quarta-feira, 23 de março de 2016

Pode a Unidade impedir o próximo ataque terrorista?

Por David Langness.


As religiões divinas devem ser a causa de união entre os homens, e instrumentos da unidade e do amor; devem promulgar a paz universal, libertar o homem de todo preconceito, conceder alegria e júbilo, exercer bondade para com todos os homens e eliminar qualquer diferença ou distinção. (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, p. 28.)
Ontem, bombas terroristas explodiram no aeroporto e numa estação de metro de Bruxelas, matando dezenas de pessoas e ferindo centenas.

A Europa e os Estados Unidos sofreram um crescente número de ataques terroristas ao longo dos últimos meses. Estes ataques aproveitaram a abertura e vulnerabilidade das sociedades Ocidentais, com a sua liberdade pessoal, espaços públicos acessíveis e relativa facilidade para atravessar fronteiras nacionais. Grupos terroristas como o Daesh ou a al-Qaeda juraram atacar alvos na Europa e na América, ameaçando com novos ataques no Ocidente.

A situação geral não mostra sinais de acalmia para breve. As bombas usadas em Bruxelas, dispositivos rudimentares cheios de pregos para infligir o maior número de baixas, foram detonados pelos bombistas suicidas que pretendiam lançar o caos e o medo, e dar as suas vidas ao fazê-lo. Inacreditavelmente, qualquer pessoa com as motivações erradas, pode agora construir uma arma destas – os materiais estão disponíveis em quase toda a parte, e é simples encontrar as instruções detalhadas para construir bombas. Enquanto os terroristas continuarem a acreditar que o Ocidente pode ser responsabilizado pelos conflitos sangrentos em certas partes do mundo – e sejamos claros, enquanto o Ocidente continuar a envolvido em guerras por proxy no Médio Oriente com tropas, bombas e drones – estas mortes aleatórias de civis inocentes irão provavelmente continuar.

Então o que podemos fazer em relação a isto?

Os ensinamentos Bahá’ís têm três sugestões muito específicas: unidade internacional; um crescente nível de integração e unidade nas nossas cidades segregadas; e uma cultura ampla e concertada destinada a eliminar o preconceito religioso.

Primeiro: um dos problemas mais persistentes que impede o mundo de combater o terrorismo de forma eficiente deve-se às suas redes de segurança fragmentadas, isoladas e não comunicantes. Muitos países Europeus, por exemplo, não partilham entre si informações sobre terroristas conhecidos e seus associados. A desconfiança e preconceitos históricos contribuem para o problema. Algumas nações até têm agências de segurança que competem entre si nas suas burocracias nacionais e não partilham prontamente informação entre elas.

Se a União Europeia conseguir reduzir os obstáculos na partilha de informação de segurança, ultrapassar animosidades históricas e preconceitos entre nações, e transmitir de forma mais eficiente informação relevante sobre segurança entre os seus Estados membros, a ameaça de mais ataques pode ser significativamente reduzida. Se as nações do mundo se unirem de forma determinada para parar o terrorismo, poderão conseguir fazê-lo. A dificuldade é apenas a falta de unidade.

Segundo: muitos países Europeus, e muitas cidades Americanas, criaram de forma inadvertida - ou talvez, propositada - guetos de emigrantes estrangeiros. As populações muçulmanas nestas áreas urbanas, amontoadas em bairros pobres, em vez de serem distribuídos e integrados na sociedade mais ampla, tendem a manter as suas práticas culturais e preconceitos trazidos dos seus países de origem. Este isolamento e segregação forçadas podem alimentar um sentimento de alienação em relação ao país de acolhimento, pode fomentar uma desconfiança nas leis locais, pode criar a base de um ódio prolongado, e pode tornar-se um local de refúgio onde jihadistas esperam esconder-se e escapar à justiça.

Se a Europa e a América fizerem esforços concertados para pôr fim à prática de segregação de refugiados e emigrantes, e impedirem a prática comum - intencional, ou não - de criar guetos que impedem a aculturação e a absorção de grandes grupos de pessoas de outros lugares, então podemos começar a livrar as populações de potenciais terroristas e jihadistas. Este tipo de dispersão aceleraria o processo de integração e unificação.

Conseguir este objectivo a longo prazo exige, obviamente, um esforço concertado de muitos sectores da sociedade Ocidental. Podemos começar agora, a nível individual e pessoal, tentando alcançar, encontrar e comunicar com pessoas que vivem em enclaves de emigrantes nas nossas cidades. Só reduzindo o afastamento, travando conhecimento e fazendo amizades com pessoas de diferentes religiões e tradições culturais, e derrubando barreiras entre culturas, podemos começar a integrar e unificar eficientemente as nossas sociedades.

Terceiro: um contra-terrorismo eficiente não significa apenas meios de segurança e integração. Também significa libertar-mo-nos de preconceitos que tradicionalmente assolam as religiões. Desenvolver o entendimento, as ligações e a unidade entre religiões é a solução derradeira para o terrorismo. Isso será o baluarte contra a separação, contra a desconfiança e contra a violência que sempre resulta dessa separação:
O ódio e o rancor religioso são um fogo que consome o mundo, e cuja extinção é muito difícil, a menos que a mão do poder divino liberte o homem desta calamidade infrutífera.
Acautelai-vos com o preconceito; a luz é boa em qualquer lâmpada que brilhe. Uma rosa é bela em qualquer jardim que possa florescer. Uma estrela tem a mesma radiância, se brilhar no oriente ou no ocidente.

Todos os Profetas de Deus vieram para unir os filhos dos homens e não para os dividir; ponham em prática a lei do amor e não a inimizade.

Devemos banir o preconceito. Preconceitos religiosos, patrióticos e raciais devem desaparecer, pois são destruidores da sociedade humana.

Devemos tornar-nos causa de unidade da raça humana. (‘Abdu’l-Bahá, Divine Philosophy, p. 25.)

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Texto original: How Unity Could Stop the Next Brussels Bombing (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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