segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Egipto: as minorias condenadas à não-existência

É amanhã - terça-feira - que o Tribunal de Justiça Administrativa do Cairo deve apresentar o seu veredicto sobre dois processos relativos ao direito de Bahá’ís Egípcios a possuírem documentos de identidade. Se não houver mais adiamentos, é claro...

Entretanto, algumas organizações de direitos humanos têm feito ouvir a sua voz nos media internacionais. Relatam o que todos estamos cansados de saber: o apartheid religioso no Egipto e a forma como baha’is e ex-muçulmanos são impedidos de obter documento de identificação, a atitude dos funcionários do Ministério do Interior em todos estes processos (ameaças e sugestões de suborno).



Um artigo publicado no International Heral Tribune (IHT) destaca as implicações pessoais da discriminação religiosa no Egipto. O jornalista falou com Wafaa Hindy - baha’i e gestora de um hotel – que lhe afirmou que ela e o marido não possuem bilhetes de identidade, e temem que o seu filho possa ser expulso da universidade por também não possuir esse documento. “Não preciso que o governo concorde com o facto de eu ser baha’i... mas preciso que o governo me dê um bilhete de identidade porque sou egípcia. Isto é totalmente diferente da minha religião”, afirmou Hindy

Segundo o IHT, no próximo mês, o Supremo Tribunal Administrativo do Egipto deve apresentar uma decisão final sobre sete pessoas que se converteram do Cristianismo par ao Islão e pretendem voltara ser considerados cristãos. E em Janeiro, aguarda-se uma decisão sobre o reconhecimento oficial da minoria baha’i naquele país.

Também a Human Rights Watch (HRW), publicou um relatório com o titulo Prohibited Identities: State Interference with Religious Freedom, e divulgou um press release. A HRW salienta que a atitude das autoridades egípcias não está de acordo com a lei egípcia, mas que se baseia apenas em interpretações da sharia (lei islâmica). Um dos testemunhos citados no relatório da HRW é de Nayer Nabil, um baha’i egípcio:

"Tentei pedir um bilhete de identidade. No formulário, escrevi que a minha religião era Baha'i. O funcionário recusou-se a aceitar o formulário e pediu-me que lhe mostrasse a minha certidão de nascimento. Mostrei-a. Indicava que eu era baha’i e que os meus pais também. Mesmo assim ele recusou-se a aceitar o formulário e disse que eu devia fazer o pedido no Cairo. Quando fui ao Cairo, encontrei-me com um funcionário chamado Wa'il. Ele abriu uma gaveta na sua mesa, tirou uma enorme pilha de papeis e disse-me «Está a ver… tudo isto são pedidos de Baha’is que querem Bilhetes de Identidade. Nunca os irão receber»"

Outra situação registada pela HRW é o Salwa Iskandar Hanna, uma baha’i que faleceu em Outubro de 2005. A sua família pôde realizar o funeral, mas até hoje ainda não recebeu a certidão de óbito, pois o Estado Egípcio exige que ela se converta postumamente a uma das três religiões reconhecidas oficialmente.

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A LER:



Egypt forcing converts from Islam, members of Bahai faith to conceal their religion, watchdogs say (IHT) [link alternativo]
Egypt: Allow Citizens to List Actual Religion on ID Cards (HRW)

Egypt 'denies minority beliefs' (BBC) [link alternativo]
Egypt ID cards sentence minorities to non-life: report (AFP) [link alternativo]
Egypt recognizes only three religions (UPI) [link alternativo]
Egypt denies ID papers to Baha'is, converts (Reuters) [link alternativo]
Egypt authorities forces converts from Islam and members of Bahai to conceal their religion (AP, Pravda) [link alternativo]
Human Rights Report Says Egypt Violating Religious Freedoms (VOA)
HRW denuncia que Egito viola direito à liberdade religiosa de minorias (Ultimo Segundo - Brazil)
Egypte: la mention de la religion sur la carte d'identité discriminatoire (La Croix, France)

8 comentários:

João Moutinho disse...

A persistência desses Bahá'ís é fantástica, nunca é demais recordá-los.

Anónimo disse...

As religiões precisam sempre de mártires para fazer a sua publicidade, não é verdade?

Anónimo disse...

nunca vi uma religiao expandir-se "gabando-se" dos seus martires...
desculpe, mas o que disse nao faz sentido

Anónimo disse...

Pois é anónimo...
São sádicos gostam de sangue... não é?! E só para fazer publicidade:-(

Anónimo disse...

eu gostaria de dizer que os minorites em Egipto enfrentam muitos dos problemas.
eu sou bahai de Egipto.
eu sinto sad quando a justiça não pode fazer seu trabalho às vezes.

Marco Oliveira disse...

Anónimo,
Se eu não referisse os baha’is que são perseguidos ou discriminados devida à sua religião seria o quê? Conivente?
Como faço referência a eles sou o quê? Publicitário?

ali taher khalifa,
Thank you for your visit.
We all hope civil rights will be a reality for every Egyptian citizen, and no one will be discriminated for his/her religion.

Anónimo disse...

Confesso a minha dificuldade em perceber como é que, objectivamente, o Estado Egípcio vai "exigir" a conversão desta defunta a uma religião "reconhecida oficialmente". Será algum representante de uma Conservatória lá do bairro que vai travar conversa com a própria? Não, talvez a própria família leve, assinado pelo próprio punho do seu ente perdido, a renegação assumida da sua religião. Se o desejasse não o teria feito em vida???
Convirá estudar um pouco mais da cultura egípcia para perceber como estas coisas sucedem?...
Perdoem-me, há coisas que me ultrapassam!!!

Marco Oliveira disse...

entãoéassim,

A linha que separa o fundamentalismo do surrealismo é por vezes muito ténue.