Por Tom
Tai-Seale.
A maioria
dos historiadores acredita ser muito provável que o Budismo tenha mudado
dramaticamente desde que Sidarta Gautama fundou esta Religião há 2500 anos.
Transmitida através de histórias orais pouco fidedignas e baseadas na
compreensão dessas histórias, o Budismo moderno pode ter - ou não - alguma
semelhança com o que o Buda originalmente ensinou.
No entanto,
o que sabemos sobre os ensinamentos de Buda, revelado originalmente em
sociedades profundamente iletradas, surgiu numa forma estrutural que facilita a
memorização. Por exemplo, existem:
- Um Dharma: ensinar.
- Dois Caminhos Espirituais: um para leigos e outro para monges.
- Três Cestos de Escrituras: um com regras para monges, um com discursos e um com comentários (o Abhidhamma).
- Três Selos de Dharma: os ensinamentos sobre a impermanência, o não-eu e o nirvana.
- Quatro Nobres Verdades: a vida está cheia de sofrimento, a causa do sofrimento é o apego, o sofrimento pode acabar, a maneira de o eliminar é o caminho do Buda.
O Budismo
também possui cinco formações mentais e cinco recordações, seis tipos de
consciência, sete factores de iluminação, um caminho óctuplo, doze ligações de
origem dependente, dezoito reinos (dhatus)
e muitas outras associações construídas com base em números. Estas simples
mnemónicas levam-nos a acreditar que os princípios básicos dos ensinamentos de
Buda foram preservados.
No entanto,
a imensidão das escrituras Budista, as diferentes versões em diferentes
idiomas, as diferentes interpretações e as práticas largamente diferentes
geraram muitas formas diferentes de Budismo. As principais diferenças entre o
Budismo Theraveda e Mahayana não são imediatamente visíveis
nas várias divisões e escolas de pensamento existentes em cada uma destas
correntes. Além disso, tanto o Budismo Theraveda
como o Mahayana surgiram centenas de
anos depois de Buda e continuaram a evoluir. Com tudo isto, é difícil
caracterizar categoricamente as diferenças; podemos apenas dizer que corrente Theraveda é mais conservadora na medida
em que aceita menos Escrituras, mas inclui todo o cânone em pali; por seu lado, a corrente Mahayana aceita mais algumas Escrituras,
incluindo alguns sutras bem
conhecidos, como o Sutra do Lótus, o Sutra do Coração, o Sutra do Diamante e o
Sutra de Amitabha. Além disso, os Budistas Mahayana,
em geral, também reverenciam mais Bodhisattvas
(seres iluminados que assumem a tarefa de salvar a humanidade). Os países a Sul
e a Leste da região onde Buda ensinou (no nordeste da Índia), tendem a ter mais
Theraveda; os países do norte e do
extremo oriente têm mais Budistas Mahayana.
E é claro que muitos Budistas contemporâneos, independentemente da sua escola
de pensamento, vêem agora a sua fé de forma muito diferente da que
originalmente surgiu:
Relevo Budista Mahayana (sec. II ou III), Paquistão |
O fundador do Budismo era uma alma
maravilhosa. Ele estabeleceu a Unidade de Deus, mas depois os princípios
originais das Suas doutrinas desapareceram gradualmente, e os costumes e as
cerimónias ignorantes surgiram e aumentaram até que finalmente se transformaram
no culto de estátuas e imagens. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, p. 165)
Para
perceber alguns dos problemas da história e das escrituras Budistas, agora
podemos examinar algumas questões que nos são colocadas, começando pela mais
básica: o Budismo é teísta, ou seja,
acredita em Deus? Para responder a esta pergunta, o ministério de Buda deve
ser considerado na perspectiva histórica. Quando Buda apareceu, a religião
Védica na Índia estava num período de declínio. A narrativa Budista diz que a
casta privilegiada dos sacerdotes - os brâmanes - se tinha corrompido, pouco
sabendo sobre o verdadeiro espírito da religião, o que os tornou incapazes de
ensinar aos outros o caminho para Deus. Um discípulo do Buda, Vasettha,
comentou esta situação; Buda respondeu:
Então dizes, também, Vasettha, que os
brâmanes [sacerdotes] têm raiva e malícia nos seus corações, e são pecadores e
descontrolados, enquanto Brahman [Deus] está livre de raiva e malícia, não tem
pecado e tem autocontrole. Agora, pode haver consonância e semelhança entre os
brâmanes e Brahman?
Note-se que
o Buda fala sobre Deus (Brahman) e está interessado em reflectir correctamente
a luz de Deus. Mas o Buda viveu num tempo em que as pessoas se afogavam num mar
de diferentes doutrinas sobre Deus e os diferentes direitos dos sacerdotes como
intermediários. Ele viu claramente que acrescentar a fraternidade intelectual e
religiosa não ajudaria a salvar a humanidade dos seus sofrimentos. Em vez
disso, a sua Religião maravilhosa e profundamente espiritual pede a seus
seguidores e a todos nós que nos concentremos na nossa viagem espiritual
interior.
----------------------------------
Texto Original: Buddhists, Baha’is and God (www.bahaiteachings.org)
- - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Tom
Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e
investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e
também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat
Press.
1 comentário:
Além dessa questão do teísmo, existe a questão da crença na reincarnação.
Enviar um comentário