... os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, derrubaram os teus altares e assassinaram os teus profetas. Só eu escapei; mas também a mim me querem matar! (Elias, 1Reis 19:10)
Como todos sabemos, os profetas, têm muitas vezes uma vida curta. Cristo morreu na cruz com 33 anos, depois de ensinar a sua nova Fé durante apenas três anos. Por alguma razão que não compreendemos, os líderes da humanidade costumam reagir mal aos fundadores das grandes religiões do mundo e perseguem-nos terrivelmente. Abraão e Moisés enfrentaram a prisão, o exílio, o escárnio e a perseguição. Krishna e Buda sofreram desprezo e censura oficial. Os líderes da sociedade crucificaram Cristo; declararam guerra a Muhammad; torturaram, exilaram e aprisionaram Bahá'u'lláh; e executaram o Báb.
Já ouviu falar do Báb? Se não, talvez queira saber sobre a Sua mensagem e sobre o que aconteceu a este jovem profeta, que iniciou uma nova Fé progressista no meio de uma das sociedades mais corruptas e atrasadas do mundo. Como consequência, sofreu tremendamente, mas mesmo após a Sua morte trágica, a Fé do Báb abriu caminho para o surgimento global da Fé Bahá’í, tal como João Batista fez para a nova Fé de Jesus.
A sua história começou há menos de dois séculos. O Báb (que significa “Porta” em árabe) iniciou a sua nova Fé em 1844. Surgiu do misticismo profético sufi predominante na Pérsia do século XIX. A mensagem inspiradora do Báb — cujos ensinamentos anunciavam o futuro aparecimento de uma grande revelação mundial — rapidamente se consolidou naquela cultura muçulmana xiita, muito assente na tradição. A princípio, poucas pessoas souberam da existência do Báb, mas depois milhares e dezenas de milhares começaram a tornar-se Bábis, rompendo com as tradições e práticas islâmicas da sua sociedade e desafiando a autoridade dos seus líderes. O rápido crescimento da Fé Bábi abalou os alicerces da sociedade persa.
Os clérigos e os governantes da Pérsia reagiram mal a este novo desenvolvimento religioso, para dizer o mínimo.
Apenas seis anos após o anúncio da nova Fé do Báb, em 1844, o governo Qajar ordenou a execução deste jovem mensageiro profundamente carismático — que tinha então apenas trinta anos. O governo e os clérigos islâmicos já tinham torturado e assassinado cruelmente mais de 20.000 fervorosos seguidores do Báb durante os curtos e intensos seis anos de duração do movimento Bábi. Como o Báb exigia mudanças revolucionárias no sistema predominante de crença e governação religiosa, e porque pregava a unidade de todas as religiões, as autoridades temiam que este novo e dinâmico desafio e o seu crescente apoio os afastassem rapidamente do poder.
Apesar do massacre generalizado contra os Seus seguidores, cada vez mais pessoas continuavam a tornar-se Bábis. Em 1850, receosas da sua crescente influência e desesperadas por esmagar o movimento Bábi, as autoridades decidiram executar o Báb. Quando O acusaram de apostasia — a mesma acusação que os fariseus fizeram contra Jesus —, o Báb rejeitou arrepender-se ou refutar os Seus ensinamentos, aceitando calmamente as consequências.
Depois, a 9 de Julho de 1850, as autoridades Xiitas ordenaram que o Báb fosse executado por fuzilamento na praça de Tabriz, na Pérsia. Um dos jovens seguidores do Báb insistiu em acompanhá-lo na morte, e as autoridades consentiram de bom grado. Uma multidão de dez mil pessoas assistiu dos telhados dos quartéis e das casas junto à praça.
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Sam Khan |
"Segue as tuas instruções", disse o Báb gentilmente ao comandante. "E se a tua intenção for sincera, o Omnipotente poderá certamente livrar-te-á da tua perplexidade."
Quando Sam Khan deu ordem para disparar, os mosquetes deram um estrondo. Um jornalista ocidental que testemunhou o facto relatou que "o fumo dos disparos das setecentas e cinquenta espingardas era tal que transformou a luz do sol do meio-dia em escuridão".
Depois do fumo se ter dissipado, a multidão ficou estupefacta: o Báb tinha desaparecido. O seu jovem e dedicado seguidor permanecia completamente ileso junto ao muro, e as cordas que o prendiam a ele e ao Báb estavam despedaçadas. Incrédula, a multidão começou a gritar que tinha presenciado um milagre. Sam Khan, agora aliviado do seu dilema, ordenou imediatamente aos seus 750 soldados que se afastassem para longe, jurando que nunca mais obedeceria a uma nova ordem, mesmo que isso lhe custasse a própria vida.
Assim que as tropas de Khan abandonaram a praça, o coronel da guarnição de Tabriz ofereceu-se para proceder à execução. Depois de os guardas terem encontrado o Báb na Sua cela, terminando pacificamente uma conversa, levaram-no e amarraram-no mais uma vez, juntamente com o seu jovem seguidor. As Suas palavras finais foram as seguintes:
"Ó geração perversa! Se tivésseis acreditado em Mim, cada um de vós teria seguido o exemplo deste jovem cuja condição é superior à maioria de vós, e de bom grado se teria se sacrificado em Meu caminho. Dia virá em que Me tereis reconhecido; nesse dia, Eu terei deixado de estar convosco." (citado por Shoghi Effendi, God Passes By, p. 53.)
O segundo pelotão de fuzilamento apontou e disparou. Desta vez, a execução foi bem-sucedida.
Os corpos unidos e crivados de balas do Báb e do Seu fiel seguidor — chamado Anis, que significa companheiro próximo — repousam agora sob uma cúpula dourada no Monte Carmelo, em Haifa, Israel. Milhões de pessoas de todo o mundo visitam este local sagrado, e todos os dias o Santuário do Báb proclama a mensagem Bahá’í de unidade, paz, amor e altruísmo ao mundo.
Os Bahá'ís acreditam que o Báb, o Precursor e Arauto da Fé Bahá’í, deu início a um novo ciclo de revelação progressiva para a humanidade. Os Seus novos ensinamentos revolucionários abriram o caminho para a nova mensagem de Bahá’u’lláh, e o Seu sacrifício supremo deu-nos a todos uma nova visão de um mundo unificado.
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Texto original: The Shocking Martyrdom of the Bab (www.bahaiteachings.org)
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