sábado, 30 de maio de 2015

A religião à força: acredita ou morres!

Por David Langness.


O caminho para a orientação é o do amor e da compaixão, não da força e da coerção. (O Bab, Selections from the Writings of the Bab, p. 77)
Os actos de brutalidade para coagir pessoas a acreditar em coisas diferentes têm uma história longa e sinistra.

As conversões forçadas sob ameaça de morte aconteceram ao longo dos séculos e foram perpetradas por Hindus, Budistas, Judeus, Cristãos, Muçulmanos e até mesmo Ateus. Recentemente ouvimos falar disso quando militantes fundamentalistas obrigaram prisioneiros a converterem-se à sua ideologia - como aconteceu com o Boko Haram na Nigéria - mas a prática nefasta de conversão forçada existe há muito tempo.

Em 392, o imperador romano Teodósio I, por exemplo, decretou que todos os romanos se deviam converter ao Cristianismo:
É Nossa vontade que todos os povos que são governados pela administração da Nossa Clemência devem praticar a religião que o divino Apóstolo Pedro transmitiu aos romanos... Os restantes, a quem julgaremos dementes e loucos, serão sancionados com a infâmia de dogmas heréticos, os seus locais de reunião não receberão o nome de igrejas, e eles serão atingidos primeiro pela vingança divina, e depois, pela retaliação da Nossa própria iniciativa.
Em 1201 EC, o Papa permitiu formalmente a conversão forçada, através de tortura, intimidação e ameaça de morte, como uma prática católica completamente aceitável. Durante a Idade das Trevas, as inquisições em Espanha e em Goa torturaram e obrigaram à conversão de Hindus, Muçulmanos e Judeus ao Cristianismo. A história judaica tem muitos relatos de conversões forçadas, tal como as histórias Hindu e Budista, até mesmo nos tempos modernos. Vários governos e instituições religiosas usaram meios legais para converter à força populações inteiras, e simultaneamente, destruir os seus lugares de culto, livros sagrados e símbolos religiosos.

Um dos piores exemplos recentes de conversão forçada ocorreu na América do Norte durante os séculos 19 e 20, quando os governos dos EUA e do Canadá pagaram a organizações religiosas cristãs para raptarem crianças nativo-americanas que viviam nas reservas indígenas, arrancando-as à sua cultura e origens, e obrigando-as depois a rejeitar as suas crenças nativas e adoptar o Cristianismo como o seu sistema de crença. Esta política de genocídio cultural, realizada nos EUA pelo Gabinete de Assuntos Indígenas, também resultou na construção de centenas de colégios internos para isolar, assimilar e converter gerações inteiras de crianças indígenas.

Felizmente, em muitas partes do mundo as coisas têm evoluído desde então.

O artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma:
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
A Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas também proclamou oficialmente que a escolha pessoal de uma religião (ou a não escolha), é um direito humano protegido por lei:
... A liberdade de "ter ou adoptar" uma religião ou crença implica necessariamente a liberdade de escolher a religião ou crença, incluindo o direito de mudar a sua religião ou crença actual, ou a adoptar pontos de vista ateus... O artigo 18.2 impede a coerção que debilite o direito de ter ou adoptar uma religião ou crença, incluindo o uso de ameaça de força física ou sanções penais para obrigar crentes ou não-crentes a aderir às suas crenças e congregações religiosas, a negar a sua religião ou crença, ou converter-se.
Hoje vemos este direito humano fundamental - a liberdade de crença - ameaçado em muitos lugares por fanáticos religiosos, políticos e culturais. Os Baha'is acreditam que este fanatismo coercivo deve parar, a nível individual e social, em todas as culturas e todos os países:
Sejamos, pois, humildes, sem preconceitos, e preferindo o bem dos outros em vez do nosso! Que nunca digamos: "Eu sou um crente, mas ele é um infiel", "Eu estou perto de Deus, ao passo que ele é um proscrito." Nunca podemos saber qual será o juízo final! Portanto, vamos ajudar a todos os que necessitam de qualquer tipo de assistência.

Ensinemos o ignorante, e cuidemos da criança até que ela atinja a maturidade. Quando encontramos uma pessoa mergulhada nas profundezas da miséria ou do pecado, devemos ser bondosos com ela, levá-la pela mão, ajudá-la a recuperar o equilíbrio, a sua força; devemos guiá-la com amor e ternura, tratá-la como um amigo, e não como um inimigo. Não temos o direito de ver qualquer um dos nossos companheiros mortais como maligno. ('Abdu'l-Bahá, Paris Talks, p. 149)

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Texto original: Believe or I’ll Kill You—Religion by Force (bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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