Por Ming Tai-Seale.
Um novo amigo da China perguntou-me recentemente: "Posso ser Bahá'í e membro de um partido político, ou de alguma outra religião?"
Este visitante inquisitivo da China assistiu a um “fire-side”, uma reunião informal" em minha casa onde estavam Bahá’ís e amigos interessados em discutir a unidade da humanidade. Nestes encontros calorosos e sinceros, partilhamos experiências pessoais, reflectimos sobre temas como o propósito da vida, o que significa viver espiritualmente e o que nos acontece quando deixamos este mundo. Falámos sobre o porquê de existirem tantas religiões e sobre as semelhanças e diferenças entre estas religiões e outros sistemas de pensamento político e social, como o Cristianismo ou o comunismo.
Este novo amigo disse que se sentiu tão tocado pelos ensinamentos da Fé Bahá’í e pela amorosa comunidade Bahá’í que quis tornar-se Bahá’í. Recebemo-lo de braços abertos — a Fé Bahá’í é muito inclusiva e todos são bem-vindos. Alguns dias depois, contou-nos que tinha participado em estudos bíblicos e que também acreditava nos princípios do comunismo. Queria saber se poderia ser Bahá’í e, simultaneamente, membro de outra igreja ou de um partido político.
Adoro conhecer novos amigos que descobrem a Fé Bahá'í. As suas perguntas proporcionam-me frequentemente novas perspectivas para o meu próprio despertar espiritual e ajudam-me a viver melhor como Bahá'í. Lembro-me da emoção que senti quando descobri a Fé Bahá’í em Atlanta, Geórgia, consigo identificar-me com a sua profunda admiração ao descobrir esta nova fé.
Quando estudava em Emory, um clérigo convidou-me para estudos bíblicos. Recusei porque não me sentia uma ovelha perdida, nem que precisasse de ser salvo por um pastor sino-americano idoso e pela sua congregação. No entanto, o convite dos Bahá’ís para estudarmos juntos foi completamente diferente.
Os Bahá’ís que conhecia convidaram-me a construir um mundo melhor com eles — porque isso não pode acontecer sem a participação activa das pessoas de todo o mundo.
“Nobre te criei”, disse-nos Bahá’u’lláh n’ As Palavras Ocultas. O meu coração identificou-se imediatamente com esta mensagem, especialmente porque a minha educação chinesa me incutiu a crença de que todos os seres humanos nascem puros e bondosos. A visão de trabalhar com parceiros afectuosos que me consideram um ser nobre, digno de ajudar a construir um mundo melhor – foi um convite que me senti honrado por aceitar. Afinal, uma das bandeiras na Praça Tiananmen (a Porta da Paz Celestial), que separava o antigo Palácio Imperial do povo de Beijing, diz: “Viva a unidade de todos os povos do mundo”.
| Praça Tiananmen À esquerda está escrito: “Viva a República Popular da China”, enquanto à direita está escrito: “Viva a Grande Unidade dos Povos do Mundo”. |
Desde o dia em que me tornei Bahá’í, os ensinamentos da Fé revelaram-me que somos seres espirituais que vivem temporariamente num mundo prático; não somos apenas seres materiais. Aprendi que os princípios espirituais podem impulsionar-nos a escolher a unidade e o sacrifício pessoal; por outro lado, as ambições materiais podem incitar acções egoístas prejudiciais à unidade da nossa família, local de trabalho e entre países. Através da leitura diária das Escrituras Bahá’ís, das orações e da meditação, os Bahá’ís aprendem a viver de acordo com os Ensinamentos de Bahá’u’lláh, que transformam os nossos pensamentos e acções para que se tornem velas brilhantes — e ajudem a construir um mundo melhor neste processo.
Então, como respondi ao meu novo amigo? Disse-lhe que a Fé Bahá’í incentiva com entusiasmo o estudo das outras religiões. Como acreditamos que todas as religiões provêm do mesmo Deus, os Bahá’ís amam e respeitam todas as religiões de igual forma. Expliquei que os Bahá’ís não pertencem outras religiões porque acreditamos que esta mensagem mais recente de Deus abrange todas elas.
E quanto ao comunismo? Bem, eu disse ao meu amigo que os Bahá’ís acreditam em Deus e esforçam-se por viver uma vida espiritual. Muitos Bahá’ís vivem em países comunistas com sistemas políticos de partido único – e os Bahá’ís são leais aos seus governos, seguindo diligentemente as exigências legais dos seus países. Se a lei do país exige que pertençam a um partido, os Bahá’ís cumprem – mas se tiverem escolha, os Bahá’ís abstêm-se de se envolver na política partidária. Mostrei ao meu amigo esta passagem do Guardião da Fé Bahá’í, que descreve o princípio Bahá’í da não participação na política:
Alguns dos princípios e ideais que animam as instituições políticas e eclesiásticas, todo o seguidor consciencioso da Fé Bahá’í pode, sem dúvida, subscrever prontamente. Contudo, ele não pode identificar-se com nenhuma dessas instituições, nem pode endossar incondicionalmente os credos, os princípios e os programas em que se baseiam. (The World Order of Baha’u’llah, p. 198)
O meu amigo entendeu. Está a continuar a estudar e a descobrir a beleza dos princípios Bahá'ís.
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Texto original: Baha’is and Communism (www.bahaiteachings.org)
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Ming Tai-Seale abraçou a Fé Bahá’í há muitos anos, quando era estudante de pós-graduação em Saúde Pública. Actualmente, como cientista sénior do Instituto de Investigação da Fundação Médica de Palo Alto (EUA), envolve doentes e médicos em projetos de investigação que visam a melhoria da qualidade dos cuidados.
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