deverá apagar da tábua de seu coração todo traço de orgulho e vanglória, firmar-se na paciência e na resignação, guardar silêncio e abster-se de palavras vãs." (Kitáb-i-Íqán, parágrafo 214).

A história mas interessante que já ouvi sobre excesso de palavras passou-se na Comunidade Bahá’í do Canadá. Ali, como entre muitas outras comunidades, nas reuniões comunitárias com maior participação (Festas de 19 Dias e Convenções) é fácil encontrar o frenesim dos oradores, das pessoas que têm muitas coisas para dizer, dos delegados que querem abordar vários assuntos durante a sua intervenção. Os índios nativos do Canadá sempre estranharam este tipo de comportamentos e afastaram-se gradualmente deste sistema de consulta comunitária.

Surgiu a ideia de criar encontros em que apenas podiam intervir os índios; quem não fosse índio podia assistir, mas não podia intervir. O resultado foi profundamente contrastante com os encontros tradicionais. Longos períodos de silêncio... intervenções curtas... ausência de frenesim dos oradores... nenhum stress...

Foi o que me contaram. Gostava de ter assistido.