Gandhi é uma das mais fascinantes personagens do séc. XX. O seu nome é evocado com regularidade e tornou-se um sinónimo de não-violência; os seus ensinamentos são tidos por muita gente como a receita para a construção de uma sociedade mais justa e pacífica; a sua vida foi tema de uma clássico do cinema.
Há alguns meses atrás foi publicado no nosso país, uma tradução da sua auto-biografia ("A minha vida e as minhas experiências com a verdade", Editorial Bizâncio). O livro foi escrito em 1925, quando o autor estava na prisão, e descreve a sua vida desde a infância até 1920. Este texto tornou-se um documento popular e influente, não apenas na Índia, mas também durante os anos da luta pelos Direitos Cívicos nos EUA e do movimento Solidariedade na Polónia.
Como o subtítulo indica, mais do que uma biografia, estamos na presença de um conjunto de relatos sobre experiências com a verdade. Segundo Gandhi, “a verdade é um princípio soberano , que engloba vários outros. Ela não é apenas a autenticidade da palavra, mas também a do pensamento. Não é a verdade relativa da nossa percepção, mas a Absoluta, o Princípio Eterno, que é Deus. Há inúmeras definições de Deus, porque são inúmeras as suas manifestações, que inundam o meu ser de admiração e respeito e, ao mesmo tempo, me atormentam.”
Ao descrever a sua vida como uma caminhada espiritual e moral, Gandhi tem a humildade suficiente para não omitir os seus erros, defeitos ou contradições. Desta forma, poderá ser surpreendente para muitos leitores ficar a saber que o relacionamento do autor com a esposa nem sempre foi um mar de rosas; que nas suas palavras se percebe algum arrependimento por não ter investido mais na educação dos filhos; e que o seu apoio às autoridades inglesas durante a Guerra dos Boers e durante a Primeira Guerra Mundial são atitudes difíceis de perceber.
Mas a humildade do relato também passa pelo facto de Gandhi não se vangloriar dos seus feitos, mas apenas descrever o que viveu à luz dos princípios da não violência apenas como se se tratasse de uma ilustração pessoal.
Uma obra para ler e reflectir.
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