sábado, 2 de agosto de 2025

Os governantes têm um impacto duradouro na História?

Por David Langness.


Conhece a história do encontro entre Diógenes, o famoso filósofo que buscava a verdade, e Alexandre, o Grande? O encontro não correu bem para o rei.

Diógenes e Alexandre
Diógenes, conhecido em todo o mundo pela sua filosofia que rejeitava o materialismo e as restrições artificiais da sociedade grega, vivia num barril nas ruas de Corinto. Na verdade, tinha desistido de tudo o que possuía e tornara-se um sem-abrigo voluntário para demonstrar o seu desdém pelo materialismo. Plutarco escreveu que Alexandre, que procurou e ficou entusiasmado ao conhecer o famoso filósofo, parou diante de Diógenes sentado e perguntou-lhe se podia fazer alguma coisa por ele.

"Sim", disse Diógenes. "Sai da frente do sol; estás a fazer-me sombra".

O filósofo olhava fixamente uma pilha de ossos humanos à sua frente, e Alexandre, o Grande, o homem mais poderoso do mundo na época, aluno de Aristóteles e filho do rei Filipe II, perguntou a Diógenes o que estava a fazer.

Estou à procura dos ossos do seu pai”, disse Diógenes, “mas não consigo distingui-los dos ossos de um escravo”.

Estas lendas e histórias tendem a ser embelezadas com o tempo e, porque já passaram 2300 anos desde o suposto encontro, é preciso levar o relato de Plutarco sobre Diógenes e Alexandre, o Grande, com uma boa dose de cepticismo, ou talvez várias. A história, apócrifa ou não, sobreviveu tanto tempo porque ilustra uma verdade importante: na vida, as nossas condições podem ser muito diferentes; mas na morte tornamo-nos iguais. Riqueza, pompa e circunstância terrenas não significam nada na sepultura.

Os ensinamentos Bahá’ís reflectem longa e frequentemente sobre este importante tema, tal como os ensinamentos de todas as grandes religiões. Alertam-nos para não darmos demasiada importância ao estatuto social, à hierarquia ou à distinção mundana — porque tudo isto é temporário, importante neste mundo por um curto período, mas não no mundo que é eterno.

Neste excerto muito socrático de uma das suas epístolas, Bahá'u'lláh faz-nos a todos a mesma pergunta essencial que Diógenes fez a Alexandre:

Olhando para os que dormem sob as lápides, rodeados pelo pó, poder-se-ia distinguir entre a caveira desfeita do soberano e os ossos em decomposição do súbdito? Não, por Aquele que é o Rei dos Reis! Pode-se distinguir o senhor do vassalo, ou aqueles que disfrutaram riquezas daqueles que não possuíam sapatos ou uma esteira? Por Deus! Toda a distinção foi eliminada, salvo para aqueles que defendem o que é correcto e governam com justiça.

Para onde foram os homens instruídos, os sacerdotes e os potentados de outrora? Os que aconteceu às suas perspectivas criteriosas, às suas percepções sensatas, às suas declarações sábias? Onde estão os seus cofres ocultos, os seus ornamentos aparatosos, os seus divãs dourados, os seus tapetes e almofadões espalhados? Desapareceu para sempre a sua geração! Todos pereceram, e, pelo mandamento de Deus, nada restou deles salvo pó disperso. Esgotada está a riqueza que amealharam, espalhados estão os bens que acumularam, dissipados estão os tesouros que esconderam. Agora, nada se pode ver salvo os seus lugares favoritos desertos, as suas habitações sem telhado, as suas vigas arrancadas, e o seu esplendor desvanecido. Nenhum homem de discernimento permitirá que a riqueza distraia o seu olhar do seu derradeiro objectivo, e nenhum homem de compreensão permitirá que as riquezas o impeçam de se voltar para Aquele Que é o Possuidor de Tudo, o Altíssimo.

Onde está aquele que detinha o domínio sobre tudo onde o sol brilha, que vivia extravagantemente na terra, procurando os luxos do mundo e tudo o que foi criado nele? Onde está o comandante da legião negra e que erguia o estandarte dourado? … Onde estão aqueles perante cuja munificência as casas de tesouros da terra se encolhiam de vergonha, e ante cuja generosidade e vastidão de espírito o próprio oceano se envergonhava? Onde está aquele que estendeu o seu braço em rebelião, e voltou a sua mão contra o Todo-Misericordioso?

Onde estão aqueles que foram em busca dos prazeres mundanos e frutos dos desejos carnais? Para onde fugiram as suas mulheres belas e graciosas? Onde estão os seus ramos ondulantes, os seus galhos que se expandem, as suas mansões grandiosas, os seus jardins protegidos? E sobre os encantos desses jardins – os seus solos refinados e brisas suaves, os seus regatos murmurantes, os seus ventos sussurrantes, o arrulho das suas pombas, o som leve das suas folhas? Onde estão agora as suas manhãs resplandecentes e os seus rostos brilhantes envoltos em sorrisos? Ai deles! Todos pereceram e foram repousar sob uma abóbada de pó. Deles, não ouvimos nem o nome, nem menção; nada se sabe dos seus assuntos, e nada resta dos seus sinais.

Como? Irão então as pessoas contestar aquilo de que elas próprias são testemunhas? Irão elas negar aquilo que elas sabem ser verdade? Não sei em que deserto deambulam! Será que eles não vêem que embarcaram numa viagem que não tem retorno? Durante quanto tempo irão vaguear da montanha para o vale, da várzea para a colina? “Não chegou o momento para aqueles que acreditam tornarem humildes os seus corações à menção de Deus?” Bendito seja aquele que disse, ou diz agora, “Sim, pelo meu Senhor! O momento chegou e a hora soou!”, e, depois disso, desprende-se de tudo o que existe, e entrega-se inteiramente Àquele Que é o Possuidor do universo e Senhor de toda a criação. (Bahá’u’lláh, Súriy-i-Haykal, ¶259-¶263)

Os únicos líderes que têm um impacto duradouro na história, diz aqui Bahá'u'lláh claramente, são aqueles "defendem o que é correcto e governam com justiça". O seu poder e prazeres mundanos, os seus castelos, as suas riquezas e os seus poderosos exércitos, tudo se desmorona, se dissipa e desaparece no passado esquecido, e a única coisa que permanece é a memória dos atributos espirituais internos que revelaram ao povo que governaram.

Com isto em mente, no próximo artigo desta série, vamos analisar uma das explicações modernas da história mais populares e amplamente aceites: a teoria do homem comum.

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Texto original: Do Leaders Have a Lasting Impact on History? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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