Joseph-Arthur, Conde de Gobineau (1816-1882) foi um diplomata e escritor francês que trabalhou em várias embaixadas em diferentes países do mundo. Em 1854, foi nomeado primeiro secretário da embaixada francesa em Teerão. Na sua carreira diplomática, o conde Gobineau esteve ainda colocado na Suíça, na Grécia, no Brasil e na Suécia. A queda do Império Francês, em 1870, deixou-o amargurado com a situação política francesa. Nos últimos anos da sua vida abandonou a França e viajou pela Alemanha e pela Itália. Faleceu em Turim em 13 de Outubro de 1882.
Gobineau é recordado, sobretudo, pelo livro Essai sur l'inégalité des races humaines. Este livro defende teorias raciais, nomeadamente a supremacia da raça branca; sustenta ainda que os povos latinos e os judeus tinham degenerado no decorrer da história devido a várias misturas raciais, e que apenas os alemães tinham preservado a pureza ariana.
Não é, portanto, de estranhar que Gobineau seja hoje referido como "o Pai do Racismo" (1).
LES RELIGIONS ET LES PHILOSOPHIES...
Mas Gobineau escreveu outros livros. A sua missão na Pérsia proporcionaram-lhe uma série de contactos que o inspiraram a escrever o livro Les Religions et les Philosophies dans l'Asie Centrale. Mais de metade dos capítulos deste livro são dedicados à religião do Báb; também aborda outros temas, nomeadamente, o Sufismo e o teatro religioso persa.
Devo confessar que me incomoda o facto de Gobineau ter sido autor do livro que melhor deu a conhecer a religião Bábí no Ocidente, durante o séc. XIX. Não deixa de ser irónico que as origens da Fé Bahá'í (que promove conceitos como a fraternidade entre todos os seres humanos e o fim dos preconceitos raciais) sejam referidas por uma pessoa que defendeu teorias raciais. O livro foi publicado em 1865, dois anos após o regresso de Gobineau da Pérsia, onde ele foi embaixador francês.
Na época em que o livro foi escrito, um dos irmãos de Bahá'u'lláh, chamado Mirzá Yahyá, assumia uma certa proeminência na comunidade babí. Dois cunhados de Yahyá eram funcionários da embaixada francesa, e provavelmente terão fornecido muita informação ao conde. Apesar de conter alguns erros históricos, o livro aborda com rigor os ensinamentos do Báb; ao contrário de anteriores outros autores da época, Gobineau foi capaz de resumir as doutrinas do Báb de forma muito abrangente.
O sucesso do livro foi imediato; passado um ano, foi necessário produzir uma nova edição, facto invulgar para um livro que naqueles tempos abordava este tema. Durante algumas décadas inspirou a imaginação de alguns europeus sobre os heróis Babís e a sua religião. Muitos dos artigos publicados em revistas e jornais na Europa e na América baseiam-se no livro de Gobineau.
EXCERTOS
Sobre a sucessão de Profetas que Deus envia à humanidade, Gobineau escreveu:
Gradualmente, porém, e com passos vacilantes mas ininterruptos, a humanidade avança. A lei de Moisés em breve se tornou insuficiente e a realidade divina incarnou em Jesus, trazendo a Cristianismo. Esse foi um enorme passo em frente. O mundo lucrou suficientemente com isso, de forma que, após um período de tempo inferior ao que é costume, apareceu Maomé. Ele levou os homens um pouco mais longe do que Jesus tinha levado. No entanto, não mais que o seu predecessor, ele conseguiu transmitir-lhes um impulso uniforme, e muitos deles permaneceram obedientes a revelações antiquadas, tal como tinha acontecido anteriormente. Finalmente o Báb apareceu, com a sua revelação, sem dúvida mais completa e... mais progressista...(2)
O Báb tinha profetizado o aparecimento de um novo Profeta a quem se referia com a expressão "Aquele que Deus tornará Manifesto". Gobineau, ao descrever o Bayan(3), refere:
É composto, em teoria, por 19 unidades ou divisões principais, que por sua vez contêm 19 parágrafos cada uma. Mas o Báb escreveu apenas onze destas unidades e deixou as outras oito para o grande e verdadeiro Revelador, para Aquele que completará a doutrina, e em relação ao qual, o Báb não é mais que S. João Baptista era perante Nosso Senhor. A doutrina do Báb é, assim, transitória; é preparatória para o que virá mais tarde; limpa o terreno; abre o caminho… Desta forma, por exemplo, o Báb aboliu o Qiblih, isto é, a prática dos muçulmanos e dos judeus de se voltarem para um determinado ponto no horizonte quando oram… Mas ele não definiu um novo Qiblih para substituir os abolidos, e declara que sobre este assunto não tem nada a decretar, e que o Grande Revelador decidirá sobre isto.
Grande parte do Bayan é dedicado ao anúncio, à explicação e à antecipação do advento desta importante faceta da verdade. O Báb, que não deseja dizer muito sobre isso, pois não está autorizado a fazê-lo, designa o Grande Desconhecido por "Aquele que Deus tornará Manifesto"...
...o Báb pronunciou que o aparecimento d'"Aquele que Deus tornará Manifesto" coincidirá com os preparativos do Juízo Final, e que será esse profeta que, na realidade, levará a humanidade purificada ao seio da Divindade que a aguarda… De acordo com esta descrição, "Aquele que Deus tornará Manifesto" será o Iman Mahdi, será Jesus Cristo vindo sobre as nuvens para julgar a Terra.(4)
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NOTAS/REFERÊNCIAS
(1) - Ver referência a Gobineau no Centro Wiesenthal
(2) - Les Religions et les Philosophies dans l'Asie Centrale, pag.291
(3) - Principal Livro sagrado da religião Babí
(4) - Les Religions et les Philosophies dans l'Asie Centrale, pag. 297-298
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