sábado, 25 de janeiro de 2014

Reconciliar as Religiões

Por  Tom Tai-Seale.



Vivemos numa época notável. A fotografia, tirada no espaço, do nosso belo planeta azul brilhante seguindo o seu rumo silencioso no vazio insondável prova que vivemos numa época notável. Quando olhamos para esta fotografia incrível, celebramos todas as invenções que a tornaram possível: a máquina fotográfica, o filme, os foguetões e os sistemas de gestão que se ousaram levar o ser humano ao espaço. Celebramos também a natureza evolutiva da nossa tecnologia e o seu ritmo incrivelmente rápido.

Paradoxalmente, podemos ter chegado ao espaço com nossas máquinas fotográficas a tempo de assistir à nossa auto-destruição. O nosso planeta, apesar da sua aparente unidade física, está profundamente dividido do ponto de vista social. Somos um mundo de pessoas desesperadamente agarradas às nossas identidades como membros de diferentes raças, nações, classes, sistemas económicos e religiões e trazendo para os nossos conflitos contínuos novas armas de cada vez maiores dimensões infernais. O progresso da ciência manteve com o nosso apetite por armas - mas não acompanhou o nosso progresso como pessoas. Continuamos apegados a rótulos que subvertem as nossas maiores aspirações humanas. Apesar de quase todas as pessoas acreditarem que os seres humanos, na sua essência, devem ser considerados como criaturas com alma - povo de Deus - essa afirmação entra em forte contradição com as nossas acções. Devemos reconhecer que temos sido incapazes de traduzir o nosso encontro com o Transcendente numa qualquer ordem social capaz de incluir toda a gente. Assim, os conflitos continuam e aprofundam-se.

Considerando os perigos dos nossos tempos, aceitar o conceito de que todas as pessoas são, na sua essência, o mesmo, é um acto religioso. Para os Bahá'ís, este acto de consciência constitui a base da fé de Deus para o nosso tempo e pode ser resumida frase muito conhecida de Bahá'u'lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í:
A Terra é um só país e a humanidade os seus cidadãos... Não vos considereis uns aos outros como estranhos. Sois os frutos de uma só árvore e as folhas do mesmo ramo.  (Tablets of Baha’u’llah, p. 163).
As crenças da Fé Bahá'í centram-se em torno dos princípios de um Deus único, uma só humanidade e uma fé. Se existe um único Deus e se a humanidade é, em essência, uma única, então depreende-se que deve haver apenas uma realidade divina que liga os dois. Essa realidade deve ser a forma verdadeira, ou essencial, da religião.

Os ensinamentos Bahá'ís dizem "a religião é a expressão exterior da realidade divina"; como a realidade divina é apenas uma, os Bahá'ís acreditam que existe apenas uma religião essencial - e que as diferenças religiosas no mundo devem ser reconciliadas.

Os Bahá’ís aceitam que existem diferenças de religião. Bahá'u'lláh menciona as "diversas comunhões da terra e os múltiplos sistemas de crença religiosa". Mas é a inspiração de todas as religiões que os Bahá’ís afirmam ser única. Bahá'u'lláh escreve:
Não pode haver dúvida alguma de que os povos do mundo, de qualquer raça ou religião, derivam a sua inspiração de uma só Fonte Celestial e são súbditos de um só Deus. (SEB, CXI)
Sem dúvida que religião é a fonte de profundos conflitos entre os povos. Por esse motivo, muitas pessoas religiosas de ambos os lados de um conflito acreditam apaixonadamente serem os únicos detentores da verdade; e abandonar essa defesa da verdade levaria a uma descida pessoal e colectiva ao inferno, pois pensam que Deus pretende que mantenham as suas convicções.

Curiosamente no entanto, se olharmos de perto para qualquer "conflito religioso", acabamos por perceber que há muito pouco da verdadeira religião envolvida no conflito. Em vez disso, conflitos pessoais, sociais ou culturais envolvem a religião, na tentativa de justificar a contenda. Os conflitos na maioria das vezes representam uma falha da religião - uma incapacidade das pessoas para investigar em conjunto a realidade única da verdade. Os conflitos surgem quando abandonamos a fé e procuramos armas nas cavernas das nossas velhas tradições e dogmas.

Nos próximos textos vamos ver como surgiu essa tendência, o que cada um pode fazer sobre isso, e como os ensinamentos Bahá’ís propõem abordar o problema com um remédio global, reconciliando as religiões numa fé unificada.

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Texto Original: Reconciling the Religions (bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A & M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press

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