Se existe um "paraíso" na religião Bahá’í, como se vai para lá? Há alguma coisa que se deva fazer? Ou toda a gente pode entrar?
Bahá'u'lláh afirmou que os conceitos de céu e inferno não representam lugares físicos, mas sim estados de existência que podemos experimentar aqui neste mundo físico - e na próxima vida. Em qual destes estados habitamos depende inteiramente de nós, e da graça de Deus.
O conceito Bahá'í de "paraíso" ou “céu” não nada semelhante ao conceito de “céu” que me foi transmitido quando era jovem e frequentava igrejas. Os ensinamentos Bahá’ís não descrevem o céu como um lugar para onde se vai se Deus autoriza, ou se se acredita numa doutrina, numa igreja ou num sistema específico.
Em vez disso, Bahá'u'lláh compara o céu com proximidade de Deus, e o inferno com afastamento de Deus.
Do ponto de vista Bahá’í, temos de fazer escolhas - aqui neste nível de existência - sobre que tipo de pessoa que vamos ser e que qualidades espirituais (ou vícios animais) vamos desenvolver. Se nos esforçamos por desenvolver qualidades divinas (amor, perdão, lealdade, justiça, etc) isso irá nutrir e estimular faculdades espirituais que nos permitirão prosperar na próxima vida. Se não as desenvolvermos, não iremos prosperar - em vez disso, entraremos na vida futura com deficiências espirituais significativas.
E além disso, se não as desenvolvermos, não vamos crescer espiritualmente neste mundo. Nem vamos ajudar os outros a crescer.
A minha opinião pessoal sobre isto é semelhante à minha opinião sobre as leis da física. Quem tenta violar uma das leis da física, pode sofrer um choque violento. Um passo fora do telhado de um edifício e lei da gravidade entra em acção - podemos acabar com uma perna partida. Buda disse que "O ódio não cessa com o ódio; o ódio cessa com o amor. Esta é uma lei eterna". Outros professores Divinos também ensinaram que o amor é a primeira lei. Se violarmos essa lei espiritual fundamental, então podemos estragar ou destruir alguma coisa - uma amizade, uma família, uma comunidade, uma nação, o nosso próprio espírito. Violar essa lei tem consequências. Vemos essas consequências expostas todos os dias nas notícias. Eu vejo-as sempre que falo com pessoas envoltas em ódio contra outros seres humanos. Penso que isso é uma boa definição de inferno.
Bahá'u'lláh também diz que as pessoas têm diferentes capacidades para crescer espiritualmente:
O dever integral do homem neste Dia, é atingir aquela parte do fluxo de graça que Deus derrama para ele. Que ninguém, portanto, considere a grandeza ou pequenez do recipiente. A porção de alguns pode estar na palma da mão de um homem, a porção de outros pode encher uma taça, e a de outros, pode até ter a medida de um galão. (SEB, V)
Jesus falou sobre a "porta estreita" que conduz à vida eterna: "estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram." (Mateus 7:14). Essa porta estreita, no contexto das Suas palavras, é este mandamento que Ele dá imediatamente antes de advertir sobre a estreiteza da porta. Este existe nas escrituras de todas as religiões reveladas: "... o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas" (Mateus 7: 12)
Assim, nós não adoramos a Deus porque desejamos o "céu" ou porque temos medo do "inferno". O Báb escreveu:
Adora tu a Deus de tal maneira que, se a tua adoração te levasse ao fogo, nenhuma alteração se mostraria na tua adoração, e, o mesmo aconteceria se o paraíso fosse a recompensa. Assim - e somente assim - deveria ser a adoração digna do Deus Uno e Verdadeiro. Fosse tu adorá-Lo por medo, isso seria impróprio na Corte santificada da Sua presença, e não poderia ser considerado como um acto teu dedicado à Unicidade do Seu Ser. Ou se o teu olhar fixasse no paraíso, e tu O adorasses nutrindo essa esperança, estarias a fazer da criação de Deus um parceiro d’Ele, não obstante o facto de o paraíso ser desejado pelos homens. (Selecção das Escrituras do Báb)Bahá’ís não acreditam que apenas os Bahá’ís "vão para o céu", mas simplesmente que Bahá'u'lláh tem os ensinamentos de Deus para esta época - tal como Cristo tinha os ensinamentos adequados para um povo de outra época e também falou sobre a próxima etapa do seu desenvolvimento. Bahá'u'lláh descreve a situação desta forma:
O Médico Omnisciente tem o Seu dedo no pulso da humanidade. Ele percebe a doença e, na Sua sabedoria infalível, prescreve o remédio. Cada era tem o seu próprio problema, e cada alma a sua aspiração particular. O remédio a que o mundo necessita nas suas aflições actuais nunca poderá ser o mesmo exigido numa era posterior. Preocupai-vos impacientemente com as necessidades da era em que viveis e concentrai as vossas deliberações nas suas exigências e nos seus requisitos. (SEB, CVI)
-----------------------------------------------------------
Texto original: Do Baha’is Believe in Hell? (bahaiteachings.org)
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.
Sem comentários:
Enviar um comentário