sábado, 6 de julho de 2019

Combater o ego, esse poderoso inimigo dentro de nós

Por Badi Shams.


Por muito bem-sucedidos que sejamos numa determinada área, temos sempre um inimigo dentro de nós: o ego. Este inimigo interior já destruiu relações, carreiras e milhões de vidas.

O nosso ego – o “eu” inferior, insistente, ávido, dentro de cada um de nós – pode eliminar num instante toda uma vida de realizações. Pode manifestar-se na forma de um gesto, um olhar, uma palavra ou uma acção; mas o resultado é, quase sempre, o mesmo.

Quando o ego domina o nosso comportamento, isso geralmente resulta numa vitória do negativismo, da passividade ou do mal. Tal como um vulcão pronto a explodir, os nossos egos devem ser vigiados constantemente pela nossa natureza superior e mais espiritual.

A Fé Bahá’í tem numerosos ensinamentos espirituais que nos preparam para este teste vitalício. As escrituras Bahá’ís distinguem as nossas duas naturezas: a natureza animal ou inferior – onde reside o ego – e a natureza divina, espiritual ou superior:
No homem existem duas naturezas; a sua natureza espiritual ou superior e a sua natureza material ou inferior. Numa ele aproxima-se de Deus; na outra ele vive isolado no mundo. No homem vemos sinais de ambas as naturezas. No seus aspecto material, ele expressa mentiras, crueldade e injustiça; tudo isto são resultados da sua natureza inferior. Os atributos da sua natureza divina vêem-se no amor, na misericórdia, na generosidade, na verdade e na justiça; todas são expressões da sua natureza superior. Todos os bons hábitos, todas as qualidades nobres pertencem à natureza espiritual o homem; e todas as suas imperfeições e actos pecaminosos nascem da sua natureza material. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 60)
Podemos encontrar na história humana e na história das diferentes religiões muitos exemplos da forma como este inimigo oculto atacou homens e mulheres bem-intencionados e espirituais, destruindo grandes realizações conseguidas ao longo da vida. Tem sido a causa da queda de muitos líderes e sábios em todos os aspectos da vida. Não o viram aproximar-se, nem reconheceram o perigo iminente, a não ser quando já era tarde demais.

Assim, estar consciente das exigências dos nossos egos e reconhecer os seus sinais, é o primeiro passo para lidar com ele e descobrir formas de o combater ou controlar. Esta consciência é essencial para quem deseja progredir na vida, seja no aspecto espiritual, seja no aspecto material; temos perante nós uma conversa vitalícia que teremos continuamente com nós próprios:
Um homem pode conversar com o seu ego dizendo: “Posso fazer isto? Será aconselhável para mim fazer esta tarefa? É assim uma conversa com o “eu” superior. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 179)
Podemos ver nesta abordagem Bahá’í que o ego humano não é necessariamente sempre uma força negativa – mas tal como um animal fogoso que pode magoar-nos se não for controlado, deve ser mantido sob vigilância.

Grandes figuras religiosas, filósofos, poetas e visionários como Rumi, reconheceram esta verdade e advertiram-nos contra este inimigo invisível e ardiloso:
O teu pior inimigo oculta-se dentro de ti, e esse inimigo é o teu “nafs” (eu) ou falso ego. (Rumi)

Apesar de poder vencer mil batalhas com mil homens, aquele que vence o seu próprio ser é o maior de todos os conquistadores. (Buda)

A mais baixa e abjecta de todas as coisas domina-te, e isso não é senão o ego e a paixão, que sempre foi repreensível. (Bahá’u’lláh, The Summons of the Lord of Hosts, p. 170)
Apesar de ser difícil, é possível conter e dominar o ego insistente recorrendo à ajuda de dois métodos antigos usados em diferentes disciplinas espirituais:

1. Auto-conhecimento

O auto-conhecimento é um poderoso instrumento para controlar o ego, porque nos permite fazer um inventário do que existe nas nossas almas e mentes, de forma honesta e com o propósito de conhecer o que verdadeiramente somos. Permite-nos descobrir as competências que temos para enfrentar o ego insistente; e ajuda-nos a identificar áreas onde provavelmente seremos testados, onde existem possibilidades de falhar. Este exame de consciência constante exige coragem para enfrentarmos o nosso próprio “eu” como aquilo que somos e aquilo que queremos ser. Este exame de consciência honesto deve, segundo os ensinamentos Bahá’ís, ser realizado diariamente:
Examina-te todos os dias antes de seres chamado a prestar contas; pois a morte, sem aviso, chegar-te-á e serás chamado a responder pelos teus actos. (Bahá’u’lláh, The Hidden Words, p. 11)
Um benefício adicional do auto-conhecimento é o crescimento espiritual e a compreensão profunda que resulta desse processo contínuo:
Ó Meus servos! Se pudésseis saber com que maravilhas da Minha munificência e generosidade desejei confiar às vossas almas, irieis, em verdade, libertar-vos do apego a todas as coisas criadas, e obteríeis um novo conhecimento do vosso próprio ser – um conhecimento que é o mesmo que a compreensão do Meu próprio Ser. (Bahá’u’lláh, Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CLIII)

2. Meditação

A investigação científica tem provado que a meditação pode fortalecer os poderes da nossa natureza superior para lidar com os desafios da vida - e nenhum desafio é maior que o ego insistente existente dentro de nós:
Enquanto o homem estiver cativo do hábito, perseguindo os ditames do ego e do desejo, ele está vencido e derrotado. Este ego pessoal ardente retira as rédeas das suas mãos, apaga as qualidades do ego divino e transforma-o num animal, uma criatura incapaz de distinguir o bem do mal, ou de diferenciar a luz das trevas. Ele torna-se cego para os atributos divinos. ('Abdu’l-Bahá, Divine Philosophy, p. 133)
Temos de lidar com o nosso ego insistente; de outra forma não teremos sucesso, nem conseguiremos progredir. Assim que o reconhecemos como uma ameaça séria aos nossos esforços – porque as nossas vidas e os nossos esforços neste mundo e o nosso progresso no próximo mundo dependem das decisões que tomamos – reconhecemos a necessidade de estar vigilantes.

Os ensinamentos Bahá’ís dizem-nos que nós fazemos os nossos próprios paraíso e inferno aqui na Terra como resultado das escolhas que fazemos:
Pensai no amor e na boa amizade como os encantos do céu, pensai na hostilidade e no ódio como as tormentas do inferno. (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, p. 245)
Se não tomamos as decisões correctas, e não damos prioridade à nossa natureza superior, podemos facilmente ser vítimas da nossa natureza inferior. Assim, precisamos de nos orientar espiritualmente para fazer as escolhas certas, e receber as recompensas e benefícios dessas escolhas. Quando lemos textos espirituais e meditamos sobre o seu significado, as nossas almas elevam-se e isso afecta a nossa tomada de decisão. As nossas almas sintonizam-se com a leitura, oração e meditação, levando-nos a reflectir em cada dia. Isto é um assunto importante que tem grandes consequências nas nossas vidas; precisamos de lidar adequadamente com isto para que as nossas realizações na vida não fiquem a cargo dos nossos egos.

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Texto original: 2 Effective Ways to Fight Your Ego, that Dangerous Enemy Within (www.bahaiteachings.org)

Badi Shams é um professor reformado que vive na ilha de Vancouver (Canadá). Tem um interesse especial pela área da economia, tendo publicado as obras "Economics of the Future" e mais recentemente "Economics of the Future Begins Today". O seu website sobre economia de inspiração Bahá’í é www.badishams.net.

2 comentários:

Ramón Velásquez disse...

Assim seja ��

Maria GIOVANNI FRANCO DE Carvalho disse...

Muito interessante a indicação da leitura de textos espirituais/sagrados para nos inspirar a fazer boas escolhas ou seja que estejam sintonizadas com o eu superior.