terça-feira, 26 de junho de 2007

O Estado e as Religiões

Adriano Moreira, hoje no Diário de Notícias:
(...)
O notável Alexis de Tocqueville, cuja análise da democracia na América ficou como referência indispensável para avaliar a longa e acidentada marcha do país, evidenciou a relação da religião com a República, afirmando que "a religião é portanto mais necessária na República que eles (laicos franceses) preconizam do que na monarquia que atacam, e mais necessária nas repúblicas democráticas do que nas outras".

Acontece agora que o mais severo ataque aos EUA, e ao Ocidente em geral, mobiliza fanáticos decididos à salvação pelo sacrifício da vida, mas sacrificando o maior número possível de inocentes, invocando valores religiosos recolhidos em leituras abusivas dos livros santos. Neste trajecto de destruição, em que os EUA envolveram o seu poder e a sua autoridade no desgaste de uma guerra imprudente e infundamentada em território muçulmano, a evidência parece ser que o conceito de Tocqueville ganhou uma abrangência que ultrapassa largamente os então invocados fundamentalismos republicanos, os regimes democráticos, e todos os outros, para ser um elemento fundamental na redefinição da governança mundial e recuperação da paz do mundo.
(...)

Concordo. O Estado não pode ignorar a religião, ou fingir que esta não existe. Isso não seria laicidade, mas sim ateísmo. Uma confissão religiosa não é uma mera associação de cidadãos. As especificidades próprias do fenómeno religioso, e a actividade das confissões religiosas (que podem ser forças de desenvolvimento ou de perturbação social) exigem que o Estado acompanhe a actividade destas através de legislação adequada e projectos de cooperação.

8 comentários:

Elfo disse...

Já tem uns mesitos, mas aplica-se como uma luva..., (digo eu).


"[...]Podia aqui falar da Consubstanciação - poderoso dogma da igreja católica, e não só !
Falaria também dos santos e santas relíquias e das bulas papais que provocaram a Reforma de Martinho Lútero.
Ainda poderia referir as profecias da antiguidade, em que muitos querem ver aplicadas nos dias de hoje, assim tipo: Sadam Hussayn equiparado a Nabucodonosor e a gw Bush como o anjo do Senhor que viria destruir a Babilónia (Bagdad) e restabelecer um reino de paz e prosperidade. Este é um dogma propagandeado pelo prório anjo da morte que se refere às profecias de Jeremias em que conforme este, se referia a ele e, como tinha de destruir Bagdad para cumprir a profecia.[...]

Elfo disse...

Mas o Professor Adriano Moreira, que muito respeito, não se estará a esquecer que o executivo norte americano não é laico mas sim evangélico?
Não se estará a olvidar o senhor Professor, por quem tenho grande admiração, que Tony Blair foi ter com Ratzinger para ser por este acolhido ao seio da santa madre igreja católica apostólica e romana? Não foram estes dois senhores, G.W.Bush e Tony Blair, (principais aliados e não laicos), que foram destruir a "Babilónia" atrás das alegadas armas de destruição massissa (ou macissa, como quiserem) que nunca foram encontradas? Ou será que foram só atrás do petróleo do Iraq?
Pois é..., o anglicanismo não é senão outra forma de catolicismo encapotado de protestantismo...? Quem deve ter ficado muito contente com esta conversão deve ter sido o IRA de Belfast.
Enfim, muitas considerações haveria a fazer acerca deste texto...

Anónimo disse...

Elfo,
O anti-catolicismo primário não fica nada bem a um baha'i.
É só uma opinião de quem não é baha'i.

João Moutinho disse...

Sempre tive um grande apreço pelas afirmações de Adriano Moreira, e isto independentemente das convicções ideológicas.

Também me parece que a entrada dos EUA no Iraque faz lembrar um pouco Sansão a deitar abaixo as colunas do tempo.

Isto não inviabiliza que não se faça a separção do trigo do joio e se queira atribuir os crimes cometidas pela Al-Qaeda e outros afins aos americanos ou britânicos.

Acredito mesmo que estas acções terroristas poderão apressar o "colapso do Islão", não por forças exógenas mas intestinas.

Em todo o caso o naterior regime iraquiano não deixava de ser: "republicano, laico e socialista".

Elfo disse...

GH, meu amigo, explica-me por favor onde é que está o meu anti-catolicismo primário ou secundário ou seja lá o que entendas por isso.
Sabes, também costumo escrever no "Confessionário". E esta, hem?

Então também tenho de alinhar com o Prof. Adriano Moreira só para te fazer a vontade?
Por acaso o Padre António Vieira é considerado o Príncipe das Letras e... eu concordo. Tudo o que aquele homem escreveu é admirável, por isso foi deportado para o Brasil. Coincidências não achas? O único católico que admiro, para além de S.Francisco DE ASSIS, é dissidente da santa madre igreja católica apostólica e romana. A mim dá-me que pensar..., será que o pregador era marxista?
Se calhar..., andava era uns séculos atrasado, ou será que era adiantado...
O Livro dele que mais admiro: "A Arte de Furtar no século XVIII"
Pois... teve de ser editado como anónimo ... azar, não é? E o homem até era jesuíta, agora imagina que não era... ia parar à fogueira se me não engano!
Já agora, já leste o "Nome da Rosa" do Umberto Eco? É que é um livro muito interessante.
E para terminar, sabes quantos livros constam do INDEX do Vaticano? E sabias que a administração Bush proibiu o 1º livro do Harry Potter, acusando-o de fomentar o satanismo? Pois é no país das liberdades...! Mas deixa lá, no melhor pano cai a nódoa.

Anónimo disse...

Ó João tu tens mesmo a certeza que o Sanção derrubou colunas do "tempo"?
"""Acredito mesmo que estas acções terroristas poderão apressar o "colapso do Islão", não por forças exógenas mas intestinas"""
Tu queres lá ver que o Islão colapsa com uma diarreia descomunal? Não quererias antes dizer esogenas? exo= externas.
eso= internas.

João Moutinho disse...

Nem te digo,

Quanto ás colunas do templo e ao Sansão, faço uma referência ao Antigo Testamento. É verdade que o Tempo já estará mais relacionado com o Cronos mas penso que, por enquanto, não é para aqui chamado.

Intestino quer dizer interno ou endógeno, não implica que seja o nosso orgão de absorção de alimentos.

A questão da diarreia é bastante delicada, todos nós sabemos que surge nas alturas menos previsíveis e desejadas. Às vezes sucede imediatamente a uma "entrada de leão".

Elfo,

"O único católico que admiro", só um?...Vamos lá a ser mais razoáveis.

Sam Cyrous disse...

João, e Mendel era católico, não era?

Imagina o que seria de nós sem ele ;-)

Acho que o mundo não se pode dico,trico,poli-cotomizar-se em "esta religião" e "a outra religião", "nós e os outros"...

Acho incoerente com o que defendemos!