quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Quando os Baha’is forem livres, os Iranianos também serão

O texto que se segue foi publicado no site da CNN e é de autoria do Hamid Dabashi, professor Estudos iranianos e Literatura Comparada na Columbia University em Nova York. Os sublinhados a amarelo são da minha responsabilidade.

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No seu último comunicado sobre o destino dos sete membros da minoria religiosa Baha’i detidos no Irão, a Amnistia Internacional, expressou profunda preocupação pelo facto de poderem enfrentar a pena de morte se forem considerados culpados das acusações de "espionagem para Israel", "insulto a santidades religiosas" e "propaganda contra o sistema".


Com a Republica Islâmica do Irão a experimentar o mais sério desafio à sua legitimidade em 30 anos de história, a vulnerabilidade das minorias étnicas e religiosas é o barómetro mas preciso da crise que todos os iranianos enfrentam nestas circunstâncias.

As minorias sempre estiveram à mercê de autoridade beligerantes, particularmente quando enfrentam uma crise de legitimidade. Os curdos no Irão ocidental, as comunidades de língua árabe no sul, assim como os Turcomanos e os Baluchis no oriente estiveram na primeira linha dessas discriminações, que por sua vez instigaram movimentos separatistas crónicos nessas áreas.

Simultaneamente, Zoroastrianos, Judeus e Arménios Iranianos também enfrentaram diferentes níveis de discriminação, a nível oficial e cultural, à medida que se juntaram aos seus irmãos muçulmanos na oposição à tirania doméstica e à intervenção estrangeira.

Entre todas estas minorias, os Baha’is permanecem a mais frágil, em parte devido às hostilidades sectárias intra-xiitas que datas de meados do século XIX, e devido ao surgimento de um movimento messiânico muito popular conhecido como Babismo, do qual os actuais Baha’is são uma ramificação. Os seus aderentes consideram-se seguidores de uma religião inteiramente nova, que na verdade é a mais recente religião monoteísta iraniana com mais de cinco milhões de adeptos espalhados por 200 países.

Enquanto outras minorias religiosas estão especificamente protegidas pela Constituição da República Islâmica, tal não é o caso dos Bahá'ís.



O artigo 13º da Constituição reconhece de forma específica e exclusiva Zoroastrianos, Judeus e Cristãos como as "únicas minorias religiosas reconhecidas, que, dentro dos limites da lei, são livres para realizar os seus ritos e cerimónias religiosas, e para agir de acordo com os seus próprios cânones em matéria de assuntos pessoais e educação religiosa".

A palavra "únicas" neste artigo parece especificamente escolhida para excluir os Baha’is desta cláusula. Com o mesmo efeito, o artigo 14 da Constituição estipula que a protecção constitucional das minorias é exclusiva daquelas que se “abstêm de envolvimento em conspiração ou actividade contra o Islão e a República Islâmica do Irão”.

A localização dos lugares sagrados Baha'is em Haifa, Israel, tem sido o principal motivo de hostilidade e intimidação contra os Baha'is. Isto data do antigo período Otomano, e precedeu o estabelecimento do Estado Judaico em 1948. é também algo sobre o qual os Baha'is não tiveram controlo.

Face ao sistemático abuso de liberdades civis dos Baha'is, o governo americano pouco pode fazer, particularmente na rescaldo da presidência Bush e oito anos de vasta islamofobia que nem deixaram incólume a última campanha presidencial.

Tendo-se envolvido em duas guerras com nações muçulmanas, o governo americano encontra-se na mais desfavorável posição para defender os direitos das minorias não Muçulmanas nos seus países. Além disso, durante os oito anos da presidência Bush, e como consequência dos eventos do 11 de Setembro, ser Muçulmano tornou-se um handicap nos Estados Unidos, criando problemas até para o nome do meio do Presidente Obama.

Foi apenas quando o antigo Secretário de Estado Colin Powell veio a público expressando-se fortemente contra a calúnia contra os muçulmanos, é que se viu uma figura pública colocar o problema na consciência nacional.

Tanto quanto o Governo Americano está na pior posição para poder ajudar os Bahá’ís, os Muçulmanos americanos estão perfeitamente preparados, para expressar a sua indignação contra o abuso das minorias religiosas no Irão e em toda a parte do mundo Muçulmano, pois sabem o que é sentir-se um pária político e uma minoria religiosa num contexto esmagadormente diferente.

Desde os terríveis eventos do 11 de Setembro, as comunidades Muçulmanas americanas suportaram muita suspeição e preconceito religioso e racial, pois viram os valores e os símbolos sagrados da sua fé caluniados e ridicularizados na Europa Ocidental, na América do Norte e na Austrália.

Multiplicando muitas vezes essa experiência e prolongando a mesma até ao final do século XIX, obteríamos a experiência dos Baha'is iranianos, presos na sua própria pátria, impedidos de exercer os seus próprios princípios sagrados.

As experiências dos Muçulmanos aqui nos Estados Unidos ou na Europa, nessa matéria, colocam-nos numa posição única para levantar a voz contra o ataque às minorias não muçulmanas no Irão e no resto do mundo Muçulmano.

Num mundo agora caracterizado pela presença de múltiplas fés no interior de muitas nações, e à medida que os Muçulmanos americanos aprendem a unir-se para proteger os seus direitos constitucionais numa velha democracia, seria adequado que levantassem a sua voz na defesa de outras minorias religiosas que procuram garantir os seus direitos básicos às liberdades religiosas em países que aspiram tornar-se democracias.

O destino dos Baha’is iranianos não é apenas uma questão relacionada com os seus direitos civis fundamentais no contexto de qualquer república Islâmica, ou outra. É a própria pedra angular da cidadania democrática sem a qual a maioria dos Iranianos muçulmanos tem negada a sua protecção constitucional. Veja-se cuidadosamente o destino dos baha’is iranianos.

No dia em que eles forem livres para praticar a sua religião sem receio, os iranianos em geral, terão garantido finalmente as suas liberdades civis.

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