sábado, 19 de julho de 2025

Como a Fé Bahá'í me ajudou a ficar sóbrio

Por David Langness.


O meu pai era alcoólico. Por isso, poderia supor-se que eu teria aprendido algumas lições com essa experiência, mas quando cheguei à adolescência, eu já estava bem adiantado nesse caminho.

O álcool arruinou a vida do meu pai. Alistou-se nos fuzileiros navais aos 18 anos e lutou corajosamente nas campanhas do Pacífico da Segunda Guerra Mundial, onde foi gravemente ferido e promovido após combates brutais em Tarawa e Iwo Jima; tudo isso deixou-o profundamente traumatizado. Quando a guerra terminou, o seu consumo ocasional de bebidas alcoólicas tinha-se transformado gradualmente num hábito diário e, mais tarde, num vício.

Penso que, na ausência de qualquer terapia, usou o álcool para se automedicar, para apagar o grave trauma e a lesão moral que sofreu na guerra. Infelizmente, os veteranos da Segunda Guerra Mundial não tiveram acesso a tratamento para esses traumas.

O meu pai não parecia um alcoólico – quando era criança, nunca o vi cambalear ou arrastar as palavras. "Não estou bêbado", dizia com orgulho, "só tomo duas bebidas por dia". Essa parte das "duas bebidas" era verdade – mas cada uma dessas suas bebidas era servida num copo de 240 ml com cerca de 95% de Bourbon, com um bocadinho de água. O Bourbon é um tipo de whisky que normalmente contém 40 a 50% de álcool puro. Além disso, costumava começar a beber à noite, antes de consumir as bebidas mais fortes, com algumas cervejas, que ele não considerava uma bebida a sério.

Assim, o meu pai bebia, todas as noites, pelo menos 240 ml de álcool puro. A maioria das pessoas não conseguiria fazê-lo fisicamente. Orgulhava-se de conseguir "aguentar a bebida", como ele próprio dizia. Hoje, os médicos compreendem que a tolerância ao álcool aumenta com o tempo, tal como acontece com qualquer droga, e sabem também que consumir tanto álcool de uma só vez sem prejuízo visível significa que o alcoolismo atingiu um estado muito avançado. Talvez por isso o seu estômago, com úlceras graves, teve de ser removido aos 45 anos.

Sob a sua tutela, comecei a beber aos cinco anos.

Tudo começou quando o meu pai me oferecia goles da sua cerveja ou Bourbon, pensando que "me ensinaria a beber em casa". Era um ritual para ele, uma prática que ele, erradamente, achou que seria boa para mim a longo prazo. Em vez disso, fez-me sentir o gosto pelo álcool desde cedo, normalizou-o na minha vida, e quando eu tinha 14 anos já bebia muito.

Felizmente, aos 15 anos, fiz um novo amigo: Bill Davis. Considerava-o um tipo mais velho, embora provavelmente estivesse na casa dos 20. Bill tinha um emprego a sério e uma pequena casa que transformara num Centro Bahá'í para jovens como eu em busca de um sentido na vida. Todas as noites, depois do trabalho, podíamos encontrar o Bill, uma das pessoas mais bondosas que já conheci, fosse numa reunião Bahá’í em sua casa ou na cave de uma igreja algures, a participar numa reunião dos Alcoólicos Anónimos.

Um dia, o Bill chamou-me à parte e perguntou: "Ouve, Dave, porque é que não vens comigo a uma das minhas reuniões dos Alcoólicos Anónimos?".

Porque é que eu iria querer fazer isso?” perguntei-lhe.

Bem, porque obviamente está a ter problemas com a bebida, não é?

Isto chocou-me, mas admito que era verdade. Na adolescência, já tinha sofrido com alguns apagões e alguns incidentes de embriaguez que preferia esquecer. O meu consumo diário de bebidas alcoólicas tinha passado de recreativo a obrigatório. Relutantemente, aceitei ir a uma das reuniões com o Bill.

Naquele grupo, onde eu era o único adolescente, conheci outros alcoólicos mais velhos e grisalhos, que tentavam afastar-se da bebida. Alguns receberam-me bem, mas outros ridicularizaram-me: "Sai daqui, miúdo", rosnou um deles, "volta depois de 30 anos a beber na sarjeta, como nós".

Aqueles homens – eram todos homens – assustaram-me. Mostraram-me como seria o meu futuro se continuasse no naquele caminho. Comecei a estudar o alcoolismo, li sobre os efeitos reais do álcool no cérebro e no corpo humano, e tornei-me membro regular dos Alcoólicos Anónimos. Deixei definitivamente de beber aos 17 anos e, um ano depois, no meu 18º aniversário, tornei-me Bahá'í.

Os ensinamentos Bahá’ís, e a forma como o meu amigo Bill os explicou devagar, sem juízos ou qualquer insistência para que eu os seguisse, tiveram um enorme impacto na minha sobriedade. Assim que deixei de beber, pude perceber que os princípios Bahá’ís de evitar qualquer substância viciante tornaram a minha mente mais clara, as minhas acções mais responsáveis e a minha alma mais capaz de funcionar sem falhas ou danos.

Durante aquele período inicial e formativo da minha vida, apoiava-me todos os dias em duas orações: uma, a oração da serenidade dos Alcoólicos Anónimos, que diz: “Deus, concede-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso e a sabedoria para saber a diferença”; e esta oração de ‘Abdu’l-Bahá, das Escrituras Bahá’ís:

Ó Divina Providência! Concede pureza e limpeza em todas as coisas ao povo de Bahá. Permite que sejam libertados de toda a mácula e de todos os vícios. Salva-os de cometer qualquer acto repugnante, liberta-os das correntes de todo o mau hábito, para que possam viver puros e livres, saudáveis e limpos, dignos de servir no Teu Sagrado Limiar e aptos para se relacionarem com o seu Senhor. Livra-os das bebidas embriagantes e do tabaco, salva-os, resgata-os deste ópio que traz a loucura, permite-lhes desfrutar dos doces sabores da santidade, para que possam beber profundamente da taça mística do amor celestial e conhecer o êxtase de serem atraídos para cada vez mais perto do Reino do Todo-Glorioso.

Nos próximos artigos desta série, examinaremos alguns dos dados científicos actuais sobre o álcool e veremos se podemos obter uma melhor compreensão dos seus efeitos nos indivíduos e na sociedade como um todo.

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Texto original: How the Baha’i Faith Helped Me Get Sober (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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