quarta-feira, 16 de junho de 2004

Pio IX foi eleito há 158 anos

Há 158 anos, no dia 16 de Junho, Pio IX era eleito Papa. O seu papado – o mais longo da história – seria marcado por uma série de episódios que marcariam profundamente o destino da Igreja Católica. Este Papa encontra-se entre os governantes do séc. XIX a quem Bahá'ú'lláh enviou epístolas.
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Giovanni Maria Mastai-Ferretti nasceu em 13 de Maio de 1792. Foi ordenado sacerdote em 1819; tornou-se arcebispo de Spoleto em 1827; foi nomeado cardeal em 1840 pelo Papa Gregório XVI, a quem viria a suceder em 1846.

O primeiro ano do seu pontificado foi marcado por reformas políticas na administração dos Estados Papais. A constituição então publicada satisfazia algumas exigências de representação popular; mas não foi suficiente para acalmar a vaga de nacionalismo que alastrava pela Itália. A revolução de 1848 leva o Papa a refugiar-se em Gaeta, no Reino de Nápoles. Dois anos mais tarde, a recém-criada República Romana é dissolvida após uma intervenção francesa; Pio IX começa então a alinhar-se com a oposição ao liberalismo político e eclesiástico.

Pio IX defendeu sempre o controlo da ciência, educação e cultura nos Estados Papais, e resistiu vigorosamente às exigências de criação de um governo constitucional e à unificação da Itália. Numa bula publicada em 1854, proclamou o dogma da Imaculada Concepção. Em 1864 publicou a encíclica Quanta Cura acompanhada de uma lista condenatória de oitenta erros, entre os quais a crença de que o próprio Papa se devia reconciliar com o "progresso, liberalismo e civilização moderna". Apoiou o Ultramontanismo, uma doutrina que, entre outras coisas, proclamava a autoridade papal sobre a igreja internacional. O triunfo desta doutrina no Primeiro Concílio do Vaticano (1869-70) resultou na proclamação da infalibilidade papal.

O poder temporal do Papado ficara muito diminuído em 1860, quando o novo Reino de Itália absorveu todo os territórios dos Estados Papais com excepção de Roma. Esse poder temporal termina definitivamente em 1870, após a queda de Napoleão III, quando as tropas francesas, que protegiam o domínio papal, se retiram, e a cidade de Roma se tornou capital de uma Itália unida.

Pio IX recusou assinar o Acto Parlamentar de 1871 que definia as relações entre o Papado e o governo Italiano, e retirou-se para o Vaticano. Ali permaneceu até à sua morte em 7 de Fevereiro de 1878, considerando-se um prisioneiro na sua cela. O mesmo fizeram os seus sucessores até à conclusão do Tratado de Laterano, em 1929; neste tratado definia-se, entre outras coisas o estatuto da Cidade do Vaticano.

O seu papado foi o mais longo da história. Foi sucedido por Leão XIII. No ano 2000, Pio IX foi beatificado por João Paulo II.


A EPÍSTOLA AO PAPA

Como já escrevi noutros posts, Bahá'u'lláh dirigiu epistolas aos mais importantes governantes do seu tempo. Pio IX foi um desses governantes. A Epístola ao Papa (Lawh-i-Páp) foi revelada em árabe entre 1868 e 1869; à semelhança de outras epístolas a Reis e Governantes, o seu tom é claramente autoritário e majestático. Nela Bahá'u'lláh anuncia numa linguagem inequívoca o retorno de Cristo na Glória do Pai. As analogias entre o Papa e os doutores judeus que condenaram Jesus, sucedem-se; incluem-se também várias exortações para que o Papa seja um exemplo de virtude entre os cristãos.
Ó PAPA ! Rasga os véus. Aquele que é o Senhor dos Senhores veio envolto em nuvens e Deus, o Todo-Poderoso, o Independente, cumpriu o Seu decreto… Ele, em verdade, desceu novamente do Céu tal como desceu da primeira vez. Acautela-te para não argumentar com Ele como fizeram os fariseus com Ele (Jesus) sem qualquer sinal ou prova evidente(...)...lembra-te Daquele que foi o Espirito (Jesus), que quando veio, os maiores doutores do Seu tempo O condenaram no Seu próprio país. Mas aquele que era apenas um pescador acreditou Nele.(...)Considera aqueles que se opuseram ao Filho (Jesus), quando Ele veio até eles com soberania e poder. Quantos fariseus que esperavam poder contemplá-Lo e se lamentavam de estarem separados Dele! E, no entanto, quando a fragrância da Sua vinda soprou sobre eles, e a Sua beleza se desvelou, afastaram-se Dele e discutiram com Ele... Ninguém voltou a face para Ele, com excepção alguns que eram destituídos de poder entre os homens.(...)Ó Pontífice Supremo! Dá ouvidos ao que te aconselha Aquele que molda os ossos que se desfazem em pó, pela voz Daquele que é o Seu Mais Grandioso Nome. Vende todos os ornamentos elaborados que possuis e gasta-os no caminho de Deus, Aquele que faz a noite suceder ao dia e o dia suceder à noite. Abandona o teu reino aos reis, e sai do teu lar, com tua face voltada para o Reino, e, desprendido do mundo, proclama os louvores de Deus entre o céu e a terra. Assim te ordena Aquele que é o Possuidor dos Nomes, por parte do teu Senhor, o Omnipotente, o Omnisciente. Exorta os reis e diz: "Tratai os homens com equidade. Acautelai-vos para não transgredires os limites fixados no Livro". Isto na verdade, convém-te.
Quanto ao destino desta epístola, apenas sabemos que foi entregue no Vaticano; não sabemos se o próprio Pio IX a leu, ou se alguém a terá traduzido para o Papa. O texto completo desta epístola encontra-se aqui (em inglês)
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NOTAS / LINKS
Encyclopedia Britannica - Biografia de Pio IX (link)
The Revelation of Bahá'u'lláh, vol III, Adib Taherzadeh, pags 116-118
Site Oficial do Vaticano sobre Pio IX (link)
Site Italiano sobre Pio IX (link)