domingo, 2 de janeiro de 2005

Calamidade na Aldeia Global

Que mais se pode dizer sobre a calamidade no Oceano Índico? As gerações actuais nunca assistiram a um desastre natural tão destrutivo e tão abrangente. Apesar de ter acontecido longe de Portugal, custa a acreditar que possa ter acontecido uma coisa destas dimensões. Custa a acreditar que a vida seja assim tão frágil! Mas a verdade é que, enquanto vivermos estaremos sujeitos às forças da natureza, e a todo o tipo de calamidades naturais.

A mais tocante das reportagens que assisti sobre esta calamidade passou na BBC. Um jornalista no Sri Lanka entra numa casa destruída pelas águas. Era a casa de uma família cristã; na parede esta uma imagem de um Cristo (semelhante ao que existe em tantos lares portugueses); a um canto estão algumas decorações de Natal. Pelo chão, ente muitas outras coisas, encontra um álbum de fotos, onde se registaram os sorrisos e os momentos especiais da vida de qualquer família. Mais à frente está um caderno de apontamentos de um aluno de engenharia electrotécnica. Percebemos que aquele local é o lar de uma família que - muito provavelmente - já não existe. Uma família que teve alegrias e tristezas, sonhos e desilusões. Ao sair da casa o jornalista confessa: "A tragédia deu-se há quatro dias e fiquei com a sensação de ter cometido uma intromissão por ter entrado naquela casa".

Sem necessidade de recorrer a imagens brutais com cadáveres de crianças, famílias desesperadas ou edifícios arrasados, a televisão britânica deu-nos uma reportagem com tremenda intensidade dramática e humana.


Uma tragédia destas dimensões na nossa Aldeia Global terá sempre as suas consequências e levará a algumas reflexões. Afinal, nas aldeias, quando há um incêndio numa (ou mais) casas, todos interrompem o que estão a fazer e correm a ajudar; raros são os que deixam para o dia seguinte a ajuda aos afectados pela tragédia.

Creio que é chegada a altura da comunidade internacional se organizar de forma a constituir uma força de intervenção rápida para reagir a este tipo de catástrofes. Espalhada por vários continentes, essa força teria como objectivo a rápida prestação de auxílio às vítimas de catástrofes naturais. Necessitaria de uma logística adequada (material de transporte, equipamento médico, alimentos, etc) e seu nível de eficiência de pessoas e equipamentos devia permitir intervir em qualquer ponto do globo e em qualquer época do ano. Preferencialmente, as actividades dessa força deviam ser coordenadas pela ONU.

Não imagino os custos de uma tal força; mas se pensarmos que eventos desta natureza se repetem de forma imprevisível (há um ano deu-se o terramoto em Bam, no Irão), percebemos que a sua importância pode ser facilmente reconhecida pela comunidade internacional.

2 comentários:

Anónimo disse...

Até é uma boa ideia, mas duvido que vá para a frente. Só mesmo os países banhados pelo Índico e outros vizinhos desta tragédia é que podem apoiar uma iniciativa semelhante. O resto do mundo deve ficar à espera que uma tragédia semelhante lhe bata à porta.
Vasco

Anónimo disse...

À medida que as catástrofes naturais acontecerem, pode ser que os governos vão aderindo a uma ideia semelhante a esta. Mas penso que as pessoas (e os governos) são demasiado egoistas para se precaverem contra calamidades naturais (que parecem só suceder aos outros). Ouvi algures um sismólogo dizer que está previsto um grande sismo para Istambul. Será?