sábado, 22 de setembro de 2007

A busca da paz

Excerto de um artigo de opinião de Jorge Sampaio, hoje no jornal Expresso. Os sombreados são destaques da minha responsabilidades.
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Ultimamente, há uma tendência crescente para encarar a religião como uma fonte de hostilidade e ódio. É bem verdade que não é fácil defender o seu papel como força positiva de paz – basta pensar no Iraque, no Afeganistão, na Indonésia, em Israel ou na Palestina, para sermos tentados a concluir que a religião alimenta a violência e multiplica os riscos de guerra. Mas, a meu ver, embora o factor religioso esteja presente em muitas das crises contemporâneas, isso não significa que seja o seu detonador.

Sustentar que a religião é uma das principais fontes do mal e da violência, não só é incorrecto, mas também perigoso, pois oculta a raiz política da maioria dos conflitos Práticas de discriminação, exclusão social, desigualdades de oportunidades, ambições militares, ausência de boa governação e rivalidades geopolíticas desempenham um papel importante no desencadear dos conflitos. Mesmo nos que são motivados por factores culturais e religiosos, a violência e o extremismo resultam quase sempre da instrumentalização da religião para fins ideológicos.

Pelo contrário, deve sublinhar-se que a influência positiva da religião está bem patente num núcleo de valores básicos e ideais, comuns às grandes tradições religiosas, a saber: primeiro, o direito fundamental de todos à vida, depois, o direito universal a uma vida com dignidade. Estes constituem o fundamento último da Democracia e do Estado de Direito, bem como da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e dos principais tratados internacionais que regulam as relações entre os povos.

Por isso, os lideres religiosos de todas as fés têm usado da sua influência para promover a resolução pacífica dos conflitos, através do diálogo e da negociação política. Não podemos subestimar o papel dos lideres muçulmanos no apoio aos esforços de paz e na condenação da violência e do terrorismo, em nome do respeito pelos preceitos fundadores do Islão. Não podemos pois, permitir que o extremismo e o fundamentalismo instrumentalizem a religião e a ponham ao serviço da violência e do terror, desvirtuando o seu desígnio humanístico. Mas, não podemos, também, aceitar que em nome da luta internacional contra o terrorismo, os políticos se subtraiam às suas responsabilidades de assegurar aos cidadãos uma vida digna no respeito pelos direitos humanos.

Importa que todos – lideres políticos e religiosos, igrejas e todas as organizações da sociedade civil – unam esforços na luta contra o extremismo, o totalitarismo e a exclusão. Importa trabalhar em conjunto em prol de uma aliança global para uma educação para a paz. A meu ver, a prevenção sustentável de conflitos joga-se, em grande parte, numa educação fundada no paradigma do respeito mútuo entre povos e na capacidade de diálogo entre culturas e tradições religiosas diferentes.

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