Quando comecei uma correspondência online com uma Testemunha de Jeová que assinava “Epignose” (rumo ao conhecimento), ele não colocou muitas perguntas, mas sim desafios aos quais queria que eu respondesse.
O nosso diálogo começou quando o meu amigo Epignose já tinha lido um pouco sobre a Fé Bahá’í nos materiais apologéticos da Sociedade Torre de Vigia, o corpo administrativo das Testemunhas de Jeová. (a apologética é um material destinado a defender um ponto de vista religioso específica.) Assim, ele sabia onde queria começar a discussão.
O primeiro desafio de Epi contra o conceito Bahá’í da unidade de Deus e da religião era o seguinte: se existem diferentes religiões, depreende-se que elas devem provir de diferentes deuses.
Ele apresentou o seu argumento da seguinte forma: "Deus não está dividido em Si próprio. Existe um Deus, uma fé. Qual seria o sentido de ter todos os tipos de religiões dizendo coisas diferentes?"
“Não podia estar mais de acordo”, foi a minha resposta.
Jesus insisti nesse assunto ao falar aos fariseus no livro de Mateus (Mt 12:22-26) do Novo Testamento. Quando Ele realizou uma cura, e os fariseus o acusaram de realizar milagres em nome de Satanás, Cristo respondeu desta forma: “E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?”
O que nós, humanos, com as nossas percepções limitadas, vemos como religiões “diferentes” não “dizem coisas diferentes” sobre os princípios fundamentais da fé. Todos ensinam as mesmas verdades essenciais sobre Deus e sobre o nosso relacionamento com Ele. O Novo Testamento também fala sobre isso no primeiro capítulo da Epístola aos Hebreus onde o autor observa que Deus “falou em tempos passados e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas...” (Hb 1:1-4)
Mas tive de perguntar: "Qual é o sentido de dar a uma criança vários professores ao longo da vida? Não poderiam aprender tudo o que precisam saber com a professora do jardim de infância?"
Em vez disso, um bom pai garante que o seu filho tenha um professor ou mentor que lhe dê a base para tudo o que irá aprender e, em seguida, continua a escolher outras escolas e professores para refinar e focar o conhecimento de acordo com a capacidade do filho. No fundo, todos os professores trabalham para o mesmo objectivo escolar – eles não estão a competir entre si.
O mesmo se passa com os fundadores das grandes religiões mundiais. Moisés predisse a vinda de Cristo, Daniel predisse a vinda de Cristo e de Bahá'u'lláh, Cristo falou de outro Conselheiro (Auxiliador ou Advogado) que viria depois dele, e tanto Muhammad como Bahá'u'lláh testemunharam a verdade de Cristo e glorificaram-No.
Isto também se aplica a outras revelações. Krishna afirmou que os Mensageiros Divinos aparecem no mundo sempre que “o vício e a injustiça subissem ao trono”, e Buda confirmou que Ele próprio não foi o primeiro desses Professores, nem o último.
As várias religiões podem parecer estar em competição devido à forma como nós, humanos, elevamos a doutrina acima do simples ensinamento de amar a Deus e uns aos outros, que constitui a base de toda a fé revelada.
Moisés e Cristo afirmaram que o Maior Mandamento é duplo: amar a Deus e amar o próximo tal como amamos a nós próprios. Cristo disse-nos que dessas leis gémeas “depende toda a Lei e os Profetas” (Mt 22:40). O apóstolo Paulo refina este ponto na epístola aos Romanos, dizendo: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama os outros cumpriu a lei.” (Rm 13:8)
Bahá’u’lláh revelou que esta Lei dupla é totalidade do propósito da revelação de Deus:
O Propósito do Deus Uno e Verdadeiro - exaltada seja a Sua Glória - em revelar-Se aos homens, é pôr à mostra aquelas joias que jazem ocultas na mina dos seus verdadeiros e mais íntimos seres. Que às diversas comunhões da terra e aos múltiplos sistemas de crença nunca seja permitido fomentar sentimentos de animosidade entre os homens é, neste Dia, a Essência da Fé de Deus e da Sua Religião. Estes princípios e leis, estes sistemas firmemente estabelecidos e poderosos, proveem de uma única Origem e são os raios de uma única Luz. O facto de que diferirem uns dos outros deve ser atribuído aos diversos requisitos das épocas em que foram promulgados. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CXXXII)
Veja-se como o Criador educou o povo hebreu na narrativa bíblica através de uma sucessão de reveladores importantes, incluindo Abraão, José, Moisés e Cristo; e profetas menores como Isaías e Ezequiel. Até Jesus diz que tem muitas coisas para dizer aos Seus discípulos que eles não podem suportar, mas que devem esperar para aprender com “outro Consolador” (Jo 14:16) (Paráclito é o termo grego). Paulo, que aceitou a sua fé após a ascensão de Cristo, proclamou isto, dizendo que via “num espelho indistinto” (1Co 13:12) e sabia “em parte”, mas esperava um tempo em que a revelação fosse completa.
Moisés e Jesus eram rivais? Os profetas judeus como Ezequiel e Isaías dividiram a fé? Claro que não. Nem os Mensageiros como Krishna ou Muhammad. Eles não dividem a mensagem de Deus; pelo contrário, amplificam-na e difundem-na, tal como fizeram os profetas referidos na Bíblia.
Consideremos estas palavras conhecidas de Cristo: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” (Mt 7:12)
Os reveladores da palavra de Deus falam a uma só voz:
- Esta é o resumo do dever: não fazer nada aos outros que, se fosse feito a ti, te causaria dor. (Krishna, Bhagavad Gita)
- O que é odioso para ti, não o faças aos teus semelhantes. Essa é toda a Lei; tudo o resto é comentário. (Hillel, Talmude)
- Uma situação que não é agradável ou prazenteira para mim, como poderia infligir isso a outra pessoa? (Buda, Samyutta Nikaya)
- Nenhum de vós é crente até que deseje para o seu irmão aquilo que deseja para si próprio. (Muhammad, Hadith)
- Ó filho do homem! Se seus olhos estiverem voltados para a misericórdia, abandona as coisas que te beneficiam e agarra-te àquilo que beneficiará a humanidade. E se os teus olhos estão voltados para a justiça, escolhe para o teu próximo aquilo que escolhes para ti. (Bahá’u’lláh, Epístola ao Filho do Lobo)
Krishna ensinou que Deus é EU SOU, a existência absoluta. O mesmo aconteceu com Buda. Krishna também ensinou que Deus é alcançado por um amor eterno e por todas as criaturas. Buda ensinou que “O ódio não termina com o ódio; o ódio termina com amor. Este é um mandamento eterno.” Ambos ensinaram os mesmos princípios que Cristo ensinou e transformaram inúmeras vidas. Isto também se aplica a Bahá’u’lláh, que escreveu:
Ó Amigo! No jardim do teu coração, nada plantes salvo a rosa do amor e não te desprendas do rouxinol do afecto e do desejo.
Disse ao meu novo amigo que acredito que Cristo pode ser levado à letra: uma árvore má não pode produzir bons frutos espirituais. Deus não está dividido. Pode haver muitas lâmpadas, mas há apenas uma luz.
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Texto original: There is One God: Many Lamps, but One Light (www.bahaiteachings.org)
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