No Ocidente, compreendemos mal Maomé e o Islão durante séculos. Agora é o momento de acabar com isso e começar a perceber o que faz do Islão uma grande Fé.
O Islão surgiu na península arábica em 610 EC, tendo desencadeado conflitos e guerras tribais e internas, e por fim tornou-se uma religião mundial com 1,8 mil milhões de seguidores.
Quando Maomé revelou o Islão, o Cristianismo era a religião de estado no Império Romano, na Europa e no Médio-Oriente. Os cristãos daquela época tinham a crença infundada de que Cristo - que eles reverenciavam como o Filho de Deus - era o último dos profetas.
Esta interpretação incorrecta, esta percepção temporal sobre a condição de Cristo - em oposição à Sua ascendência e domínio espiritual - tem sido a causa de indescritível derramamento de sangue. Essa ignorância e má interpretação fomentaram oito cruzadas cristãs, começando em 1095 EC, durante quase 200 anos, provocando a morte de milhões de pessoas.
Estas guerras religiosas e incompreensões continuam a ser o principal obstáculo para a verdadeira reconciliação entre as religiões Cristã e Muçulmana.
A base, quer do Cristianismo quer do Islão, é aproximar as pessoas de Deus, dando-lhes uma ideia mais ampla e uma compreensão mais completa sobre a vontade e o propósito de Deus para a humanidade.
Maomé disse que ambas as comunidades Judaica e Cristã tinham que ser protegidas pelos Muçulmanos, apesar de qualquer animosidade que pudessem ter em relação ao Islão. Assim, tal como Cristo validou o estatuto de Moisés, também Maomé validou os estatutos de Abraão, Moisés e Cristo.
Nos ensinamentos Bahá’ís, isto chama-se de revelação progressiva. No fundo, significa que todos os profetas e fundadores das grandes religiões do mundo vieram da mesma fonte e ensinaram as mesmas verdades. Embora as leis e regras externas de uma religião possam adaptar-se às necessidades das pessoas no momento em que foram reveladas, uma revelação religiosa posterior exige novas leis e regras que sejam adequadas a um tempo mais moderno. As leis espirituais também progridem; passámos de “amar o próprio irmão como a si mesmo” no tempo de Cristo, para “preferir o próximo em vez de preferir a si próprio” no tempo de Maomé e Bahá'u'lláh.
O facto de as religiões lutarem não é devido à falta de integridade e unidade das religiões, mas sim à interpretação incorrecta e ao fanatismo de alguns dos seus líderes e dos seus seguidores. Os Bahá’ís acreditam que toda religião vem de Deus e foi dada à humanidade quando esta mais precisava da orientação de Deus - mas também que as religiões podem entrar em declínio dogmático, não representando os verdadeiros ensinamentos dos seus fundadores. Quando esse declínio ocorre - dizem os ensinamentos Bahá’ís - aparece um novo Mensageiro.
Este conceito de revelação progressiva é claro como o sol do meio-dia: todo mensageiro ou profeta falou sobre o seu regresso ou sobre o surgimento do próximo mensageiro de Deus. Então, por que rejeitamos e perseguimos esse mensageiro quando Ele aparece? Porque estamos apegados (ou presos) ao nosso sacerdote ou imã favorito, ao nosso templo, mesquita ou igreja favorita; porque estamos apegados à maneira como adoramos e às palavras nos nossos livros e ao que pensamos ser o seu significado. Estamos tão apegados a isso que esquecemos que o nosso propósito na vida - enquanto seres espirituais - é amar a Deus e a Sua criação. E esquecemos que a melhor maneira de mostrar que amamos a Deus é amando toda a humanidade.
Os nomes das religiões - Cristianismo e Islão - são apenas rótulos que representam um conjunto de valores, moral e modos de pensamento. Vamos denegrir e insultar pessoas boas só porque não professam a mesma fé que nós? Não. Esperamos poder recebê-las e ajudá-las, independentemente do seu rótulo (ou não-rótulo). Isso é tudo o que Deus quer de nós: amar e cuidar uns dos outros. Essa é a verdadeira mensagem de toda a verdadeira Fé.
Além disso, com a revelação progressiva, se realmente acreditamos no que o nosso Mensageiro nos disse - que aparecerá um Mensageiro maior - então, como podemos manter esses rótulos falsos? O apego a esses rótulos impediu verdadeiramente a humanidade de apreciar plenamente o que cada novo mensageiro de Deus nos trouxe, quando a paz e a tranquilidade poderiam ter sido implementadas.
Está na hora de nos livrarmos desses rótulos antiquados. Se a religião é essencialmente uma só, como afirmam os ensinamentos Bahá’ís, podemos começar a ver toda a religião como:
... diferentes fases na história eterna e evolução constante da religião única, Divina e indivisível, da qual [a Fé Baha’i] constitui apenas uma parte integrante. Não procura obscurecer as suas origens divinas, nem anular a magnitude admitida das suas realizações colossais. Não pode apoiar nenhuma tentativa que procure distorcer as suas características ou esconder as verdades que transmitem. Os seus ensinamentos não se desviam minimamente das verdades que consagram, nem o peso da sua mensagem prejudica uma vírgula da influência que exercem ou da lealdade que inspiram. Longe de pretender derrubar as fundações espirituais dos sistemas religiosos do mundo, o seu propósito declarado, inalterável, é ampliar as suas bases, reafirmar os seus fundamentos, conciliar os seus objectivos, revigorar a sua vida, demonstrar a sua unicidade, restaurar a pureza prístina dos seus ensinamentos, coordenar as suas funções e auxiliar na realização das suas mais elevadas aspirações. (Shoghi Effendi, A Ordem Mundial de Baha'u'llah, p. 114)Se todos os Cristãos aceitassem Maomé como um mensageiro de Deus, isso em nada diminuiria ou rebaixaria o estatuto de Cristo. O mesmo conceito se aplica do Islão em relação aos Bahá'ís e dos Bahá’ís em relação ao próximo mensageiro de Deus e à nova revelação.
Então pergunto: vale a pena lutar, ou magoar alguém por causa do apego a um rótulo? Espero que a sua resposta seja a mesma que a minha: não!
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Texto original: Time to Stop Misunderstanding Muhammad (www.bahaiteachings.org)
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Rodney Richards é escritor técnico de profissão e trabalhou durante 39 anos para o Governo Estadual de New Jersey. Reformou-se em 2009 e dedicou-se à escrita (prosa e poesia),tendo publicado o seu primeiro livro de memórias Episodes: A poetic memoir. É casado, orgulha-se dos seus filhos adultos, e permanece um elemento activo na sua comunidade.
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