terça-feira, 21 de setembro de 2004

Exílio em ‘Akká: Reacções(2)

'Akká, numa gravura de 1875

A correspondência entre o embaixador francês em Teerão, o Conde Gobineau, e o embaixador austríaco em Constantinopla, Prokesch-Osten, abordou várias vezes o tema dos babís e a questão dos exilados Persas. Em Novembro de 1868, Gobineau teve conhecimento que Bahá'u'lláh se encontrava preso em 'Akká e escreveu ao embaixador austríaco:

Recebi uma longa carta do Báb [1]. Ele encontra-se em S. João do Acre, prisioneiro num aquartelamento em ruínas com um grupo de homens mulheres e crianças; falta-lhes água e vêem o seu mundo cair na miséria. Os guardas que os acompanham espoliaram-nos completamente. Um grupo dos seus fiéis foi enviado para Chipre, onde as condições não são muito melhores.

Quero acreditar, tal como Fu'ad Pashá [2] lhe disse, que o dinheiro e as intrigas da Legação Persa não têm nada a ver com este assunto; mas fica então uma brutalidade turca, para a qual eles não têm o menor pretexto de a cometerem. Quanto à suspeita que os Babís desejam tornar-se Cristãos, isso também é ridículo.

Quando alguém acredita que é Deus e companheiro de um Deus, e abandona o seu país e é sujeito a todo o tipo de perseguições no mundo por causa disso, esse alguém não se vai converter a outro culto.

Estou a tentar fazer o que posso para libertar estas infelizes pessoas da sua terrível situação. Mas não sei que possibilidades tenho de ser compreendido. É sobretudo a si, Excelência, que continuo a pedir ajuda. O Báb escreveu-me para lhe dizer quanto ele, assim como o seu povo, estão sensibilizados pelas evidências do seu interesse. Seria bom se conseguisse obter a liberdade para eles e dar-lhes alguma compensação pelas perdas a que têm sido sujeitos; e por fim, que se permitisse àqueles que estão em Chipre poderem juntar-se de novo ao seu líder e amigos. Se se pensar ser é necessário mantê-los sob vigilância, que sejam colocados numa cidade onde os consulados europeus possam ver que eles não são atormentados. Não posso elogiar este assunto demasiadamente, Excelência, pois temo que o meu livro [3] ao chamar a atenção para Mirzá 'Ali Husayn [4] e seus seguidores, tenha sido um factor na sua perseguição, e a minha consciência ficaria perturbada.
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NOTAS
[1] - Gobineau atribui o título de Bab a Bahá'u'lláh
[2] - Diplomata e estadista turco. Serviu em várias embaixadas turcas no ocidente e com Grão Vizir; advogada a modernização do estado otomano e foi muito influente no desenvolvimento da língua turca. Foi um dos responsáveis pelo exílio de Bahá'u'lláh para 'Akká, ao acreditar nos boatos que diziam que Bahá'u'lláh tinha ligações ao independentistas búlgaros.
[3] - Les Religions et les Philosophies dans l'Asie Centrale, publicado pouco depois de ter abandonado a Pérsia.
[4] - Nome próprio de Bahá'u'lláh
[5] – Correspondance, pag. 336-7

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