sexta-feira, 5 de abril de 2013

De olho na revolução egípcia: uma perspectiva Bahá'í

O site egípcio Ahram Online perguntou a 10 pessoas que participaram na revolução egípcia de 25 de Janeiro como vêem a actual situação política do Egipto dois anos após a queda de Mubarak. O texto que se segue é a tradução de uma dessas entrevistas com uma jovem Baha’i.
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Natacha Chirazi, uma jovem Bahai jovem criada na Austrália, chegou ao Egipto com vinte e poucos anos para conhecer  o país de onde os seus pais haviam emigrado.

Apesar do desafio do indisfarçável sentimento anti-Bahai, ela ligou-se imediatamente ao país, e ficou no Egipto com seu marido e seu filho Leo, que é um Bahai de sétima geração.

Excertos:

* Eu acredito que uma boa parte do nosso problema hoje é que nós nos tornamos muito envolvidos nos factores de divisão de política que nos afastam da causa da revolução 25 de Janeiro. Compreendo que existam diferenças, mas também acredito - e isso é parte da minha fé como Bahai - que precisamos de encontrar o que nos pode unir. Precisamos de procurar a prosperidade material e espiritual através da nossa unidade.

* Quando cheguei a este país com um passaporte australiano sabia muito bem os problemas relacionados com a obtenção de um cartão de identidade egípcio para os bahais egípcios, e por isso, não votei. Mas para ser honesta, se pudesse votar, teria um problema, porque não estava totalmente convencida por nenhum dos candidatos. Cada um deles parecia estar a afastar-se para longe do apelo à unidade. Eu penso que a melhor coisa da revolução foi o seu apelo à unidade; na verdade, ela encarna a unidade.

* Pessoalmente, não me juntei às manifestações porque como Bahai não acredito necessariamente nas manifestações; mas o que fiz foi juntar-me às multidões que foram à praça Tahrir, no dia 12 de Fevereiro, um dia depois da renúncia de Mubarak, para ajudar a limpar. Nesse dia senti que estávamos todos unidos. Todos pertencíamos a este país e todos nós sentimos que queríamos que fosse um país melhor e mais bonito e cada um de nós, à sua maneira estava a fazer exactamente isso.

* Hoje, quase dois anos depois, apesar da centelha ter desaparecido, a fé ainda lá está e é isso que temos de aproveitar. Não é tarde demais para encontrarmos o que nos pode unir, e para ser honesta, é óbvio. Precisamos encontrar a prosperidade para todos. Eu acho que, independentemente de nossa discordância e até mesmo insatisfação com o desempenho da nova liderança, ainda podemos concordar em muita coisa.

* Eu não diria que a revolução de 25 de Janeiro fracassou porque foi incapaz de acabar com a discriminação que bahais enfrentam em termos de cidadania, pois a revolução ainda terá sucesso em muitas outras frentes para acabar com a discriminação e para cumprir o apelo de justiça e dignidade para todos. Não posso negar que ter um cartão de identidade com um traço na secção de religião é algo que me incomoda; mas ao mesmo tempo não vejo que isso seja muito diferente da discriminação que os pobres enfrentam, quer se goste ou não, quando por exemplo, eles não conseguem dar uma boa educação aos seus filhos.

* Apesar das dificuldades, estou determinada a viver aqui e a educar o meu filho aqui e não noutro lugar. E tenho esperança que quando ele for crescido, ele não tenha que sentir muita discriminação como Bahai pois as coisas terão evoluído de forma a eliminar as disparidades em geral.

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FONTE: Eye on the revolution: Natacha Chirazi, a Bahai view (Ahram Online)
 

1 comentário:

J. Carlos disse...

Muito Obrigado Amigo Marco por compartilhares este texto de opinião desta Jovem Bahá'i residente no Egipto, um Belo País que, infelizmente, está a ser dominado pelo fundamentalismo religioso... um texto que gostei de ler .
Mas, um dia, tudo irá mudar.
O meu Fraterno abraço
J. Carlos