domingo, 20 de julho de 2014

Este pequeno planeta não merece ser dividido

Por David Langness.


A guerra civil na Síria já atravessou a fronteira e entrou no Iraque. Mas quem fez essa fronteira?

Para perceber a resposta a esta pergunta, é importante conhecer o significado de duas palavras: Levante e al-Jazira.

Governada ao longo dos séculos por persas, gregos, romanos e árabes, a Al-Jazira tem sido descrita como o berço da civilização, e corresponde ao território da antiga Mesopotâmia, onde os seres humanos fizeram as primeiras colheitas agrícolas e domesticaram animais. Os arqueólogos descobriram evidências consistentes na região sobre o estabelecimento de sociedades de caçadores-colectores que lentamente se tornaram agrícolas, por volta de 9000 aC. Foi aqui que as pessoas começaram a fazer culturas agrícolas; e como consequência, as suas civilizações prosperaram e espalharam-se em todas as direções.

Toda a região que circunda a Al-Jazira é conhecida desde o século VXI como Levante ou Mediterrâneo Oriental; esta região inclui as actuais nações de Israel, Jordânia, Líbano, Síria, Palestina, a Província de Hatay do Sul da Turquia e a ilha de Chipre. A região tem o seu nome da palavra francesa "levant", que significa "nascente." A palavra designado a região como o lugar no Oriente onde o sol nasce, onde a luz tem origem e onde surgem as religiões.

Guerra Civil na Síria
Após a Primeira Guerra Mundial, os governos britânico e francês criaram a fronteira actual entre a Síria e o Iraque na parte da al-Jazira, no Levante. A Grã-Bretanha e a França dividiram uma região desértica, rural e contígua entre os rios Tigre e Eufrates, que constitui a região central da al-Jazira. Quando desenharam aquela fronteira arbitrária, dividiram uma população árabe sunita predominantemente rural com fortes afinidades tribais, em duas nacionalidades diferentes.

Talvez isso explique por que a cidade iraquiana de Mosul, recentemente "tomada" pelas forças do ISIL, caiu tão rapidamente. As províncias iraquianas de Anbar, Nínive e Diyala, são regiões predominantemente sunitas com profundas ligações à Síria, têm mais simpatia e afinidade com seus correligionários sunitas na Síria do que com os que formam o governo xiita de Bagdade. Mosul, historicamente, tinha laços mais fortes com a região síria de Aleppo do que alguma vez teve com Bagdade.

Mas podemos dizer que a queda de Mosul e outras cidades iraquianas na região da Al-Jazira é culpa da partição Europeia de há quase um século? Não totalmente. Também temos de ter em conta a crescente divisão sectária entre muçulmanos sunitas e xiitas no Iraque, agravada pelas opções políticas do governo iraquiano do pós-guerra, liderado por xiitas.

Quando qualquer governo privilegia uma comunidade ou grupo religioso acima de outro, então as tensões aumentam inevitavelmente. Tanto na Síria como no Iraque, os governos actuais e anteriores favoreceram grupos religiosos e tribais minoritários, mantendo o seu poder através de uma repressão brutal e da força militar. Os ensinamentos Bahá'ís falam claramente sobre as soluções para estes problemas aparentemente insolúveis:
Nestes dias deve existir um grande poder de entendimento incutido nas nações. Os princípios da unidade do mundo da humanidade devem ser proclamados, compreendidos e postos em prática, de modo que todas as nações e religiões possam lembrar-se novamente do facto, há muito esquecido, que são todos descendentes de uma primeira humanidade, Adão, e habitantes de uma única terra. Não respiram todos o mesmo ar? Não é o mesmo sol que brilha para todos? Não são todos ovelhas de um único rebanho? Deus não é o pastor universal? Ele não é bondoso para com todos? Vamos banir os pensamentos irreais sobre oriente e ocidente, norte e sul, europeus e americanos, ingleses e alemães, persas e franceses.

Considerai a criação do universo infinito. Este nosso mundo é um dos mais pequenos planetas. Esses corpos fantásticos giram num espaço imensurável, a abóbada celeste azul infinita de Deus, são muitas vezes maior do que a nossa pequena terra. Aos nossos olhos este globo parece vasto; no entanto, quando olhamos para ele com olhos divinos, este fica reduzido ao mais pequeno átomo. Este pequeno planeta não merece ser dividido. Não é uma única casa, uma única terra natal? Não é toda a humanidade uma única raça? Na criação não existe qualquer diferença entre os povos.

Que visão acanhada teríamos se tentássemos dividir uma sala em zonas oriental e ocidental. A divisão geográfica deste mundo é um paralelismo igual. Com a nossa ignorância e falta de visão dividimos esta casa comum, dividimos os membros desta família em várias raças, dividimos a religião em diferentes seitas e depois com essas supostas divisões fazemos guerra uns contra os outros; derramamos o sangue dos outros e saqueamos os seus bens. Não é isto uma ignorância imperdoável? Não é isto o cúmulo da injustiça? ('Abdu'l-Baha, Divine Philosophy, pp. 177-179)
 
Aquilo que 'Abdu'l-Bahá designa como "supostas divisões" é descrito agora por estudiosos como "identidades políticas" modernas. Muitas nações e facções em todo o mundo aprenderam a usar os conflitos inerentes a algumas políticas de identidade para obter vantagens. Ao reforçar o impulso sectário em populações específicas e ao fomentar divisões entre as pessoas, utilizando os meios de comunicação modernos, os líderes políticos e militares de países como o Iraque, a Síria, o Irão, muitos países dos Balcãs e lugares como Ruanda e Sudão usam as origens étnicas cultural e religiosas para dividir e conquistar. Depois transformam estas divisões sectárias profundas em guerra, fome e caos.

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Texto original: This Small Planet, Not Worthy of Division (bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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