quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Nelson Évora, O Menino da Fé Bahá’í

Reportagem da jornalista Marisa Carvalho, publicada no jornal 24Horas de 29 de Agosto de 2007.
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Começou a treinar-se na rua, em brincadeiras de amigos, mas depressa os seus dotes deram nas vistas. Esteve para ser futebolista, mas escolheu o atletismo. O campeão do mundo guia-se por uma religião que se baseia nas boas acções.

Determinado, humilde, bem-disposto, amigo dos seus amigos. Quem conhece Nelson Évora não lhe poupa elogios nem disfarça a emoção. “Chorei, berrei, saltei”. Foi assim que David Ganço, um dos melhores amigos do novo campeão do mundo do triplo salto, celebrou a sua vitória. "Ele está no seu melhor e é muito profissional. A sua determinação é admirável", conta.

Um ano mais velho, os dois conheceram-se na infância, aos 6 anos. “O Nelson tinha acabado de chegar da Costa do Marfim e foi morar para o andar por cima do nosso”, explica o filho de João Ganço, o treinador de Nelson Évora. “Ele só falava francês e eu só falava português, mas lá nos entendemos e ficámos amigos”, revela. “Ainda não falei com ele, mas trocámos logo mensagens, é mais fácil, afinal ele está no Japão…” revela, bem-disposto.

Menino muito competitivo

David e Nelson começaram a treinar na rua. “Chateávamos o meu pai e ele mandava-nos dar voltas ao quarteirão”, explica David. Mas Nelson adorava o desporto. “Ele jogava muito bem futebol, até foi prestar provas no Benfica e passou, andámos na natação e no judo. Ele era bom em tudo”, revela o amigo. “Ele é muito competitivo. Desafiávamo-nos, das corridas aos jogos de computador. Mas nunca nos zangámos”, explica.

O suporte da fé

Quando conheceu a família Ganço, Nelson cruzou-se com a fé Bahá’í, doutrina seguida por estes. “Os princípios básicos centram-se na prática de boas acções e na excelência do desempenho, associado ao conhecimento consciente da pessoa”, explica David. Esta fé considera Bahá'u'lláh como o novo enviado de Deus e seguem os seus ideais. “Sem dúvida que o desempenho de Nelson ilustra a sua fé, pois ele tenta sempre dar o seu melhor em tudo o que faz”, acrescenta o amigo. Na comunidade Bahá’í há orações e ensinamentos, mas não padres, igrejas, ou hierarquias religiosas, há um só Deus mas todas as religiões são válidas, pois os princípios são semelhantes.

“Acredita-se que a pessoa atinge o conhecimento por si própria, através das acções, e somos todos iguais”, explica David. Em vez de irem à missa, os Bahá’í[s] fazem encontros entre membros e em determinadas alturas praticam o jejum.

Uma vida de grandes saltos

Filho de pais cabo-verdianos, Nelson nasceu na Costa do Marfim, que deixou aos 6 anos, quando a família Évora se fixou em Portugal, mais concretamente em Odivelas, onde começou a treinar. Representou depois o Benfica, o FC Porto, tendo regressado à Luz.

Até 2002, data em que se naturalizou português, representou Cabo Verde, detendo ainda o recorde no salto em comprimento e o triplo salto daquele país.

Habitualmente treina-se no Estádio Universitário, no Jamor e na Sobreda da Caparica. No Inverno, usa um corredor do Estádio da Luz, sem caixa de areia ou qualquer outra facilidade, para evitar a chuva.

Já entrou na universidade, frequentando o curso de Marketing e Publicidade, na Escola Superior de Comunicação de Benfica. A família é muito unida e os pais, Paulo e Elida, encontram-se na Bélgica onde foram visitar outro dos seus filhos. A mãe é familiar da cantora Cesária Évora. Sempre fez muito sucesso entre as raparigas, mas as suas prioridades estão bem estabelecidas. “Agora ele só pensa no atletismo”, assegura David Ganço.

2 comentários:

Raimundo Narciso disse...

Poderei reivindicar um bocadinho do sucesso? Afinal aprecio muito a cantora Cesária Évora e depois também sou de Odivelas. Só me falta mesmo é a fé Bahá’í.
Um abraço

Marco Oliveira disse...

Raimundo,
O Nelson Évora é o novo herói nacional.
Já aconteceu com outros, como o Obikwelo, a Vanessa Fernandes, a Rosa Mota, o Carlos Lopes,... Qualquer português fica sempre um bocadinho orgulhoso com estas vitórias.

O facto do Nelson Évora ser baha’i foi um aspecto que despertou curiosidade dos media.

Há alguns meses, numa festa baha’i, apresentaram-me o Nelson. Achei-o muito simpático. Claro que desde então fiquei a torcer elas vitórias dele. Agora conseguiu. Oxalá consiga ganhar outra medalha em Pequim.