Por Kari Megeed.
Numa reunião realizada na passada terça-feira na sede do Ministério de Fundações Religiosas no Cairo, o ministro Mohamed Mokhtar Goma'a afirmou que está a planear a formação de grupos especiais dedicados consciencialização das "ameaças" do ateísmo e das religiões Baha'i e Xiita, além de questões sociais, como a toxicodependência e os crimes de morte.
Nesta reunião estiveram presentes representantes de diferentes províncias e de vários departamentos governamentais a quem o Sr. Goma'a pediu diversos dados estatísticos, nomeadamente sobre o número actual de mesquitas existentes nas suas áreas. Um porta-voz do Ministério, informou que após a recolha dos dados, serão criados grupos que terão reuniões mensais até ao início do Ramadão.
"Os grupos incluirão um recitador Alcorão, um cantor e dois palestrantes", disse Abdel Razek ao Daily News Egypt. A reunião também discutiu a regulamentação dos funcionários das mesquitas, e esboçou um sistema para que todas as mesquitas tenham no mínimo um funcionário. A reunião também analisou o próximo Religious Speech Freedom Forum, a ser realizado no próximo mês de Maio. A conferência irá propor leis sobre liberdade de expressão religiosa no Egipto, incluindo legislação que para erradicar pregadores da Irmandade Muçulmana.
Ateísmo e liberdade de expressão religiosa tem sido um assunto quente no Egipto após a destituição da Irmandade Muçulmana em 2013. Em Janeiro, um estudante de engenharia de 21 anos de idade, Karim Al-Banna foi preso sob a acusação de ser ateu e "insultar o Islão" no Facebook. Al-Banna enfrenta uma pena de prisão de três anos, se o seu recurso actual não for aceite. Na semana passada, o Ministério das Fundações Religiosas declarou que ia iniciar uma rigorosa vigilância sobre as escolas privadas associadas a instituições religiosas, e reestruturar as instituições filiadas na Irmandade Muçulmana. Segundo a Egyptian Initiative for Personal Rights, desde 2011, mais de 40 pessoas foram acusadas e julgadas por difamação; 27 foram condenadas em tribunal.
Em Janeiro, quando o presidente Sisi pediu uma "revolução religiosa", o mundo inteiro sentiu um sinal de esperança perante a possibilidade de uma reforma religiosamente moderada em algumas partes do Médio Oriente. Como o Egipto é o lar de uma das principais autoridades do Islão Sunita, - Al Azhar - a declaração do Presidente Sisi tinha uma grande potencial. No entanto, os ateus egípcios discordam.
"Dada a natureza actual do discurso religioso no Egipto e a organização de reuniões, como esta no Ministério de Fundações Religiosas, não acredito que o ateísmo seja aceite em breve. Egipto tem de trabalhar estes seus problemas com a liberdade de expressão, antes de podermos começar a incluir a religião ou qualquer outra questão social ", disse um ateu egípcio que preferiu não ser identificado.
O problema também afecta principal fonte de receitas do Egipto: o turismo. Os turistas tendem a evitar países onde existe risco de prisão apenas porque alguém o ouve a falar em inglês com um amigo sobre política e religião. O Egipto tem a oportunidade de fazer o que outras nações raramente são capazes: começar de novo. Dado o recente impulso no sentido da modernização e da globalização, essas questões sociais devem ser abordadas, e activamente defendidas.
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FONTE: Egypt To Confront ‘Threats of Atheists, Baha’is and Shiites’ With New ‘Special Groups’ (EgyptianStreets)
"Povo de Bahá" é uma expressão frequentemente utilizada nas Escrituras Bahá'ís para designar os crentes em Bahá'u'lláh, i.e., os Bahá’ís.
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sábado, 18 de abril de 2015
sábado, 11 de maio de 2013
Bassem Youssuf Attacks MB Rule in Egypt: "They Are Driving People Away from Islam"
Egyptian TV Host and Satirist Bassem Youssef Attacks Muslim Brotherhood Rule in Egypt: "They Are Chasing People Away from Islam" Dream 2 TV (Egypt) - February 3, 2013
sexta-feira, 5 de abril de 2013
De olho na revolução egípcia: uma perspectiva Bahá'í
O site egípcio Ahram Online perguntou a 10 pessoas que participaram na revolução egípcia de 25 de Janeiro como vêem a actual situação política do Egipto dois anos após a queda de Mubarak. O texto que se segue é a tradução de uma dessas entrevistas com uma jovem Baha’i.
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Natacha Chirazi, uma jovem Bahai jovem criada na Austrália, chegou ao Egipto com vinte e poucos anos para conhecer o país de onde os seus pais haviam emigrado.
Apesar do desafio do indisfarçável sentimento anti-Bahai, ela ligou-se imediatamente ao país, e ficou no Egipto com seu marido e seu filho Leo, que é um Bahai de sétima geração.
Excertos:
* Eu acredito que uma boa parte do nosso problema hoje é que nós nos tornamos muito envolvidos nos factores de divisão de política que nos afastam da causa da revolução 25 de Janeiro. Compreendo que existam diferenças, mas também acredito - e isso é parte da minha fé como Bahai - que precisamos de encontrar o que nos pode unir. Precisamos de procurar a prosperidade material e espiritual através da nossa unidade.
* Quando cheguei a este país com um passaporte australiano sabia muito bem os problemas relacionados com a obtenção de um cartão de identidade egípcio para os bahais egípcios, e por isso, não votei. Mas para ser honesta, se pudesse votar, teria um problema, porque não estava totalmente convencida por nenhum dos candidatos. Cada um deles parecia estar a afastar-se para longe do apelo à unidade. Eu penso que a melhor coisa da revolução foi o seu apelo à unidade; na verdade, ela encarna a unidade.
* Pessoalmente, não me juntei às manifestações porque como Bahai não acredito necessariamente nas manifestações; mas o que fiz foi juntar-me às multidões que foram à praça Tahrir, no dia 12 de Fevereiro, um dia depois da renúncia de Mubarak, para ajudar a limpar. Nesse dia senti que estávamos todos unidos. Todos pertencíamos a este país e todos nós sentimos que queríamos que fosse um país melhor e mais bonito e cada um de nós, à sua maneira estava a fazer exactamente isso.
* Hoje, quase dois anos depois, apesar da centelha ter desaparecido, a fé ainda lá está e é isso que temos de aproveitar. Não é tarde demais para encontrarmos o que nos pode unir, e para ser honesta, é óbvio. Precisamos encontrar a prosperidade para todos. Eu acho que, independentemente de nossa discordância e até mesmo insatisfação com o desempenho da nova liderança, ainda podemos concordar em muita coisa.
* Eu não diria que a revolução de 25 de Janeiro fracassou porque foi incapaz de acabar com a discriminação que bahais enfrentam em termos de cidadania, pois a revolução ainda terá sucesso em muitas outras frentes para acabar com a discriminação e para cumprir o apelo de justiça e dignidade para todos. Não posso negar que ter um cartão de identidade com um traço na secção de religião é algo que me incomoda; mas ao mesmo tempo não vejo que isso seja muito diferente da discriminação que os pobres enfrentam, quer se goste ou não, quando por exemplo, eles não conseguem dar uma boa educação aos seus filhos.
* Apesar das dificuldades, estou determinada a viver aqui e a educar o meu filho aqui e não noutro lugar. E tenho esperança que quando ele for crescido, ele não tenha que sentir muita discriminação como Bahai pois as coisas terão evoluído de forma a eliminar as disparidades em geral.
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FONTE: Eye on the revolution: Natacha Chirazi, a Bahai view (Ahram Online)
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Natacha Chirazi, uma jovem Bahai jovem criada na Austrália, chegou ao Egipto com vinte e poucos anos para conhecer o país de onde os seus pais haviam emigrado.
Apesar do desafio do indisfarçável sentimento anti-Bahai, ela ligou-se imediatamente ao país, e ficou no Egipto com seu marido e seu filho Leo, que é um Bahai de sétima geração.
Excertos:
* Eu acredito que uma boa parte do nosso problema hoje é que nós nos tornamos muito envolvidos nos factores de divisão de política que nos afastam da causa da revolução 25 de Janeiro. Compreendo que existam diferenças, mas também acredito - e isso é parte da minha fé como Bahai - que precisamos de encontrar o que nos pode unir. Precisamos de procurar a prosperidade material e espiritual através da nossa unidade.
* Quando cheguei a este país com um passaporte australiano sabia muito bem os problemas relacionados com a obtenção de um cartão de identidade egípcio para os bahais egípcios, e por isso, não votei. Mas para ser honesta, se pudesse votar, teria um problema, porque não estava totalmente convencida por nenhum dos candidatos. Cada um deles parecia estar a afastar-se para longe do apelo à unidade. Eu penso que a melhor coisa da revolução foi o seu apelo à unidade; na verdade, ela encarna a unidade.
* Pessoalmente, não me juntei às manifestações porque como Bahai não acredito necessariamente nas manifestações; mas o que fiz foi juntar-me às multidões que foram à praça Tahrir, no dia 12 de Fevereiro, um dia depois da renúncia de Mubarak, para ajudar a limpar. Nesse dia senti que estávamos todos unidos. Todos pertencíamos a este país e todos nós sentimos que queríamos que fosse um país melhor e mais bonito e cada um de nós, à sua maneira estava a fazer exactamente isso.
* Hoje, quase dois anos depois, apesar da centelha ter desaparecido, a fé ainda lá está e é isso que temos de aproveitar. Não é tarde demais para encontrarmos o que nos pode unir, e para ser honesta, é óbvio. Precisamos encontrar a prosperidade para todos. Eu acho que, independentemente de nossa discordância e até mesmo insatisfação com o desempenho da nova liderança, ainda podemos concordar em muita coisa.
* Eu não diria que a revolução de 25 de Janeiro fracassou porque foi incapaz de acabar com a discriminação que bahais enfrentam em termos de cidadania, pois a revolução ainda terá sucesso em muitas outras frentes para acabar com a discriminação e para cumprir o apelo de justiça e dignidade para todos. Não posso negar que ter um cartão de identidade com um traço na secção de religião é algo que me incomoda; mas ao mesmo tempo não vejo que isso seja muito diferente da discriminação que os pobres enfrentam, quer se goste ou não, quando por exemplo, eles não conseguem dar uma boa educação aos seus filhos.
* Apesar das dificuldades, estou determinada a viver aqui e a educar o meu filho aqui e não noutro lugar. E tenho esperança que quando ele for crescido, ele não tenha que sentir muita discriminação como Bahai pois as coisas terão evoluído de forma a eliminar as disparidades em geral.
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FONTE: Eye on the revolution: Natacha Chirazi, a Bahai view (Ahram Online)
quinta-feira, 21 de março de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
Hussein Bikar
Cumpriram-se no passado dia 2 de Janeiro 100 anos do nascimento de Hussein Bikar.
Trata-se de um dos mais proeminentes artistas egípcios do século XX. Formou-se na Escola Superior de Belas Artes do Cairo (em 1934) e passou mais de 60 anos ensinando arte em diversas escolas e universidades. É considerado como iniciador de um estilo de jornalismo artístico que elevou o estilo de ilustrações dos jornais para um nível verdadeiramente artístico; o seu estilo simples e claro reflecte influências da arte faraónica combinada com harmonia, serenidade e mística.
Os contributos jornalísticos de Bikar incluem também crítica artística e narrativas poéticas. Foi o primeiro egípcio a ilustrar livros infantis em língua árabe. O estilo elegante e gracioso dos seus retratos e pinturas a óleo representando camponeses graciosos, cenas da Núbia e temas faraónicos valeram-lhe diversos reconhecimentos e prémios.
Hussein Bikar era membro da comunidade Bahá’í do Egipto.
Os contributos jornalísticos de Bikar incluem também crítica artística e narrativas poéticas. Foi o primeiro egípcio a ilustrar livros infantis em língua árabe. O estilo elegante e gracioso dos seus retratos e pinturas a óleo representando camponeses graciosos, cenas da Núbia e temas faraónicos valeram-lhe diversos reconhecimentos e prémios.
Hussein Bikar era membro da comunidade Bahá’í do Egipto.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Se eu fosse Bahá'í, por Tarek Heggy
O texto seguinte é de autoria de Tarek Heggy, um autor Egípcio liberal, e analista político. O Dr. Heggy é um dos mais proeminentes defensores das reformas políticas no Egipto. Nos seus muitos artigos tem defendido os valores da modernidade, democracia, tolerância e direitos das mulheres no Médio Oriente, valores que considera universais e essenciais para o progresso da região. É professor convidado em diversas Universidades e tem realizado palestras e conferências um pouco por todo o mundo. É também co-fundador da Cadeira de Estudos Coptas na Universidade Americana no Cairo. O texto original em inglês encontra-se aqui.
Se eu fosse Bahá'í: informaria o mundo sobre o plano sistemático para eliminar todos os vestígios da Fé Bahá'í e dos Bahá’ís no Egipto.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria a atenção de todas as grandes personalidades e intelectuais do mundo para o respeito e consideração com que os seus pares no Egipto receberam 'Abdu'l-Bahá (filho de Bahá'u'lláh) durante a sua visita a este país no início do século XX, e para as obscenidades e desconsiderações com que as pretensiosas personalidades e falsos intelectuais do Egipto de hoje mancham o bom nome da Fé Bahá’í e dos Bahá’ís.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Justiça no mundo sobre o tema da Instituição Al Azhar e diria ao honorável Ulamá: como pode decidir hoje que os Bahá’ís não são uma religião quando o Tribunal Superior da Sharia de Beba/Souhag decretou em 1925 que a Fé “Bahá’í é uma religião independente”?
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Justiça no mundo sobre o tema da Instituição Al Azhar, que, com todas as mesquitas, mesdjids e escolas kettab à sua disposição no Egipto, descobriu que é necessário privar a Comunidade Bahá'í do seu principal edifício sede e usá-lo como escola corânica.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Justiça no mundo sobre o tema da prisão de 92 Bahá'ís - homens e mulheres - com idades entre os 2 e 80 anos. Foram presos entre a meia-noite e madrugada em todo o Egipto e transferidos para a cadeia de Tanta, e seguidamente, falsamente acusados de traição, conduta imprópria e espionagem, com grande exposição na comunicação social, sem nenhum outro motivo a não ser por serem Bahá'ís.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Justiça no mundo sobre o tema da detenção frequente de Bahá’ís, homens e mulheres, durante dias, semanas ou meses para interrogatório. Os tribunais nunca os consideram culpados de qualquer crime ou falta, mas eles eram Bahá'ís.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Arte no Ocidente e no Oriente, para o caso de um dos maiores e mais admirados artistas do Egipto, Hussein Bikar, que foi detido em sua casa e levado para a cadeia com outros Bahá'ís conhecidos para dias de interrogatórios a respeito da sua Fé Bahá'í.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Arte no Ocidente e no Oriente, e dizia-lhes: Hussein Bikar, um dos maiores e mais admirados artistas no Egipto não tinha qualquer bilhete de identidade quando morreu com quase 90 anos de idade. As autoridades egípcias recusaram-se a emitir um documento de identidade com a palavra "Bahá'í" no espaço para a religião.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha as Organizações Mundiais de Direito, Justiça e Direitos Humanos, governamentais e não-governamentais, e dizia-lhes: imaginem que no Egipto do século XX, os documentos de identidade individual devem incluir a indicação de filiação religiosa do indivíduo…
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha as Organizações Mundiais de Direito, Justiça e Direitos Humanos, governamentais e não-governamentais, e dizia-lhes: imaginem que no Egipto do século XX, os documentos de identidade individual devem incluir a indicação de filiação numa de apenas três religiões, não obstante o desejo ou a fé do indivíduo?
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha as Organizações Mundiais de Direito, Justiça e Direitos Humanos, governamentais e não-governamentais, e dizia-lhes: no Egipto do século XX, os filhos e filhas dos Bahá'ís recebem documentos de identidade individuais com um traço (-) na religião, enquanto aos seus pais são recusados os mesmos documentos de identidade: PORQUÊ? Porque o Estado Egípcio não reconhece o casamento Bahá'í!
Ó povoS do mundo: venham e façam um balanço desta excelência administrativa!
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha todos os Ministros da Educação do Mundo e informá-los-ia que: o Ministro da Educação do Egipto declarou que vai recusar a admissão de crianças (sim, crianças!) dos Bahá’ís nas escolas públicas, porque as crianças são Bahá'ís!
Se eu fosse Bahá'í: informaria o mundo que a nova Constituição Egípcia contém os elementos necessários para a eliminação da minoria Bahá’í no Egipto.
Se eu fosse Bahá'í: informaria o mundo que incendiar as casas dos Bahá’ís ocorre com a impunidade no Egipto.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha todas Organizações Mundiais de Comunicação Social, da Lei e da Justiça e dos Direitos Humanos, governamentais e não-governamentais, e informá-los-ia que no Egipto, incitar à morte dos Bahá'ís, em discursos e na TV é normal e é feito com a impunidade!
E apesar de tudo isso:
Se eu fosse Bahá'í: diria para aqueles detêm a autoridade no Egipto: eu sou leal ao meu país, eu amo o meu país, eu esforço-me pelo sucesso e progresso do meu país e eu considero os filhos dos meus vizinhos como meus filhos, sem considerar a religião ou o credo. Que maravilhoso seria o Egipto se vocês, que estão no poder, seguissem este mesmo caminho.
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FONTE: If I were Bahá’í
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Se eu fosse Bahá'í: chamaria a atenção de todas as grandes personalidades e intelectuais do mundo para o respeito e consideração com que os seus pares no Egipto receberam 'Abdu'l-Bahá (filho de Bahá'u'lláh) durante a sua visita a este país no início do século XX, e para as obscenidades e desconsiderações com que as pretensiosas personalidades e falsos intelectuais do Egipto de hoje mancham o bom nome da Fé Bahá’í e dos Bahá’ís.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Justiça no mundo sobre o tema da Instituição Al Azhar e diria ao honorável Ulamá: como pode decidir hoje que os Bahá’ís não são uma religião quando o Tribunal Superior da Sharia de Beba/Souhag decretou em 1925 que a Fé “Bahá’í é uma religião independente”?
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Justiça no mundo sobre o tema da Instituição Al Azhar, que, com todas as mesquitas, mesdjids e escolas kettab à sua disposição no Egipto, descobriu que é necessário privar a Comunidade Bahá'í do seu principal edifício sede e usá-lo como escola corânica.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Justiça no mundo sobre o tema da prisão de 92 Bahá'ís - homens e mulheres - com idades entre os 2 e 80 anos. Foram presos entre a meia-noite e madrugada em todo o Egipto e transferidos para a cadeia de Tanta, e seguidamente, falsamente acusados de traição, conduta imprópria e espionagem, com grande exposição na comunicação social, sem nenhum outro motivo a não ser por serem Bahá'ís.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Justiça no mundo sobre o tema da detenção frequente de Bahá’ís, homens e mulheres, durante dias, semanas ou meses para interrogatório. Os tribunais nunca os consideram culpados de qualquer crime ou falta, mas eles eram Bahá'ís.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Arte no Ocidente e no Oriente, para o caso de um dos maiores e mais admirados artistas do Egipto, Hussein Bikar, que foi detido em sua casa e levado para a cadeia com outros Bahá'ís conhecidos para dias de interrogatórios a respeito da sua Fé Bahá'í.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha a assembleia da Arte no Ocidente e no Oriente, e dizia-lhes: Hussein Bikar, um dos maiores e mais admirados artistas no Egipto não tinha qualquer bilhete de identidade quando morreu com quase 90 anos de idade. As autoridades egípcias recusaram-se a emitir um documento de identidade com a palavra "Bahá'í" no espaço para a religião.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha as Organizações Mundiais de Direito, Justiça e Direitos Humanos, governamentais e não-governamentais, e dizia-lhes: imaginem que no Egipto do século XX, os documentos de identidade individual devem incluir a indicação de filiação religiosa do indivíduo…
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha as Organizações Mundiais de Direito, Justiça e Direitos Humanos, governamentais e não-governamentais, e dizia-lhes: imaginem que no Egipto do século XX, os documentos de identidade individual devem incluir a indicação de filiação numa de apenas três religiões, não obstante o desejo ou a fé do indivíduo?
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha as Organizações Mundiais de Direito, Justiça e Direitos Humanos, governamentais e não-governamentais, e dizia-lhes: no Egipto do século XX, os filhos e filhas dos Bahá'ís recebem documentos de identidade individuais com um traço (-) na religião, enquanto aos seus pais são recusados os mesmos documentos de identidade: PORQUÊ? Porque o Estado Egípcio não reconhece o casamento Bahá'í!
Ó povoS do mundo: venham e façam um balanço desta excelência administrativa!
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha todos os Ministros da Educação do Mundo e informá-los-ia que: o Ministro da Educação do Egipto declarou que vai recusar a admissão de crianças (sim, crianças!) dos Bahá’ís nas escolas públicas, porque as crianças são Bahá'ís!
Se eu fosse Bahá'í: informaria o mundo que a nova Constituição Egípcia contém os elementos necessários para a eliminação da minoria Bahá’í no Egipto.
Se eu fosse Bahá'í: informaria o mundo que incendiar as casas dos Bahá’ís ocorre com a impunidade no Egipto.
Se eu fosse Bahá'í: chamaria para testemunha todas Organizações Mundiais de Comunicação Social, da Lei e da Justiça e dos Direitos Humanos, governamentais e não-governamentais, e informá-los-ia que no Egipto, incitar à morte dos Bahá'ís, em discursos e na TV é normal e é feito com a impunidade!
E apesar de tudo isso:
Se eu fosse Bahá'í: diria para aqueles detêm a autoridade no Egipto: eu sou leal ao meu país, eu amo o meu país, eu esforço-me pelo sucesso e progresso do meu país e eu considero os filhos dos meus vizinhos como meus filhos, sem considerar a religião ou o credo. Que maravilhoso seria o Egipto se vocês, que estão no poder, seguissem este mesmo caminho.
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FONTE: If I were Bahá’í
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Primavera Árabe: Ministro Egípcio insiste na discriminação dos Bahá’ís
![]() |
O Sr. Ghoneim, Ministro Egípcio da Educação |
"A Constituição só reconhece as três religiões abraâmicas", afirmou o Sr. Ibrahim Ghoneim Akbar Al-Youm. "E como a religião é um assunto ensinado nas escolas, essas crianças não cumprem os requisitos para a inscrição."
Em Novembro do ano passado, o Sr. Ghoneim tinha feito declarações semelhantes ao jornal Al-Sabah. Quando lhe perguntaram: "Qual é a posição do Ministério da Educação sobre os filhos dos Bahá’ís? Será que eles têm o direito de se matricular em escolas públicas?", o ministro respondeu: "O Estado só reconhece três religiões e a fé Bahá’í não está entre elas. Assim, os seus filhos não têm o direito de inscrever em escolas públicas. "
Nos últimos anos, os Bahá’ís travaram uma batalha judicial com o Governo Egípcio quando este se recusou a emitir-lhes bilhetes de identidade ou certidões de nascimento.
Recorde-se que todos os egípcios devem possuir bilhetes de identidade a partir de 16 anos de idade. Estes cartões de identificação indicam religião, e são de apresentação obrigatória em qualquer outra acto formal, como o pedido de carta de condução, certidão de óbito, ou a abertura de uma conta bancária. Em 2008, um tribunal egípcio concedeu aos Bahá’ís o direito a obter cartões de identificação sem mencionar a sua religião, acabando assim com quatro anos de debate sobre essa questão.
No Egipto, as tensões entre Bahá’ís e do Estado já duram há várias décadas. Em 1960, o Governo confiscou os seus bens, incluindo um terreno nas margens do Nilo destinado à construção de uma casa de culto, e vendeu em hasta pública. Naquela época, o Governo acusou os Bahá’ís de serem leais a Israel. Vários Bahá’ís estiveram detidos durante vários meses após o fim da Guerra dos Seis Dias (1967)
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FONTE: Bahais cannot enroll in public schools, education minister says (Egypt Independent)
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Quando César quer ser Deus
Esther Mucznik, ontem no Público:
O que se passa neste momento no Egipto é decisivo. Depois da eleição, em Junho deste ano, de Muhammad Morsi para presidente do Egipto, parecia abrir-se um novo ciclo em que o poder se estabilizava (e concentrava) nas mãos da Irmandade Muçulmana.
(...)Elaborado à pressa por uma assembleia constituinte totalmente composta por adeptos da Irmandade Muçulmana e salafistas, (depois da demissão em protesto de um terço dos deputados) o projecto constitucional mantém os “princípios da Sharia como fonte principal da legislação”, em conformidade com a antiga Constituição. Mas acrescenta uma nova disposição, segundo a qual esses princípios deverão ser interpretados à luz da doutrina sunita, permitindo uma leitura mais rigorista da lei islâmica. Tem uma formulação ambígua relativamente à protecção dos direitos dos cidadãos, condicionada “à verdadeira natureza da família” e “à ordem pública e moral”, proíbe os “insultos à pessoa individual” e os “insultos ao profeta”, o que abre a porta à censura, “reconhece as religiões do Livro”, mas exclui as outras, em particular os Bahai… Em relação às mulheres, o texto contempla a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, lembrando no entanto o papel do Estado na salvaguarda do “equilíbrio entre as obrigações da mulher no quadro familiar e o seu trabalho público”… É contra esta versão constitucional considerada demasiado religiosa e perigosa para as liberdades que se ergue uma oposição que inclui laicos, cristãos e muçulmanos, mulheres e homens, pessoas do povo e da burguesia.
(...)Os princípios contidos no Corão, na Torá ou na Bíblia podem ser uma das fontes de inspiração para o poder político ou até da lei geral de um país, mas em nenhum caso a podem amarrar ou determinar. A separação entre as duas esferas é condição indispensável da liberdade individual de religião e consciência, é condição de um Estado de direito e democrático. Judeus, muçulmanos e cristãos podem lutar para influenciar as leis, os costumes, as tradições. Mas a esfera da sua influência é de ordem moral, não tem necessariamente tradução jurídica. Podem defender a proibição do aborto e até da contracepção, mas não podem legislar nesse sentido. O seu afastamento do poder é não só a garantia do carácter democrático da sociedade, como também da sua própria idoneidade como instituições religiosas.(...)
sábado, 1 de dezembro de 2012
Egipto vai proibir crianças Bahá’ís em escolas públicas
A Irmandade Muçulmana apoia a discriminação das minorias
De acordo com um artigo recente publicado
no jornal egípcio Al-Sabah (A Manhã) , o actual ministro da Educação, Dr.Ibrahim Ghoniem, que também é membro da Irmandade Muçulmana, afirmou que não será
permitida a admissão de crianças Bahá’ís em escolas públicas .
A entrevista abordava a sua visão sobre o
futuro da educação no Egipto, e as suas intenções a respeito das acções do Ministério
da Educação, a estrutura administrativa do sistema de ensino e suas relações
com as diversas autoridades e sistemas relacionados com o Ministério.
Quando lhe foi perguntado "o que é a
posição do Ministério sobre o direito dos "filhos" dos Bahá'ís a
serem admitidos nas escolas do Ministério?" ele respondeu: "A lei da
nação, com base nas leis do estado civil, é que ela não reconhece mais do que
três religiões. [A Fé] Bahá’í não é nenhuma das três, e portanto os seus filhos
não têm direito de admissão nas escolas do Ministério. "
![]() |
Excerto da entrevista do Sr. Ghoniem ao jornal Al-Sabah |
Muitos leitores poderão ver nestas
palavras mais uma indicação de que a “Primavera Árabe” está a ser substituída
por um “Inverno Árabe”. Outros denunciarão a crueldade de uma decisão
profundamente injusta de um regime que afirma basear as suas leis na religião.
E outros apontarão a mentalidade retrógrada de políticos que consideram justa
uma decisão que visa discriminar alguns cidadãos com base em factores
religiosos.
É verdade que com esta decisão o Egipto se
afasta da modernidade e da democracia; o seu governo deixa de ser um governo de
todos os egípcios para ser apenas um governo da Irmandade Muçulmana; a
democracia egípcia ignora os mais elementares direitos humanos e passa a ser
uma ditadura da maioria; o Ministério da Educação, que devia investir no
bem-estar de todas as crianças egípcias, aposta em práticas ancestrais de
discriminação (que também existiam no regime anterior).
Um outro aspecto das palavras do Sr. Ghoniem
(que tem fama de ser um prestigiado educador) é bem revelador da mentalidade
sexista dos novos governantes egípcios. O ministro refere apenas os "filhos"
e ignorando completamente as "filhas"! Será que as filhas não
existem? É esta a nova linguagem moderna e revolucionária, dos responsáveis
pela educação da futura geração de egípcios? Onde está a igualdade de género?
Será que as "filhas" estão isentas desta visão iluminada do Sr.
Ministro? Poderão entrar nas escolas, ou será que nem sequer são dignas de
consideração?
Seria importante que os governos Ocidentais
estivessem atentos aos actos do Governo Egípcio. Recentemente, o Banco Europeude Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) aprovou um empréstimo ao Egipto novalor de 1,25 mil milhões de Euros. Também o FMI aprovou um outro empréstimo de4,8 mil milhões de Dólares ao novo regime egípcio.
Mas será que um regime onde as crianças são
privadas do direito à educação devido apenas às convicções religiosas dos seus
pais, merecedor do apoio de organizações internacionais como o BERD e o FMI? Podem
os países ocidentais fechar os olhos a estes actos e entregar um cheque ao
Governo Egípcio como se tudo estivesse bem?
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SOBRE ESTE
ASSUNTO:
Egypt's Minister of Education will forbid schooling ofBaha'i children (Baha’i Faith in Egypt)
quinta-feira, 8 de março de 2012
Que se passa no Egipto?
![]() |
Parlamento Egípcio |
Recentemente, numa entrevista por telefone transmitida na televisão, um dirigente do movimento salafista extremista, disse que os Bahá’ís no Egipto não devem ter quaisquer direitos de cidadania e apelou para eu fossem julgados "grande traição", um apelo absurdo que tem sido tradicionalmente repetido pelos inimigos extremistas dos Bahá'ís no Egipto, sem qualquer motivo ou justificação.
Quanto à questão dos cartões de identidade, os Bahá’ís solteiros têm conseguido obter os documentos de identificação, mas os Bahá’ís casados, divorciados ou viúvos ainda não conseguem obter esses documentos, porque precisam de fazer prova do seu estado civil, a fim de obter um cartão de identificação, e as certidões/cerimónias de casamento Bahá’ís não são reconhecidas pelas autoridades Egípcias.
É verdade que o Egipto passou por uma revolução, mas o seu resultado, até agora, não é o que esperavam os jovens e os inocentes que iniciaram esta nobre luta. Agora o tempo mostrará o que os resistentes egípcios querem fazer com o seu país...
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FONTE: Baha'i Faith in Egypt
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Egipto: Salafistas consideram Bahá’ís uma ameaça
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Abdel Moneim al-Shahat |
Abdel Moneim al-Shahat, conhecido dirigente Salafista e ex-candidato parlamentar, disse que o Estado deve agir para se proteger contra os que que afirmam que a Fé Bahá’í é uma religião. Anteriormente, na sequência da violência que se seguiu a um jogo de futebol Port Said, Shahat tinha afirmado que ver e jogar futebol é proibido pelo Islão.
"Vamos processar os Baha’is e acusá-los de traição", disse Shahat, num telefonema para o canal de TV Dream 2. "Nós, como salafistas, recusamo-nos a lidar com os Bahá’ís, porque eles não existem em virtude da sua fé."
De acordo com Shahat, os Bahá’ís não têm direitos sob o Islão, porque eles não são uma religião e não são reconhecidos como tal, e a nova Constituição não deve incluir qualquer emenda que proteja os seus direitos. Para justificar a sua decisão, citou uma declaração Al-Azhar, afirmando que os Bahá’ís não são muçulmanos.
Grupos de activistas de direitos humanos dizem os Bahá'is enfrentam discriminação sistemática no Egipto, país árabe conservador, que não reconhece oficialmente a fé. Em 2008, os Bahá'ís conseguiram o direito de obter documentos de identidade oficiais que omitem qualquer referência à sua fé.
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FONTE: Shahat: Baha'is threaten Egypt's national security (Egypt Independent)
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Pouco promissor...
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Sobhi Saleh |
Recentemente, durante um debate no Centro de Estudos dos Direitos Humanos no Cairo, Sobhi Saleh, um advogado e proeminente membro da Irmandade Muçulmana afirmou que a Fé Bahá’í não é uma religião, nem mesmo uma ideologia. Saleh acrescentou que o Islão está comprometido com os direitos de todas as religiões monoteístas.
O Sr. Saleh, que é membro da comissão que redigiu a reforma constitucional no Egipto, referiu ainda que expressões como “Estado religioso” ou “Estado civil” são conceitos estranhos ao Egipto, acrescentando ainda que "teocracia" não significa Estado religioso, mas um Estado que é governado por direito divino. O Sr. Saleh insistiu no facto do Alcorão condenar 91 vezes o o conceito de Estado teocrático.
Durante o debate o Sr. Saleh foi profundamente criticado por um cristão copta que o referiu como "dhimmi", o termo com que são descritos os não-muçulmanos que vivem sob um Estado governado pela Sharia (lei islâmica).
FONTE: Baha’i not a religion, “civil state” a foreign term, says MB leader (Youm7)
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COMENTÁRIO: Com que critério se pode afirmar que a Fé Bahá’í não é uma religião? Não é isto uma manifestação de arrogante exclusivismo religioso? Como é que se pode acreditar que Deus ama toda a humanidade, e simultâneamente imaginar que Ele deixa de Se revelar à Sua Criação? Independentemente de polémicas teológicas, a verdade é que as afirmações do Sr. Saleh, só por si, são suficientes para anteciparmos um futuro sombrio para os Bahá’ís do Egipto, caso a Irmandade Muçulmana assuma o poder.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Recordar o legado de 'Abdu'l-Bahá ao Egipto
Enquanto uma carta aberta dos Bahá’ís do Egipto, apelando a uma reflexão nacional sobre o futuro do país, desperta grande interesse, os debates semelhantes entre os egípcios de 100 anos atrás foram recuperados num livro intitulado Abbas Effendi e recentemente publicado. Esta obra, de autoria de Suheil Bushrui, Professor da Universidade de Maryland, apresenta a história de 'Abdu'l-Bahá a um público moderno de língua árabe, em grande parte desconhecedor de Seu legado para a sociedade.
O livro está disponível em edição impressa e também para download a partir do blog Baha'i Faith in Egypt.
Durante a Sua estadia em Alexandria, entre Setembro de 1910 e Agosto de 1911, 'Abdu’l-Bahá contactou com os egípcios de todas as áreas da sociedade sobre os princípios fundamentais necessários para a construção de uma sociedade pacífica e próspera.
"Pensei que era importante apresentar a 'Abdu’l-Bahá, não necessariamente como um líder religioso", disse o professor Bushrui, "mas mais como uma grande mente, que foi capaz de transmitir uma compreensão da importância da religião num momento em que civilização materialista predominava na Europa e na América, e o mundo muçulmano era subjugado por ambições políticas e outras."
"Devo dizer - mesmo para mim que tenho sido Bahá’í durante toda a minha vida - que ao escrever deste livro me tornei muito mais consciente da personalidade única de 'Abdu’l-Bahá e do Seu enorme sucesso na promoção do diálogo cultural e religioso entre os mundos do Oriente e do Ocidente", acrescentou o professor Bushrui.
O livro já recebeu elogios de pensadores árabes contemporâneos, cuja simpatia por 'Abdu’l-Bahá ecoa a dos seus homólogos de há um século atrás.
Edmund Ghareeb, um especialista em assuntos Oriente Médio reconhecido internacionalmente, descreveu o livro como "um trabalho pioneiro e altamente informativo." Segundo o Dr. Ghareeb , "Abbas Effendi é uma peça sabedoria incrivelmente cuidada e informativa, que faz uma importante contribuição para o conhecimento do Oriente Médio num período crucial da sua história moderna, e aumenta consideravelmente o nosso conhecimento sobre este reformador único..."
Numa crítica publicada no jornal libanês As-Safir, o autor Mahmud Shurayh salientou como 'Abdu'l-Bahá "não via nenhum constrangimento em ensinar as mensagens de Cristo e Maomé nas sinagogas judaicas, a mensagem de Maomé nas igrejas cristãs e a mensagem da religião em encontros ateístas, porque ele viu na união do ocidente e oriente um portal para um mundo novo onde reinariam a unidade, ajustiça e a paz."
O conhecido poeta libanês Henri Zoghaib comentou que 'Abdu'l-Bahá foi o primeiro a iniciar um diálogo sério entre as religiões. E acrescentou: "Com este livro descobri a natureza dos ensinamentos que 'Abdu'l-Bahá divulgou sobre a unidade de oriente e ocidente, e da Sua mensagem apelando à unicidade das religiões."
ADMIRADORES PROEMINENTES
Aos 66 anos de idade - e estando livre para viajar depois de uma vida como prisioneiro e exilado - 'Abdu’l-Bahá chegou ao Egipto para descansar um mês, mas acabou por ficar um ano inteiro por motivos de saúde. No entanto, Ele acreditava que tinha uma missão especial a realizar no Egipto, observa o professor Bushrui. "Primeiramente, revivificar a verdade e pureza da fé religiosa - fosse muçulmano ou cristão. E seguidamente, reunir Oriente e o Ocidente."
Numerosos egípcios proeminentes, incluindo o último Kediva do Egipto e Sudão - Hilmi Abbas Pasha - mostravam uma reverência especial pelo líder da Fé Bahá'í. "O jurista e estudioso Muhammad Abduh também admirava muito 'Abdu'l-Baha e escreveu-Lhe uma carta", conta o professor Bushrui. "Quando a ler, pode ver que é de alguém que reconheceu que 'Abdu'l-Bahá tinha uma luz divina especial no seu coração e mente."
May Rihani - sobrinha de Ameen Rihani, o pai fundador da literatura árabe-americana e outro dos admiradores de 'Abdu'l-Bahá - descreveu o livro Abbas Effendi, como uma "dádiva para a humanidade." "Nós precisamos da voz 'Abdu'l-Bahá mais do que nunca nestes actuais tempos de turbulência, de fanatismo religioso, de incompreensões entre as culturas do mundo, e de fácil disposição para o confronto", comentou a Sra. Rihani.
Um século depois, os ecos da voz de ‘Abdu’l-Baha podem ser ouvidos na carta aberta dos bahá'ís egípcios de hoje aos seus concidadãos. A carta afirma que a aceitação do princípio da unicidade da humanidade "exige uma profunda reavaliação de cada um ou nossas próprias atitudes, valores e relações com os outros - e, por fim, uma transformação no coração do homem".
O livro está disponível em edição impressa e também para download a partir do blog Baha'i Faith in Egypt.
Durante a Sua estadia em Alexandria, entre Setembro de 1910 e Agosto de 1911, 'Abdu’l-Bahá contactou com os egípcios de todas as áreas da sociedade sobre os princípios fundamentais necessários para a construção de uma sociedade pacífica e próspera.
A praça Mohammed Ali, em Alexandria, num postal da época em que 'Abdu'l-Bahá esteve no Egipto
"Pensei que era importante apresentar a 'Abdu’l-Bahá, não necessariamente como um líder religioso", disse o professor Bushrui, "mas mais como uma grande mente, que foi capaz de transmitir uma compreensão da importância da religião num momento em que civilização materialista predominava na Europa e na América, e o mundo muçulmano era subjugado por ambições políticas e outras."
"Devo dizer - mesmo para mim que tenho sido Bahá’í durante toda a minha vida - que ao escrever deste livro me tornei muito mais consciente da personalidade única de 'Abdu’l-Bahá e do Seu enorme sucesso na promoção do diálogo cultural e religioso entre os mundos do Oriente e do Ocidente", acrescentou o professor Bushrui.
O livro já recebeu elogios de pensadores árabes contemporâneos, cuja simpatia por 'Abdu’l-Bahá ecoa a dos seus homólogos de há um século atrás.
Edmund Ghareeb, um especialista em assuntos Oriente Médio reconhecido internacionalmente, descreveu o livro como "um trabalho pioneiro e altamente informativo." Segundo o Dr. Ghareeb , "Abbas Effendi é uma peça sabedoria incrivelmente cuidada e informativa, que faz uma importante contribuição para o conhecimento do Oriente Médio num período crucial da sua história moderna, e aumenta consideravelmente o nosso conhecimento sobre este reformador único..."
Numa crítica publicada no jornal libanês As-Safir, o autor Mahmud Shurayh salientou como 'Abdu'l-Bahá "não via nenhum constrangimento em ensinar as mensagens de Cristo e Maomé nas sinagogas judaicas, a mensagem de Maomé nas igrejas cristãs e a mensagem da religião em encontros ateístas, porque ele viu na união do ocidente e oriente um portal para um mundo novo onde reinariam a unidade, ajustiça e a paz."
O conhecido poeta libanês Henri Zoghaib comentou que 'Abdu'l-Bahá foi o primeiro a iniciar um diálogo sério entre as religiões. E acrescentou: "Com este livro descobri a natureza dos ensinamentos que 'Abdu'l-Bahá divulgou sobre a unidade de oriente e ocidente, e da Sua mensagem apelando à unicidade das religiões."
ADMIRADORES PROEMINENTES
Aos 66 anos de idade - e estando livre para viajar depois de uma vida como prisioneiro e exilado - 'Abdu’l-Bahá chegou ao Egipto para descansar um mês, mas acabou por ficar um ano inteiro por motivos de saúde. No entanto, Ele acreditava que tinha uma missão especial a realizar no Egipto, observa o professor Bushrui. "Primeiramente, revivificar a verdade e pureza da fé religiosa - fosse muçulmano ou cristão. E seguidamente, reunir Oriente e o Ocidente."
Numerosos egípcios proeminentes, incluindo o último Kediva do Egipto e Sudão - Hilmi Abbas Pasha - mostravam uma reverência especial pelo líder da Fé Bahá'í. "O jurista e estudioso Muhammad Abduh também admirava muito 'Abdu'l-Baha e escreveu-Lhe uma carta", conta o professor Bushrui. "Quando a ler, pode ver que é de alguém que reconheceu que 'Abdu'l-Bahá tinha uma luz divina especial no seu coração e mente."
May Rihani - sobrinha de Ameen Rihani, o pai fundador da literatura árabe-americana e outro dos admiradores de 'Abdu'l-Bahá - descreveu o livro Abbas Effendi, como uma "dádiva para a humanidade." "Nós precisamos da voz 'Abdu'l-Bahá mais do que nunca nestes actuais tempos de turbulência, de fanatismo religioso, de incompreensões entre as culturas do mundo, e de fácil disposição para o confronto", comentou a Sra. Rihani.
Um século depois, os ecos da voz de ‘Abdu’l-Baha podem ser ouvidos na carta aberta dos bahá'ís egípcios de hoje aos seus concidadãos. A carta afirma que a aceitação do princípio da unicidade da humanidade "exige uma profunda reavaliação de cada um ou nossas próprias atitudes, valores e relações com os outros - e, por fim, uma transformação no coração do homem".
domingo, 10 de abril de 2011
Carta aberta ao Povo do Egipto
Na sequência das mudanças políticas no Egipto, a Comunidade Bahá'í daquele país publicou uma carta aberta a todos os egípcios, onde expõe diversas ideias que devem ser analisadas e debatidas, para construir um futuro mais justo e promissor para todos os egípcios. Esta é a forma que os Bahá'ís do Egipto - anteriormente privados de direitos civis - encontraram para contribuir de forma positiva para construção de um Egipto para todos os seus cidadãos.
O texto que se segue apresenta tradução dos primeiros parágrafos dessa carta. O original em árabe pode ser lido aqui, e a tradução em inglês pode ser lida aqui. Os sombreados amarelos são da minha responsabilidade.
Aos nossos concidadãos:
Os acontecimentos dos últimos meses proporcionaram-nos - Bahá'ís do Egipto - uma oportunidade que nunca experimentámos antes: comunicar directamente convosco, nossos irmãos e irmãs. Embora pequenos em número, temos o privilégio de pertencer a esta terra onde, desde há mais de cem anos, nos temos esforçado para viver de acordo com os princípios consagrados na nossa fé e empenhado para servir o nosso país como cidadãos honestos. Esta oportunidade é aquela pela qual tanto esperávamos, especialmente porque desejámos expressar o nosso agradecimento às inúmeras almas justas e compassivas que apoiaram os nossos esforços nos últimos anos para obter igualdade perante a lei. Mas regozijamo-nos principalmente pelo facto de, numa tão crítica conjuntura na história da nossa nação, sermos capazes da dar um humilde contributo para a conversação que agora começou sobre o seu futuro e partilhar algumas perspectivas, elaboradas a partir da nossa própria experiência e de Bahá'ís em todo o mundo, como pré-requisitos para percorrer o caminho em direcção a uma prosperidade material e espiritual duradouras.
Independentemente do que motivou a rápida mudança que ocorreu, o resultado demonstra o desejo colectivo de todos nós, o povo do Egipto, para exercer maior controle sobre o nosso destino. A liberdade para o fazer é estranha para nós, porque não gozámos anteriormente este grau de liberdade. E a nossa história colectiva, como os egípcios, árabes e africanos, ensinou-nos que não faltam forças no mundo que nos impedirão de determinar nosso próprio futuro ou, alternativamente, que nos convidam a abdicar voluntariamente dessa responsabilidade. O colonialismo, a ortodoxia religiosa, o Estado autoritário, e a tirania absoluta desempenharam o seu papel no passado. Hoje, a "delicada" força do consumismo e da erosão da moralidade que esta promove, são igualmente capazes de nos deter, sob o pretexto de nos tornar mais livres.
O facto de, como povo, termos escolhido participar activamente na definição do rumo da nossa nação é um sinal público de que nossa sociedade atingiu uma nova etapa no seu desenvolvimento. Uma semente plantada cresce de forma orgânica e gradual, e evolui através de estágios de força crescente até atingir um estado que é reconhecidamente "madura"; as sociedades humanas também partilham esta característica. Em um certo momento, a insatisfação cresce numa população que esteve impedida de participar plenamente nos processos de condução do rumo de um país, e o desejo atribuição de maior responsabilidade aos cidadãos torna-se irresistível. Neste contexto, os acontecimentos que tiveram lugar no Egipto podem ser vistos como uma resposta às forças que são, na verdade, a evolução de toda a raça humana para uma maior maturidade e interdependência. Uma indicação de que a humanidade está a avançar nessa direcção é que os aspectos de conduta que não pareciam inadequados numa idade mais precoce - comportamentos que resultaram em conflito, corrupção e desigualdade - são cada vez mais vistos como incompatíveis com os valores que sustentam uma sociedade justa. Ao longo do tempo, as pessoas em todos os lugares estão a tornar-se mais ousados na rejeição de atitudes e sistemas que impediam o seu progresso rumo à maturidade.
O movimento para uma maior maturidade é, portanto, um fenómeno global. Ainda assim, isso não significa que todas as nações e povos avancem ao longo do percurso a uma velocidade uniforme. Em alguns pontos, as circunstâncias podem convergir num momento historicamente significativo no qual uma determinada sociedade pode redireccionar os fundamentos do seu rumo. Nesses momentos, uma expressão da vontade colectiva pode ter um efeito decisivo e permanente sobre o futuro do país. O Egipto chegou precisamente a esse momento. Não vai durar para sempre.
Neste momento, então, enfrentamos a questão de peso sobre o que procuramos alcançar com a oportunidade que temos. Quais são as opções à nossa frente? Muitos modelos de vida colectiva são apresentados e defendidos por várias partes interessadas. Será que vamos avançar para uma sociedade individualista, fragmentada, onde todos se sentem livres para procurar os seus próprios interesses, mesmo às custas do bem comum? Será que vamos ser tentados pelas atracções do materialismo e do seu agente visível, o consumismo? Será que vamos optar por um sistema que se alimenta do fanatismo religioso? Será que estamos dispostos a permitir que surja uma elite que seja alheia às nossas aspirações colectivas, e possa até tentar manipular o nosso desejo de mudança? Ou será que o processo de mudança poderá perder o impulso, dissolvendo-se em disputas entre facções, e desintegrar-se sob o peso da inércia institucional? Pode-se justamente argumentar que, olhando toda a região árabe - e, certamente, além desta – o mundo deseja um modelo inquestionável da sociedade de sucesso digno de ser imitado. Assim, se nenhum modelo existente se revelar satisfatório, poderíamos considerar a traçar um rumo diferente e, talvez, demonstrar à comunidade das nações que é possível uma nova abordagem verdadeiramente progressista para a organização da sociedade. O estatuto do Egipto na ordem internacional - a sua tradição intelectual, a sua história, a sua localização - significa que uma escolha esclarecida da sua parte poderia influenciar o curso do desenvolvimento humano em toda a região, e influenciar até mesmo o mundo.
Demasiadas vezes, a mudança provocada pelo protesto popular, resulta, posteriormente, em decepção. Isto não é porque o movimento que funcionou como catalisador para a mudança careça de unidade - de facto, a sua capacidade para promover a unidade entre diferentes povos e interesses é a característica essencial que garantiu o seu sucesso - mas sim porque rapidamente se percebe que é muito mais fácil encontrar uma causa comum contra o status quo do que chegar a acordo sobre o que deve substituí-lo. Por isso, é vital que nos empenhemos em alcançar um amplo consenso sobre os princípios operacionais que devem moldar um novo modelo para a nossa sociedade. Depois de alcançado o acordo, as políticas que se seguirão serão muito mais susceptíveis de atrair o apoio das populações a que serão afectadas.
A tentação natural, ao considerar a forma como a nossa nação deve progredir, é procurar imediatamente conceber soluções concretas para as queixas comuns e problemas sociais reconhecidos. Mas, mesmo que surgissem ideias dignas, estas não constituiriam em si uma visão abrangente de como queremos o nosso país se desenvolva. O mérito de princípio essencial é que, se ganhar apoio, induz a uma atitude, uma dinâmica, uma vontade, uma aspiração que facilitam a descoberta e a implementação de medidas práticas. No entanto, uma discussão de princípios deve estar preparada para ir além do nível de abstracção. Ao nível conceitual, pode ser relativamente fácil chegar a um acordo sobre um conjunto de princípios orientadores, mas sem um exame das suas ramificações estes podem tornar-se pouco mais do que slogans vazios. Uma tentativa para chegar a um consenso deverá permitir a exploração e investigação das mais profundas e específicas implicações que a adopção de um princípio particular teria para a nossa nação. É com esse espírito, então, que os seguintes princípios são definidos.
Uma sociedade madura demonstra uma característica acima de todas as outras: o reconhecimento da unicidade da humanidade. Que sorte, então, que a memória mais persistente dos últimos meses não seja das divisões religiosas ou de conflito étnico, mas de diferenças sendo postas de lado em prol de uma causa comum. A nossa capacidade instintiva, enquanto povo, para reconhecer a verdade que todos nós pertencemos a uma família humana serviu-nos bem. No entanto, desenvolver instituições, organismos e estruturas sociais que promovam a unidade da humanidade é um desafio muito maior. Longe de ser uma expressão de esperança vaga e piedosa, este princípio estabelece a natureza dessas relações essenciais que devem vincular todos os Estados e nações, como membros de uma única família humana. Na sua génese está o reconhecimento de que todos nós fomos criados a partir da mesma substância por um Criador, e, consequentemente, é insustentável que uma pessoa, tribo ou nação reivindique superioridade sobre outra. A sua aceitação requer uma mudança orgânica na estrutura da sociedade actual, uma mudança com consequências de longo alcance em todos os aspectos da nossa vida colectiva. E para além das suas implicações sociais, exige uma profunda revisão de cada uma das nossas próprias atitudes, valores e relações com os outros, e, finalmente, para uma transformação no coração humano. Nenhum de nós está isento das suas profundas exigências.
As ramificações desta verdade fundamental - a unidade da humanidade - são tão profundas que muitos outros princípios vitais, essenciais para o desenvolvimento futuro do Egipto, podem derivar dela. Um primeiro exemplo é a igualdade entre homens e mulheres. Haverá algo que retarde mais o progresso do nosso país de forma mais eficiente do que a contínua exclusão das mulheres de uma participação plena nos assuntos da nação? Combater este desequilíbrio, por si só, traria uma melhoria em todos os aspectos da vida egípcia: religiosa, cultural, social, económico e político. Tal como o pássaro que não pode voar se uma asa for mais fraca que outra, também a capacidade da humanidade para subir aos cumes da verdadeira realização são severamente limitados, enquanto às mulheres forem negadas as oportunidades oferecidas aos homens. Assim que as mesmas prerrogativas forem concedidas a ambos os sexos, ambos irão florescer, para o benefício de todos. Mas para além da questão dos direitos civis, o princípio da igualdade de género traz consigo uma atitude que deve ser alargada ao lar, ao local de trabalho, a cada espaço social, à esfera política, em última instância, até mesmo às relações internacionais.
Em parte alguma poderá a igualdade entre os sexos ser mais proveitosamente estabelecida que no ensino, que existe para permitir que homens e mulheres de todas as origens desenvolvam o seu potencial inato para contribuir para o progresso da sociedade. Se pretende ter sucesso, [o ensino] deve oferecer uma preparação adequada para a participação na vida económica da nação, mas também, deve possuir uma dimensão moral robusta. As escolas devem transmitir aos seus alunos as responsabilidades inerentes a ser um cidadão do Egipto e inculcar-lhes aqueles valores que conduzem ao melhoramento da sociedade e a cuidar dos outros seres humanos. À educação não pode ser permitido tornar-se um meio pelo qual a desunião e o ódio aos outros sejam incutidos nas mentes inocentes. Com a abordagem correcta, ela também pode se tornar um instrumento eficaz para proteger as futuras gerações contra a praga insidiosa da corrupção, que tão ostensivamente aflige o Egipto de hoje. Além disso, o acesso à educação básica deve ser universal, independentemente de qualquer distinção baseada em sexo, etnia ou meios. As estratégias para o controlo dos recursos da nossa nação - o nosso património, a nossa agricultura, a nossa indústria - mostrar-se-ão infrutíferos se negligenciarmos o recurso mais importante de todos: as nossas capacidades intelectuais e espirituais concedidas por Deus. Dar prioridade ao aperfeiçoamento dos meios com os quais nos educamos proporcionar-nos-á uma colheita abundante nos anos vindouros.
Relacionado com o tema da educação encontra-se a interacção entre ciência e religião, as fontes gémeas do conhecimento que a humanidade pode usar quando procura alcançar o progresso. É uma bênção que a sociedade egípcia, como um todo, não assuma que os dois devem estar em conflito, uma percepção infelizmente comum noutros lugares. De facto, possuímos uma orgulhosa história de fomentar um espírito de investigação racional e científica, com resultados admiráveis nas áreas da agricultura e medicina - para citar apenas dois - mantendo uma forte tradição religiosa e o respeito pelos valores promulgados pelas grandes religiões do mundo. Não há nada em tais valores que nos deva inclinar para o pensamento irracional ou fanatismo. Todos nós, especialmente a geração mais jovem, podemos estar conscientes que é possível que aos indivíduos estar imbuídos de espiritualidade sincera enquanto trabalham activamente para o progresso material da nação.
(…)
Ler texto completo (em inglês)
O texto que se segue apresenta tradução dos primeiros parágrafos dessa carta. O original em árabe pode ser lido aqui, e a tradução em inglês pode ser lida aqui. Os sombreados amarelos são da minha responsabilidade.
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Aos nossos concidadãos:

Independentemente do que motivou a rápida mudança que ocorreu, o resultado demonstra o desejo colectivo de todos nós, o povo do Egipto, para exercer maior controle sobre o nosso destino. A liberdade para o fazer é estranha para nós, porque não gozámos anteriormente este grau de liberdade. E a nossa história colectiva, como os egípcios, árabes e africanos, ensinou-nos que não faltam forças no mundo que nos impedirão de determinar nosso próprio futuro ou, alternativamente, que nos convidam a abdicar voluntariamente dessa responsabilidade. O colonialismo, a ortodoxia religiosa, o Estado autoritário, e a tirania absoluta desempenharam o seu papel no passado. Hoje, a "delicada" força do consumismo e da erosão da moralidade que esta promove, são igualmente capazes de nos deter, sob o pretexto de nos tornar mais livres.
O facto de, como povo, termos escolhido participar activamente na definição do rumo da nossa nação é um sinal público de que nossa sociedade atingiu uma nova etapa no seu desenvolvimento. Uma semente plantada cresce de forma orgânica e gradual, e evolui através de estágios de força crescente até atingir um estado que é reconhecidamente "madura"; as sociedades humanas também partilham esta característica. Em um certo momento, a insatisfação cresce numa população que esteve impedida de participar plenamente nos processos de condução do rumo de um país, e o desejo atribuição de maior responsabilidade aos cidadãos torna-se irresistível. Neste contexto, os acontecimentos que tiveram lugar no Egipto podem ser vistos como uma resposta às forças que são, na verdade, a evolução de toda a raça humana para uma maior maturidade e interdependência. Uma indicação de que a humanidade está a avançar nessa direcção é que os aspectos de conduta que não pareciam inadequados numa idade mais precoce - comportamentos que resultaram em conflito, corrupção e desigualdade - são cada vez mais vistos como incompatíveis com os valores que sustentam uma sociedade justa. Ao longo do tempo, as pessoas em todos os lugares estão a tornar-se mais ousados na rejeição de atitudes e sistemas que impediam o seu progresso rumo à maturidade.
O movimento para uma maior maturidade é, portanto, um fenómeno global. Ainda assim, isso não significa que todas as nações e povos avancem ao longo do percurso a uma velocidade uniforme. Em alguns pontos, as circunstâncias podem convergir num momento historicamente significativo no qual uma determinada sociedade pode redireccionar os fundamentos do seu rumo. Nesses momentos, uma expressão da vontade colectiva pode ter um efeito decisivo e permanente sobre o futuro do país. O Egipto chegou precisamente a esse momento. Não vai durar para sempre.
Neste momento, então, enfrentamos a questão de peso sobre o que procuramos alcançar com a oportunidade que temos. Quais são as opções à nossa frente? Muitos modelos de vida colectiva são apresentados e defendidos por várias partes interessadas. Será que vamos avançar para uma sociedade individualista, fragmentada, onde todos se sentem livres para procurar os seus próprios interesses, mesmo às custas do bem comum? Será que vamos ser tentados pelas atracções do materialismo e do seu agente visível, o consumismo? Será que vamos optar por um sistema que se alimenta do fanatismo religioso? Será que estamos dispostos a permitir que surja uma elite que seja alheia às nossas aspirações colectivas, e possa até tentar manipular o nosso desejo de mudança? Ou será que o processo de mudança poderá perder o impulso, dissolvendo-se em disputas entre facções, e desintegrar-se sob o peso da inércia institucional? Pode-se justamente argumentar que, olhando toda a região árabe - e, certamente, além desta – o mundo deseja um modelo inquestionável da sociedade de sucesso digno de ser imitado. Assim, se nenhum modelo existente se revelar satisfatório, poderíamos considerar a traçar um rumo diferente e, talvez, demonstrar à comunidade das nações que é possível uma nova abordagem verdadeiramente progressista para a organização da sociedade. O estatuto do Egipto na ordem internacional - a sua tradição intelectual, a sua história, a sua localização - significa que uma escolha esclarecida da sua parte poderia influenciar o curso do desenvolvimento humano em toda a região, e influenciar até mesmo o mundo.
Demasiadas vezes, a mudança provocada pelo protesto popular, resulta, posteriormente, em decepção. Isto não é porque o movimento que funcionou como catalisador para a mudança careça de unidade - de facto, a sua capacidade para promover a unidade entre diferentes povos e interesses é a característica essencial que garantiu o seu sucesso - mas sim porque rapidamente se percebe que é muito mais fácil encontrar uma causa comum contra o status quo do que chegar a acordo sobre o que deve substituí-lo. Por isso, é vital que nos empenhemos em alcançar um amplo consenso sobre os princípios operacionais que devem moldar um novo modelo para a nossa sociedade. Depois de alcançado o acordo, as políticas que se seguirão serão muito mais susceptíveis de atrair o apoio das populações a que serão afectadas.
A tentação natural, ao considerar a forma como a nossa nação deve progredir, é procurar imediatamente conceber soluções concretas para as queixas comuns e problemas sociais reconhecidos. Mas, mesmo que surgissem ideias dignas, estas não constituiriam em si uma visão abrangente de como queremos o nosso país se desenvolva. O mérito de princípio essencial é que, se ganhar apoio, induz a uma atitude, uma dinâmica, uma vontade, uma aspiração que facilitam a descoberta e a implementação de medidas práticas. No entanto, uma discussão de princípios deve estar preparada para ir além do nível de abstracção. Ao nível conceitual, pode ser relativamente fácil chegar a um acordo sobre um conjunto de princípios orientadores, mas sem um exame das suas ramificações estes podem tornar-se pouco mais do que slogans vazios. Uma tentativa para chegar a um consenso deverá permitir a exploração e investigação das mais profundas e específicas implicações que a adopção de um princípio particular teria para a nossa nação. É com esse espírito, então, que os seguintes princípios são definidos.
*
Uma sociedade madura demonstra uma característica acima de todas as outras: o reconhecimento da unicidade da humanidade. Que sorte, então, que a memória mais persistente dos últimos meses não seja das divisões religiosas ou de conflito étnico, mas de diferenças sendo postas de lado em prol de uma causa comum. A nossa capacidade instintiva, enquanto povo, para reconhecer a verdade que todos nós pertencemos a uma família humana serviu-nos bem. No entanto, desenvolver instituições, organismos e estruturas sociais que promovam a unidade da humanidade é um desafio muito maior. Longe de ser uma expressão de esperança vaga e piedosa, este princípio estabelece a natureza dessas relações essenciais que devem vincular todos os Estados e nações, como membros de uma única família humana. Na sua génese está o reconhecimento de que todos nós fomos criados a partir da mesma substância por um Criador, e, consequentemente, é insustentável que uma pessoa, tribo ou nação reivindique superioridade sobre outra. A sua aceitação requer uma mudança orgânica na estrutura da sociedade actual, uma mudança com consequências de longo alcance em todos os aspectos da nossa vida colectiva. E para além das suas implicações sociais, exige uma profunda revisão de cada uma das nossas próprias atitudes, valores e relações com os outros, e, finalmente, para uma transformação no coração humano. Nenhum de nós está isento das suas profundas exigências.
As ramificações desta verdade fundamental - a unidade da humanidade - são tão profundas que muitos outros princípios vitais, essenciais para o desenvolvimento futuro do Egipto, podem derivar dela. Um primeiro exemplo é a igualdade entre homens e mulheres. Haverá algo que retarde mais o progresso do nosso país de forma mais eficiente do que a contínua exclusão das mulheres de uma participação plena nos assuntos da nação? Combater este desequilíbrio, por si só, traria uma melhoria em todos os aspectos da vida egípcia: religiosa, cultural, social, económico e político. Tal como o pássaro que não pode voar se uma asa for mais fraca que outra, também a capacidade da humanidade para subir aos cumes da verdadeira realização são severamente limitados, enquanto às mulheres forem negadas as oportunidades oferecidas aos homens. Assim que as mesmas prerrogativas forem concedidas a ambos os sexos, ambos irão florescer, para o benefício de todos. Mas para além da questão dos direitos civis, o princípio da igualdade de género traz consigo uma atitude que deve ser alargada ao lar, ao local de trabalho, a cada espaço social, à esfera política, em última instância, até mesmo às relações internacionais.
Em parte alguma poderá a igualdade entre os sexos ser mais proveitosamente estabelecida que no ensino, que existe para permitir que homens e mulheres de todas as origens desenvolvam o seu potencial inato para contribuir para o progresso da sociedade. Se pretende ter sucesso, [o ensino] deve oferecer uma preparação adequada para a participação na vida económica da nação, mas também, deve possuir uma dimensão moral robusta. As escolas devem transmitir aos seus alunos as responsabilidades inerentes a ser um cidadão do Egipto e inculcar-lhes aqueles valores que conduzem ao melhoramento da sociedade e a cuidar dos outros seres humanos. À educação não pode ser permitido tornar-se um meio pelo qual a desunião e o ódio aos outros sejam incutidos nas mentes inocentes. Com a abordagem correcta, ela também pode se tornar um instrumento eficaz para proteger as futuras gerações contra a praga insidiosa da corrupção, que tão ostensivamente aflige o Egipto de hoje. Além disso, o acesso à educação básica deve ser universal, independentemente de qualquer distinção baseada em sexo, etnia ou meios. As estratégias para o controlo dos recursos da nossa nação - o nosso património, a nossa agricultura, a nossa indústria - mostrar-se-ão infrutíferos se negligenciarmos o recurso mais importante de todos: as nossas capacidades intelectuais e espirituais concedidas por Deus. Dar prioridade ao aperfeiçoamento dos meios com os quais nos educamos proporcionar-nos-á uma colheita abundante nos anos vindouros.
Relacionado com o tema da educação encontra-se a interacção entre ciência e religião, as fontes gémeas do conhecimento que a humanidade pode usar quando procura alcançar o progresso. É uma bênção que a sociedade egípcia, como um todo, não assuma que os dois devem estar em conflito, uma percepção infelizmente comum noutros lugares. De facto, possuímos uma orgulhosa história de fomentar um espírito de investigação racional e científica, com resultados admiráveis nas áreas da agricultura e medicina - para citar apenas dois - mantendo uma forte tradição religiosa e o respeito pelos valores promulgados pelas grandes religiões do mundo. Não há nada em tais valores que nos deva inclinar para o pensamento irracional ou fanatismo. Todos nós, especialmente a geração mais jovem, podemos estar conscientes que é possível que aos indivíduos estar imbuídos de espiritualidade sincera enquanto trabalham activamente para o progresso material da nação.
(…)
Ler texto completo (em inglês)
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Egipto: Mais ataques incendiários contra Bahá’ís
Um grupo de jovens muçulmanos egípcios incendiou as casas pertencentes a Bahá’ís na aldeia de Shouraneya (província de Sohag, Alto Egipto). Este ataque não provocou mortos ou feridos, pois os proprietários fugiram da aldeia em Março de 2009 após uma outra vaga de ataques incendiários. Nessa altura, cerca de 40 famílias Bahá’ís fugiram da aldeia e nunca mais voltaram.
Adel Ramadan, membro da ONG Egyptian Initiative for Personal Rights, afirmou que várias pessoas da aldeia destruíram outras habitações pertencentes a Bahá’ís, após terem circulado rumores que os Bahá’ís iriam regressar.
"Um grupo de Bahá’ís pediu à polícia que garantisse a sua segurança pois iriam regressar às suas casas. Foi-lhes dito que poderiam voltar na terça-feira, e de repente, vimos pessoas a atacar essas casas", afirmou Ramadam, acrescentando que a sua organização já abriu um inquérito ao incidente.
"Temos fortes indícios de que dois membros da força policial incitaram o povo a atacar as casas dos Bahá’ís e vamos apresentar uma queixa ao Procurador-Geral, logo que todos os elementos de prova sejam recolhidos, vamos levar estes agentes policiais a tribunal", declarou ainda Ramadam.
Testemunhas afirmaram que vários jovens da aldeia organizaram um protesto na terça-feira – exigindo o prolongamento do horário de funcionamento dos barcos que fazem a ligação com aldeias vizinhas, aumentando a vigilância aos preços da carne e do pão – quando, de repente, começaram a gritar slogans contra os Bahá’ís e resolveram queimar as suas casas.
A Dra Basma Moussa, que pertence à Comunidade Bahá’í, afirmou a um jornal egípcio que nenhum Bahá’í foi visto na aldeia desde 2009. Quando souberam desta segunda vaga de ataques, queixaram-se à polícia, mas nada foi feito; além disso, estes mesmos jovens que incendiaram as casas também impediram a passagem de carros dos bombeiros. A Dra Moussa lembrou que os Bahá’ís exigem que o Estado garanta os direitos de todos os cidadãos, independentemente da sua religião.
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Mais informações:
Baha’i Homes Set on Fire Again in Egypt (MNBR)
Rights group suspect security involvement in Bahai homes fires in Sohag (Daily News Egypt)
Adel Ramadan, membro da ONG Egyptian Initiative for Personal Rights, afirmou que várias pessoas da aldeia destruíram outras habitações pertencentes a Bahá’ís, após terem circulado rumores que os Bahá’ís iriam regressar.
"Um grupo de Bahá’ís pediu à polícia que garantisse a sua segurança pois iriam regressar às suas casas. Foi-lhes dito que poderiam voltar na terça-feira, e de repente, vimos pessoas a atacar essas casas", afirmou Ramadam, acrescentando que a sua organização já abriu um inquérito ao incidente.
"Temos fortes indícios de que dois membros da força policial incitaram o povo a atacar as casas dos Bahá’ís e vamos apresentar uma queixa ao Procurador-Geral, logo que todos os elementos de prova sejam recolhidos, vamos levar estes agentes policiais a tribunal", declarou ainda Ramadam.
Testemunhas afirmaram que vários jovens da aldeia organizaram um protesto na terça-feira – exigindo o prolongamento do horário de funcionamento dos barcos que fazem a ligação com aldeias vizinhas, aumentando a vigilância aos preços da carne e do pão – quando, de repente, começaram a gritar slogans contra os Bahá’ís e resolveram queimar as suas casas.
A Dra Basma Moussa, que pertence à Comunidade Bahá’í, afirmou a um jornal egípcio que nenhum Bahá’í foi visto na aldeia desde 2009. Quando souberam desta segunda vaga de ataques, queixaram-se à polícia, mas nada foi feito; além disso, estes mesmos jovens que incendiaram as casas também impediram a passagem de carros dos bombeiros. A Dra Moussa lembrou que os Bahá’ís exigem que o Estado garanta os direitos de todos os cidadãos, independentemente da sua religião.
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Mais informações:
Baha’i Homes Set on Fire Again in Egypt (MNBR)
Rights group suspect security involvement in Bahai homes fires in Sohag (Daily News Egypt)
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
A revolta no Egipto, explicada aos meus filhos
Na TV sucedem-se as imagens das manifestações e motins no Egipto.
- Pai, porque é que eles estão ali a gritar?
- Querem que o presidente vá embora.
- Porquê?
- Porque é um homem mau.
- Mandou pessoas para a prisão?
- Sim. E ali não há democracia. Ali as pessoas não podem escolher quem que ser presidente. Por isso dizemos que é um ditador. Percebes?
- Sim. Mas onde é que está o ditador?
- Deve estar no palácio dele.
- Aposto que ele está escondido debaixo da mesa da cozinha!...
- Pai, porque é que eles estão ali a gritar?
- Querem que o presidente vá embora.
- Porquê?
- Porque é um homem mau.
- Mandou pessoas para a prisão?
- Sim. E ali não há democracia. Ali as pessoas não podem escolher quem que ser presidente. Por isso dizemos que é um ditador. Percebes?
- Sim. Mas onde é que está o ditador?
- Deve estar no palácio dele.
- Aposto que ele está escondido debaixo da mesa da cozinha!...
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Estarão os egípcios na disposição de trocar uma ditadura por outra?
Hoje a Irmandade Muçulmana envolveu-se nos motins no Egipto.
Para quem pensa que a agitação no Egipto é igual à que aconteceu na Tunísia, lembro que este é um grupo fundamentalista que ambiciona criar um estado islâmico no Egipto. Para perceber os seus princípios, bastaria lembrar que em Maio de 2006, durante um debate parlamentar os deputados da Irmandade Muçulmana afirmaram que os Bahá'ís eram apóstatas e deviam ser mortos. Acrescentaram ainda que iam preparar uma lei que criminalizava a Fé Bahá'í e classificava os Bahá'ís como apóstatas.
Será que esta Irmandade Muçulmana vai desviar a revolução no Egipto?
Estarão os egípcios na disposição de trocar uma ditadura por outra?
Iremos assistir a um remake da revolução islâmica de 1979?
Para quem pensa que a agitação no Egipto é igual à que aconteceu na Tunísia, lembro que este é um grupo fundamentalista que ambiciona criar um estado islâmico no Egipto. Para perceber os seus princípios, bastaria lembrar que em Maio de 2006, durante um debate parlamentar os deputados da Irmandade Muçulmana afirmaram que os Bahá'ís eram apóstatas e deviam ser mortos. Acrescentaram ainda que iam preparar uma lei que criminalizava a Fé Bahá'í e classificava os Bahá'ís como apóstatas.
Será que esta Irmandade Muçulmana vai desviar a revolução no Egipto?
Estarão os egípcios na disposição de trocar uma ditadura por outra?
Iremos assistir a um remake da revolução islâmica de 1979?
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Nas TV's do Egipto
Os debates sobre liberdade religiosa tornam-se uma espécie de reality show bem reveladora da mentalidade do extremismo islâmico. Que diriam os muçulmanos se nas TV Ocidentais houvesse debates entre Cristãos e Muçulmanos, onde os cristãos pedissem a morte dos muçulmanos?
domingo, 20 de setembro de 2009
Discussões religiosas do Egito mostram indícios de pluralismo
O site globo.com publicou hoje a tradução de um artigo do New York Times sobre pluralismo religioso no Egipto.
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Internet tem ampliado audiência de visões islâmicas mais liberais.
Criticado em site, intelectual se diz feliz porque suas ideias agora circulam.
Michael Slackman, do New York Times
Escrevendo em sua coluna semanal no jornal, Gamal al-Banna disse recentemente que Deus havia criado os humanos como seres falíveis, e por isso, destinados a pecar. Dessa forma, uma dançarina de dança do ventre parcamente vestida, e por que não uma dançarina de strip-tease, não deveria ser automaticamente condenada como imoral – deveria, sim, ser julgada por uma comparação de seus pecados frente a suas boas ações.
Essa visão é provocante na conservadora sociedade do Egito, onde muitos argumentam que tais pensamentos vão de encontro às regras da lei divina. Duas horas depois da publicação do artigo no site de Al Masry al Youm, os leitores já haviam deixado mais de 30 comentários – nenhum deles apoiando sua posição.
“Então uma mulher pode dançar à noite e rezar pela manhã; isso é duplicidade e ignorância”, escreveu um leitor que se identificou como Hany. “Tema a Deus e não pregue a impiedade”.
Ainda assim, Banna ficou contente porque suas ideias estavam ao menos circulando. O autor, que tem 88 anos e é irmão de Hassan al Banna, fundador da Irmandade Muçulmana, tem pregado visões islâmicas liberais há décadas.
Entretanto, somente agora ele teve a chance de ser amplamente ouvido. Não que uma maioria concorde com ele; não que a maré esteja mudando a uma interpretação mais moderada da religião.
Acontece que o crescimento das mídias relativamente independentes – como jornais de propriedade privada, canais de televisão por satélite e a internet – lhe deu acesso a uma audiência mais ampla.
Existe ainda outra razão: os pensadores mais radicais e menos flexíveis deixaram de intimidar todos com opiniões diferentes do silêncio.
“Tudo tem seu tempo”, diz Banna, sentado em seu empoeirado escritório, abarrotado de prateleiras de livros que vão do chão ao teto.
Isso é um testamento de quão pouco debate tem existido sobre o valor do pluralismo, ou, mais especificamente, sobre o papel da religião na sociedade, para que tantos vejam a mera chance de provocar como um progresso.
Desafiando pensamentos
Porém, agora, mais do que nunca, há pessoas dispostas a se arriscar desafiando pensamentos convencionais, segundo escritores, acadêmicos e pensadores religiosos como Banna.
“Existe um relativo desenvolvimento, suficiente para apresentar uma opinião diferente que confronte a opressiva corrente religiosa governante na política e nas ruas, e que fez o estado tentar comprar os grupos religiosos”, diz Gamal Asaad, ex-membro do parlamento e intelectual cóptico.
É difícil dizer exatamente por que isso está acontecendo. Alguns daqueles que começaram a falar afirmam agir apesar – e não com o estímulo – da posição do governo egípcio. Analistas políticos dizem que o governo ainda tentava competir com a Irmandade Muçulmana, um movimento islâmico banido, porém tolerado, para se apresentar como o guardião dos valores muçulmanos conservadores.
Desilusão ideológica
Diversos fatores mudaram a discussão pública e apagaram alguns dos temores associados a desafiar a ortodoxia convencional, segundo analistas políticos, acadêmicos e ativistas sociais. Isso inclui uma desilusão e a crescente rejeição da ideologia islâmica mais radical, associada à al-Qaeda, dizem eles.
Ao mesmo tempo, o alcance do presidente Barack Obama ao mundo muçulmano tem silenciado as acusações de que os Estados Unidos estejam em guerra contra o Islã, tornando mais fácil para muçulmanos liberais promoverem ideias seculares mais ocidentais, dizem os analistas políticos egípcios.
“Não se trata de uma mudança estratégica ou transformacional, mas é uma mudança relativa”, disse Asaad, enfatizando que a dinâmica estava para os cristãos assim como estava também para os muçulmanos no Egito. “E as forças civis podem se unir para capitalizar sobre esta atmosfera e investir nela, para que se torne uma atmosfera mais geral”.
Na TV
Dois acontecimentos, neste verão, destacaram a nova disposição de uma minoria para enfrentar a maioria – e a devastadora reação de uma comunidade ainda conservadora.
Em junho, um comitê de escritores, afiliado ao Ministério de Cultura, entregou um prestigioso prêmio a Sayyid al-Qimni, um afiado crítico do fundamentalismo islâmico que, após receber ameaças de morte em 2005, parou de escrever, repudiou seu próprio trabalho e se mudou.
Muhammad Salmawy, um membro do comitê e presidente da União dos Escritores Egípcios, disse achar que Qimni havia sido homenageado, em parte, porque “ele representa a direção secular e discute religião numa base objetiva, além de ser contra a corrente religiosa”.
O que aconteceu em seguida seguiu um caminho previsível, mas então se desviou do curso. Fundamentalistas islâmicos, como o xeique Youssef al-Badri, pediram que o governo revogasse o prêmio e partiram para registrar um processo contra Qimni e o governo.
“Salman Rushdie foi menos desastroso que Sayyid al-Qimni”, disse Badri numa aparição televisiva na O TV, um canal por satélite independente do Egito. “Salman Rushdie, todos o atacaram porque ele destruiu o islã abertamente. Mas Sayyid al-Qimni está atacando o islã e destruindo-o de forma diplomática, elegante e educada”.
Desta vez, porém, Qimni não se escondeu. Ele apareceu num programa de televisão, sentado ao lado de Badri.
Mais tolerância aos Baha'is
Um segundo desenvolvimento envolveu uma minoria religiosa, a fé baha’i, que enfrenta discriminação no Egito, onde as únicas crenças legalmente reconhecidas são o islamismo, o judaísmo e o cristianismo. Nove anos atrás, o estado parou de emitir registros de identificação aos Baha’is, contanto que eles concordassem em se considerar membros de uma das três religiões reconhecidas. Os documentos são essenciais para o acesso de todas as agências governamentais.
Um grupo independente, a Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais, venceu uma ordem judicial em benefício dos baha’is que forçava o governo a emitir os registros deixando a identificação religiosa em branco. Os primeiros cartões foram emitidos neste mês. Mesmo que a decisão visasse especificamente resolver o problema enfrentado pela comunidade baha’i, o caso mexeu com o crescente debate, segundo o diretor executivo do grupo, Hossam Bahgat.
“Reconhecer que alguém pode ser egípcio sem aderir a uma dessas três religiões é um ato sem precedentes”, disse Bahgat. Ainda assim, ele continua pouco otimista; a maior parte da reação popular à vitória legal dos baha’is foi negativa, disse Bahgat.
“Sabe-se que vocês são apóstatas”, dizia um dos muitos comentários postados no site do Al Youm Al Sabei, jornal online citado no início deste texto.
Houve, entretanto, ao menos um indício de diversidade e debate em resposta às afirmações de Banna sobre as dançarinas de dança do ventre. Horas depois que sua coluna foi publicada, alguns leitores começaram, embora hesitantemente, a tentar defendê-lo.
“Peguem leve com o homem”, dizia um comentário anônimo. “Ele não emitiu um edital religioso dizendo que a dança do ventre está perdoada. Ele está dizendo que os atos de uma pessoa serão colocados na equação, pois Deus é justo. Há algo de errado nisso?”
* Colaborou Mona el-Naggar
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Internet tem ampliado audiência de visões islâmicas mais liberais.
Criticado em site, intelectual se diz feliz porque suas ideias agora circulam.
Michael Slackman, do New York Times
Escrevendo em sua coluna semanal no jornal, Gamal al-Banna disse recentemente que Deus havia criado os humanos como seres falíveis, e por isso, destinados a pecar. Dessa forma, uma dançarina de dança do ventre parcamente vestida, e por que não uma dançarina de strip-tease, não deveria ser automaticamente condenada como imoral – deveria, sim, ser julgada por uma comparação de seus pecados frente a suas boas ações.
Essa visão é provocante na conservadora sociedade do Egito, onde muitos argumentam que tais pensamentos vão de encontro às regras da lei divina. Duas horas depois da publicação do artigo no site de Al Masry al Youm, os leitores já haviam deixado mais de 30 comentários – nenhum deles apoiando sua posição.
“Então uma mulher pode dançar à noite e rezar pela manhã; isso é duplicidade e ignorância”, escreveu um leitor que se identificou como Hany. “Tema a Deus e não pregue a impiedade”.
Ainda assim, Banna ficou contente porque suas ideias estavam ao menos circulando. O autor, que tem 88 anos e é irmão de Hassan al Banna, fundador da Irmandade Muçulmana, tem pregado visões islâmicas liberais há décadas.
Entretanto, somente agora ele teve a chance de ser amplamente ouvido. Não que uma maioria concorde com ele; não que a maré esteja mudando a uma interpretação mais moderada da religião.
Acontece que o crescimento das mídias relativamente independentes – como jornais de propriedade privada, canais de televisão por satélite e a internet – lhe deu acesso a uma audiência mais ampla.
Existe ainda outra razão: os pensadores mais radicais e menos flexíveis deixaram de intimidar todos com opiniões diferentes do silêncio.
“Tudo tem seu tempo”, diz Banna, sentado em seu empoeirado escritório, abarrotado de prateleiras de livros que vão do chão ao teto.
Isso é um testamento de quão pouco debate tem existido sobre o valor do pluralismo, ou, mais especificamente, sobre o papel da religião na sociedade, para que tantos vejam a mera chance de provocar como um progresso.
Desafiando pensamentos
Porém, agora, mais do que nunca, há pessoas dispostas a se arriscar desafiando pensamentos convencionais, segundo escritores, acadêmicos e pensadores religiosos como Banna.
“Existe um relativo desenvolvimento, suficiente para apresentar uma opinião diferente que confronte a opressiva corrente religiosa governante na política e nas ruas, e que fez o estado tentar comprar os grupos religiosos”, diz Gamal Asaad, ex-membro do parlamento e intelectual cóptico.
É difícil dizer exatamente por que isso está acontecendo. Alguns daqueles que começaram a falar afirmam agir apesar – e não com o estímulo – da posição do governo egípcio. Analistas políticos dizem que o governo ainda tentava competir com a Irmandade Muçulmana, um movimento islâmico banido, porém tolerado, para se apresentar como o guardião dos valores muçulmanos conservadores.
Desilusão ideológica
Diversos fatores mudaram a discussão pública e apagaram alguns dos temores associados a desafiar a ortodoxia convencional, segundo analistas políticos, acadêmicos e ativistas sociais. Isso inclui uma desilusão e a crescente rejeição da ideologia islâmica mais radical, associada à al-Qaeda, dizem eles.
Ao mesmo tempo, o alcance do presidente Barack Obama ao mundo muçulmano tem silenciado as acusações de que os Estados Unidos estejam em guerra contra o Islã, tornando mais fácil para muçulmanos liberais promoverem ideias seculares mais ocidentais, dizem os analistas políticos egípcios.
“Não se trata de uma mudança estratégica ou transformacional, mas é uma mudança relativa”, disse Asaad, enfatizando que a dinâmica estava para os cristãos assim como estava também para os muçulmanos no Egito. “E as forças civis podem se unir para capitalizar sobre esta atmosfera e investir nela, para que se torne uma atmosfera mais geral”.
Na TV
Dois acontecimentos, neste verão, destacaram a nova disposição de uma minoria para enfrentar a maioria – e a devastadora reação de uma comunidade ainda conservadora.
Em junho, um comitê de escritores, afiliado ao Ministério de Cultura, entregou um prestigioso prêmio a Sayyid al-Qimni, um afiado crítico do fundamentalismo islâmico que, após receber ameaças de morte em 2005, parou de escrever, repudiou seu próprio trabalho e se mudou.
Muhammad Salmawy, um membro do comitê e presidente da União dos Escritores Egípcios, disse achar que Qimni havia sido homenageado, em parte, porque “ele representa a direção secular e discute religião numa base objetiva, além de ser contra a corrente religiosa”.
O que aconteceu em seguida seguiu um caminho previsível, mas então se desviou do curso. Fundamentalistas islâmicos, como o xeique Youssef al-Badri, pediram que o governo revogasse o prêmio e partiram para registrar um processo contra Qimni e o governo.
“Salman Rushdie foi menos desastroso que Sayyid al-Qimni”, disse Badri numa aparição televisiva na O TV, um canal por satélite independente do Egito. “Salman Rushdie, todos o atacaram porque ele destruiu o islã abertamente. Mas Sayyid al-Qimni está atacando o islã e destruindo-o de forma diplomática, elegante e educada”.
Desta vez, porém, Qimni não se escondeu. Ele apareceu num programa de televisão, sentado ao lado de Badri.
Mais tolerância aos Baha'is
Um segundo desenvolvimento envolveu uma minoria religiosa, a fé baha’i, que enfrenta discriminação no Egito, onde as únicas crenças legalmente reconhecidas são o islamismo, o judaísmo e o cristianismo. Nove anos atrás, o estado parou de emitir registros de identificação aos Baha’is, contanto que eles concordassem em se considerar membros de uma das três religiões reconhecidas. Os documentos são essenciais para o acesso de todas as agências governamentais.
Um grupo independente, a Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais, venceu uma ordem judicial em benefício dos baha’is que forçava o governo a emitir os registros deixando a identificação religiosa em branco. Os primeiros cartões foram emitidos neste mês. Mesmo que a decisão visasse especificamente resolver o problema enfrentado pela comunidade baha’i, o caso mexeu com o crescente debate, segundo o diretor executivo do grupo, Hossam Bahgat.
“Reconhecer que alguém pode ser egípcio sem aderir a uma dessas três religiões é um ato sem precedentes”, disse Bahgat. Ainda assim, ele continua pouco otimista; a maior parte da reação popular à vitória legal dos baha’is foi negativa, disse Bahgat.
“Sabe-se que vocês são apóstatas”, dizia um dos muitos comentários postados no site do Al Youm Al Sabei, jornal online citado no início deste texto.
Houve, entretanto, ao menos um indício de diversidade e debate em resposta às afirmações de Banna sobre as dançarinas de dança do ventre. Horas depois que sua coluna foi publicada, alguns leitores começaram, embora hesitantemente, a tentar defendê-lo.
“Peguem leve com o homem”, dizia um comentário anônimo. “Ele não emitiu um edital religioso dizendo que a dança do ventre está perdoada. Ele está dizendo que os atos de uma pessoa serão colocados na equação, pois Deus é justo. Há algo de errado nisso?”
* Colaborou Mona el-Naggar
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Clérigo Egípcio apela à aniquilação dos Iranianos e dos Bahá'ís
É tão ridículo que até podia parecer uma piada.
Mas não é.
É a realidade do ódio que se incita contra os Bahá'ís em países muçulmanos, e das fontes de perseguição contra a comunidade Bahá'í.
Mas não é.
É a realidade do ódio que se incita contra os Bahá'ís em países muçulmanos, e das fontes de perseguição contra a comunidade Bahá'í.
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