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sábado, 7 de dezembro de 2024

Jesus é Deus? A resposta Bahá'í

Por Maya Bohnhoff.


Ela não era realmente Cristã.” Esta foi a conclusão de um encontro que a minha filha em idade universitária teve com um amigo Cristão, Eli, que conversou com ela e com vários outros estudantes Bahá’ís.

A pessoa em questão (“Ela”) era eu.

A opinião surgiu da curiosidade do Eli sobre como a minha filha se tornou Bahá’í. Ela explicou que nasceu numa família Bahá’í, mas que a sua mãe tinha vindo para a Fé a partir de uma formação Cristã.

O Eli perguntou “Qual era igreja?

A resposta foi “muitas” por causa da forma como a minha mãe se sentia ao ouvir mensagens do púlpito sem fundamento no texto bíblico. Quando eu era criança, a nossa família frequentou igrejas baptistas, católicas, presbiterianas, metodistas, episcopais, congregacionalistas e não denominacionais.

Depois o Eli perguntou: “As igrejas dela ensinavam que Jesus era Deus?

A minha filha disse-lhe que pensava que as minhas igrejas ensinavam que Jesus Cristo era o Filho de Deus, e isso provocou a resposta simples e imediata de Eli de que eu nunca tinha sido realmente Cristã.

Alguns de vós podem pensar que deveria ser uma resposta fácil e imediata. Ou Jesus é Deus, ou não é Deus; e podem pensar que acreditar numa ou noutra é o critério para a salvação. Mas a realidade é que esta certeza binária só existe na distinção entre a realidade espiritual infinita de Deus e a nossa capacidade de a compreender do nosso ponto de vista muito finito, físico – atrevo-me a dizer, materialista.

A resposta que eu teria dado ao Eli se ele me tivesse feito a pergunta directamente é esta: na medida em que podemos compreender Deus, Jesus Cristo é Deus. Na medida em que Deus está santificado acima das limitações humanas, Jesus não é Deus… mas reflecte perfeitamente a realidade divina de Deus porque o seu próprio Espírito — o Espírito que fala no Livro do Apocalipse — é gerado por Deus.

Vejamos a Bíblia para validar isto, começando pelo que Cristo nos diz no Evangelho de João sobre o tipo de Ser que Deus é: “Deus é espírito e os que o adoram devem fazê-lo no Espírito e em verdade.” (4:24)

A Bíblia afirma também na Epístola aos Hebreus (cap. 1) que embora apareça como ser humano, Jesus Cristo é o filho e “imagem expressa” deste Espírito:

Nos tempos antigos, Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos nossos antepassados pelos profetas. Mas agora, que o fim está perto, falou-nos por meio do seu Filho. Foi por meio dele que Deus criou o Universo… Ele é o reflexo da glória de Deus e a imagem perfeita da sua pessoa... ele tomou o seu lugar no trono celeste à direita da majestade divina.

A maioria das traduções portuguesas da Bíblia diz que Cristo é “o reflexo da glória de Deus”. Não é uma descrição que sugira sequer que Deus, a derradeira realidade espiritual, deixou o reino espiritual e desceu literalmente a um corpo humano, ou que o Infinito se tornou finito. Na verdade, todas as traduções mantêm Deus no “céu” ao descreverem Cristo como um selo, uma marca, uma expressão, um reflexo do Espírito de Deus em forma humana.

Quando fui confrontada com a Fé Bahá'í aos 19 anos, naturalmente refugiei-me nas minhas próprias Escrituras Cristãs para lidar com as suas implicações. Fiquei impressionada com a forma como Bahá’u’lláh explicou aquilo que o autor da Epístola aos Hebreus lutou por captar – a natureza divina, mas humana, de Cristo. Eis uma dessas passagens, do Livro da Certeza de Bahá’u’lláh:

Assim, estando a porta do conhecimento do Ancião dos Dias fechada perante a face de todos os seres, a Fonte da graça infinita… fez surgir aquelas Joias luminosas da Santidade vindas do reino do espírito, na forma nobre do templo humano, e manifestarem-se a todos os homens, para pudessem transmitir ao mundo os mistérios do Ser imutável... Estes Espelhos santificados, estes Alvoreceres da antiga glória, são, cada um e todos, os Expoentes na terra d’Aquele que é o Orbe central do universo, a Sua Essência e o Seu Propósito derradeiro. Dele provêm os seus conhecimentos e o poder; d’Ele deriva a sua soberania. A beleza dos seus semblantes é apenas um reflexo da Sua imagem, e a Sua revelação, um sinal da Sua glória imortal. … Estes Tabernáculos da Santidade, estes Espelhos primordiais que reflectem a luz da glória inextinguível, são apenas expressões d’Aquele que é o Invisível dos Invisíveis. Com a revelação dessas Joias de virtude Divina todos os nomes e atributos de Deus, como conhecimento e poder, soberania e domínio, misericórdia e sabedoria, glória, bênção e graça, tornam-se manifestos. (¶106, ¶110)

Aqui, Bahá'u'lláh descreve os Eleitos que Deus envia para nos guiar como espelhos perfeitos apontados directamente para a Luz Primordial, reflectindo a realidade espiritual de Deus de tal forma que possamos reconhecê-la, e voltar os espelhos dos nossos próprios corações para ela. O agente pelo qual esta Luz Grandiosa se reflecte no espelho de carne e sangue é o Espírito Santo.

Com esta descrição, Bahá’u’lláh afirma as palavras que Cristo e os Seus discípulos usaram para explicar a união da divindade e da humanidade que Ele representava. No Jardim do Getsémani, Cristo orou ao Seu divino Pai com estas palavras: “Manifestei o Teu nome aos homens que do mundo Me deste; eram Teus, e Tu mos deste, e guardaram a Tua palavra.” (Jo 17:6)

E na 2ª Epístola aos Coríntios, o apóstolo Paulo também escreveu sobre esta relação entre Deus e Cristo:

Ora o Senhor Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas, todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. (3:17-18)

A mensagem de Paulo é clara: ao contemplar a glória de Deus no espelho de Jesus Cristo, os próprios crentes são transformados em reflectores (embora imperfeitos) das qualidades divinas de Cristo. Esta é a mesma analogia que Bahá’u’lláh sobre o “mistério” da manifestação divina: o espelho humano reflecte a glória do Espírito que é Deus.

Chegamos agora a uma diferença crucial na forma como o Eli e eu entendemos a relação de Cristo com Deus. Eli acredita, como eu já acreditei, que o Espírito de Cristo se manifestou apenas uma vez em toda a tormentosa história da humanidade. Manifestou-Se apenas numa pequena região capturada rapidamente pelas garras do Império Romano. Manifestou-Se por um breve período de três anos entre milhões de anos. Apenas alguns indivíduos foram agraciados com a Sua presença. Aqueles que viviam outras partes do mundo – Índia, Américas, Europa e Ásia – viveram e morreram nas trevas, fora do alcance da luz de Cristo.

Pior do que isso: não receberam qualquer manifestação do Ser a quem Bahá’u’lláh chama “o Orbe Central do Universo”, e a quem Jesus Cristo retrata como o Pai amoroso e omnipotente de todos, e foram deixados a inventar os seus próprios deuses, e por esse motivo as suas almas foram para o inferno (conforme me ensinaram). Isto, apesar do facto de que o seu Grande Espírito ou Espírito Supremo ou Ahura Mazda ou o Absoluto ou Aten-Amen-Ra ou Allah terem uma notável semelhança com o Deus que, por qualquer razão, não os guiou nem Se manifestou a eles.

Esta foi a minha grande questão sem resposta, que levei comigo de igreja em igreja. Era uma questão que colocava o Deus que Cristo revela no Evangelho de Mateus (cap. 7) contra o Deus do púlpito; e isso perturbava-me, perseguia-me: Como poderia o Deus que Cristo revelou fazer o que uma tantos pastores e sacerdotes afirmaram que Ele tinha feito – privar milhões dos Seus filhos humanos da generosidade da Sua palavra, da Sua orientação e do Seu amor porque nasceram no lugar errado e num momento errado?

Penso que esta questão merece uma resposta.

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Texto original: Is Jesus God? A Baha’i Answers (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sábado, 28 de setembro de 2024

O Verdadeiro Significado da Parábola do Bom Samaritano

Por Maya Bohnhoff.


Num website inter-religioso, uma ensaísta criticou o envolvimento Bahá’í com as Nações Unidas, com base no que ela entendia serem os ensinamentos Bahá’ís sobre como e quem criaria a unidade e a paz mundiais.

A sua crítica – baseada em várias percepções erradas, sobre o que a Fé Bahá’í ensina, e sobre o que Cristo ensinou – merece uma resposta.

No seu texto, a mulher a quem chamarei “Jen” explicou, erradamente, aquilo que pensava serem crenças Bahá’ís. Dizia:

... não deve haver tolerância para com as instituições e iniciativas educativas, ou políticas e programas de comunicação social que promovam atitudes e comportamentos intolerantes. Lembremo-nos que, fazer proselitismo, reivindicar um caminho exclusivo para a salvação, ou condenar um estilo de vida como a homossexualidade é considerado intolerante; isto aplicar-se-ia às escolas religiosas privadas e muito possivelmente às igrejas.

Ela não citou qualquer fonte para estas ideias, mas lembrei-lhe o que tinha dito anteriormente, que as leis Bahá’ís se aplicam apenas aos Bahá’ís e nunca devem ser impostas a mais ninguém. Isto está de acordo com um padrão que existe em todas as religiões reveladas, e é uma extensão lógica dos dois maiores Mandamentos dados por Moisés e Cristo. Em Mateus 22:35-40, Cristo esclareceu a resposta:

«...Mestre, qual é o mandamento mais importante da lei?» Jesus respondeu-lhe: «Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a alma e com todo o entendimento. Este é que é o primeiro e o mais importante dos mandamentos. O segundo é semelhante a este: Ama o teu próximo como a ti mesmo. O essencial de todo o ensino da lei e dos profetas está nestes dois mandamentos.»

Em Lucas 10:25-37, Cristo invocou de forma notável este mandamento para responder a uma questão profunda: Como posso alcançar a vida eterna? Depois de assegurar ao jovem questionador que a vida eterna é herdada pela obediência ao Maior Mandamento – “Faz isto e viverás” – Cristo prosseguiu com um exemplo em que a tolerância para com as diferenças extremas é central. Contou a história de um judeu ferido que, depois de ser ignorado por dois sacerdotes judeus, é resgatado por um odiado samaritano. Nessa época, os judeus e os samaritanos acreditavam ser o Povo Eleito e tinham tolerância zero entre si. No entanto, Cristo descreve o samaritano salvando a vida do judeu.

Uma das características principais desta história é que, embora as razões para os sacerdotes evitarem o contacto com o homem ferido sejam a pureza ritual e doutrinal, nem o judeu resgatado nem o seu salvador falam ao outro sobre a intolerância ancestral ou instam o outro a arrepender-se e a converter-se. Não há sermões, apenas compaixão – uma compaixão que está, como Cristo sublinha, em conflito com a lei religiosa judaica.

Na Parábola do Bom Samaritano, Jesus não está apenas a promover a tolerância para com as diferenças de visão do mundo, religião, crenças morais ou etnia. Ele está a dizer ao jovem estudioso – e, por extensão, a qualquer pessoa que o siga – para não só tolerar, mas amar esse próximo, a quem podem considerar pecador, ou apóstata, ou herege, ou impuro.

Pedi à Jen que compreendesse que os Bahá’ís estão tão dedicados a proteger as suas crenças da intolerância como se fossem as nossas. Reparei que ela tinha citado uma declaração Bahá’í na ONU que menciona: “…uma profunda transformação nas atitudes e nos comportamentos”. As atitudes e os comportamentos só podem ser transformados através de uma mudança de coração, e uma mudança de coração deve vir do desejo do indivíduo de mudar. Não pode ser provocado por uma força exterior. Recorde a afirmação do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 3:18 de que:

Todos nós, porém, estamos de rosto descoberto e, como um espelho, somos um reflexo da glória do Senhor. Transformamo-nos assim numa imagem dele, com um brilho cada vez maior…

Esta é uma das muitas razões pelas quais a Comunidade Internacional Bahá’í trabalha em todas as organizações internacionais para garantir pacificamente a tolerância religiosa – tanto para os cristãos, como para qualquer outro grupo. Como os Bahá’ís são perseguidos pelas suas crenças em vários países, sabemos por experiência própria o quão dolorosa e mortal pode ser a intolerância religiosa.

Nas suas observações, Jen também parafraseou uma “proposta bahá’í” dizendo: “apenas os líderes religiosos que deixam claro aos seus seguidores que o preconceito, a intolerância e a violência não têm lugar na vida de uma pessoa religiosa devem ser convidados a participar do trabalho deste organismo.” Não ficou claro o que ela queria dizer com “este organismo”, e achei os seus comentários paradoxais porque implicavam que ela pensava que, para ser crente em Jesus, é preciso tolerar o preconceito, a intolerância e a violência em seu nome.

“Espero que não acredites nisto”, disse-lhe, e expliquei que a declaração Bahá’í significa simplesmente o que diz: que qualquer trabalho realizado ao serviço da unificação da humanidade não pode ter esperança de sucesso se for feito num espírito de preconceito, intolerância e violência.

Jesus Cristo deixou à humanidade instruções muito específicas sobre como viver de acordo com os Seus ensinamentos, como nesta passagem de Lucas 6:27-39:

Digo a todos os que me estão a ouvir: amem os vossos inimigos e façam bem a quem vos odeia. Abençoem quem vos amaldiçoa e orem por aqueles que vos tratam mal. Ao que te bater num lado da cara, deixa-o bater também no outro... Se amarem apenas aqueles que vos amam, que recompensa poderão esperar de Deus? Até os pecadores têm amor àqueles que os amam. Se fizerem bem somente aos que vos fazem bem, que recompensa poderão esperar? Até os pecadores procedem assim... Vocês, pelo contrário, tenham amor aos vossos inimigos, façam-lhes bem, e emprestem sem nada esperar em troca. Assim, receberão grande recompensa e serão filhos do Deus altíssimo, porque ele é bom até para as pessoas ingratas e más. Sejam misericordiosos como também o vosso Pai é misericordioso.» «Não julguem e não serão julgados. Não condenem e não serão condenados. Perdoem e serão perdoados... Pois a medida que usarem para os outros será usada também para convosco.

Este espírito — o espírito de Cristo — ecoa de época em época, encontrando expressão cada vez mais enfática e explícita nos ensinamentos Bahá'ís:

Agi de acordo com os conselhos do Senhor: isto é, levantai-vos (…) com aquelas qualidades que dotam o corpo deste mundo de uma alma vivente, e levam esta criança, a humanidade, à fase da idade adulta. Tanto quanto puderem, acendam uma vela de amor em cada reunião e, com ternura, regozijem-se e animem cada coração. Cuidai do estranho como se fosse um dos vossos; mostrai às almas estranhas a mesma bondade amorosa que concedeis aos seus amigos fiéis. Se alguém vos agredir, procurai ser seu amigo; se alguém vos apunhalar no coração, sede um bálsamo curativo para as suas feridas; se alguém vos provocar e troçar de vós, respondei-lhe com amor…. Talvez esses modos e palavras vindas de vós façam com que esta terra poeirenta se torne celestial... para que a guerra e o conflito cessem e não existam mais, e o amor e a confiança instalem as suas tendas nos cumes do mundo. Essa é a essência das advertências de Deus... (Selections from the Writings of ‘Abdu’l‑Bahá, #16)

À luz destas referências, a afirmação de Jen sobre a tolerância fez-me pensar, levando-me a perguntar: se o Espírito de Cristo é amor - mesmo pelos nossos inimigos e por aqueles que nos sentimos inclinados a desprezar - não serão a intolerância e o ódio o espírito do anticristo?

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Texto original: What the Parable of the Good Samaritan Really Means (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

domingo, 21 de julho de 2024

Bahá'u'lláh: o “Espírito da Verdade” prometido por Jesus Cristo

Por Brent Poirier.
 

Os ensinamentos Bahá'ís oferecem à humanidade uma grande dádiva com a clarificação dos significados das Escrituras judaico-cristãs - e o cumprimento das suas promessas e profecias.

Apenas a título de exemplo, a revelação Bahá’í explica e cumpre a singular promessa de Cristo no Evangelho de João: “Quando vier o Espírito da verdade, Ele vai guiar-vos em toda a verdade”. (16:13)

Para percebermos como Deus promete e cumpre o aparecimento de um novo mensageiro divino, vejamos uma promessa na Bíblia Hebraica e o seu cumprimento no Evangelho. Nas seguintes palavras ditas por Deus a Moisés, vemos a terminologia que Deus utiliza para prometer o aparecimento de um futuro profeta, descrevendo a relação entre esse profeta e a Divindade. O Livro do Deuteronómio, versículo 18:18 diz: “Hei de fazer surgir, no meio deles e dentre os seus compatriotas, um profeta semelhante a ti. Hei de dar-lhe a conhecer a minha palavra e ele há de dar-vos a conhecer tudo o que eu lhe mandar.”.

Note-se aqui a relação entre o Criador e o Seu profeta: Deus colocará as Suas palavras na boca do profeta, e o profeta falará como Deus ordena. Este versículo do Deuteronómio é entendido pelos cristãos como uma profecia de Jesus Cristo. Veja como o profeta é predito neste versículo e compare-o com estas palavras de Jesus Cristo em João 12:49-50, cumprindo esta profecia e descrevendo a fonte da revelação de Cristo:

É que eu não falo por minha autoridade. O Pai que me enviou deu-me ordens sobre o que devia dizer e ensinar. E eu sei que aquilo que o Pai me ordena dá a vida eterna. Portanto, as coisas que eu digo tenho que as dizer como o Pai mas comunicou.

Comparando estes versículos, Jesus confirmou que a sua relação com Deus, o Pai, é exatamente como profetizada no Deuteronómio – que Deus coloca as Suas palavras na boca de Jesus e ordena a Cristo o que deve dizer.

Comparemos agora esta profecia de Jesus sobre aquele que virá depois dele, revelada em João 16:13 exactamente com o mesmo espírito:

Quando vier o Espírito da Verdade, Ele vai guiar-vos em toda a verdade. É que ele não falará por si próprio, mas comunicará o que lhe disserem e anunciar-vos-á as coisas que ainda estão para acontecer. Ele vos manifestará a minha glória…

Nos ensinamentos Bahá'ís, 'Abdu'l-Bahá interpreta estas palavras de Jesus, afirmando:

Agora considerai cuidadosamente o que a partir destas palavras, ‘ele não falará por si próprio, mas comunicará o que lhe disserem’, é claro que o Espírito da Verdade está corporizado num Homem que tem individualidade, que tem ouvidos para ouvir e uma língua para falar.

Assim, o Espírito da Verdade é uma pessoa, e não apenas a aparição do Espírito Santo a inspirar os discípulos no Pentecostes.

Bahá’u’lláh escreveu na Sua Epístola aos Cristãos que cumpriu esta promessa profética:

Em verdade, Aquele que é o Espírito da Verdade veio guiar-vos para toda a verdade. Ele não fala impelido pelo Seu próprio Ser, mas a mando d’Aquele que é o Omnisciente, o Sapientíssimo. Dize: este é Aquele que glorificou o Filho e exaltou a Sua Causa.

Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá’í, disse que Bahá’u’lláh cumpriu esta aliança estabelecida por Jesus Cristo:

...em diversas passagens dirigidas a todo o corpo dos seguidores de Jesus Cristo [Bahá’u’lláh] identifica-se com o “Pai” de que fala Isaías, com o “Consolador” Cuja Aliança Aquele que é o Espírito [Jesus] tinha Ele próprio estabelecido, e com o “Espírito da Verdade” que os guiará “para toda a verdade”...

Shoghi Effendi também escreveu:

Não foi o próprio Cristo que, dirigindo-se aos Seus discípulos, proferiu estas palavras: “Ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora. Contudo, quando Ele, o Espírito da Verdade, vier, irá guiar-vos em toda a verdade”? A partir… das palavras de Cristo, tal como atestadas pelo Evangelho, qualquer observador sem imparcial perceberá prontamente a magnitude da Fé que Bahá’u’lláh revelou, e reconhecerá o peso impressionante da afirmação que Ele fez…

É nosso dever ponderar estas coisas no nosso coração, esforçarmo-nos por alargar a nossa visão e aprofundar a nossa compreensão desta Causa, e levantarmo-nos, resolutamente e sem reservas, para desempenhar o nosso papel, por mais pequeno que seja, neste maior drama do mundo da história espiritual do mundo.

Bahá’u’lláh revelou estas palavras na sua última grande obra, dirigida a um clérigo muçulmano que perseguiu a comunidade Bahá’í na Pérsia do século XIX:

Em resumo, nas palavras d’Aquele que é o Espírito [Jesus], jazem ocultos inúmeros significados. Ele falou de muitas coisas, mas como não encontrou ninguém que possuísse ouvidos que ouvissem ou olhos que vissem, optou por ocultar a maior parte dessas coisas. Por isso Ele disse: “Mas vós não as podeis suportar agora”. Este Alvorecer da Revelação diz que nesse Dia Aquele que é o Prometido revelará as coisas que estão para vir. Do mesmo modo, no [Livro Sagrado] e nas Epístolas aos Reis... a maior parte das coisas que aconteceram nesta terra foram anunciadas e profetizadas pela Pena Mais Sublime.

O que é que Jesus Cristo poderia ter revelado, mas a humanidade não poderia suportar? Que novos ensinamentos trouxe Bahá’u’lláh que não estão no Evangelho?

Embora Cristo tenha dirigido os Seus ensinamentos ao indivíduo e não tenha fornecido orientação específica na condução das relações internacionais, a revelação de Bahá’u’lláh oferece uma orientação divina destinada a unificar os povos e as nações do mundo. Shoghi Effendi escreveu que a “… mensagem da Fé Bahá’í é aplicável não apenas ao indivíduo, mas preocupa-se principalmente com a natureza das relações essenciais que devem unir todos os estados e nações como membros de uma família humana”.

Entre os muitos exemplos dessa orientação da nova revelação de Bahá’u’lláh estão as Suas Epístolas aos monarcas e governantes do Seu tempo, primeiro colectivamente na Sua Epístola aos Reis. Mais tarde, Bahá’u’lláh dirigiu-se a vários monarcas individuais, incluindo a Sua Epístola à Rainha Vitória, que inclui as Suas orientações aos monarcas da Terra para estabelecerem um sistema de segurança colectiva:

Ó Governantes da terra! Reconciliai-vos para que não necessiteis mais de armamentos salvo na medida do que for necessário para a protecção dos vossos territórios e domínios. Acautelai-vos para não menosprezar o conselho do Omnisciente, o Fiel. Uni-vos, ó reis da terra, pois assim a tempestade da discórdia acalmar-se-á entre vós e os vossos povos encontrarão sossego, se sois dos que compreendem. Se alguém entre vós levantar armas contra outro, levantai-vos todos contra ele, pois isso não é senão justiça manifesta. (Súriy-i-Haykal, ¶181-182)

A orientação de Cristo sobre a conduta pessoal para com um inimigo exorta-nos a mostrar bondade, a retribuir o bem pelo mal feito, a dar a outra face e a “pôr de lado a espada”. Hoje, porém, uma tal conduta de um chefe de Estado em relação a uma nação agressora seria contraproducente. A orientação de Bahá’u’lláh para o conjunto das nações do mundo é a de se levantarem contra qualquer governo que ameace a paz – utilizando a força económica ou militar colectiva. Jesus dirigiu-Se ao indivíduo, enquanto Bahá’u’lláh Se dirigiu às nações e também ao indivíduo.

Se desejar mais informações sobre o plano Bahá’í para a paz global, encontrará a orientação de Bahá’u’lláh sobre o estabelecimento da paz resumida na notável mensagem de 1985 dirigida aos povos do mundo pela Casa Universal de Justiça - denominada A Promessa da Paz Mundial.

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Texto original em inglês: Baha’u’llah: the “Spirit of Truth” Promised by Jesus Christ (www.bahaiteachings.org)


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Brent Poirier nasceu numa família católica e frequentou o seminário, antes de se formar na Loyola Marymount University. Advogado de profissão, tem trabalhado em escolas de verão bahá'ís em várias funções, inclusive como bibliotecário.

sábado, 8 de junho de 2024

Existe um Povo Eleito?

Por Maya Bohnhoff.


Será que Deus tem um povo eleito? Se sim, porquê? Este foi mais um tema da conversa com o meu amigo online Epi, uma Testemunha de Jeová.

Ele continua a acreditar que houve um mestre verdadeiramente divino na história do mundo (Jesus Cristo), uma Sagrada Escritura (os 66 livros da Bíblia Protestante traduzidos pela Sociedade Torre de Vigia), e um povo eleito (os Judeus, os Cristãos, e agora, as Testemunhas de Jeová).

Observei que o conceito de um povo eleito que tem o exclusivo protecção, alimentação e educação divina (espiritualmente falando) vai contra os ensinamentos reais de Cristo, conforme revelados nos Evangelhos – especificamente no Sermão da Montanha.

Mas Epi estava inflexível: os Judeus, os Cristãos e as Testemunhas de Jeová são o povo eleito, dizia ele, e só pode haver um profeta e um povo eleito.

Ironicamente, foi exactamente por isso que os fariseus rejeitaram Cristo.

Para eles, havia apenas um profeta que as Escrituras mencionavam como tendo visto a Face ou Forma de Deus – Moisés. No entanto, ali estava Jesus de Nazaré, um humilde carpinteiro, que afirmava ter a mesma relação com Deus. Pior ainda, ele estava a interpretar e acrescentar as Suas próprias ideias aos ensinamentos divinos e transmitindo-os a todos – até mesmo, imagine-se, aos samaritanos!

Cristo nunca falou de um povo eleito. Em vez disso, Ele deixa claro no Sermão da Montanha (especificamente Mateus 7) que Deus dará alimento espiritual para todos os Seus filhos, não lhes dará coisas que não os nutrirão (uma pedra em vez de pão) ou que lhes sejam prejudiciais (uma cobra em vez de um peixe). Nessas mesmas palavras, Ele também diz ao seu público que eles têm a capacidade espiritual de distinguir o bem do mal.

Então, em quem podemos acreditar? Nos patriarcas judeus ou em Cristo? Eu acredito em Cristo.

Epi respondeu: o motivo pelo qual Jeová escolheu a nação (que veio) de Abraão foi porque Abraão era o único que fazia o que estava correcto aos olhos de Deus. Todas as outras pessoas no mundo não faziam.

Isto introduz um dilema mais profundo. Que “razão” válida pode Deus ter para violar a Sua própria natureza e os Seus ensinamentos espirituais evidentes?

Depois de revelar a natureza de Deus como um pai mais amoroso e perfeito do que qualquer ser humano, Cristo fala sobre como distinguir a verdade da falsidade. A medida que Ele usa é “pelos seus frutos os conhecereis”. Se isso é verdade para os seres humanos, quanto mais deve ser verdade para Aquele que deu essa orientação? Estás preparado para acreditar que o fruto do comportamento de Deus é o engano?

Qual é a minha conclusão? Estas parecem ser as escolhas diante de nós:
  • Deus intencionalmente não deu orientação a grandes grupos humanos e teve um comportamento que levaria um pai humano a ser preso. Então, como podemos entender as afirmações de Cristo sobre as qualidades essenciais de Deus?
  • Deus é o Pai amoroso que Cristo descreveu, e os seres humanos erraram e estão, para citar Cristo, “ensinando doutrinas que são mandamentos de homens” (Marcos 7:7). Estamos a construir a nossa compreensão da fé não na palavra de Deus, mas nos nossos próprios padrões imperfeitos de comportamento.
Qual destas opções é verdadeira? Essas são as únicas duas possibilidades que consigo ver. Conseguem ver outra opção?

Por favor, entende que eu não estou a rejeitar a Bíblia. Estou a rejeitar uma interpretação humana particular da Bíblia. Estou sugerindo que se as palavras de Cristo são verdadeiras - como os Bahá'ís acreditam que são - então nós, humanos, temos de entender o conceito de “eleito” (e muitas outras coisas) de uma maneira muito diferente.

Tu dizes que esses muitos milhões de almas que não conheceram Moisés ou Cristo sofreram ao ter de viver numas trevas espirituais. Elas ignoravam a vontade de Deus, não por escolha própria, mas apenas porque não viviam no lugar certo, na hora certa. No entanto, em vez de lhes transmitir a Sua vontade, Deus decidiu puni-las pelo seu infortúnio, ignorando-as durante milénios. E seguindo esse raciocínio, Ele até permitiu que profetas falsos usassem os Seus próprios ensinamentos para enganar os seres humanos, defendendo a mesma devoção a Deus e o mesmo amor aos seus semelhantes que Moisés e Jesus ensinaram.

Isso parece-te correcto? Um pai humano trataria uma criança ignorante dessa maneira, especialmente se a criança lhe pedisse para aprender alguma coisa? Um pai amoroso iria colocar a criança na escola para adquirir conhecimento através dos professores?

Então, repito — usando a Palavra de Cristo como modelo — se Deus é quem Cristo revela, Ele não deixaria essas pessoas sem a Sua orientação. Não seria justo, nem misericordioso; e também seria contrário à revelação de Cristo.

Eu também pergunto o que significa ser “eleito”. Acho que Cristo resume isso concisamente em Marcos 2:17 quando diz aos fariseus: “'Jesus, ao ouvir aquilo, respondeu-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Ora eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.» Os eleitos de Cristo não eram os virtuosos e os cultos; eram os incultos, os pobres, os espiritualmente doentes, os orgulhosos, os materialistas.

Olha para a história: não vês que os mensageiros de Deus levam a Sua luz aos mais necessitados — àqueles que vivem nas mais profundas trevas? É ao elevar o mais baixo da humanidade que Ele prova o poder das Suas palavras.

'Abdu'l-Bahá, o filho mais velho de Bahá’u’lláh e o centro da Sua Aliança, expressa essa ideia numa oração Bahá’í que Ele revelou. Ele pergunta:

Como posso ter sucesso a menos que Tu me ajudes com o sopro do Espírito Santo, me ajudes a triunfar com hostes do Teu glorioso reino, e derrames sobre mim as Tuas confirmações, as quais só por si podem transformar um mosquito numa águia, uma gota de água em rios e mares, e um átomo em luzes e sóis?

Espero que a conversa com o meu amigo Testemunha de Jeová Epi lhe tenha dado uma percepção maior do significado dessas luzes e desses sóis.

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Texto original: Is There Only One Chosen People? (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sábado, 1 de junho de 2024

A Pedra de Toque das Escrituras Cristãs

Por Maya Bohnhoff.


O meu amigo Epi, uma Testemunha de Jeová, não tinha certeza do que fazer com nosso diálogo prolongado sobre as Escrituras. Ele continuava a insistir que apenas Jesus de Nazaré era um profeta; todos os outros eram falsos. Como Bahá’í, discordei firmemente.

Os ensinamentos Bahá'ís dizem claramente que os profetas de Deus - os fundadores das grandes religiões mundiais - estão ligados numa grande corrente de revelação progressiva, formando uma sucessão de mensageiros divinos, todos eles funcionando como um corpo docente de educadores para toda a raça humana. Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá’í, escreveu:

Contempla com a tua visão interior a cadeia de Revelações sucessivas... Dou testemunho perante Deus que cada um desses Manifestantes foi enviado através da operação da Vontade e Propósito Divinos, que cada um foi portador de uma Mensagem específica, que a cada um foi confiado um Livro divinamente revelado, e encarregado de desvendar os mistérios de uma Epístola poderosa. A medida da Revelação com a qual cada um deles foi identificado foi definitivamente predestinada. Isto, em verdade, é um sinal do Nosso favor para eles, se sois daqueles que compreendem esta verdade...

Além disso, o meu amigo Epi criticou o meu uso de um certo trecho para enfatizar na forma como lemos e interpretamos as Escrituras. O trecho era este: “Estudam as Escrituras com muita atenção e julgam encontrar nelas a vida eterna. Contudo as próprias Escrituras falam de mim. E, apesar disso, não querem seguir-me para terem a vida eterna.” (João 5:38-40)

Epi respondeu que João 5:38-40 é sobre atitude ao estudar as Escrituras. Estás a estudá-las para definir a tua própria agenda ou estás a estudar para aprender os caminhos de Deus? Ele (Jesus) estava a conversar com os fariseus.

Concordei que se tratava de atitude – a atitude que se adopta em relação à nossa própria compreensão das Escrituras. Acho que você pode ver isso claramente no contexto dos versículos seguintes, onde Cristo diz aos fariseus:

Se acreditassem naquilo que Moisés disse, acreditariam também em mim, pois Moisés escreveu a meu respeito. Mas se não acreditam naquilo que ele escreveu, como podem crer naquilo que eu vos digo? (Jo 5: 46-47)

Aqui, Cristo diz explicitamente que se eles realmente entendessem as suas próprias Escrituras, veriam que Moisés estava a falar sobre o próprio Jesus Cristo. O trecho específico a que Cristo se refere é este, onde Moisés diz: “O Senhor, vosso Deus, há de dar-vos sempre um profeta como eu, escolhido entre os vossos compatriotas.” (Dt 18:15) Os fariseus não perceberam o advento de Cristo devido à forma como interpretavam as suas próprias Escrituras.

Ao longo da minha vida, durante a minha própria busca espiritual, estive prestes a rejeitar Bahá’u’lláh pela mesma razão que os fariseus rejeitaram Cristo.

Epi perguntou-me então: Porque é que lês Bíblia? Qual é o teu objectivo?

Tal como todos os Bahá’ís, acredito que os livros da Bíblia — especialmente os ensinamentos de Cristo — fazem parte da revelação de Deus à humanidade. Estudei a Bíblia quando era criança, da maneira que os meus pais e pastores me ensinaram. Memorizei alguns excertos e ouvi sermões baseados neles. Quando fui confrontada com Bahá’u’lláh, estudei-a novamente, utilizando-a como padrão na minha tentativa de provar ou refutar os ensinamentos Bahá'ís. À medida que a minha busca avançava, comecei a entender a Bíblia como sendo uma parte do registo espiritual de toda a raça humana, e não a totalidade. Tal como Paulo escreve: “Mas agora sabemos em parte...”

Hoje, eu estudo a Bíblia porque ela elucida e é elucidada por outras Escrituras. Estudo-a porque encontro nela evidências de um Deus eterno e amoroso que alimentou, vestiu e educou espiritualmente a humanidade em todas as épocas. Estudo-a porque fala de Cristo, de Moisés e de Bahá’u’lláh, e através deles, de Deus, a quem amo.

Mas acho, Epi, que parte da tua pergunta é a forma como leio as Escrituras e aquilo que me leva a conclusões das quais tu discordas veementemente. Em cada Escritura, há trechos-chave que elucidam o resto. Esses trechos, acredito, são “pedras de toque” que devem ser consultadas sempre que surgir uma questão sobre significado ou aplicação. No Evangelho, algumas desses trechos são:
  • Mateus 7:7-13, em que Jesus revela aquilo que chamamos a Regra de Ouro e diz que ela é a síntese da Lei e dos Profetas.
  • Mateus 22,37-40, em que Cristo reafirma os dois maiores e inseparáveis mandamentos que resumem a Lei e os Profetas: amar a Deus e amar os outros como amamos a nós próprios (aqui, Jesus está reafirmando as palavras de Moisés).
  • João 15, onde Cristo lembra aos discípulos que eles não podem dar frutos a menos que permaneçam no Seu amor, e depois diz-lhes que a única maneira de fazer isso é obedecer ao Seu mandamento de nos amarmos uns aos outros tal como Ele os amou. Esta é a última coisa que Cristo lhes diz antes de ir para a cruz – e repete-a várias vezes.
  • Lucas 10:25-37, em que um estudioso da lei judaica faz a Cristo uma pergunta fundamental de fé: “O que devo fazer para herdar a vida eterna?” Cristo estabelece novamente os Maiores Mandamentos gémeos, como resposta. “Faz isto e viverás”, diz Cristo, e depois ilustra o que isso significa contando a parábola do Bom Samaritano. Tenho a certeza que conhece o significado desse exemplo: um judeu é recolhido por um samaritano, embora estes dois grupos tenham estado separados devido a um ódio antigo baseado nas suas diferenças de religião.
Devido à forma como Jesus Cristo repete e acentua estes ensinamentos específicos, porque Ele escolheu estes ensinamentos para enfatizar na noite em que enfrentou a morte, e porque Ele salienta a sua primazia, não tenho outra solução senão reconhecer a sua importância suprema.

Estas são as pedras de toque: as restantes escrituras devem ser lidas à luz delas. Se parece que há contradição entre versículos diferentes, então estas palavras de Cristo dir-me-ão como esses versículos devem ser entendidos. Além disso, se uma interpretação humana de um versículo das Escrituras viola esses ensinamentos, então não pode estar correta.

Agora, vejamos a ideia de que Deus deixou milhares de milhões de almas na ignorância — e pior, deixou-as ser enganadas por falsos profetas que vieram com os mesmos ensinamentos essenciais que Cristo trouxe. Aqui estão as palavras de Krishna, do Bhagavad Gita 8:22, sobre a importância da obediência ao mandamento do amor: “Este Espírito Supremo... é alcançado por um amor eterno. Nele todas as coisas têm vida, e dele todas as coisas vieram.”

Recorde-se que, em Mateus 7, Jesus ensina como nos devemos comportar com os outros – Ele usa o comportamento de Deus como modelo. Ele diz que se alguém pedir pão, Deus não lhe dará uma pedra. Duvido que Ele esteja falando de pão físico aqui, mas sim do Pão da Vida, que é muito mais importante. Depois de afirmar estas coisas, Jesus diz: “Ora se vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem!”

Vejamos novamente esta pedra de toque, porque vale a pena repetir: se um pai humano alimentasse, vestisse e educasse apenas um filho e deixasse os outros passarem fome, ficaram nus e ignorantes, consideraríamos esse comportamento criminoso. Nenhum pai amoroso trataria os seus filhos dessa maneira. Como podemos acreditar que Deus faria isso? Podemos acreditar que o Deus de Cristo escolheu um “filho favorito” para guiar, e negligenciou completamente os Seus outros filhos, permitindo que fossem vítimas de impostores astutos?

Admito que antigamente acreditei nisso. Mas percebi que as minhas crenças estavam em contradição com os princípios claros dos ensinamentos de Cristo. Eu sabia que eu, e muitos outros, tínhamos interpretado mal as Escrituras bíblicas de uma forma que se tornava “agradável aos nossos ouvidos”, como disse S. Paulo. A salvação desta situação infeliz estava nas palavras do próprio Cristo, tão brilhante quanto o sol. Quando finalmente li a Bíblia à luz dos ensinamentos que o próprio Cristo enfatizou inequivocamente, todo a contradição foi resolvida.

Tento ler todas as Escrituras no contexto desses ensinamentos-chave – aqueles que receberam ênfase especial de Cristo, de Buda, de Moisés, de Bahá’u’lláh – e não de seres humanos.

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Texto original: The Central Touchstones in Christian Scripture (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sábado, 25 de maio de 2024

Será o Cristianismo a única religião verdadeira?

Por Maya Bohnhoff.


Durante os diálogos com o meu amigo online Epignose, uma Testemunha de Jeová, falámos daquilo a Bíblia dizia sobre “outras” religiões, através dos tempos, até Noé.

Epi afirmava que no tempo de Noé todas as outras religiões eram falsas. Isso levantava-me muitas questões; então perguntei-lhe.

Será que isto significa que quando Abraão apareceu, a fé de Noé tornou-se falsa? Ou que quando Cristo veio, Moisés tornou-se um falso profeta? Acho que concordarás que não é o caso. Então, porque é que Krishna e Buda se tornariam falsos com o advento de Cristo?

Tu acreditas que as pessoas que viviam na Índia também eram descendentes de Noé; porque é que Deus não os guiaria tal como guiou os outros descendentes de Noé?

Tu acreditas que Abraão foi um profeta de Deus. A Bíblia diz-nos (no livro de Génesis) que Deus fez uma aliança com Isaac, filho de Abraão, que resultou no aparecimento de Jesus Cristo. Tu aceitas isso. O livro de Génesis também nos conta que Deus fez uma aliança com o primeiro filho de Abraão, Ismael, para levantar um grande Príncipe entre os Seus descendentes. Porque é que tu não aceitas o descendente de Ismael, Muhammad, como este Príncipe/Profeta?

Epi respondeu com estas palavras: “Quando Jesus veio, até a religião judaica foi rejeitada. Apenas existe o Cristianismo.”

Respondi que Jesus disse que não veio para abolir (rejeitar) a Lei, mas para cumpri-la. Ele não rejeitou Moisés ou os seus ensinamentos espirituais; pelo contrário, reafirmou-os e renovou-os, e simultaneamente alterou algumas formas sociais – o divórcio e a santificação do sábado, por exemplo.

Jesus até citou o testemunho de Moisés (Deuteronómio 18:15) como prova de sua própria missão. Em Mateus 22, Ele confirmou repetidamente os dois maiores mandamentos dados por Moisés: amar a Deus e amar o próximo como a si próprio. Ele profetizou que no devido tempo, outro Conselheiro (paráclito, em grego) surgiria para lembrar ao mundo a Sua palavra, dar testemunho d’Ele e glorificá-Lo... tal como Cristo fez com os ensinamentos de Moisés.

Isto é exactamente o que Bahá’u’lláh fez repetidamente, afirmando numa das Suas epístolas que foi Jesus Cristo quem “purificou o mundo” com os Seus ensinamentos e sacrifício.


Epi retorquiu: Poderias dizer que todas as religiões do mundo, excepto as mencionadas na Bíblia, são falsas.

Não, não poderia – porque isso seria dizer Cristo mentiu. Ele disse que Deus alimentará todos os Seus filhos, não apenas aqueles que vivem na época e no local da Sua revelação. Ele disse aos Seus discípulos como distinguir os falsos profetas dos verdadeiros, algo que Ele não faria se eles nunca tivessem de fazer esse juízo.

O Antigo Testamento descreve os profetas enviados ao povo judeu. Estes incluem Abraão, José e Moisés, juntamente com profetas menores como Ezequiel. Os livros referem-se a uma série de religiões dedicadas a vários deuses regionais que são geralmente considerados como divindades falsas, criadas pelo homem – como o Bezerro de Ouro que os hebreus imploraram a Moisés para erguer no deserto.

Ciro, rei zoroastriano
referido na Bíblia como
"ungido" e "pastor" de Deus.
Há uma religião referida nestes relatos que é tratada de forma diferente: o Zoroastrismo. Como mencionei anteriormente, durante o seu cativeiro na Babilónia, Deus deixou de falar aos hebreus através dos seus próprios profetas. Em vez disso, ele falou com eles através dos reis zoroastrianos. Um deles, Ciro, foi movido por Deus para dar o decreto para reconstruir o Templo em Jerusalém (Esdras capítulos 5 e 6). Em Isaías 44:28, Deus diz de Ciro: “Ele é o meu pastor e realizará toda a minha vontade, dizendo a Jerusalém: ‘Serás reedificada!’, e ao templo: ‘Serás reconstruído!’”

Em Isaías 45:1, o profeta declara: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita...” e profetiza o triunfo do reinado deste rei zoroastriano. A passagem termina com Deus afirmando a Ciro: “Eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome” (Isaías 45:3). Ao fazer isso, Ele também demonstra que é o Deus de Ciro.

Deus não parece considerar a Fé de Zoroastro como “outra”, ou falsa. Se assim fosse, porque falaria de Ciro como o Seu “ungido” e o Seu “pastor”?

O decreto de Ciro que reconstrói o Templo em Jerusalém é a base para as profecias temporais do Livro de Daniel — o primeiro profeta levantado entre os hebreus cativos — que identificam com precisão o advento de Jesus Cristo e do precursor de Bahá'u'lláh, o Báb. O próprio Cristo profetizou o aparecimento de um mensageiro divino que viria depois dele.

Disse para o Epi: pára e pensa por um momento porque é que acreditas que a Bíblia é sagrada, mas, por exemplo, o Bhagavad Gita não é. Se tivesses nascido na Índia, teria crescido a acreditar que os Vedas, o Ramayana, o Bhagavad Gita e os Upanishads eram Escrituras. E poderias argumentar que apenas os profetas mencionados nesses livros são verdadeiros e todos os outros são falsos. Outras Testemunhas de Jeová disseram-me, quando lhe mostrei os ensinamentos de Krishna, que eles eram como os de Cristo porque Krishna era um falso Cristo. Mas Krishna surgiu na Índia, milhares de anos antes de Cristo aparecer em Israel. Se Krishna era falso, então Deus permitiu que alguém atraísse muitos descendentes de Noé para longe de Moisés e de Cristo antes mesmo de Eles aparecerem, usando os Seus próprios ensinamentos!

Isso é pessoal para mim; debati-me com esta ideia antes de me tornar Bahá’í – porque apresentava uma contradição. Acreditar que Krishna e Buda eram falsos colocou em causa a palavra de Cristo - porque Cristo diz, com a voz da autoridade, que se uma alma pede pão a Deus, Deus não lhe dará uma pedra, e se ela pedir um peixe, Deus não lhe dará uma cobra.

E Cristo diz ainda: “Ora se vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem!” (Mt 7:11)

Eu tenho três filhos. Até eu, uma mãe humana imperfeita, sei que é errado alimentar, vestir e educar um filho e deixar os outros tratarem de si próprios - permitindo que sejam enganados por falsos guias na completa ausência de qualquer orientação minha. Se eu fizesse isso, seria considerada uma mãe miserável até mesmo pelos padrões humanos, quanto mais pelos padrões de Deus.

Isto é o que Cristo nos diz sobre Deus: Nós, humanos imperfeitos, sabemos que não devemos tratar os nossos filhos dessa maneira. Como podemos imaginar que Deus faria isso?

A única conclusão possível para mim é que o Criador que se revela em Jesus Cristo iria, pela Sua própria palavra, oferecer a cada povo o pão da vida.

Bahá’u’lláh escreveu que “O princípio de todas as coisas é o conhecimento de Deus...” Se isto for verdade, Ele daria a todos nós – e não apenas a alguns – alguma forma de O conhecer. E assim foi. Depois de afirmar que Deus está tão além das nossas concepções que não podemos compreender essa Realidade, Bahá’u’lláh escreveu que:

Como um sinal da Sua misericórdia, porém, e como uma prova da Sua amorosa bondade, Ele tem manifestado aos homens os Sóis da Sua orientação divina, os Símbolos da Sua unidade divina, e ordenou que o conhecimento destes santificados seres fosse idêntico ao conhecimento do Seu próprio Ser. Quem Os reconheceu, reconheceu Deus. Quem escutou o Seu chamamento, escutou a Voz de Deus, e quem testemunhou a verdade da Sua revelação, testemunhou a verdade de Deus. Quem se afastou deles, afastou-se de Deus… Cada um deles é o Caminho de Deus que liga este mundo com os reinos do além, e é o Estandarte da Sua Verdade para todos os que estão nos reinos da terra e do céu. Eles são os Manifestantes de Deus entre os homens, as evidências da Sua verdade, e os sinais da Sua glória. (Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, sec. XXI)

Assim, Bahá’u’lláh afirma as palavras do Apóstolo Paulo de que Deus “quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”. Sendo assim, podemos ter certeza de que o Deus amoroso de todos deu-nos o pão e a água da vida — isto é, uma maneira de conhecê-Lo — a todas as gerações em todas as partes do mundo.

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Texto original: Is Christianity the Only True Religion? (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sábado, 18 de maio de 2024

Será a Bíblia infalível e livre de erros?

Por Maya Bohnhoff.


Depois de discutirmos o que o apóstolo João quis dizer quando advertiu contra acrescentar ou retirar palavras do livro da sua profecia, o meu amigo Epignose, uma Testemunha de Jeová, afirmou que a Bíblia era infalível e estava livre de erros.

Quando lhe pedi que me mostrasse a referência bíblica, ele indicou-me umas palavras da segunda Epístola de S. Paulo a Timóteo: “Toda a Escritura, divinamente inspirada, é proveitosa para ensinar… Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Tm 3:16-17)

Reparei que já tinha ouvido este mesmo argumento desde a minha infância nas igrejas que frequentei e de cristãos de diversas denominações. Pedi a Epi que lê-se cuidadosamente estes versículos e pensasse as suas implicações.

Primeiro: O que significa “toda a Escritura” para S. Paulo? Antes das palavras citadas, S. Paulo diz:

Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido. E que, desde a tua meninice, conheces as sagradas escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. (2 Tm 3:14-15)

O Epi usava as palavras “toda a Escritura”, para se referir tanto ao Antigo Testamento quanto ao Evangelho, que começavam a ser redigidos quando Paulo escrevia sua carta a Timóteo. Mas Paulo está a referir-se às Sagradas Escrituras que ele e Timóteo conhecem desde a infância - os livros do Tanakh - e ele está a repetir as palavras de Cristo: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim, para terdes vida.” (Jo 5:39-40)

Cristo e Paulo dizem que a Torá fala de Cristo (especificamente, Deuteronómio 18:15), mas os sábios judeus certamente não acreditavam nisso. Na minha caminhada espiritual, achei importante entender porque é que isso não aconteceu.

Se “toda a Escritura” incluir versículos além das Escrituras Judaicas – isto é, se incluir os Evangelhos ou as Epístolas escritas pelos Apóstolos às congregações Cristãs – então temos a questão: Quem decide o que é Escritura?

Num artigo anterior, referi que há uma variedade de Bíblias diferentes com diferentes de livros – entre elas, Bíblias católicas, ortodoxas e coptas. Qual é número de livros correto?

Segundo: O que nos dizem as citações da Epístola a Timóteo sobre as Escrituras? Dizem-nos que são inspiradas por Deus, benéficas (ou lucrativas) para o ensino da Fé, e que podem tornar-nos sábios e preparados para fazer um bom trabalho.

Não diz que é infalível ou livre de erros, e não inclui livros que ainda não tinham sido escritos.

Não estou a dizer que os Evangelhos não sejam Sagradas Escrituras. Acredito com toda a minha alma que eles são Escritura. Estou a dizer que se aplicarmos o versículo tal como Paulo o apresenta, então também excluiria livros que hoje consideramos divinamente inspirados.

Os judeus acreditavam que a revelação de Deus havia terminado com o seu Livro Sagrado, e que Ele não falaria novamente até ao Dia do Juízo Final. Como Cristã, eu acreditava que tinha havido uma revelação adicional através de Jesus Cristo, mas adoptei a crença de que não haveria mais revelações divinas até ao “fim do mundo”, que os discípulos de Cristo acreditavam que aconteceria durante as suas vidas. No entanto, já se passaram mais de dois mil anos, e milhões de cristãos ainda esperam pelo fim do mundo.

Isto representa um problema porque, como sabemos, existem versículos com centenas de anos em traduções “autorizadas” de Bíblias cristãs, e que mais tarde se descobriu que não estavam nos manuscritos mais antigos, ou que tinham sido traduzidos incorretamente. Uma dessas traduções imprecisas causou uma revisão significativa até mesmo na Bíblia King James. Especificamente, os estudiosos procuraram nos textos gregos originais um excerto em Mateus 28:19-20 que tinha sido traduzido como: “Estarei convosco sempre, até ao fim do mundo”. Eles perceberam que, por alguma razão, a palavra grega “eon”, que significa “tempo”, tinha sido traduzida como “mundo”.

Isto é uma diferença significativa com consequências graves. As ideias sobre o fim do mundo moldaram a crença e a doutrina cristã durante séculos. Mas agora sabemos que Cristo não usou essa palavra, e a maioria das Bíblias foi actualizada para refletir isso. Note-se que a Bíblia Torre de Vigia das Testemunhas de Jeová usa a frase “o final do sistema de coisas”, e vê isso como o fim de uma época e o início de outra. Os Bahá’ís partilham este entendimento.

Quando era criança, perguntei várias vezes aos meus pais e aos pastores da igreja: “Porque é que Deus deixou de Se revelar para há mais de 2000 anos?” Nunca me deram uma resposta satisfatória, até que finalmente recebi a resposta de Bahá’u’lláh – que Ele continuava a revelar-Se. Em vez disso, alguns de nós pararam de ouvir porque acreditávamos ter ouvido tudo: depois com o advento de Cristo, muitos acreditavam, o mundo simplesmente acabaria.

Imagine o meu embaraço quando percebi que tinha desenvolvido uma crença na finalidade da mensagem de Cristo com base, em parte, numa tradução errada que contradizia as próprias palavras de Jesus:

Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito da Verdade, ele guiar-vos-á em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e anunciar-vos-á o que há de vir. Ele glorificar-me-á, porque há de receber do que é meu, e vo-lo anunciará. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo anunciará. (Jo 16:12-15)

Aqui Cristo predisse uma revelação adicional de Deus por outro Conselheiro – alguém que terá acesso à mesma fonte infinita de conhecimento e autoridade divinos que o próprio Jesus Cristo.

Em Abril de 1912, ao falar perante uma audiência cristã numa igreja em Washington D.C., o filho e sucessor de Bahá'u'lláh, 'Abdu'l-Bahá, reflectiu sobre aquela mesma passagem das Escrituras, que o pastor da igreja tinha usado no seu sermão dessa manhã. 'Abdu'l-Bahá disse:

Amanheceu o século em que o Espírito da Verdade pode revelar estas verdades à humanidade, proclamar essa mesma Palavra, estabelecer os verdadeiros fundamentos do Cristianismo e libertar as nações e os povos da escravidão das formas e das imitações. A causa da discórdia, do preconceito e da animosidade será removida, e a base do amor e da amizade será estabelecida. Portanto, todos vós devem esforçar-se de coração e alma para que a inimizade desapareça completamente, e que a discórdia e o ódio desapareçam completamente do meio do mundo humano. Deveis ouvir a advertência deste Espírito da Verdade. Deveis seguir o exemplo e os passos de Jesus Cristo.

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Texto original: Is the Bible Infallible and Inerrant? (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sábado, 11 de maio de 2024

Será que existe apenas um Livro Sagrado?

Por Maya Bohnhoff.


O meu amigo online Epignose (que chamarei Epi), uma Testemunha de Jeová, descobriu rapidamente que quando fazia perguntas ou afirmações sobre as minhas crenças, eu sentia-me perfeitamente confortável em recorrer à Bíblia - especialmente às palavras de Cristo - para encontrar as respostas.

Era compreensível que ele quisesse definir a natureza e o papel das Escrituras como base da crença. Depois de ver que os Livros Sagrados de “outras” religiões incluíam o que vulgarmente chamamos Regra de Ouro e falavam de Um Espírito Supremo ou Absoluto que gerou o mundo contingente, Epi disse:

Existe apenas uma Bíblia. Não há citações de outras escrituras, e Deus avisou-nos para não adicionar ou retirar nada dela.

Epi via as Escrituras das outras religiões como sendo acrescentos ilegítimos às Escrituras reais e indicou-me uma passagem no Livro do Apocalipse que ele considerava que expressava o seu ponto de vista:

Porque eu testifico, a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro. (Ap 22:18-19)

Eu respondi: Se há citações de outras Escrituras, suponho que isso depende daquilo que você considera “outras”. Existem histórias sumérias no Gênesis; no Livro de Isaías, o profeta refere-se ao rei zoroastriano Ciro como “ungido de Deus” (em latim, Christos). Na verdade, em Isaías, lemos que Deus fala aos judeus, então cativos na Babilónia, através dos reis zoroastrianos. Será que isso indica que talvez Deus não considera os sumérios ou os zoroastrianos como “outros”?

Acrescentei: por três vezes no trecho que você citou, João enfatiza que está a falar sobre “a profecia deste livro” – isto é, o próprio livro do Apocalipse de São João. Assim, o seu aviso faz sentido. Sabemos que ele não estava a falar sobre “a Bíblia” porque a Bíblia tal como a conhecemos não existia naquela época.

As Escrituras que João conhecia eram as Escrituras Judaicas - o Tanakh (composto pela Torá [Lei], Nevi'im [livros de profecia] e Ketuvim [textos de sábios judeus]). O Novo Testamento não existia como livro quando João escreveu isto. Passariam 300 anos até que o Concílio de Niceia compilasse a colecção de livros que a maioria das denominações protestantes hoje chamam Bíblia. Essa lista não era igual à lista de outros Concílios, razão pela qual a maioria das Bíblias Protestantes tem 66 livros, a Bíblia Católica tem 73, a Bíblia Ortodoxa tem 81, e a Bíblia Copta tem 84.

Quem adicionou e quem retirou?

Os fariseus viam Jesus Cristo como alguém tentava “acrescentar algo às Escrituras” e rejeitavam a ideia de que ele tinha autoridade dada por Deus para fazer isso. Visto que nenhum dos Evangelhos tinha sido redigido, o livro profético de João também foi acrescentado às Escrituras tal como existiam na época.

Vêem o paradoxo?

E prossegui: sei que você concordará que os Evangelhos e as Epístolas são necessários para a compreensão do propósito de Deus para a humanidade, mas os estudiosos judeus da época apresentaram exactamente o mesmo argumento que você está a apresentar sobre acrescentar ou retirar. Consequentemente, eles rejeitaram os ensinamentos de Cristo. Você e eu concordamos plenamente que o propósito de Deus era que a mensagem de Cristo se tornasse parte do registo bíblico. Onde diferimos é na forma como alargamos esse entendimento aos milhares de anos antes e depois do ministério terreno de Cristo e aos profetas enviados a outros povos. Vejo a mensagem como sendo continuamente renovada, era após era, com novos elementos surgindo à medida que precisamos deles e somos capazes de os compreender. Este é o princípio Bahá’í da revelação progressiva e a razão pela qual os Bahá'ís acreditam num Criador e num conjunto sucessivo de mensageiros divinos, todos eles ensinando as mesmas verdades essenciais.

A própria Bíblia ilustra eloquentemente a forma como Deus se revela progressivamente de acordo com a nossa capacidade de compreensão. Como você diz, Ele enviou Noé, Abraão, Moisés e Jesus. E Jesus fala exactamente sobre este tema quando explica aos fariseus por que motivo Ele apresenta uma lei de divórcio diferente daquela que foi revelada na Torá. No Evangelho de Mateus, Cristo diz aos fariseus: “Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, permitiu-vos repudiar as vossas mulheres; mas, no princípio, não foi assim.” (Mt 19:8)

Deus não mudou a Sua atitude em relação ao divórcio; mas nós mudamos o suficiente para que pelo menos alguns de nós pudéssemos seguir o novo mandamento. Embora você e eu concordemos que Cristo tinha autoridade dada por Deus para interpretar ou mesmo mudar a lei divina, os fariseus não o fizeram. Eles viam Jesus como um falso profeta tentando acrescentar ou retirar coisas das Sagradas Escrituras.

O ponto principal para nós dois é que Cristo TINHA essa autoridade, e as Suas palavras – que eram a Palavra de Deus – foram correctamente adicionadas ao que consideramos Escritura. Os Bahá’ís acreditam que Bahá’u’lláh também tem autoridade para revelar a Palavra de Deus. Bahá’u’lláh escreveu:

Sabe tu com certeza que o Invisível não pode, de forma alguma, encarnar a Sua Essência e revelá-la aos homens. Ele está, e sempre esteve, imensamente exaltado para lá de tudo o que possa ser narrado ou compreendido. Do Seu retiro de glória, a Sua voz está sempre a proclamar: “Em verdade, Eu sou Deus; não há outro Deus além de Mim, o Omnisciente, o Sapientíssimo. Manifestei-Me aos homens e enviei Aquele que é a Alvorada dos sinais da Minha Revelação. Através dele fiz com que toda a criação testemunhasse que não há outro Deus salvo Ele, o Incomparável, o Informado de tudo, o Sapientíssimo. Ele Que está eternamente oculto dos olhos dos homens nunca poderá ser conhecido salvo através do Seu Manifestante, e o Seu Manifestante não poderá aduzir maior prova da verdade da Sua Missão do que a prova da Sua própria Pessoa. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XX).

Como Bahá’í, acredito em Bahá’u’lláh pelas mesmas razões que acredito em Cristo – as Suas palavras, os Seus actos, o testemunho das Escrituras e a aplicação da razão e da fé.

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Texto original: Is There Only One Holy Book? (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sábado, 4 de maio de 2024

Um Deus único: muitas lâmpadas, mas apenas uma luz

Por Maya Bohnhoff.


Quando comecei uma correspondência online com uma Testemunha de Jeová que assinava “Epignose” (rumo ao conhecimento), ele não colocou muitas perguntas, mas sim desafios aos quais queria que eu respondesse.

O nosso diálogo começou quando o meu amigo Epignose já tinha lido um pouco sobre a Fé Bahá’í nos materiais apologéticos da Sociedade Torre de Vigia, o corpo administrativo das Testemunhas de Jeová. (a apologética é um material destinado a defender um ponto de vista religioso específica.) Assim, ele sabia onde queria começar a discussão.

O primeiro desafio de Epi contra o conceito Bahá’í da unidade de Deus e da religião era o seguinte: se existem diferentes religiões, depreende-se que elas devem provir de diferentes deuses.

Ele apresentou o seu argumento da seguinte forma: "Deus não está dividido em Si próprio. Existe um Deus, uma fé. Qual seria o sentido de ter todos os tipos de religiões dizendo coisas diferentes?"

“Não podia estar mais de acordo”, foi a minha resposta.

Jesus insisti nesse assunto ao falar aos fariseus no livro de Mateus (Mt 12:22-26) do Novo Testamento. Quando Ele realizou uma cura, e os fariseus o acusaram de realizar milagres em nome de Satanás, Cristo respondeu desta forma: “E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?”

O que nós, humanos, com as nossas percepções limitadas, vemos como religiões “diferentes” não “dizem coisas diferentes” sobre os princípios fundamentais da fé. Todos ensinam as mesmas verdades essenciais sobre Deus e sobre o nosso relacionamento com Ele. O Novo Testamento também fala sobre isso no primeiro capítulo da Epístola aos Hebreus onde o autor observa que Deus “falou em tempos passados e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas...” (Hb 1:1-4)

Mas tive de perguntar: "Qual é o sentido de dar a uma criança vários professores ao longo da vida? Não poderiam aprender tudo o que precisam saber com a professora do jardim de infância?"

Em vez disso, um bom pai garante que o seu filho tenha um professor ou mentor que lhe dê a base para tudo o que irá aprender e, em seguida, continua a escolher outras escolas e professores para refinar e focar o conhecimento de acordo com a capacidade do filho. No fundo, todos os professores trabalham para o mesmo objectivo escolar – eles não estão a competir entre si.

O mesmo se passa com os fundadores das grandes religiões mundiais. Moisés predisse a vinda de Cristo, Daniel predisse a vinda de Cristo e de Bahá'u'lláh, Cristo falou de outro Conselheiro (Auxiliador ou Advogado) que viria depois dele, e tanto Muhammad como Bahá'u'lláh testemunharam a verdade de Cristo e glorificaram-No.

Isto também se aplica a outras revelações. Krishna afirmou que os Mensageiros Divinos aparecem no mundo sempre que “o vício e a injustiça subissem ao trono”, e Buda confirmou que Ele próprio não foi o primeiro desses Professores, nem o último.

As várias religiões podem parecer estar em competição devido à forma como nós, humanos, elevamos a doutrina acima do simples ensinamento de amar a Deus e uns aos outros, que constitui a base de toda a fé revelada.

Moisés e Cristo afirmaram que o Maior Mandamento é duplo: amar a Deus e amar o próximo tal como amamos a nós próprios. Cristo disse-nos que dessas leis gémeas “depende toda a Lei e os Profetas” (Mt 22:40). O apóstolo Paulo refina este ponto na epístola aos Romanos, dizendo: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama os outros cumpriu a lei.” (Rm 13:8)

Bahá’u’lláh revelou que esta Lei dupla é totalidade do propósito da revelação de Deus:

O Propósito do Deus Uno e Verdadeiro - exaltada seja a Sua Glória - em revelar-Se aos homens, é pôr à mostra aquelas joias que jazem ocultas na mina dos seus verdadeiros e mais íntimos seres. Que às diversas comunhões da terra e aos múltiplos sistemas de crença nunca seja permitido fomentar sentimentos de animosidade entre os homens é, neste Dia, a Essência da Fé de Deus e da Sua Religião. Estes princípios e leis, estes sistemas firmemente estabelecidos e poderosos, proveem de uma única Origem e são os raios de uma única Luz. O facto de que diferirem uns dos outros deve ser atribuído aos diversos requisitos das épocas em que foram promulgados. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CXXXII)

Veja-se como o Criador educou o povo hebreu na narrativa bíblica através de uma sucessão de reveladores importantes, incluindo Abraão, José, Moisés e Cristo; e profetas menores como Isaías e Ezequiel. Até Jesus diz que tem muitas coisas para dizer aos Seus discípulos que eles não podem suportar, mas que devem esperar para aprender com “outro Consolador” (Jo 14:16) (Paráclito é o termo grego). Paulo, que aceitou a sua fé após a ascensão de Cristo, proclamou isto, dizendo que via “num espelho indistinto” (1Co 13:12) e sabia “em parte”, mas esperava um tempo em que a revelação fosse completa.

Moisés e Jesus eram rivais? Os profetas judeus como Ezequiel e Isaías dividiram a fé? Claro que não. Nem os Mensageiros como Krishna ou Muhammad. Eles não dividem a mensagem de Deus; pelo contrário, amplificam-na e difundem-na, tal como fizeram os profetas referidos na Bíblia.

Consideremos estas palavras conhecidas de Cristo: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” (Mt 7:12)

Os reveladores da palavra de Deus falam a uma só voz:
  • Esta é o resumo do dever: não fazer nada aos outros que, se fosse feito a ti, te causaria dor. (Krishna, Bhagavad Gita)
  • O que é odioso para ti, não o faças aos teus semelhantes. Essa é toda a Lei; tudo o resto é comentário. (Hillel, Talmude)
  • Uma situação que não é agradável ou prazenteira para mim, como poderia infligir isso a outra pessoa? (Buda, Samyutta Nikaya)
  • Nenhum de vós é crente até que deseje para o seu irmão aquilo que deseja para si próprio. (Muhammad, Hadith)
  • Ó filho do homem! Se seus olhos estiverem voltados para a misericórdia, abandona as coisas que te beneficiam e agarra-te àquilo que beneficiará a humanidade. E se os teus olhos estão voltados para a justiça, escolhe para o teu próximo aquilo que escolhes para ti. (Bahá’u’lláh, Epístola ao Filho do Lobo)
No Evangelho de Mateus, Cristo diz que devemos julgar se um profeta é de Deus pelos seus frutos. Os seus ensinamentos são sólidos? O resultado de seguir esses ensinamentos é espiritualmente benéfico para a humanidade? Portanto, se usarmos os critérios de Cristo quando olhamos para os ensinamentos destes profetas, podemos julgar se eles ensinam os mesmos princípios divinos que Cristo ensinou, e se estão a fazer a obra de Deus, ou a promover os seus próprios objectivos.

Krishna ensinou que Deus é EU SOU, a existência absoluta. O mesmo aconteceu com Buda. Krishna também ensinou que Deus é alcançado por um amor eterno e por todas as criaturas. Buda ensinou que “O ódio não termina com o ódio; o ódio termina com amor. Este é um mandamento eterno.” Ambos ensinaram os mesmos princípios que Cristo ensinou e transformaram inúmeras vidas. Isto também se aplica a Bahá’u’lláh, que escreveu:

Ó Amigo! No jardim do teu coração, nada plantes salvo a rosa do amor e não te desprendas do rouxinol do afecto e do desejo.

Disse ao meu novo amigo que acredito que Cristo pode ser levado à letra: uma árvore má não pode produzir bons frutos espirituais. Deus não está dividido. Pode haver muitas lâmpadas, mas há apenas uma luz.

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Texto original: There is One God: Many Lamps, but One Light (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.