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De forma análoga à diferença entre as religiões teístas ocidentais e as religiões monistas orientais na forma como vêem os seus fundadores, está a diferença como vêem as suas escrituras. Para as religiões teístas, a escritura é considerada como sendo a palavra de Deus ou a vontade de Deus revelada ao mundo através da mediação do fundador/profeta da religião. No Islão, Maomé e os outros profetas são vistos como transmissores passivos das escrituras. A palavra "revelação" transmite um sentido de desvendar à humanidade algo que sempre existiu. Isto é mais saliente no Islão, onde o Alcorão é considerado como tendo uma preexistência celestial cujo arquétipo, o Alcorão terreno é apenas uma cópia. Assim, a função de Maomé foi revelar, ou desvendar o texto do Alcorão celestial.
O processo da revelação nas religiões teístas é visto com tendo quatro aspectos principais:
- a origem da mensagem (Deus)
- o transmissor da mensagem (o profeta)
- os destinatários da mensagem (a humanidade)
- a própria mensagem (as escrituras)
Existem várias elaborações sobre este padrão básico nas diferentes religiões. No Cristianismo, Cristo é simultaneamente transmissor e parte da mensagem. Ele é o Verbo que se fez carne. No Islão, o anjo Gabriel, através de quem Maomé recebeu a escritura, partilha o papel de transmissor.
Nas religiões teístas existe ainda um significado mais genérico para a palavra "revelação". Pode tratar-se de qualquer auto-descoberta divina. Desta forma, visões e sonhos experimentados pelos santos são consideradas, neste sentido, revelações. De facto, todo o mundo natural é, em alguma medida, revelador de Deus.
No Budismo, por contraste, as palavras de Buda que estão contidas nas várias escrituras budistas não são consideradas como tendo sido transmitidas por Buda e provenientes de uma fonte transcendente. Elas são resultado da visão e sabedoria do próprio Buda, da iluminação que atingiu através dos seus próprios esforços.
O Hinduísmo tem neste contexto, talvez, uma posição intermédia entre o Budismo e as religiões teístas. Parte das suas escrituras podem-se dizer ter sido reveladas. Estas são os Vedas e os Upanishads, que são designados por escrituras shruti (escutadas). Estas são tidas como tendo sido uma revelação divina directa aos rishis (videntes) de tempos antigos. As restantes escrituras hindus, chamadas smriti (lembranças), são atribuídas a tradições e são trabalho de sábios e estudiosos humanos.
Moojan Momen, in The Phenomenon of Religion: A Thematic Approach, pag. 203-204
10 comentários:
A Religião Zoroastriana também é considerada com teísta?
No contexto das religiões monistas é mais fácil a aceitação do conceito de reencarnação, de uma roda (a suástica) que representa uma vida circular em oposição visão teísta em que o tempo (a vida) é vista de forma linear (uma recta que se desloca até ao infinito)?
Não tenho o Moojan Moomen para me responder mas tenho o Marco, que também é outro sábio....
Não sei o suficiente sobre o zoroatrianismo para saber como o classificar.
Sobre a tua segunda pergunta, creio que o teu raciocínio está correcto.
NOTA: Não me dês graxa. Não há necessidade... :-)
Não quero ser mal interpretado, mas graxa dá-se aos couros.
E a religião bahai é teísta?
João,
A religião baha'i afirma a existência de um "Deus pessoal, Incognoscível, Omnisciente, Inacessível, Omnipresente, Fonte de toda a Revelação, Todo-Poderoso e Eterno". Por esse motivo é correcto dizer que a religião baha'i é teísta.
Já escrevi sobre isso num post sobre o Kitab-i-Iqan.
Desculpa lá Marco, estar-te sempre a interpelar sobre assuntos sobre os quais já escreveste, mas como te disse só há pouco tempo descobri o teu blog...mas já fiquei cliente...:-)
João,
Podes questionar à vontade.
Eu prefiro indicar os links quando se tratar de um assunto que já abordei.
:-)
Só ainda não me respondeste sobre o livro do Amin Maalouf "jardins de luz"...presumo quer não o tenhas lido e assim sendo aconselho-te a sua leitura!
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Joao,
Do Amin Maalouf só li "As Cruzadas vistas pelos Árabes". Prometo que vou ler os Jardins de Luz. :-)
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