Vivemos um momento crítico na história humana e enfrentamos uma nova questão: devemos governar-nos como nações distintas ou como um planeta unido.
Essa escolha histórica - globalismo ou nacionalismo - decidirá o futuro.
Este desafio de importância vital - inicialmente apresentado por Bahá'u'lláh em meados do século XIX, quando Ele apelou aos líderes políticos e religiosos do mundo para que se unissem e desarmassem as suas nações - tornou-se agora a questão central do nosso tempo. Continuamos pelo antigo caminho e bem conhecido do nacionalismo, o meio que dominou a organização política do planeta nos últimos 228 anos; ou vamos seguir por uma nova estrada e vamos além das fronteiras nacionais para estabelecer um sistema de governação global?
Os ensinamentos Bahá'ís defendem fortemente a opção pela nova estrada:
O nacionalismo desenfreado, distinto de um patriotismo são e legítimo, deve dar lugar a uma lealdade mais ampla, ao amor à humanidade como um todo. A afirmação de Bahá’u’lláh é: “A terra é um só país e a humanidade e os seus cidadãos”. O conceito de cidadania mundial é um resultado directo da contracção do mundo num único bairro, através de avanços científicos e da indiscutível interdependência entre as Nações. O amor a todos os povos do mundo não exclui o amor ao próprio país. A vantagem da parte numa sociedade mundial fica melhor servida com a promoção da vantagem do todo. (A Casa Universal da Justiça, Outubro de 1985, The Promise of World Peace, p. 3)Assim, para os Bahá'ís, o patriotismo e o amor à pátria não são obsoletos - apenas foram substituídos pelo reconhecimento de um patriotismo maior e supranacional, o que significa desenvolver uma lealdade mais ampla, que abrange toda humanidade, e um amor pela Terra que nos sustenta a todos:
Não haja dúvidas quanto ao propósito que anima a Lei mundial de Bahá'u'lláh. Longe de visar a subversão das fundações existentes da sociedade, procura alargar a sua base, remodelar as suas instituições de forma harmoniosa com as necessidades de um mundo em constante mudança. Ela não pode entrar em choque com nenhuma lealdade legítima, nem pode debilitar as lealdades essenciais. O seu propósito não é abafar a chama de um patriotismo inteligente e são nos corações dos homens, nem abolir o sistema de autonomia nacional tão essencial para evitar os males da centralização excessiva. Não ignora, nem tenta suprimir a diversidade de origens étnicas, de clima, de história, de língua e tradição, de pensamento e hábitos, que diferenciam os povos e as nações do mundo. Ela exige uma lealdade mais ampla, uma aspiração maior do que qualquer outra que tem animado a raça humana. Insiste na subordinação dos impulsos e interesses nacionais às necessárias exigências de um mundo unificado. Rejeita a centralização excessiva por um lado, e renuncia a todas as tentativas de uniformidade por outro. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha’u’llah, pags. 41-42)Mas como chegamos lá? Como construímos esse sentimento de patriotismo maior e mais inclusivo, que possa abranger todas as pessoas, em toda a parte? Sem a "centralização excessiva", que os ensinamentos Bahá’ís excluem, como podemos estabelecer um sistema de governação global que proteja os direitos de cada cidadão, mantendo a paz mundial e a estabilidade económica? Como podem as nossas estruturas governamentais servir verdadeiramente os interesses de cada ser humano?
Quando um congressista dos Estados Unidos colocou essa questão a 'Abdu'l-Bahá em 1912, Ele respondeu que o modelo americano de um sistema de estados federado poderia dar ao mundo um modelo valioso para a unificação:
Numa hora tão crítica na história da civilização, compete aos líderes de todas as nações do mundo, sejam grandes e pequenas, sejam do Oriente ou do Ocidente, vencedoras ou vencidas, prestar atenção ao aviso trombeta de Bahá'u'lláh e, completamente imbuídos com um sentido de solidariedade mundial, o sine qua non da lealdade à Sua Causa, levantarem-se para realizar na sua totalidade o esquema reparador que Ele, o Médico Divino, prescreveu para uma humanidade doente. Que rejeitem definitivamente todas as ideias preconcebidas, todos os preconceitos nacionais, e prestem atenção ao sublime conselho de 'Abdu'l-Bahá, o Intérprete autorizado dos Seus ensinamentos. Você pode servir melhor o seu país - foi a resposta de 'Abdu'l-Bahá a um alto funcionário do governo federal dos Estados Unidos da América, que o questionou sobre a melhor maneira como poderia promover os interesses do seu governo e povo - se se empenhar, na sua qualidade de cidadão do mundo, a ajudar na aplicação derradeira do princípio do federalismo subjacente ao governo do seu país nas relações agora existentes entre os povos e as nações do mundo. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha’u’llah, pag. 36-37)Quem vive nos Estados Unidos, ou já os visitou, sabe como funciona o seu federalismo. Cada um dos cinquenta estados americanos tem fronteiras autónomas, governos eleitos democraticamente e o direito de seguir uma política estadual consoante os seus melhores interesses. Mas não têm direito de ir entrar em guerra contra outros, de manter exércitos estaduais ou de violar a lei nacional.
Muitos outros governos nacionais e até regionais funcionam hoje como democracias federalistas, entre elas a Índia, o Canadá, o México, o Brasil, a Austrália e agora a União Europeia com seus 28 países membros. Hoje em dia, muitas das nações mais bem-sucedidas do mundo funcionam dessa forma. Assim, já temos experiência em implementar o federalismo pleno num âmbito global, pois já fizemos isso ao nível nacional e internacional. Sabemos que funciona.
Os Bahá’ís acreditam que este tipo de federalismo, quando aplicado numa escala global, pode levar-nos pelo caminho de um planeta pacífico, harmonioso e próspero.
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Texto original: How Big Patriotism and Full Federalism Can Unite the World (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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