Admiro a maioria dos médicos e enfermeiros. Admiro a maioria os profissionais de saúde. Mas não tenho estômago para ser como eles. O tipo de pressões a que estão sujeitos, o facto de lidarem com a vida dos outros,... isso não é coisa para mim.
O exemplo do quão desgastante pode ser a profissão de enfermeiro ou médico foi-me contado numa história que se passou num hospital distrital.
Há alguns anos atrás, o Hospital possuía um número limitados daqueles aparelhos que conseguem manter uma pessoa viva de forma artificial (não sei como se chamam os aparelhos). Diziam as normas internas que se não houvesse máquinas disponíveis para todas as pessoas, dever-se-ia dar prioridade às pessoas mais novas.
Houve uma ocasião em que a equipa responsável pelos cuidados intensivos recebeu quase em simultâneo dois pacientes que necessitavam de ser “ligados à máquina”; o primeiro era um homem com 65 anos que já tinha sobrevivido a três enfartes e mostrava imensa vontade de viver; o segundo era um jovem de dezoito anos que acabava de cometer a segunda tentativa de suicídio.
Mas apenas havia uma máquina disponível! A equipa tinha de escolher quem ia viver e quem ia morrer.
Assim que perceberam a situação, a discussão estoirou. Uns argumentavam com os regulamentos; outros contrapunham a “vontade de viver” de cada um dos pacientes. Houve gritos e choros. Por fim acabaram por dar prioridade ao jovem.
Passadas algumas horas, o homem mais velho morria; no dia seguinte, o jovem morreu também (desistiu de viver, diziam). Mais choro e desânimo na equipa de cuidados intensivos.
Este tipo de situações causam um desgaste profundo em qualquer pessoa normal; imagino que seja necessário ter nervos de aço e um estômago muito forte para lidar ciclicamente com estes casos. E depois de enfrentar isto, os profissionais de saúde voltam para casa, onde têm a família que os aguarda. Como é que ainda têm forças para dar atenção à família?
É por terem capacidade para aguentar coisas destas é que eu admiro médicos e enfermeiros.
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