sábado, 24 de maio de 2014

As minhas 3 questões para estudar as Escrituras Bahá’ís

Por Sonjel (publicado no Baha'i Blog).


Pensava, de forma ignorante e ingénua, que conhecia bem as Escrituras, por ter sido educada como Bahá’i. Não demorou muito até perceber que apesar de conhecer muitos princípios da Fé, eu mal conhecia os seus textos sagrados. Bahá'u'lláh exorta-nos a mergulhar no oceano das Suas palavras e eu estava apenas a flutuar à superfície. E num barco!

Pessoalmente, considero que uma pequena parte do mergulho no estudo de um texto requer aquilo que considero o seu contexto. Em várias aulas de aprofundamento, aprendi que existem três perguntas que se podem revelar muito úteis.

A primeira pergunta que eu coloco, principalmente quando se trata de uma obra de Bahá'u'lláh, é a seguinte:

Quando e onde foi revelado o texto, ou quem o compilou?

A resposta a esta questão adiciona um novo nível de apreço no meu estudo. Por exemplo, o meu entendimento sobre a majestade e grandeza do Kitab-i-Aqdas eleva-se quando considero que, paradoxalmente, foi revelado num pequeno quarto, de uma minúscula habitação cheia de gente, sob prisão domiciliar, numa colónia penal pestilenta cujo ar era tão imundo que se dizia que um pássaro cairia morto com o fedor.

A data da revelação também é importante. Trata-se de um texto que surgiu antes ou depois do anúncio da revelação de Bahá'u'lláh? No livro A Revelação de Bahá'u'lláh (volume I), Adib Taherzadeh descreve como a condição de Bahá'u'lláh antes da Sua revelação era como uma lâmpada coberta por um pano. O seu brilho estava ofuscado, mas ainda assim estava presente. O Kitab-i-Íqán, por exemplo, foi revelado um ano antes da Sua declaração; tendo isto em mente, o meu apreço pelas Suas palavras e afirmaçõesaumenta.

Alguns dos livros de escrituras que temos disponíveis são compilações - como Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh. Uma vez houve um amigo que me disse que se fosse parar a uma ilha deserta apenas com um livro, ele gostaria que fosse um exemplar do Seleção, pois esta compilação de escrituras de Bahá'u'lláh é ainda mais encantadora porque foi elaborada por Shoghi Effendi. De todos os escritos da Abençoada Perfeição, estes são os que ele seleccionaria pessoalmente para estudo essencial.

Para mim, a mais comovente de todas as compilações é a Epístola da Visitação, que é recitada na Santuários do Báb e Bahá'u'lláh. Esta epístola é uma tapeçaria de textos da Abençoada Beleza que foram carinhosamente costuradas por um Nabil adoentado, e à qual o Mestre atribuiu autoridade. Recitar as suas palavras é homenagear o Báb e Bahá'u'lláh - ao longo de uma homenagem silenciosa de um servo fiel tão abatido pelo falecimento de Bahá'u'lláh que se lançou ao mar e suicidou-se.

A segunda pergunta que coloco é:

Que medida de autoridade possui o texto?

Isto torna-se particularmente interessante no caso das escrituras de ‘Abdu’l-Bahá, porque nem todas as publicações das Suas palavras têm o mesmo peso. Aqueles escritos pela Sua própria mão - como O Segredo da Civilização Divina, Memorias dos Fiéis, e A Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá, para citar alguns – possuem autoridade inegável e irrevogável. Outros textos, como A Promulgação da Paz Universal, proporcionam um tipo diferente de inspiração: contêm transcrições das Suas palestras que nunca foram aprovadas pelo Mestre, e de certa forma isso pode ser considerado semelhante as notas de peregrinos.

Além disso, o Guardião esclarece o seguinte:
Shoghi Effendi estabeleceu o princípio de que os Bahá’ís não devem dar muita importância às palestras atribuídas ao Mestre, se estas não obtiveram, de uma forma ou outra, a Sua aprovação. [...] Aquelas palestras do Mestre que foram posteriormente revistas por Ele, corrigidas ou de alguma outra forma consideradas autênticas por Ele próprio, tais como " Respostas a Algumas Perguntas", podem ser consideradas como Epístolas e, portanto, ser-lhes atribuído a necessária poder vinculativo. Todas as outras palestras, como as que estão se encontram no diário de Ahmad ou notas de peregrinos, não se enquadram nesta categoria e podem ser considerados apenas como material interessante por aquilo que valem.[1]
Isto torna o Respostas a Algumas Perguntas ainda mais especial e o seu processo único de autorização está descrito na sua introdução:
Como interlocutora, a Sra. Barney conseguiu que um dos genros de 'Abdu'l-Bahá, ou que um dos três distintos persas do seu secretariado durante esse período, estivesse presente durante as palestras para garantir a exactidão no registo das Suas respostas às questões que Lhe eram colocadas. 'Abdu'l-Bahá posteriormente leu as transcrições, por vezes mudando uma palavra, ou uma linha, com Sua caneta. Depois foram traduzidas para inglês pela Sra. Barney.
O que significa esta diferença? Pessoalmente, isso significa que eu estudo e ganho inspiração com todos os textos acima mencionados, e o meu coração alegra-se com a semântica daqueles textos que não são autênticos.

A terceira pergunta que eu gostaria de colocar é a seguinte:

O que diz o Guardião sobre o texto?

O livro Presença de Deus é um recurso fantástico por muitos motivos; mas uma das razões é que apresenta um resumo, uma descrição e uma homenagem completas às escrituras. Ao examinar um texto em particular, pode ser realmente útil ler o que Shoghi Effendi escreve magistralmente sobre este. E porque as sagradas escrituras da nossa Fé são tão diferentes de tudo que já li, sinto a necessidade de um entendimento básico sobre um texto antes de mergulhar nele e considero que Presença de Deus, pode ajudar-me nisso.

Estes são as minhas três questões favoritas para estudo; mas existem por aí muitas outras ferramentas! Estão publicados guias de estudo, como este guia para o Kitáb-i-Íqán, por Hooper Dunbar; existem alguns imensos recursos on-line (como este site, onde se pode fazer download da ferramenta Ocean, uma biblioteca pesquisável de textos religiosos ), e você nunca sabe que pedras preciosas vai encontrar quando estuda com os outros.

[1] De uma carta escrita em nome de Shoghi Effendi para a United States Publishing Committee, 29 de Dezembro de 1931

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Sobre a autora: Sonjel é bibliotecária e vive na ilha de Prince Edward (costa oriental do Canadá). É escritora, leitora ávida, mãe e esposa.

3 comentários:

Vale da Busca disse...

Ótimo texto Marco Oliveira!

O programa Ocean Library saiu de edição a algum tempo, ou seja, nunca mais atualizou, porém os amigos podem encontrá-lo em uma das suas últimas versões em Português no meu link:

http://www.4shared.com/zip/B6NMu0_eba/OceanCD-Spanish.html

Como ótimo substituto mais completo recomendo o programa Interfaith Explorer disponível no link:

http://www.bahairesearch.com/

Abraço!

Marco Oliveira disse...

OceanCD-Spanish.html tem texto português?
:-D

No bahairesearch.com adicionámos textos essenciais do Cristianismo. Para um estudo comparado, isso é muito útil.

Marco Oliveira disse...

Sobre este texto: também é importante saber se o texto revelado surgiu em resposta a algumas questões, quais eram essas questões e qual a motivação da pessoa que colocou as questões. As circunstâncias históricas também podem ajudar a entender alguns textos.