sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Se Obama fosse Papa

Ruth Gledhill publicou hoje no seu blog a tradução de um artigo intitulado “If Obama were Pope” do professor Hans Kung. Trata-se de um texto onde se levantam questões muito pertinentes e se fazem comparações certeiras. Deixo aqui a tradução desse artigo na esperança que possa servir de debate e reflexão.
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Se Obama fosse Papa
pelo professor Hans Kung


O Presidente Barack Obama conseguiu num curto período de tempo retirar os Estados Unidos de um ambiente desânimo e apoiar reformas, apresentando uma visão credível de esperança e introduzindo uma mudança estratégica na política interna e externa deste grande país.

Na Igreja Católica as coisas são diferentes. O ambiente é opressivo, a pilha de reformas é paralisante. Após quase quatro anos no cargo, muitas pessoas vêem o Papa Bento XVI como outro George W. Bush. Não foi nenhuma coincidência que o Papa celebrasse o seu 81º aniversário na Casa Branca. Bush e Ratzinger não conseguem aprender nada em matérias de controlo de natalidade e aborto, não são propensos a realizar quaisquer reformas sérias, arrogantes e sem transparência na forma como exercem os seus cargos restringindo liberdades e direitos humanos.

Tal como Bush no seu tempo, o Papa Bento também sofre de uma crescente falta de confiança. Muitos católicos já não esperam nada dele. Pior ainda, com a retirada da excomunhão a quatro bispos tradicionalistas que consagravam ilegalmente, incluindo um que notoriamente nega o Holocausto, Ratzinger confirmou todos os receios que se levantaram quando foi eleito Papa. O Papa favorece pessoas que ainda rejeitam a liberdade de religião afirmada pelo Vaticano II, o diálogo com outras igrejas, a reconciliação com o Judaísmo, uma elevada estima pelo Islão e outras religiões mundiais e a reforma da liturgia.

Com o objectivo de promover a “reconciliação” com um pequeno grupo de tradicionalistas arqui-reaccionários, o Papa arrisca perder a confiança de milhões de Católicos em todo o mundo que continuam a ser leais ao Vaticano II. Por ser um Papa alemão que está a dar passos errados, acentua o conflito. As desculpas após o evento não conseguem juntar as peças.

O Papa teria um trabalho mais fácil do que o Presidente dos Estados Unidos ao adoptar uma mudança de rumo. Não tem ao seu lado nenhum Congresso como corpo legislativo, nem um Supremo Tribunal como magistratura. É chefe absoluto do Governo, legislador e juiz supremo na Igreja. Se quisesse, poderia autorizar imediatamente a contracepção, permitir o casamento dos padres, tornar possível a ordenação de mulheres e permitir a eucaristia partilhada com as Igrejas Protestantes. O que faria um Papa se agisse no espírito de Obama?

Claramente, tal como Obama, ele
  1. afirmaria claramente que a Igreja Católica está numa crise profunda e identificaria a origem do problema: muitas congregações sem padres, ainda insuficiente número de novos recrutas para o sacerdócio, e um colapso oculto de estruturas pastorais como consequência de fusões impopulares de paróquias, um colapso que frequentemente se desenvolveu ao longo de séculos;
  2. proclamaria a visão da esperança de uma Igreja renovada, um ecumenismo revitalizado, entendimento com os Judeus, Muçulmanos e outras religiões mundiais e uma avaliação positiva da ciência moderna;
  3. reuniria ao seu redor os colegas os mais competentes, e não os “yes-men” mas mentes independentes, apoiados por peritos competentes e destemidos;
  4. iniciaria imediatamente as medidas reformadoras mais importantes por decreto (“ordem executiva”); e
  5. convocaria um concílio ecuménico para promover a mudança de rumo.
Mas que contraste deprimente:

Enquanto o Presidente Obama, com o apoio do mundo inteiro, olha para a frente e está aberto às pessoas e ao futuro, este Papa encaminha-se o mais para trás possível, inspirado por um ideal de igreja medieval, céptico sobre a Reforma, ambígua sobre os direitos modernos de liberdade.

Enquanto o Presidente Obama se preocupa com uma nova cooperação com parceiros e aliados, o Papa Bento XVI, tal George W. Bush, está preso num raciocínio em termos de amigo e inimigo. Despreza os companheiros cristãos nas Igrejas Protestantes ao recusar reconhecer estas comunidades como Igrejas. O diálogo com os Muçulmanos não foi mais além do que uma mera confissão verbal de “diálogo”. As relações com o Judaísmo dizem-se profundamente danificadas.

Enquanto o Presidente Obama irradia a esperança, promove actividades cívicas e apela a uma nova “era de responsabilidade”, o Papa Bento XVI está encarcerado nos seus medos e quer limitar a liberdade humana tanto quanto possível, com o propósito de restabelecer uma “era de restauração”.

Enquanto o Presidente Obama se lançou na ofensiva usando a Constituição e a grande tradição do seu país como base para passos corajosos na reforma, o Papa Bento interpreta em direcção contrária os decretos do Concílio da Reforma de 1962, tendo em mente o Concílio conservador de 1870.

Mas porque, com toda a probabilidade, o Papa Bento XVI não será nenhum Obama, para o futuro imediato precisamos:

Primeiro: um episcopado que não oculte os problemas manifestos da Igreja mas mencione-os abertamente e aborde-os de forma enérgica a nível diocesano;

Segundo: teólogos que colaborem activamente numa visão futura da nossa Igreja e não tenham receio de falar e escrever a verdade;

Terceiro: pastores que opor as cargas excessivas impor constantemente pela fusão de muitas paróquias e que tomam corajosamente a responsabilidade como pastores;

Quarto: em particular as mulheres, sem as quais muitas paróquias entrariam em colapso, que com confiança empregam as possibilidades da sua influência.

Mas podemos nós realmente fazer isto? Sim, conseguimos.

29 comentários:

timshel disse...

Marco

isto é outra perspectiva...

http://trentonalingua.blogspot.com/2009/01/rezo-pelo-papa.html

abraço

timshel

maria disse...

obrigada, Marco.

Hans Kung está cansado de esperar, muitos católicos também e o mundo idem.

não espero para a Igreja católica, nenhum papa "tipo" Obama. Sou bem céptica em relação a isso. Enquanto tiver o enorme aparelho a funcionar, não precisa de mudar.

Marco Oliveira disse...

Tim:

Eu considero que o Cristianismo (não apenas o Catolicismo) está a transformar-se. Essa transformação tem os seus avanços e recuos. Penso que teve um avanço com João XXIII (o Vaticano II, a Pacem Terris,...). E com Bento XVI tem um recuo (ele reintegra os tradicionalistas excomungados, e castiga teólogos que põem em causa o Eclesiocentrismo e o Cristocentrismo).

Mas por vezes as coisas são mesmo assim, e é necessário dar um passo atrás para dar dois passos à frente.

Um abraço.


MC:

Para os cristãos cépticos sobre o futuro da sua própria religião (ou das suas instituições) costumo citar um livro de Shoghi Effendi (escrito nos anos 1940) onde - entre muitas coisas - ele refere a deterioração das instituições cristãs. Apesar de pintar um cenário sombrio sobre o futuro imediato do Cristianismo, deixa uma palavra de esperança sobre o futuro mais distante:

«The indwelling Spirit of God which, in the Apostolic Age of the Church, animated its members, the pristine purity of its teachings, the primitive brilliancy of its light, will, no doubt, be reborn and revived as the inevitable consequence of this redefinition of its fundamental verities, and the clarification of its original purpose.»

Foi esta visão de um futuro melhor que despertou o meu interesse pelo texto de Hans Kung.

Bjs.

Anónimo disse...

Obrigado.
Bom trabalho.

Grande abraço.

Unknown disse...

Bom, eu escrevi e deletei alguns parágrafos aqui tentando explicar a partir de diferentes perspectivas o que entendo desse texto.

Infelizmente depois de escrever e reescrever eu percebi que o próprio texto exige do leitor a aceitação de algumas premissas, ou a expressão e projeção dessas premissas em seus entendimentos e a partir delas eu simplesmente não tenho como me fazer entender.

Decidi no final resumir minha opinião esperançoso de que os mais sinceros e curiosos dentro das fileiras que não concordarem comigo possam tentar me entender, ou mesmo querer tentar me entender.

"Eu achei esse artigo um lixo e não sou nem teista nem otismista histérico."

Rafael Melo disse...

Sim, isso é fato. Na era em que a informática domina todas as áreas da nossa vida, e a TEORIA evolucionista está imantada como comprovação científica. Por que não um Deus 2.0? Por que não dar um Upgrade na religião católica? Já que tudo evolui, por que as religiões não evoluem também? Como Olavo de Carvalho, analisou em seu Livro ainda não publicado “A Mente Revolucionária”, a patologia da inversão é uma realidade na sociedade atual, ou seja, o objetivo da nova ordem mundial não é fazer do ser humano a imagem e semelhança de Deus. E sim, Deus a imagem e semelhança do homem. Por que nós, ignorantes religiosos, não entendemos isso de uma vez por todas? E aderimos ao coro de tantas mentes intelectuais ateístas como Richard Dawkin, Steven Pinker ou Hans Kung. Mentes que respeitando a apenas uma doutrina: o evolucionismo. E ridicularizam toda e qualquer religião que não atenda este critério. É, espero que um dia possamos realizar todas essas reformas na igreja católica, e corroer assim todas as bases residuais que a sociedade herdou e desenvolveu ao logo de muitos séculos. Contudo, espero que o resultado disso não seja o mesmo que aconteceu no século passado: 260 milhões de mortes, executados por governos ateístas como China, União Soviética e Alemanha (segundo estudos do doutor R. J. Rummel), 2 guerras mundiais e dissolução cada vez maior das famílias no mundo. Talvez somente assim possamos dormir em paz, sem nenhum remorso moral por nossas atitudes, esquecendo toda esta empulhação bíblica de julgamento final, aguardando anciosamente pelo surgimento do novo homem na cadeia evolutiva, talvez o super homem como falava Nietzsche. Quer dizer: mais animal, menos homem.

Marco Oliveira disse...

Rafa,
Se vc pensa que Hans Kung é uma "mentes intelectuais ateístas" que apenas respeita o evolucionismo, então é porque não sabe de quem está a falar.

E sobre o "governo Ateísta" alemão do tempo do nazismo, pergunto-lhe: Porque é que só houve um Dietrich Bohnoffer? O que fizeram as igrejas cristãs na Alemanha nazi?

Investigue as coisas antes de emitir opiniões.

Anónimo disse...

Marco,

Então você acredita que um cristão de verdade deve apoiar um governo que promove e investe em abortismo em massa como Obama (http://www.youtube.com/watch?v=GfFVKqHWJU0&feature=related)? Que um cristão de verdade, deve acreditar que o Obama é o novo messias (http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/nahum/2009/01/19/o+novo+messias+chegando+3454969.html)? Na antiguidade tais heresias, seriam traços claros de um falso cristão, e não de um cristão não praticante. Contudo, no Brasil, com o crescimento cada vez maior da teologia da libertação (a impregnação do marxismo dentro das igrejas), o brasileiro está perdendo a sua moral religiosa. E o pior, como um país que se julga o maior país Católico do mundo e não enxerga o tamanho de tais heresias?
Quanto ao cristianismo na Alemanha nazista, qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento da história alemã sabe que movimentos como o de Dietrich Bohnoffer foram minoria... Você sabia que Hitler foi eleito democraticamente? Você sabia que a classe operária foi a maior apoiadora de Hitler e seu socialismo racial? Eu lhe convido a escutar estas e muitas outras verdades no programa de rádio do filósofo Olavo de Carvalho: http://www.blogtalkradio.com/profile.aspx?userid=1285.
Escute e tenho certeza que isso irá mudar a sua visão de Barak Obama, e se você encontrar pelo menos uma mentira, favor me avisar: serei o primeiro a pedir desculpas.

Att, Rafa

Marco Oliveira disse...

Rafa,
Definitivamente, você não lê com cuidado o que está escrito neste texto.
Kung compara o descrédito da Igreja Católica com o descrédito dos Estados Unidos. E aponta as analogias entre os responsáveis por esses descréditos.

Tb me parece que vc não percebeu o que eu escrevi sobre Bohnoffer.

Por isso lei com cuidado o texto de Hans Kung e me poupe com esses videos ridículos (podiam ser propaganda séria!) ou textos especulativos.

Já agora: se você acha que a Teologia da Libertação está impregnada de marxismo, então diga o que leu de Karl Marx, o que leu de Gutierrez (ou do Boff) e indique os paralelismos.

Anónimo disse...

Estou a ver que andam aqui fundamentalistas cristãos...
Gente esclarecida, não haja dúvida!

Anónimo disse...

Só para calar os fundamentalistas:
"Those Christians who claim that socialism is evil and the enemy of Christianity really need to go back and read their own scriptures."

Leiam o resto aqui: Christianity, Socialism, and President Obama

Anónimo disse...

Olá GM, nem o capitalismo, nem o socialismo sairam da Bíblia. E qualquer estudo deste tipo, não passa de um salto lógico, fruto ou de ingenuidade ou de má fé de algumas pessoas. Ambos modelos econômicos, são criações das sociedades posteriores.

Contudo, não existe na história da sociedade humana nenhum exemplo de socialismo que deu certo. Todos resultaram em democídios.

E agora sim, segue a Prova de Fogo:

[A Grande Mentira: O Socialismo Começou na Bíblia] por Júlio Severo
- http://juliosevero.blogspot.com/2006/03/grande-mentira-o-socialismo-comeou-na.html

[O tamanho do crime] por Olavo de carvalho
- http://www.olavodecarvalho.org/semana/090219dc.html

[The Soviet Story] Um estudo de + de 10 anos sobre frutos gerados pelo Marxismo
- http://www.youtube.com/watch?v=sqEf2FSbrdY

Anónimo disse...

Quem é esse "teólogo Hans Küng" frente ao Santo Padre, Bento XVI??? Pela simples olhada no artigo, percebo que ele é abortista, preconceituoso, anti-ético e imoral. Portanto, com um total pensamento contrário ao do Papa. Sendo assim, suas críticas eram esperadas. E ainda bem que esse tal de Hans Küng blasfema contra o Papa. Mas se Bento XVI fosse elogiado por esse lobo, aí sim, eu queria que Sua Santidade renunciasse mesmo ao seu ministério. No entanto, os lobos estão uivando de raiva, é sinal de que Bento XVI está fazendo o seu papel. Viva Sua Santidade.

Anónimo disse...

Se Obama fosse Papa, primeiro, ele utilizaria nosso dinheiro não mais para remediar crises econômicas mas para promover aborto em todo o mundo cristão. Ele se auto-proclamaria o novo messias (assumindo assim a autoridade que a mídia como um todo o rotula); e desta autoridade iria mudar algumas partes da Bíblia que não se encaixam com a visão que a nova ordem mundial tem sobre a sociedade, partes como o direito a vida, o homosexualismo e o lucro. Então, não iriamos mais nos sentir envergonhados pelos nossos pecados; Na verdade, ele iria explicar que essa história de religião não é tão importante assim de qualquer forma, logo qualquer pessoa está habilitada a escolher sua religião desde criança e(ou) até mudar de religião se necessário, seguindo assim o seu exemplo. No final da história, O catolicismo seria apenas uma distração dos finais de semana, para a aqueles grupinhos de ignorantes que não conseguem contemplar as maravilhas de uma sociedade guiada pela moral econômica.

Anónimo disse...

Marco,

Quer entender o que é teologia da libertação e como ela tem prejudicado a igreja católica? Que tal ouvir as palavras do próprio papa? (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=3169679&sid=1222201941123747233791446&k5=8692BB9&uid=).

--> Ninguém têm se preocupado mais em entender e combater os VERDADEIROS problemas da igreja, mais que o próprio Papa Bento XVI.

--> Para entender o paralelismo entre marxismo e teologia da libertação (Visto que não ficou claro pela própria analogia de mal gosto deste artigo). Favor, acessar o link abaixo e ouvir o audio, ele explica bem didaticamente, e acredito que você não terá muitas dúvidas:
http://www.padrepauloricardo.org/ratzinger/

Anónimo disse...

Rafa,

E a inquisição não foi tão má quanto os crimes dos nazis ou dos comunistas? Ou vais-me dizer que nunca existiu?

E as cruzadas? Foram ou quê? Um pic-nic?

Pelo que escreves aqui, a tua atitude faz lembrar o Grande Inquisidor do livro Os Irmãos Karamazov. Eras capaz de condenar o próporio Cristo só para fazer valer a tua perspectiva cristã.

Anónimo disse...

Bezerra,

Onde é que o texto de Kung fala de aborto?

Onde é que o texto de Kung revela preconceito?

Onde é que o texto de Kung revela falta de ética?

Onde é que o texto revela imoralidade?

E desde quando na Igreja Católica as críticas ao Papa são blasfémias? E quem te deu autoridade para as classificar como blasfémia? Nem o próprio Bento XVI (que mantém correspondência regular com Kung) disse alguma vez isso. Queres ser mais papista que o Papa?

Marco Oliveira disse...

Vamos lá a ver se nos entendemos.

Durante muito séculos a Igreja Católica viveu sob o lema “Fora da Igreja não há salvação”. Hoje já não vivemos em sociedades monolíticas e fechadas; facilmente percebemos que o mundo é diversificado, multi-religioso, multi-cultural, multi-étnico. Isto levou o próprio catolicismo a rever algumas das suas atitudes face ao mundo. E até o próprio Bento XVI condena o exclusivismo religioso. Prefere, o inclusivismo.

Por outras palavras, o Líder da Igreja Católica acredita que o Cristianismo (na versão católica) é a revelação suprema de Deus à humanidade. E se nas outras religiões existe alguma luz de verdade, isso é apenas um reflexo da luz do Cristianismo. É óbvio que isto é um conceito perfeitamente ultrapassado e cheio de paradoxos:
-- Como pode Deus ser criador de toda a humanidade dar-Se a conhecer apenas a um grupo restrito?
-- Como se pode afirmar que Deus ama toda a humanidade e simultaneamente declarar que Ele apenas “salva” uma minoria?
-- Como se pode dizer que Deus é um Deus de amor universal e simultaneamente acreditar que apenas uma religião é a correcta?

Isto são questões para as quais o Bento XVI não tem resposta. Mas outros cristãos têm. A saber:
-- John Hick, que advoga a necessidade de uma revolução no pensamento religioso semelhante à revolução científica inaugurada por Nicolau Copernico;
-- Paul Knitter, autor de diversos livros e conceituado defensor do diálogo inter-religioso e da cooperação entre as comunidades religiosas;
-- Raimundo Panikkar, filho de um Hindu e de uma Cristã, e reconhecido como uma das figuras mais proeminentes do diálogo entre Hindus e Cristãos

Estes teólogos têm sido muito mais eficientes no diálogo inter-religioso e no encontro de culturas, do que Bento XVI. Basta recordar o episódio de Ratisbona e o caso do bispo tradicionalista Richard Williamson para perceber a falta de cuidado de Bento XVI nas suas relações com o mundo não-cristão.

Já aqui escrevi várias coisas sobre o livro de Bento XVI (ainda ele era cardeal) «Fé, Verdade e Tolerância: o Cristianismo e as Grandes Religiões do Mundo». As minhas críticas coincidem com algumas das críticas de Kung. E também já escrevi aqui alguns comentários sobre Obama. Leiam-nas para perceber melhor as minha posição em relação aos dois.

Só uma nota final: Bento XVI pode ser um grande problema para Kung e milhões de Católicos em todo o mundo. É um Papa conservador e com muitas dificuldades para compreender o mundo actual. Mas para mim não é problema. Eu sou Baha’i; não sou cristão. Mas porque admiro o Cristianismo e acredito que tem futuro, não deixo observar os problemas que atravessa e perceber onde estão as origens desses problemas.

Anónimo disse...

"inquisidor"? rsrsrs...

Caro GH,

As suas acusações indiretas a minha pessoa, me fazem lembrar as lições de Lenin do "Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz". Não sou um inquisidor, meu único compromisso aqui é com a verdade. E a verdade pode ser observada na história. E vou lhe mostrar mais uma vez isso.

Em relação a inquisição, realmente foi uma época negra da igreja, não posso negar. Porém não podemos esquecer que a igreja já reconhece isso: O Papa João Paulo II pediu perdão a Galileu e muitos outros gênios pelos erros que a igreja cometeu em relação aos seus julgamentos. Fato que não observamos do outro lado: Nenhum Lênin pediu perdão pelas 61.911.000 de mortes praticadas em seu governo. Nenhum Hitler pediu perdão pelas 20.946.000 de mortes praticadas em seu governo. Porque é tão difícil para o outro lado ser sincero quanto aos seus crimes?

Você falou em cruzadas também. Em relação às cruzadas, irei dividir a minha explicação em 2 momentos: primeiro vou esclarecer uma mentira que a mídia esquerdista revolucionária anti-católica (a grande maioría) costuma impor a esse respeito, depois sim vamos aos números (a Prova de Fogo).

A grande mentira - "As cruzadas foram uma tentativa de cristianizar os muçulmanos": Isso é mentira, afirmar uma sentença destas nada mais é que uma figura de lingüagem fundamentada em premissas totalmente equivocadas com o objetivo de causar um efeito retórico-propagandístico contra a igreja. A verdade que a história mostra é: os árabes invadiram a europa 400 anos antes! As cruzadas foram apenas uma reação a tudo isso (veja todos os acontecimentos históricos no link http://www.arqnet.pt/portal/universal/cruzadas/cruzada01.html).

A prova de fogo - Você acha que as cruzadas mataram muitas pessoas? Então vamos aos números. Em um período de 108 anos (de 1096 até 1204) as cruzadas mataram 1 milhão de pessoas (números em http://www.hawaii.edu/powerkills/MURDER.HTM). Em um período semelhante de 100 anos (de 1900 até 1999) os governos comunistas mataram 205 milhões de pessoas (http://www.olavodecarvalho.org/semana/090219dc.html).
Dizer que as duas coisas são equivalentes é ignorar os maiores crimes da humanidade.

Lembre-se: Qualquer coisa que você criticar e alegar contra a igreja católica e o capitalismo, eu lhe através da história que vocês (anti-católicos e marxistas) fizeram muuuito, mas muuuito pior.

Anónimo disse...

Marco,

Tenho uma dúvida: de onde você tirou esta afirmação "Fora da Igreja não há salvação"? Não encontro esta afirmação nem na Bíblia, nem nas palavras dos papas. O que a Bíblia diz é: "A tua fé te salvou; vai-te em paz." Lucas (7-50); "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz, e sê curada deste teu mal" Marcos (5-34). Sinceramente, não encontro em nenhum lugar tentativas de colocar o poder da igreja acima da fé individual no senhor Jesus Cristo.

Agora me responda uma coisa: se a igreja acredita possuir monopólio da salvação e é tão contrária o diálogo com outras religiões. Como é que você explica O Papa João Paulo II beijar o corão, o livro sagrado islâmico? (http://www.jimmyakin.org/images/john_paul_ii_quran.jpg)
- Se o fez é porque reconheceu algo de verdadeiramente sagrado no Livro.

Outra pergunta: Se a igreja é tão restritiva em relação às outras religiões: por que a igreja utiliza até hoje o livro sagrado dos Judeus (o velho testamento)? Ou ainda, por que o próprio Cristo foi judeu e nunca negado suas origens e tradições?

Não sou contra o diálogo entre as religiões. Acredito que o diálogo deve existir e tem existido. Também acredito que nenhuma religião é detentora do monopólio da salvação. Veja bem: O sentido de Religião por definição não é Deus, e sim uma maneira de nos conectarmos a ele. Logo, a igreja respeita sim as outras religiões.

Agora, vamos as resposta das perguntas:
-- Como pode Deus ser criador de toda a humanidade dar-se a conhecer apenas a um grupo restrito?
O cristianismo não é nem nunca foi uma organização restritiva. Muito pelo contrário, se você estudar as religiões verdadeiramente, verá que ao contrário de religiões como o Judaísmo e o Hinduísmo (o tradicional). O cristianismo verdadeiro não é herdado. Qualquer pessoa pode se tornar um cristão em qualquer momento de sua vida, pois o cristianismo acima de tudo vêm como uma resposta para uma pessoa que se perdeu.

-- Como se pode afirmar que Deus ama toda a humanidade e simultaneamente declarar que Ele apenas “salva” uma minoria?
Conforme eu falei acima, não é a igreja quem salva e sim a fé verdadeira e sincera no nosso senhor Jesus Cristo. Logo, não existem garantias de salvação para ninguém. Não espere que Deus salve as pessoas que como crianças mimadas e revoltadas o negam e o maldizem.

-- Como se pode dizer que Deus é um Deus de amor universal e simultaneamente acreditar que apenas uma religião é a correcta?
Novamente, não encontro nenhum lugar que diga que apenas o cristianismo é a religião correta. Lembrando: Se você achar algum lugar na Bíblia que diga isso aí conversamos. Do contrário, não passa de opiniões. Ao meu ver, opiniões de pessoas religiosamente mutiladas e que por esta razão aprenderam a viverem em um constante estado de revolta contra Deus (gnósticos) e por esta razão tentam colocar outras pessoas no mesmo caminho.

Marco Oliveira disse...

Rafa,

1. O conceito “Fora da Igreja não há Salvação” faz parte dos dogmas da Igreja Catóica. Foi desenvolvido pela tradição Católica. Não podemos esquecer que a Igreja Católica não é uma religião do tipo “Sola Scriptura”. A tradição conta e chega a ter um peso igual ao da Escritura.

2. O gesto de João Paulo II foi um gesto de cortesia (se quisermos, um gesto político). Se o Papa aceitasse que o Alcorão é um livro Sagrado, então os seus texto surgiriam na liturgia (e, quem sabe, Maomé seria reconhecido como um Profeta pelos Cristãos).

3. O Antigo Testamento naturalmente faz parte da herança religiosa do Cristianismo. No entanto, o facto da Bíblia integrar os textos sagrados do Judaísmo, não impediu que a Igreja perseguisse os Judeus.

4. Se acreditas que nenhuma igreja detém o monopólio da Salvação, então como vês as críticas de Bento XVI a John Hicks, e a Paul Knitter (estão no livro Fé, Verdade e Tolerância)? Como analisas a recente punição a Roger Haight exactamente pelos mesmo motivos?

Anónimo disse...

Para Marco,

Questão 1: Em relação aos dogmas da Igreja, eu não tenho conhecimento de todos. Contudo, eu posso afirmar peremptóriamente que não existe nenhum dogma que não tenha surgido como reflexo de um estudo sério das escrituras. Pois como você deve saber, o cristianismo em si surge de um fato, porém a doutrina cristã em si não veio pronta, mas sim tem sido construída ao longo de muitos séculos por árduos estudo das escrituras por bispos, escolásticos, franciscanos, papas, santos entre outros. Logo afirmar que a tradição e os dogmas contradizem a escritura é um erro. A verdade é que os dogmas são criados como um molde para verdades fundamentais superiores, extraídas das próprias escrituras, verdades que exigiriam um estudo mais amplo e dedicado para um claro entendimento. Metafóricamente, poderiamos fazer uma analogia de um filho pedindo para a sua mãe para sair para uma festa de madrugada com os amigos (filho=cristão e mãe=igreja). A mãe recusa o pedido do filho alegando os perigos desta atitude (recusa=dogma), o filho pode não entender em um primeiro momento os motivos desta recusa, contudo sedo ou tarde acabará entendendo que foi uma decisão sábia.
Em relação ao dogma da Igreja “Fora da Igreja não há Salvação”. Vamos a algumas escrituras que os fundamentam:
“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”; “E eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.”; (Mateus 16:18-19)
- Uma constatação clara da santidade da instituição Igreja Católica e sua relação ao reino dos céus. Veja bem: os membros não são santos (com exceções), a instituição que é.
“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” João (14:6)
- Ninguém vai até o pai, senão através de Jesus Cristo! Isso não é dogma isso é escritura. Ela não está falando: “Se você prefirir, pode seguir o Profeta Maomé, ou ainda seguir os ensinamentos de Buda.”. Você não vê o grau de importância desta afirmação?!?
Contudo, ainda assim em relação às outras religiões a Igreja Católica diz:
A Igreja reconhece nas outras religiões a busca, “ainda nas sombras e sob imagens”, do Deus desconhecido, mas próximo, pois é Ele quem dá a todos vida, respiração e tudo mais, e porque quer que todos os homens sejam salvos. Assim, a Igreja considera tudo o que pode haver de bom e de verdadeiro nas religiões “como uma preparação evangélica, dada por Aquele que ilumina todo homem para que, finalmente, tenha a vida.” - Catecismo da Igreja Católica (Pg. 242 – item 843)

Anónimo disse...

Para Marco,

Questão 2: É verdade. O Papa João Paulo II comparado ao Papa Bento XVI, em defesa do Cristianismo e da santidade da Igreja Católica foi fraco. Em seu papado podemos verificar uma clara expansão e aflouxamento do Cristianismo. Ele alegou, por exemplo, que a teologia da libertação havia sido contida. O que é um engano evidente.

Anónimo disse...

Para Marco,

Questão 3: Realmente, houve durante a história do Cristianismo muitas perseguições a Judeus. Contudo, entre os judeus mortos e perseguidos, a Igreja apenas condenou os judeus convertidos ao cristianismo, por serem hereges. Veja bem: A definição de herege em sí já é algo que só pode ser entendida no contexto cristão, um budista não pode ser um herege, ao menos que ele se converta ao cristianismo e continue seguindo a sua doutrina. Além disso, não podemos confundir as revoltas populares como a do Progrom de Lisboa contra os judeus (1506) como uma atitude deliberada do governo, o anti-semitismo sempre existiu.
Contudo, com efeito, se pegarmos os números da inquisição espanhola que até hoje aterroriza muita gente, foram condenados 2 mil e 500 pessoas (segundo Borromeo), e compararmos aos estudos recentes do historiador judeu Michael Horowitz, que alega que morrem anualmente 150 mil cristãos por perseguição religiosa, especialmente vítimas de regimes ditatorias comunistas e muçulmanos. É revoltante saber que em relação a isso, a mídia não fala nada. Preferindo falar dos assuntos mais absurdos e minúsculos da vida cotidiana ou ainda assuntos de menor relevância contra a Igreja.

Anónimo disse...

Para Marco,

Questão 4: Novamente, como eu disse na questão 1. A Igreja reconhece as outras religiões como: uma preparação evangélica a o Deus desconhecido. Que para os Cristãos não é mais desconhecido visto que ele veio encarnado na figura do Jesus Cristo. Em relação ao dogma “Fora da Igreja não há salvação.”, a Igreja ainda complementa:
Esta afirmação não visa àqueles que, sem culpa, desconhecem o Cristo e sua Igreja. “Deus pode, por caminhos dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem culpa própria ignoram o Evangelho. Pois, ‘sem a fé é impossível agradar-lhe’. Mesmo assim, cabe à Igreja o dever e também o direito sagrado de evangelizar” todos os homens. - Catecismo da Igreja Católica (Pg. 244 – item 847-848)
Em relação à o padre Roger Haight. Vamos a algumas de suas afirmações: ele nega que existam milagres, fato abundantemente testemunhado por milhares de pessoas em centenas de ocasiões; ele nega a trindade, também abundantemente comprovada pela Bíblia; ele nega o papel de Jesus Cristo na salvação do homem, também abundantemente comprovado pela Bíblia. Conclusão: é realmente vergonhoso, saber que entre os Jesuítas que sempre foram vistos como grandes divulgadores do Cristianismo, exista um padre que, ao que tudo indica, nunca tenha lido as escrituras. E o pior, contruiu uma obra inteira que a nega. Acho que a sentença correta foi pouca, o correto mesmo seria a excomunhão deste Padre, pois é evidente que ele não é cristão.

Anónimo disse...

É isso aí, Rafael, contra fatos não há argumentos!
O mais interessante é que que esse pessoal anticatólico, vem defender este Sr. Hans Küng, mesmo a favor da extinção de seu próprio povo. Estão a falar de coisas as quais ignoram completamente:... "eu não sou católico, mas acredito no futuro do cristianismo"... Ora faça-me rir, para que fingir um ar de falsa superioridade? Ora, tenha paciência, a Igreja é uma instituição de dois milênios, lá precisa que infiéis se preocupem com o seu futuro ou com o futuro do cristianismo? Os nossos irmãos europeus, especialmente portugueses, devem, isto sim, se preocuparem com o seu próprio futuro. Aderindo a este discurso da Nova Ordem Mundial, da ONU, da mídia chique, dos socialilstas e comunistas - que defendem o Gayzismo, abortismo, liberação das drogas, controle de natalidade - estão a cavar sua própria sepultura. Veja-se o caso de Portugal: pela primeira vez na História, o número de nascimentos é menor do que o de mortes, ou seja, não estão sendo capazes sequer de garantir a existência das futuras gerações e ainda ficam dando ouvidos a toda esta cultura de morte, absolutamente contrária à defesa radical da vida feita pela Igreja Católica. E o destino da Europa também não vai muito longe.

Marco Oliveira disse...

Rafa,

1. "...não existe nenhum dogma que não tenha surgido como reflexo de um estudo sério das escrituras". Então - só para começar - você pode apresentar alguma justificação nas escrituras para o dogma da ascensão corporal de Maria ao céu?
A citação de Mateus (16:18-19) é uma afirmação da primazia de Pedro; Dizer que se trata da santidade ou exclusividade da Igreja, é uma óbvia deturpação do texto.
A citação de João (14:6) não exclui outras religiões. Apenas afirma a divindade de Cristo. E em nada nessas palavras Jesus se proclama ter o exclusivo da verdade revelada.

2. Se Bento XVI é tão forte a defender o Cristianismo, porque é que se vê cada vez mais católicos descontentes com ele?

3. O Progrom de Lisboa foi incitado por frades dominicanos.
http://ruadajudiaria.com/?p=498
Se fosse uma mera revolta popular, o Cardeal nunca teria pedido desculpa por este acto, nem teria participado na cerimónia evocativa dessa acto.

4. Você insiste sempre em ler a Bíblia literalmente, não é? Porque é que você precisa de milagres para acreditar em Deus? Quantas vezes aparece a palavra "trindade" na Bíblia?

Marco Oliveira disse...

José,
Quando tudo o que é diferente é visto como inimigo ou como ameaça, isso é sinal que você vive num gueto mental.
Abre os olhos para o mundo, rapaz!

betoquintas disse...

excelente texto/tradução.
o Papa recebeu criticas de ao menos 2 congressos em países europeus devido ao seu discurso infeliz na Africa (e tudo indica que países africanos tenham igualmente censurado seu discurso).
existe uma tentativa desesperada do Vaticano em defender/explicar (fazer apologia?), mas o caso é perdido. em alguns países, ateus tem se mobilizado, aproveitando o vácuo deixado pelas declarações papais, para expandir e divulgar suas campanhas. como Pagão, eu espero que tudo isso se encerre com o fim das atividades da ICAR no mundo.