quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Um Lucro Legítimo?



A propósito da proposta de lei apresentada hoje no Parlamento sobre a generalização de medicamentos em unidose, não deixar de partilhar convosco dois episódios recentes. O primeiro passou-se numa consulta, em que o medico enquanto passava a recita me dizia: "Vai tomar dois comprimidos destes durante quinze dias... ou melhor... durante dez dias. Assim compra uma embalagem de 20 comprimidos; escusa comprar a de 60 comprimidos".

O segundo foi uma farmacêutica amiga que confidenciava como cada vez mais famílias de classe média se viam aflitas para pagar os medicamentos. "Os pobres já sabem que não têm dinheiro para medicamentos; agora é a classe média (sobretudo reformados) que sente este problema. Já chegámos a vender meia embalagem de cada vez... para eles poderem pagar".

Para mim estes são dois pequenos exemplos de como intervenientes do sistema de saúde consideram abusiva a atitude das empresas farmacêuticas. Para quê produzir embalagens com N comprimidos quando os médicos receitam sempre menos de metade dessa quantidade?

Quando hoje tanto se fala de responsabilidade social das empresas, bem podíamos questionar o que fazem as empresas farmacêuticas nesta área e de que forma o Governo as acompanha. Como qualquer empresa, uma farmacêutica tem por objectivo a prestação de serviços (neste caso a produção de medicamentos) e o lucro. Não há nada de imoral no lucro. É importante que todas as empresas o consigam.

Mas um lucro que é obtido quando se obriga os cidadãos - que apenas querem satisfazer uma necessidade elementar chamada saúde - a comprar um produto desnecessário será legítimo? Não é isso uma forma encapotada de extorsão? E porque é que o Parlamento rejeitou esta proposta e se manifestou tão alinhado com as empresas farmacêuticas?

Afinal o que é mais importante: a saúde da população ou os lucros das farmacêuticas?

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