O Nobel da Paz é talvez o que desperta mais atenção. De alguma forma, este prémio tem sido usado para chamar a atenção da comunidade mundial para problemas de alguns povos ou sociedades. Em alguns casos, consegue ser uma alavanca para a resolução de problemas relacionados com a paz e o bem-estar dos povos. Quando o prémio foi atribuído a Ximenes Belo e a Ramos Horta, a Comunidade Internacional passou a prestar muito mais atenção ao problema de Timor-Leste. Passados alguns anos, Timor alcançava a desejada independência. Quando em 1992, o prémio foi atribuído a Rigoberta Menchu, a questão dos índios da Guatemala era um tema desconhecido da comunidade internacional.
Neste ano o Relatório do Desenvolvimento Humano dedica atenção à população indígena da Guatemala e assinala alguns progressos na sua situação. (p.96 RDH-2004)
No ano passado, este prémio foi atribuído a Shirin Ebadi, uma advogada iraniana, tida como activista dos direitos humanos naquele país. É natural que algumas pessoas alimentem expectativas sobre eventuais mudanças naquele país.
O Irão é daqueles países cujas notícias acompanho com interesse; foi ali que nasceu a religião Bahá'í. Confesso que nunca tinha ouvido falar desta advogada. Lembro-me do seu discurso de aceitação do prémio (achei-o espantoso!); mas pouco mais sei sobre os seus ideais. Já vi referências elogiosas e comentários negativos a seu respeito.
Recentemente encontrei este texto de sua autoria que me parece merecedor de maior divulgação:
As pessoas são diferentes, como diferentes são as suas culturas.
As pessoas vivem de modos diferentes e as civilizações também diferem.
As pessoas falam em várias línguas. As pessoas são guiadas por diversas religiões.
As pessoas nascem com cores diferentes e muitas tradições influenciam a sua vida, com cores e sombras variadas.
As pessoas vestem-se de modo diferente e adaptam-se ao seu ambiente de forma diferente.
As pessoas exprimem-se de modo diferente, A música, literatura e a arte também reflectem estilos diferentes.
Mas apesar dessas diferenças, todas as pessoas têm em comum um atributo simples: são seres humanos, nada mais, nada menos.
E por mais diferentes que sejam, todas as culturas incluem certos princípios comuns. Nenhuma cultura tolera a exploração de seres humanos.
Nenhuma religião permite que se mate o inocente.
Nenhuma civilização aceita a violência ou o terror.
A brutalidade e a crueldade são horríveis em todas as tradições.
Em suma, estes princípios comuns, que são partilhados por todas as civilizações, reflectem os nosso direitos humanos fundamentais. Esses direitos são muito apreciados e acarinhados por toda a gente, em toda a parte. Assim, a relatividade cultural nunca devia ser usada como pretexto para violar os direitos humanos, uma vez que estes direitos incorporam os valores mais fundamentais das civilizações humanas. É preciso que a Declaração Universal dos Direitos Humanos seja universal, aplicável tanto a Leste como a Oeste. É compatível com toda a fé e religião. Fracassar no respeito pelos direitos humanos só mina a nossa humanidade.
Não destruamos esta verdade fundamental; se o fizermos, os fracos não terão uma alternativa.
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