sábado, 24 de janeiro de 2015

As Experiências Quase-Morte segundo Platão, Sócrates e Bosch

Por David Langness.


Apesar do corpo material ter de morrer, o espírito continua eternamente vivo, tal como existe e funciona no corpo inerte no reino dos sonhos. Ou seja, o espírito é imortal e continuará a sua existência após a destruição do corpo. (‘Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 306.)
Quando é que começámos a ouvir falar sobre experiências quase-morte?

Os relatos tradicionais que normalmente são referidos surgiram em meados da década de 1970, quando o médico e psicólogo Raymond Moody publicou o livro Vida Depois da Vida, que se tornou um sucesso de vendas a nível internacional e analisava os casos de 150 pessoas que tinham tido EQMs. Nessa época, muitos profissionais da medicina e pensadores como a Dr. Elizabeth Kubler-Ross tinham começado a redefinir as perspectivas culturalmente negativas sobre a morte.

Mas esse crescimento da consciência pública esconde uma longa história de conhecimento sobre experiências quase-morte ao longo de muitas civilizações.

As Experiências Quase-Morte ao longo da História

Provavelmente, desde que surgiu a nossa espécie que reflectimos e nos questionamos sobre a morte. As primeiras pinturas rupestres e petróglifos, por exemplo, revelam representações artísticas sobre a morte e a viagem da alma. Estamos familiarizados com rituais fúnebres, cerimónias, monumentos, orações e rituais associados a culturas antigas, porque temos escavado e estudado os seus cemitérios e túmulos. No Egipto, por exemplo, as 118 pirâmides usadas para sepultar os faraós todas apontam para cima, em direcção ao céu nocturno; e no interior dentro das pirâmides, geralmente uma conduta estreita estende-se desde a principal câmara funerária em direcção ao céu. Os arqueólogos pensam as pirâmides funcionavam como um funil para a alma do falecido faraó subir em direcção à sua casa permanente, na vida após a morte.

Ao longo da história da humanidade, vários filósofos escreveram magistralmente sobre as experiências quase-morte; Platão escreveu o Mito de Er no século 4 aC para concluir a sua famosa obra A República. Neste, Platão narra a história de um soldado chamado Er que morre no campo de batalha e desperta 12 dias mais tarde na sua pira funerária, e é capaz de falar a todos sobre a imortalidade da alma e a sua evolução após a morte. O soldado percebe que as nossas opções e o carácter que desenvolvemos enquanto vivemos terão consequências após a morte; e retorna à vida para encorajar à aquisição de virtudes como sabedoria, coragem, amor, justiça e moderação.

Sócrates concluiu algo semelhante sobre a morte:
Temer a morte é o mesmo que supor-se sábio quem não o é,
Porque é supor que sabe o que não sabe.
Ninguém sabe o que é a morte, nem se, porventura, será para o homem o maior dos bens; 

E, no entanto, todos a temem, como se soubessem ser ela o maior dos males.
A Ascensão dos Abençoados, de Hieronymus Bosch
Perto do final do século XV, o pintor holandês Hieronymus Bosch deu-nos a sua visão do futuro na Ascensão dos Abençoados, que agora se encontra no Palazzo Ducale em Veneza, Itália. Esta obra mostra uma cena familiar, com as almas que ascendem através de um túnel em direcção a uma luz brilhante, impressionantemente parecida com as nossas descrições actuais de experiências de quase-morte.

Compreender a Experiência de Quase-Morte - Imortal ou Mortal?

Assim, se por um lado a ciência em torno das experiências de quase-morte parece bastante recente, o entendimento das suas implicações sempre esteve na nossa consciência colectiva. Temos tentado encontrar formas de entender a morte e o seu significado desde que surgimos como humanidade.

De muitas maneiras, podemos pode pensar na religião como a nossa forma de lidar com a realidade iminente da morte.

Os ateus afirmam que as pessoas criaram a religião apenas para as ajudar a lidar com o facto incómodo da nossa mortalidade; que a alma humana não existe; e que todos nós enfrentamos extermínio completo quando morremos. Os agnósticos geralmente dizem simplesmente que não sabem se existe vida depois da morte. Por outro lado, as nossas religiões dizem-nos que a morte representa simplesmente uma transição, um segundo nascimento numa existência espiritual, e que o nosso espírito continua a existir.

E agora? Para qual nos inclinamos?

Para os Bahá'ís, a experiência de quase-morte aponta definitivamente para um segundo nascimento:
... Enquanto o homem estiver na matriz do mundo humano, enquanto ele estiver cativo da natureza, ele está sem contacto e sem conhecimento do universo do Reino. Se ele renascer enquanto estiver no mundo da natureza, ele tomará conhecimento do mundo divino. Ele vai perceber que existe outro mundo superior. Descem sobre ele bênçãos maravilhosas; a vida eterna aguarda-o; a glória permanente rodeia-o. Todos os sinais da realidade e da grandeza estão lá. Ele verá as luzes de Deus. Todas essas experiências serão suas quando ele nascer para fora do mundo da natureza e entrar no mundo divino. Portanto, para o homem perfeito, existem dois tipos de nascimento: o primeiro, o nascimento físico, a partir do ventre da mãe; o segundo, o nascimento espiritual, é a partir do mundo da natureza. Em ambos ele não tem conhecimento do novo mundo de existência, em que está a entrar. Portanto, o renascer significa a sua libertação do cativeiro da natureza, a liberdade do apego a esta vida mortal e material. (‘Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 304)

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Texto original: Plato, Socrates and Hieronymus Bosch on Near-Death Experiences (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

2 comentários:

Cori Correa disse...

Sucinto, mas interessante, Marco. Bom tema p'ra gente debater e aprofundar. Quem sabe aquando da ocasião da próxima C.N.? Agora, à guisa de brincadeira, a seleção brasileira teve essa experiência recentemente na Copa do Mundo e vamos ver se ela ressuscita p'ra contar como foi. Um abraço.

Marco Oliveira disse...

Eu vi essa experiência quase-morte da selecção brasileira num restaurante cheio de alemães, em Munique.
:-O