sábado, 4 de maio de 2024

Um Deus único: muitas lâmpadas, mas apenas uma luz

Por Maya Bohnhoff.


Quando comecei uma correspondência online com uma Testemunha de Jeová que assinava “Epignose” (rumo ao conhecimento), ele não colocou muitas perguntas, mas sim desafios aos quais queria que eu respondesse.

O nosso diálogo começou quando o meu amigo Epignose já tinha lido um pouco sobre a Fé Bahá’í nos materiais apologéticos da Sociedade Torre de Vigia, o corpo administrativo das Testemunhas de Jeová. (a apologética é um material destinado a defender um ponto de vista religioso específica.) Assim, ele sabia onde queria começar a discussão.

O primeiro desafio de Epi contra o conceito Bahá’í da unidade de Deus e da religião era o seguinte: se existem diferentes religiões, depreende-se que elas devem provir de diferentes deuses.

Ele apresentou o seu argumento da seguinte forma: "Deus não está dividido em Si próprio. Existe um Deus, uma fé. Qual seria o sentido de ter todos os tipos de religiões dizendo coisas diferentes?"

“Não podia estar mais de acordo”, foi a minha resposta.

Jesus insisti nesse assunto ao falar aos fariseus no livro de Mateus (Mt 12:22-26) do Novo Testamento. Quando Ele realizou uma cura, e os fariseus o acusaram de realizar milagres em nome de Satanás, Cristo respondeu desta forma: “E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?”

O que nós, humanos, com as nossas percepções limitadas, vemos como religiões “diferentes” não “dizem coisas diferentes” sobre os princípios fundamentais da fé. Todos ensinam as mesmas verdades essenciais sobre Deus e sobre o nosso relacionamento com Ele. O Novo Testamento também fala sobre isso no primeiro capítulo da Epístola aos Hebreus onde o autor observa que Deus “falou em tempos passados e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas...” (Hb 1:1-4)

Mas tive de perguntar: "Qual é o sentido de dar a uma criança vários professores ao longo da vida? Não poderiam aprender tudo o que precisam saber com a professora do jardim de infância?"

Em vez disso, um bom pai garante que o seu filho tenha um professor ou mentor que lhe dê a base para tudo o que irá aprender e, em seguida, continua a escolher outras escolas e professores para refinar e focar o conhecimento de acordo com a capacidade do filho. No fundo, todos os professores trabalham para o mesmo objectivo escolar – eles não estão a competir entre si.

O mesmo se passa com os fundadores das grandes religiões mundiais. Moisés predisse a vinda de Cristo, Daniel predisse a vinda de Cristo e de Bahá'u'lláh, Cristo falou de outro Conselheiro (Auxiliador ou Advogado) que viria depois dele, e tanto Muhammad como Bahá'u'lláh testemunharam a verdade de Cristo e glorificaram-No.

Isto também se aplica a outras revelações. Krishna afirmou que os Mensageiros Divinos aparecem no mundo sempre que “o vício e a injustiça subissem ao trono”, e Buda confirmou que Ele próprio não foi o primeiro desses Professores, nem o último.

As várias religiões podem parecer estar em competição devido à forma como nós, humanos, elevamos a doutrina acima do simples ensinamento de amar a Deus e uns aos outros, que constitui a base de toda a fé revelada.

Moisés e Cristo afirmaram que o Maior Mandamento é duplo: amar a Deus e amar o próximo tal como amamos a nós próprios. Cristo disse-nos que dessas leis gémeas “depende toda a Lei e os Profetas” (Mt 22:40). O apóstolo Paulo refina este ponto na epístola aos Romanos, dizendo: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama os outros cumpriu a lei.” (Rm 13:8)

Bahá’u’lláh revelou que esta Lei dupla é totalidade do propósito da revelação de Deus:

O Propósito do Deus Uno e Verdadeiro - exaltada seja a Sua Glória - em revelar-Se aos homens, é pôr à mostra aquelas joias que jazem ocultas na mina dos seus verdadeiros e mais íntimos seres. Que às diversas comunhões da terra e aos múltiplos sistemas de crença nunca seja permitido fomentar sentimentos de animosidade entre os homens é, neste Dia, a Essência da Fé de Deus e da Sua Religião. Estes princípios e leis, estes sistemas firmemente estabelecidos e poderosos, proveem de uma única Origem e são os raios de uma única Luz. O facto de que diferirem uns dos outros deve ser atribuído aos diversos requisitos das épocas em que foram promulgados. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CXXXII)

Veja-se como o Criador educou o povo hebreu na narrativa bíblica através de uma sucessão de reveladores importantes, incluindo Abraão, José, Moisés e Cristo; e profetas menores como Isaías e Ezequiel. Até Jesus diz que tem muitas coisas para dizer aos Seus discípulos que eles não podem suportar, mas que devem esperar para aprender com “outro Consolador” (Jo 14:16) (Paráclito é o termo grego). Paulo, que aceitou a sua fé após a ascensão de Cristo, proclamou isto, dizendo que via “num espelho indistinto” (1Co 13:12) e sabia “em parte”, mas esperava um tempo em que a revelação fosse completa.

Moisés e Jesus eram rivais? Os profetas judeus como Ezequiel e Isaías dividiram a fé? Claro que não. Nem os Mensageiros como Krishna ou Muhammad. Eles não dividem a mensagem de Deus; pelo contrário, amplificam-na e difundem-na, tal como fizeram os profetas referidos na Bíblia.

Consideremos estas palavras conhecidas de Cristo: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” (Mt 7:12)

Os reveladores da palavra de Deus falam a uma só voz:
  • Esta é o resumo do dever: não fazer nada aos outros que, se fosse feito a ti, te causaria dor. (Krishna, Bhagavad Gita)
  • O que é odioso para ti, não o faças aos teus semelhantes. Essa é toda a Lei; tudo o resto é comentário. (Hillel, Talmude)
  • Uma situação que não é agradável ou prazenteira para mim, como poderia infligir isso a outra pessoa? (Buda, Samyutta Nikaya)
  • Nenhum de vós é crente até que deseje para o seu irmão aquilo que deseja para si próprio. (Muhammad, Hadith)
  • Ó filho do homem! Se seus olhos estiverem voltados para a misericórdia, abandona as coisas que te beneficiam e agarra-te àquilo que beneficiará a humanidade. E se os teus olhos estão voltados para a justiça, escolhe para o teu próximo aquilo que escolhes para ti. (Bahá’u’lláh, Epístola ao Filho do Lobo)
No Evangelho de Mateus, Cristo diz que devemos julgar se um profeta é de Deus pelos seus frutos. Os seus ensinamentos são sólidos? O resultado de seguir esses ensinamentos é espiritualmente benéfico para a humanidade? Portanto, se usarmos os critérios de Cristo quando olhamos para os ensinamentos destes profetas, podemos julgar se eles ensinam os mesmos princípios divinos que Cristo ensinou, e se estão a fazer a obra de Deus, ou a promover os seus próprios objectivos.

Krishna ensinou que Deus é EU SOU, a existência absoluta. O mesmo aconteceu com Buda. Krishna também ensinou que Deus é alcançado por um amor eterno e por todas as criaturas. Buda ensinou que “O ódio não termina com o ódio; o ódio termina com amor. Este é um mandamento eterno.” Ambos ensinaram os mesmos princípios que Cristo ensinou e transformaram inúmeras vidas. Isto também se aplica a Bahá’u’lláh, que escreveu:

Ó Amigo! No jardim do teu coração, nada plantes salvo a rosa do amor e não te desprendas do rouxinol do afecto e do desejo.

Disse ao meu novo amigo que acredito que Cristo pode ser levado à letra: uma árvore má não pode produzir bons frutos espirituais. Deus não está dividido. Pode haver muitas lâmpadas, mas há apenas uma luz.

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Texto original: There is One God: Many Lamps, but One Light (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Bahá’í e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

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