No dia 18 de Junho de 1871 o exército alemão desfila em Berlim com grande aparato. O império alemão tem motivos para celebrar: depois da unificação em torno da Prússia, a França, a grande potência europeia liderada por Napoleão III, foi completamente derrotada numa guerra rápida. O recém proclamado Império Alemão parece ter todos os motivos para estar orgulhoso. O Kaiser Guilherme I é aclamado como "Deus da Guerra". Longe dali, numa remota prisão do Império Otomano, um nobre persa exilado adverte-o sobre a sua conduta; tal como já fizera com outros Reis e Governantes daquele tempo.
Guilherme Frederico Ludwig nasceu em 22 de Março de 1797, em Berlim. Era o segundo filho de Frederico Guilherme III da Prússia e da rainha Louise de Mecklenburg-Strelitz. Entrou no Exército prussiano em 1807 e serviu durante as guerras napoleónicas. Em 1829 casou com Augusta de Saxe-Weimar, de quem teve dois filhos. Após a ascensão ao trono do seu irmão Frederico Guilherme IV em 1840, Guilherme torna-se o primeiro na linha de sucessão. Em 1858, após o seu irmão ter sido declarado incapaz, Guilherme torna-se regente e três anos mais tarde sucede-lhe no trono. Crente firme no direito divino dos reis, declara na sua coroação que "governará por favor de Deus e de mais ninguém".
Em 1862, Guilherme nomeia Otto von Bismarck primeiro ministro; desde esse ano até à morte do imperador, o Bismarck guiaria os destinos da Prússia e da Alemanha. A oposição ao programa militar do Kaiser e do Bismarck é silenciada. É lançado um programa de unificação dos estados alemães sob liderança prussiana. A estratégia de unificação passa por uma guerra com a Dinamarca em 1864 (por causa de Schleswig-Holstein) e com a Áustria em 1866. Durante a guerra Franco-Prussiana (1870-71), o Kaiser assume o comando da guerra e recebe pessoalmente a rendição de Napoleão III em Sedan. É proclamado imperador alemão na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, em 1871, enquanto as tropas alemãs cercam Paris
Durante o seu reinado, Guilherme nem sempre concordava com as políticas do Bismarck; alguns historiadores dizem que se deixava convencer pelo seu Chanceler. Apesar de concordar com as políticas militaristas, Guilherme I não concordou com a Kulturkampf (a luta do Bismarck contra a Igreja Católica Romana) mas deu-lhe um consentimento tácito. As suas políticas militaristas e antidemocráticas valeram-lhe o ódio de grupos radicais; em 1878 foi alvo de dois atentados.
Faleceu em Berlim, em 9 de Março de 1888. Sucedeu-lhe o filho, Frederico III.
A EPÍSTOLA DE BAHÁ'U'LLÁH AO KAISER
O Kaiser Guilherme I foi um dos governantes europeus para quem Bahá'u'lláh revelou uma epístola (não descobri a data exacta em que foi revelada, mas creio ter sido por volta de 1870).Tal como a outros governantes, anuncia-lhe o aparecimento de uma nova revelação divina, e aconselha-o na condução da governação. Chama-lhe a atenção para o destino de Napoleão III (a quem Bahá'u'lláh enviara duas epístolas) e para o destino de todos os governantes despóticos. Por fim, profetiza duas derrotas da Alemanha.
Ó Rei de Berlim! Dá ouvidos à Voz que chama deste Templo manifesto: - Em verdade, não há outro Deus senão Eu, o Eterno, o Incomparável, o Ancião dos Dias. Acautela-te para que o orgulho não te impeça de reconhecer a Aurora da Revelação Divina, nem os desejos terrenos te excluam, como se o fosse por um véu do Senhor do Trono no alto e da terra em baixo. Assim te aconselha a Pena do Altíssimo. Ele, em verdade, é o Mais Misericordioso, o Todo-Generoso. Lembra-te daquele cujo poder transcendeu o teu poder (Napoleão III), e cuja posição era superior à tua posição! Onde está ele? Onde foram as coisas que ele possuía? Fica avisado, e não sejas dos que estão profundamente adormecidos. Ele foi quem lançou para trás de si a Epistola de Deus quando Nós o informamos daquilo que as hostes da tirania Nos fizeram sofrer. Por isso a desgraça o atacou de todos os lados e, com grande perda, ele se baixou ao pó. Pondera, ó Rei, sobre ele e sobre os outros que, como tu, venceram cidades e dominaram os homens. 0 Todo-Misericordioso fê-los descerem dos seus palácios às suas sepulturas. Sê advertido, sê dos que reflectem... Ó margens do Reno! Nós vos vimos cobertas de sangue, porque as espadas da retribuição foram desembainhadas contra vós; e tê-la-eis ainda outra vez. E ouvimos as lamentações de Berlim, apesar de hoje estar em glória conspícua.
O texto em inglês desta epístola encontra-se aqui.